Imagem: TingTing Huang
Minha cabeça pesa, parece que vai explodir.
Escrevo,
escrevo pra salvar minha vida e me manter sã.
Você já se perguntou qual é o propósito da vida?
Da sua vida, especificamente.
O seu destino, a sua sina.
Você é assim tão importante, tão relevante quanto pensa?
"Eu levo as pessoas até o lugar onde elas devem ir"
Algumas pessoas só servem pra isso.
Tem gente que não nasce pra ser feliz pra sempre, gente que só nasce, cresce, e aprende
pra nunca mais ser lembrada
Qual é o objetivo de saber? De conhecer e sentir?
Qual é a história por trás das lendas e dos homens que não são mencionados nelas?
Todo mundo quer ser grande, importante.
Mas isso importa?
Quando eu nasci, Felipe já era deus, o messias.
Estava destinado a salvar o mundo, guiar a todos nós na direção da luz.
E ele não conseguia viver. Sentia-se sufocado com toda essa expectativa.
Homens e mulheres enchiam nossa casa nos feriados, vinham de longe para vê-lo, traziam presentes e diziam coisas que ele não compreendia.
E ele dizia que a grande razão pela qual éramos amigos era
eu não dava a mínima pra isso.
O que ele não sabia era: eu só não me importava porque eu não estava destinada a ser alguém.
Eu não podia ser mais.
Nasci sozinha, uma ideia escrita com sêmen no escuro, sem sentido, acidental.
Eu sou ninguém.
Acordo, no meio da noite, e meu corpo dói, minha carne escorre dos ossos
e eu sinto aquela dor, aquela dor intensa
que é a percepção de se estar viva.
De um lugar a outro
De um lugar a outro
Visto roupas pretas, eu sou o barqueiro
eu sou Caronte
De um lugar a outro
De um lugar a outro
Eu o tenho feito por muitos anos,
sem parar um dia
sem propósito.
E tenho esperado
Esperado
Esperado
Que o barco afunde
e me liberte.
35x04 Conqueror
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Estive esperando.
Por seus botões gelados, um inverno longo.
Eu nem tomei banho,
enquanto esperava seu retorno.
Você dorme, cansado da batalha, em algum lugar do universo, sem medo da morte, sem medo de nada.
Acorda e planeja, grita, furioso,
e cavalga sem destino certo, tomando tudo o que existe pela frente.
Eu estive esperando pela sua chegada, arrumando a casa,
abrindo as janelas e apressando o jantar.
E você nunca veio.
Grandes homens vieram a essa casa, grandes reis e imperadores.
Todos tentaram tomar seu lugar, por força, por amor.
E eu, feito penélope, teci e esperei, desfazendo todas as noites o meu trabalho.
Eu esperei.
Veio o grande rei das muralhas de Atenas e seu cabelo púrpura,
mas nenhum de nós dois tinha amor pra dar.
O grande rei pastor, das planícies longínquas,
confuso e jovem, jovem demais pra entender que eu ainda estava esperando.
Trouxe dragões e discursos, música e morte.
Mas eu ainda esperava por você.
O grande conquistador, cheio de morte e histórias pra contar,
me ofereceu um local seguro pra dormir e a vantagem de não ter mais que esperar.
E eu poderia aceitar,
mas estava esperando.
E então outro, com coragem pra lutar e pra desistir da luta
e um dos heróis da independência.
E a todos fechei minhas portas,
e voltei ao tear,
enganando a mim mesma,
dizendo que estava a espera quando,
na verdade,
você sempre esteve aqui.
Estive esperando.
Por seus botões gelados, um inverno longo.
Eu nem tomei banho,
enquanto esperava seu retorno.
Você dorme, cansado da batalha, em algum lugar do universo, sem medo da morte, sem medo de nada.
Acorda e planeja, grita, furioso,
e cavalga sem destino certo, tomando tudo o que existe pela frente.
Eu estive esperando pela sua chegada, arrumando a casa,
abrindo as janelas e apressando o jantar.
E você nunca veio.
