Imagem: TingTing Huang
Acordo no meio da noite e caminho, no escuro, até o seu quarto.
Sento na beira da sua cama e te observo dormir. Febril, você sussurra velhos encantamentos, 2 ou 3 gritos de guerra e o meu nome.
Eu sou o fantasma que te assombra à noite?
Sou a matéria-prima dos seus pesadelos, como você tem sido a dos meus?
Quero te acordar, quero que você fique bem.
Mas não acordo.
Não sei bem o porquê, mas eu não acordo.
Eu não quero conversar, eu não quero assustar, eu não quero não entender, de novo.
Eu não preciso de mais do que acontece quando as luzes se acendem.
Fico perfeitamente satisfeita, hoje, em ser apenas o fantasma.
Um fantasma.
Não quero mais significar nada, eu não quero mais ter que lidar com essa angústia terrível do presente.
Só quero que passe.
Você esperneia e agoniza, e luta as suas próprias batalhas inconscientes, e eu entendo, agora, que não é meu dever lutá-las por você, ou com você.
Você escolheu isso, milimetricamente.
Cada peça desse pesadelo organizada com cuidado e carinho pra te ferir.
Você escolheu ganhar ou escolheu ser derrotado, no final.
Você escolheu tudo, menos eu.
Então, por que eu te escolheria agora?
Eu espero, em silêncio, pela chegada da manhã, enquanto eu torço por você - seja lá o que isso queira dizer - e, quase que secretamente, espero que esteja lutando por mim.
Aos poucos, as luzes invadem o quarto, fresta por fresta, e vão se derramando no seu rosto, pescoço, tronco, e vão me alcançando. Tento permanecer, só mais um pouco, eu quero saber quem vence no final, mas não consigo, vou desaparecendo, voltando pro lugar onde os fantasmas talvez existam.
Eu quero saber, quero saber quem vence no final.
Mesmo sabendo que não sou eu.
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