45x06 A wake

 

Imagem: TingTing Huang

Ela estava me contando a história de uma mulher que morreu de solidão. 

Eu não queria saber de dores nas costas potencialmente fatais, de remédios e doses, de psicopatologia, de sintomas depressivos e ansiosos, demência. 

Eu queria brindar. Eu queria histórias de aventuras e de uma mulher que não tinha medo de nada, nem mesmo de morrer só. 

Um dia, será que alguém reunir as pessoas pra contar histórias sobre como eu fui? Sobre minhas roupas, meu cheiro, meu jeito de falar. Um dia em que ela me contou sobre um homem que amava. 
Sobre um delírio romântico, 
um sonho adolescente, 
sobre um homem amado que me visitava nos sonhos.

(Você acha, você deseja com todo o seu coração, que ela o tenha encontrado? Que exista um depois disso tudo, um lugar único e especial onde tudo é possível)

Ela honra suas memórias, de um jeito tão especial e carinhoso, ela me conta, sem julgamento, que você estava à espera. 
E eu, através dela, te faço imortal, sem nome, sem rosto, uma história única e especial. 
Eu te dou amor e eu espero e brindo, ao amor que só existia na sua cabeça. 

Espero que ele, seu cabo, tenha vindo te receber na porta. Eu consigo imaginar a cena, seu rosto se iluminando à visão dele, seu uniforme, seu vestido, a iluminação do dia, eu dirijo a cena, como um filme antigo, tem luz e som,
tem cor, mas uma cor que nem existe por aqui. 

- Eu não lido bem com a morte, ela me diz. 

Mas a verdade é que ela lida melhor do que todos nós:
ela honra a vida. 

Brindamos. Com água, café, desvenlafaxina (até mais! até breve!) e esperamos, secretamente, que alguém, um dia, conte a nossa história assim, 
com afeto,
tristeza e
vontade.  

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