32x03 Desconexões

Imagem: TingTing Huang

Ela desmarcou minha consulta.

Deitei no colchão, e fiquei encarando o teto, tentando dormir, o coração querendo sair pela boca, explodir as costelas.

Tô ansiosa demais. E nem entendo o porquê.

Tenho prova amanhã.
Tô cansada de estudar, cansada de não entender, cansada de achar que não vou salvar alguém porque não li direito esse capítulo, de ir pras aulas, de tudo o que envolve a faculdade.
Em tempo: cansada, só. Nada como nessa mesma época do ano ou do semestre passado. Eu tô cansada de estudar, não de viver.

E tem ele.
É.
Nada ainda.
O celular toca e eu olho com minha expressão neutra, ele me encara desafiador, toca, pisca, e eu digo a mim mesma que não vou olhar, não vou olhar não ---
Não é ele, de novo.
Grande parte de mim espera um gigantesco NÃO, sorvete de frutas vermelhas e porres de vinho, tão mais fácil, menos trabalhoso saber que não vai dar, que eu tentei e não deu.
Mas grande parte escondida, oculta feito pedaço de iceberg, espera um SIM. E não sabe nem o que fazer com isso.

Oscilo, me estudo.
Eu não preciso dele.
Eu leio, eu escrevo - sobre ele haha -, eu tenho bons amigos, eu saio, eu beijo, eu vivo. Eu me acho bonita sem ele, inteligente sem ele, eu sou uma pessoa bem legal - sem ele.
Eu não preciso dele - e, por isso o quero.
Podemos ser bons. Juntos.
Sem amarras, sem regras, sem (ou com menos) drama.
Não é?

Meu estômago embrulha.
Chego em casa atordoada de um jogo de baralho confuso,
não sei se saí perdendo ou ganhando
ou o que quero da vida.
Fico me perguntando se as pessoas que vêem nossa vida de fora sempre têm razão.
Leio meu horóscopo.
Leio o dele.
Mas não leio o teu.

Penso em te chamar pra sair,
mas confundo as datas.
E o evento é só semana que vem.

Tô te dando um tempo pra pensar.
E tirando um tempo pra pensar.
Pego uma carta do tarô, duas, três.
E elas me dizem pra te chamar pra sair de uma vez.

Corro pro celular, procuro eventos feito doida,
algum tão bom quanto o que eu tinha planejado,
e não tem nenhum.
E daí?
Abro a conversa de nós dois, a tua conversa, a falsa conversa de nós dois, onde eu fico fingindo que tá tudo bem, que vai ficar tudo bem
Vejo seu visto por último, deduzo que você só vai ver minha mensagem amanhã de manhã,
e a ansiedade dá uma trégua,
mas também dá uma canseira.
Uma canseira grande, tão grande, que eu decido que isso pode esperar.

Eu quero estar com você.
Mas eu não quero mais daquele jeito.
E eu não sei se existe algum jeito pra gente que não aquele.
Eu precisava tentar, eu precisava ter coragem.
Mas tudo parece tão incerto agora.

E se você disser que sim?
O que eu faço com isso?
O que isso quer dizer, na verdade?

E se você disser que não?
Eu me aquieto, espero o próximo?

Posso ir agora na nossa conversa te encher de coisas, fatos e argumentos,
te chamar pra sair,
obedecer às cartas do tarô,
etc etc etc.
Mas não vou.
Eu fiz o que tinha que fazer, o que senti que era certo.
E vou te dar tempo e espaço pra saber o que é certo pra você.

Respiro fundo, um mar de possibilidades, nenhuma responsabilidade,
"Vai ficar tudo bem", repito, feito um mantra.
E espero que essa sensação dure,

até a próxima consulta.

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