Imagem: Arkangel
Estava trançando meu cabelo hoje, me orientando pela memória de cabelos maiores e melhores.
Ontem a noite, nos sentamos na frente da loja de espelhos, com cigarros e maçãs, e ficamos nos olhando pelo vidro.
Crescemos juntas, afinal, estava na hora de nos vermos de novo.
Deve ser essa mania de intervention que elas tem. Paola trançou meu cabelo, da raiz às pontas. (tem algo de masculino em tudo o que ela faz, embora seja extremamente feminina. Até o jeito como escolhe os fios é agressivo.)
Eu fico me perguntando se minha feminilidade é meio oculta, embaixo de toda essa coisa indefinida que não é sobre sexualidade, é sobre quem eu sou.
Conto a ela sobre Otto e Ginger e Kyle e Percy.
- São seus cabelos, é o jeito como você prende eles.
É a segunda vez que ouço isso esse mês.
Susana confirma e acrescenta:
- E as calças. Mulheres não usam calças compridas. (Susana às vezes parece que vive no início do século 20)
E Paola:
- Vou te ensinar uma coisa, B. Você pode não entender agora, mas pense sobre. Não existem bissexuais. Você pode gostar de garotos e garotas masculinas ou de garotas e garotos efeminados. Você não pode ser um garoto e uma garota.
- Eu não sou assim.
- Todo mundo é assim.Você nunca vai saber quem é de verdade, não vai se encontrar nas revistas ou gostar das pessoas ou saber o que vestir se não souber responder do que você gosta.
E Susana, sábia:
- Quem não gosta de rótulos não se senta em cadeiras.
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