Grandes homens vieram a essa casa, grandes reis e imperadores.
Todos tentaram tomar seu lugar, por força, por amor.
E eu, feito penélope, teci e esperei, desfazendo todas as noites o meu trabalho.
Eu esperei.
Veio o grande rei das muralhas de Atenas e seu cabelo púrpura,
mas nenhum de nós dois tinha amor pra dar.
O grande rei pastor, das planícies longínquas,
confuso e jovem, jovem demais pra entender que eu ainda estava esperando.
Trouxe dragões e discursos, música e morte.
Mas eu ainda esperava por você.
O grande conquistador, cheio de morte e histórias pra contar,
me ofereceu um local seguro pra dormir e a vantagem de não ter mais que esperar.
E eu poderia aceitar,
mas estava esperando.
E então outro, com coragem pra lutar e pra desistir da luta
e um dos heróis da independência.
E a todos fechei minhas portas,
e voltei ao tear,
enganando a mim mesma,
dizendo que estava a espera quando,
na verdade,
você sempre esteve aqui.
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35x03 *"It means 'my love'"
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Imagem: TingTing Huang
Eu escrevo para que você veja.
Nas paredes, no meu corpo e nas páginas dos livros da biblioteca.
Eu deixo post-its e cartazes, e mensagens, subliminares ou não.
Eu escrevo nas paredes brancas do meu quarto, nos espelhos dos banheiros da faculdade e no chão das salas de aula.
Usei minha chave pra escrever no seu carro e depois na pele das pessoas que você conhece.
Mas você não sabe ler meu idioma, ou não quer ler, e eu costumava não me importar.
Sem dó, eu injetava você em mim todas as noites,
pra me queimar as veias,
pra ver o mundo pelos seus olhos,
pra me ver pelos seus olhos.
Eu quebrei as regras,
Todas elas, cada uma delas, pelas suas migalhas,
pra proteger o seu ego,
pra proteger o seu apego
e o seu costume.
Pra me proteger da solidão e, Deus me perdoe,
do amor.
Todas as histórias têm dois lados
e a nossa não é diferente.
Mas eu não quero mais conhecer o seu.
Acabou, está tarde, e eu preciso voltar pra casa.
Eu preciso comer.
Eu preciso dormir.
Eu tenho coisas por fazer,
e eu não quero me afastar de você.
E você não me pede pra ir embora.
Você não me pede pra ir embora.
Por que?
Eu preciso comer
Eu preciso dormir
Eu preciso seguir em frente.
E você não me pede pra ir embora,
mas eu não sei o caminho pra casa.
Quero uma overdose de você, toda a dor do mundo e uma touca vermelha pra sinalizar minha dor.
Porque você não me pede pra ir embora?
Quero dizer
Se você quisesse que eu ficasse
teria dito.
Mas você não me pede pra ir e parte de mim agradece por isso.
Porque eu preciso comer
preciso dormir
preciso ir
mas eu quero ficar
eu quero ficar
e é por isso, aşkım*, que eu
estou me pedindo pra ir embora.
Está mais do que na hora.
Eu escrevo para que você veja.
Nas paredes, no meu corpo e nas páginas dos livros da biblioteca.
Eu deixo post-its e cartazes, e mensagens, subliminares ou não.
Eu escrevo nas paredes brancas do meu quarto, nos espelhos dos banheiros da faculdade e no chão das salas de aula.
Usei minha chave pra escrever no seu carro e depois na pele das pessoas que você conhece.
Mas você não sabe ler meu idioma, ou não quer ler, e eu costumava não me importar.
Sem dó, eu injetava você em mim todas as noites,
pra me queimar as veias,
pra ver o mundo pelos seus olhos,
pra me ver pelos seus olhos.
Eu quebrei as regras,
Todas elas, cada uma delas, pelas suas migalhas,
pra proteger o seu ego,
pra proteger o seu apego
e o seu costume.
Pra me proteger da solidão e, Deus me perdoe,
do amor.
Todas as histórias têm dois lados
e a nossa não é diferente.
Mas eu não quero mais conhecer o seu.
Acabou, está tarde, e eu preciso voltar pra casa.
Eu preciso comer.
Eu preciso dormir.
Eu tenho coisas por fazer,
e eu não quero me afastar de você.
E você não me pede pra ir embora.
Você não me pede pra ir embora.
Por que?
Eu preciso comer
Eu preciso dormir
Eu preciso seguir em frente.
E você não me pede pra ir embora,
mas eu não sei o caminho pra casa.
Quero uma overdose de você, toda a dor do mundo e uma touca vermelha pra sinalizar minha dor.
Porque você não me pede pra ir embora?
Quero dizer
Se você quisesse que eu ficasse
teria dito.
Mas você não me pede pra ir e parte de mim agradece por isso.
Porque eu preciso comer
preciso dormir
preciso ir
mas eu quero ficar
eu quero ficar
e é por isso, aşkım*, que eu
estou me pedindo pra ir embora.
Está mais do que na hora.
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35x02 Crime e castigo
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
O que você quer de verdade?
O fim da fome no mundo, a paz mundial.
A cura do câncer.
Amor verdadeiro, saúde pra sua família, o fim da guerra no oriente, justiça para os mortos, o fim da violência contra a mulher, igualdade racial e de gênero.
Eu posso querer tudo isso
e tomar sorvete de morango com batatas fritas no almoço?
Posso querer a paz mundial e, eventualmente, ser a menina mais bonita em uma festa?
Deus perdoa a gente por ser fútil?
Ou eu sempre devo querer o bem de todos, o melhor para a maioria, o bem comum.
Porque eu quero coisas.
E é muito difícil admitir.
Mas eu quero coisas também.
Eu tenho sonhos, sobre os quais não falo,
e desejos tão bem escondidos dentro de mim, tão sufocados que eu às vezes sinto medo de dormir e saber sobre eles.
Eu quero coisas,
coisas que vão além do bem da humanidade e que são tão simples quando sorvete de morango, ou tão complexas quanto ganhar o nobel de literatura.
Eu quero coisas e quero de verdade.
E, quando eu quero uma coisa, e não a consigo
eu tenho direito de ficar triste?
Deus, por favor,
eu cansei de fingir que sou a protagonista de um daqueles livros nos quais a mocinha tem que sofrer feito Jó enquanto sorri.
Eu quero coisas.
Coisas que não fazem bem a ninguém que não eu.
E quero o direito de chorar quando não as consigo, eu quero chorar.
Eu quero ter o direito de chorar.
Eu quero querer coisas, eu quero poder ficar triste.
E eu quero isso aqui,
eu quero o direito de dar chilique na frente das pessoas,
ou quando sentir vontade.
Eu não quero ser triste no meio da noite, dentro de um carro.
Eu quero poder dizer o que sinto, eu quero coisas.
Tantas coisas.
E eu só quero poder querer,
eu nem preciso conseguir tudo,
eu só quero poder querer muito algo, sem medo,
e poder chorar quando não conseguir.
Se puder, por favor, eu gostaria muito, muito mesmo,
de poder querer.
Mas, se não puder, tudo bem.
Existem outras coisas mais importantes,
mais relevantes,
mais significativas
pra se querer.
A paz mundial,
por exemplo.
O que você quer de verdade?
O fim da fome no mundo, a paz mundial.
A cura do câncer.
Amor verdadeiro, saúde pra sua família, o fim da guerra no oriente, justiça para os mortos, o fim da violência contra a mulher, igualdade racial e de gênero.
Eu posso querer tudo isso
e tomar sorvete de morango com batatas fritas no almoço?
Posso querer a paz mundial e, eventualmente, ser a menina mais bonita em uma festa?
Deus perdoa a gente por ser fútil?
Ou eu sempre devo querer o bem de todos, o melhor para a maioria, o bem comum.
Porque eu quero coisas.
E é muito difícil admitir.
Mas eu quero coisas também.
