Imagem: TingTing Huang
Fico na ponta dos pés, danço de olhos fechados o som da chuva tocando no telhado.
Os braços levantados, pause na minha própria musicalidade, o que quero é dançar a música lá fora.
Porque é uma dança pra mim, de mim, é um espetáculo meu, que ninguém compreenderia.
É uma ode ao movimento, aos sentidos.
Eu toco, cheiro, ouço, provo, vejo pra dentro as minhas pernas limpas de cicatrizes, a liberdade na lisura delas.
Meu coração bate tresloucado.
Eu sou uma fera, presa num apartamento minúsculo, um leopardo.
Sou um puma, uma libélula. A dança me liberta de uma forma exclusiva, de um recipiente. Nada líquido, nunca.
Eu me torno gás, eu sublimo e ressublimo.
Danço sem parar a música infinita do mundo, sinto o som do gelo se partindo, do fundo do mar, dos peixes voadores, das sebes crescendo, da digestão, das contrações do útero.
A vida pulsa, grandiosa, grita, como no quadro de Munch. Apodrece e renasce, enquanto danço, de dentro pra fora e morro um pouco no final, após caminhar por todas as vidas possíveis.
Então me torno eu de novo, cansada, mas viva.
Faltam 6 dias.
14x06 Dos pés as pontas
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