15x08 Ginger Snaps

Imagem: TingTing Huang
Pensei que tivesse enlouquecido. Não seria a primeira vez, não seria nem a pior. Não chegaria nem perto da pior.
Cheguei a pensar que, talvez, Otto não existisse.
Eu o tive tantas vezes, de tantas maneiras, na minha mente, na ponta do lápis. Talvez eu o tivesse inventado.
Quase parei um senhor na rua pra perguntar se ele se lembrava de nos ter visto juntos, mas não consegui reunir coragem suficiente. Me apavorou que ele pudesse dizer que sempre me vira rindo sozinha.
Me sentia cada vez mais distante do nós como se estivesse esquecendo de um sonho. Fui perdendo as cores das suas camisetas, os movimentos dos seus joelhos e a sua gengiva. Perdi há muito as lembranças da sua boca e do seu nariz. Mas te sinto de cor.
Ainda tinha a sensação sombria de que você era imaginário, alguém que "entrevi" na rua e fantasiei de meu. Essa sensação me tirou do prumo, me rasgou aquela película de sanidade tão frágil; me olhei no espelho e me disse "tu és louca".
Eu quis ir pra casa, quis minha mãe, aconchego, ar. Se fiquei, foi por pura teimosia e porque achei que, se fosse, não voltaria mais.
Sentei numa cadeira, alheia ao mundo por horas, mergulhei na Física e na Geografia.
De repente, aquela vontade de ir embora, de me levantar e ir pra rua olhar o céu.
Corri, deixando pra trás folhas e canetas - alguém me chamou de volta -, como se soubesse que tinha que ir lá fora.
A rua fria, o céu escuro e eu parada no meio, sem saber pra onde ir. Olhei pros lados, buscando atravessar e ela olhou e ela olhou pra mim - ela lembra de mim?
Ginger.
(Se ela é real, Otto é real, porque eles eram um pacote só)
Não sorri, não a cumprimentei, não lhe perguntei sobre Otto.
Só respirei fundo e, por alguns instantes, senti meu vazio preenchido de ar.

(Quem é que pode dizer que sentiu tanto alívio ao ver a própria rival?)

0 comentários: