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TingTing Huang12, como os apóstolos, é seu número da sorte.
Deus, o todo-poderoso, é um homem baixinho, bigode cheio. Pela manhã, ele nos inspeciona, um por um.
Ao primeiro som da Sua voz, me ponho alerta, mesmo antes que ele me chame pelo nome: Lilith.
12 filhos, eu sou a quarta. nem a primeira, nem a última.
4. O número mais irrelevante da dúzia, às vezes acho.
Diariamente, ele nos inspeciona, olha os dentes, pesa, mede, critica.
Pra mim, nada.
Nunca diz nada. Nem bom, nem ruim. Nada.
Ele me inspeciona, sem transparecer emoção alguma e, às vezes, sinto que vou ficando cada dia mais invisível. Eu poderia desaparecer e Ele nem notaria.
Questiona Adão, o primogênito, seu rei ariano, fazedor de todas as coisas, sempre pronto a serví-Lo. À bela Eva ele não diz nada. Ela não diz nada. Eu me pergunto se ela se importa.
E, então, Lahai-Roi e eu, Lilu, por quem passa direto.
Molech, que recebe as crianças sacrificadas nos altares com doces e canções.
Iblis, a rebelde, Mefistófeles, Oni, Vanth, Marid...
E ele se detém e analisa cada detalhe do seu favorito, Morax. O Omni-man.
Pesa, mede, murmura elogios, e briga e grita. E ele: nada.
Deus o isola e diz coisas e segredos e palavras mágicas enquanto trabalhamos na Sua construção sem fim.
(A Construção Sem Fim: não sabemos o que é. Todos os dias, Deus distribui tarefas e nós as realizamos, sem questionar, sem reclamar (muito))
Um dia:
Deus entra, e pesa e mede e olha os dentes.
Na ordem, eu sou a quarta, o número mais desimportante, eu diria.
Distribui tarefas e a minha é tão desinteressante quanto eu, mas a realizo, em silêncio.
Ao chegar em seu favorito, o Omni-man, pela primeira vez em 3 eternidades, ele diz: NÃO.
Prendemos a respiração, ar em suspenso, sinto medo e sinto uma tensão física em antecipação à demonstração da Grande Fúria de Deus, mas
ela não vem.
Feito criança, ele grita, briga e xinga.
Omni-man, sem expressão, a tudo responde com essa palavra minúscula cujo significado mal conheço: "não".
Por fim, Deus sai da sala.
Pra nunca mais voltar.