Imagem: TingTing Huang
Acordei com essa melodia na cabeça.
Loucura, é.
Mais uma dessas canções que me faz despertar.
Me fez pensar em você.
Quem quer que você seja.
Senti uma coisa boa, intensa, nos braços, e no estômago.
Quase como se pudesse te ouvir chegar.
Eu não consigo te ver.
Randomizo o destino, quero saber se seus olhos são verde-esmeralda, cabelo escuro, enrolado, de tamanho médio, se a tua pele é mesmo pálida, se você é baixo. Se é uma pessoa boa, que gosta de pop e correr no parque da cidade. Foi criado por pais que trabalham demais, já sofreu um acidente de carro, tem medo de andar de avião. Mora em uma casa espaçosa, com um jardim. Quer ser professor. Namora há dois anos e tem dois gatos: um cinza e um preto.
Quero saber quem você é.
Se gosta de livros ou da cor dos meus olhos, de sair por aí de vez em quando, de ficar em casa sem fazer nada o dia inteiro. Se podemos acordar mais tarde e dormir cedo.
É uma música. Talvez, a sua música. Fala sobre procurar uma coisa lá fora, uma coisa que está dentro de você.
Engraçado, talvez você nem exista. Talvez você seja só essa ideia que me salva do que quer que seja. Essa esperança estúpida, essa qualquer coisa.
Queria sair de casa e te encontrar. Dar uma olhada em você, de longe mesmo, ver você e sua namorada, felizes ou não, sentados em uma mesa, conversando sobre a vida.
Loucura, eu sei.
Será que é assim que funciona? Num minuto, você ama alguém e olha pra mim, e está condenado a fazer parte de uma tapeçaria que nem é a tua?
Ando na dúvida.
Como é que começa o amor?
Quando é que a gente planta isso?
Onde é que começa?
Eu estava só agindo do meu jeito, impensado, triste e tentando sobreviver à Maio e ao semestre e aos dias bons, e ele descobriu que gostava de mim.
Como é que isso acontece?
Por que?
Começo a olhar as pessoas de forma mais atenta.
Com medo de que uma delas seja você.
Me assusta ignorar as possibilidades,
e te perder quando você chegar.
Falo com Pégaso, por um motivo qualquer,
e eu sei que ainda gosto dele.
Tá virando uma espécie de medidor, como se eu só fosse saber que você chegou,
quando falar com ele parar de me fazer sentir assim.
Eu quero esperar.
Eu quero me sentar e não fazer nada.
Quero entrar no mercado um dia e pegar sua sacola sem querer.
Esbarrar com você nos corredores da faculdade.
Talvez te dar monitoria, te beijar numa festa.
Guardar minha bicicleta ao lado da sua, te ligar por engano, comprar o último exemplar do livro que você queria, sentar na sua mesa porque é o único lugar disponível, bater na traseira do seu carro quando dou ré, fazer sua história clínica, sentar ao seu lado no cinema vazio, puxar assunto na fila do McDonalds.
Pergunto à Donzela, enquanto tranço meus cabelos escassos,
como você é.
- Ele sempre parece cansado. Pêlos no rosto, barba ou como quer que aquilo se chame. Cabelo ondulado ou encaracolado.
- E onde é que vamos nos conhecer?
- Eu não sei dizer. É um local relacionado à vaidade, inconsistência, intrigas.
- Temos algo em comum?
- Sim. Vocês estão cansados. Acreditam em coisas, estão acumulando sentimentos negativos dentro de si. Sentem-se desapontados. E rejeitam oportunidades e sentimentos.
- Ele também?
- Sim.
Ficamos em silêncio, eu tranço meus cabelos, rápida e delicadamente, enquanto ela tece.
- Existe algo. Inflexibilidade ou unilateralidade. - ela quebra o silêncio.
- O que isso quer dizer?
- Eu não posso dizer. É algo que você vai enfrentar, ou algo que vai acontecer.
- Então, pode ser sobre Pégaso e eu ou pode ser sobre nós dois? Unilateralidade.
- Sim.
- E o que eu devo fazer?
- Tenha paciência, calma. Siga em frente. E conheça a si mesma.
Suspiro.
- Eu tô tentando.
- Então não pare.
Termino de trançar os cabelos, beijo o topo da cabeça cheirosa da Donzela e saio, na direção da porta.
- Só uma coisa: vamos ser felizes? - pergunto, baixinho.
Ela levanta a cabeça na minha direção.
- Isso importa?
Não.
Acho que não importa.
Eu estou esperando, ok?
Procurando seu rosto nas sugestões de amigos do facebook, na mesa de trás do bar, e no carro ao lado no semáforo.
Não se atrase.
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