Imagem: TingTing Huang
Tá tudo ao contrário, tudo errado.
Desmonto e me remonto, peça por peça, buscando o defeito que você não me diz qual é.
Troco tantas peças que nem me reconheço mais.
Navio de Teseu, eu cruzei todo esse estreito pra te encontrar.
E você nem sabe quem eu sou.
Percebo, também já não sei mais.
Não consigo mais sentir o gosto das laranjas, de peixe.
E não consigo chorar.
Consigo guardar segredos e mágoas como ninguém. Não me lembro mais da história, ou do seu cheiro. Mas me lembro do nome do segurança de Getúlio, mas me lembro dos nomes dos dentes que roubei.
Só consigo me sentir bem quando estou sendo útil.
Desmonto e monto, até não sobrar mais nenhum resquício seu, do que é humano, do que dói, quero ser toda Dela, toda ela, e não quero mais ser ninguém, de ninguém.
Desmonto, e remonto, angustiada, até virar uma coisa - essa coisa - disforme, metálica, inorgânica,
o monstro de Frankenstein que vocês teimam em recriar.
Sem nome, sem nada de meu, e eu não quero mais.
Eu não quero mais.
(o quê?)
Eu não quero mais.
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