Eu tenho sonhos, sobre os quais não falo,
e desejos tão bem escondidos dentro de mim, tão sufocados que eu às vezes sinto medo de dormir e saber sobre eles.
Eu quero coisas,
coisas que vão além do bem da humanidade e que são tão simples quando sorvete de morango, ou tão complexas quanto ganhar o nobel de literatura.
Eu quero coisas e quero de verdade.
E, quando eu quero uma coisa, e não a consigo
eu tenho direito de ficar triste?
Deus, por favor,
eu cansei de fingir que sou a protagonista de um daqueles livros nos quais a mocinha tem que sofrer feito Jó enquanto sorri.
Eu quero coisas.
Coisas que não fazem bem a ninguém que não eu.
E quero o direito de chorar quando não as consigo, eu quero chorar.
Eu quero ter o direito de chorar.
Eu quero querer coisas, eu quero poder ficar triste.
E eu quero isso aqui,
eu quero o direito de dar chilique na frente das pessoas,
ou quando sentir vontade.
Eu não quero ser triste no meio da noite, dentro de um carro.
Eu quero poder dizer o que sinto, eu quero coisas.
Tantas coisas.
E eu só quero poder querer,
eu nem preciso conseguir tudo,
eu só quero poder querer muito algo, sem medo,
e poder chorar quando não conseguir.
Se puder, por favor, eu gostaria muito, muito mesmo,
de poder querer.
Mas, se não puder, tudo bem.
Existem outras coisas mais importantes,
mais relevantes,
mais significativas
pra se querer.
A paz mundial,
por exemplo.
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35x01 Degermante
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Imagem: TingTing Huang
(Para meu eu futuro: alguns dos textos que seguem falam de acontecimentos que ocorreram antes do episódio 34x19. Se isso é relevante, ou será relevante: não faço ideia)
Estava limpa, trabalho bonito, bem fechada, bordas aproximadas, simétricas.
Fui pra casa, pontos em plano profundo e superficial.
Não me cuidei, te deixei tocá-los, morder e rasgar,
infeccionou.
Pus vazando pra todo lado, Matilde
sem parar.
Mas eu não queria abrir, eu não queria limpar de novo,
nem deixar cicatrizar por segunda intenção.
Eu não queria mais, ou não tinha mais forças.
Não tô vacinada. Tô indefesa e cansada.
Meio morta-viva, e não quero mudar isso, quero apodrecer.
Tô cansada de limpar a sua bagunça,
de me limpar da sua bagunça
e te deixar fazer tudo outra vez.
(Para meu eu futuro: alguns dos textos que seguem falam de acontecimentos que ocorreram antes do episódio 34x19. Se isso é relevante, ou será relevante: não faço ideia)
Estava limpa, trabalho bonito, bem fechada, bordas aproximadas, simétricas.
Fui pra casa, pontos em plano profundo e superficial.
Não me cuidei, te deixei tocá-los, morder e rasgar,
infeccionou.
Pus vazando pra todo lado, Matilde
sem parar.
Mas eu não queria abrir, eu não queria limpar de novo,
nem deixar cicatrizar por segunda intenção.
Eu não queria mais, ou não tinha mais forças.
Não tô vacinada. Tô indefesa e cansada.
Meio morta-viva, e não quero mudar isso, quero apodrecer.
Tô cansada de limpar a sua bagunça,
de me limpar da sua bagunça
e te deixar fazer tudo outra vez.
Early Cuts: Alice
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Alice é nome de música francesa, personagem de história infantil.
Alice, sim.
Mas por que Alice e não Maria?
Tem o rosto frágil, adolescente, por trás dos óculos e da armadura.
Mas de frágil não tem nada.
Cutuca o piercing no nariz, passa a língua pelos dentes e fica vermelha quando se exalta.
Alice.
Bonito e poético sentir que o feminino em você fala alto, emociona.
Vai além da saia, da tua boca bonita e vermelha, e é bonita de ver.
Fica mais bonito, infinitamente, quando você fala
Alice é nome de música francesa, personagem de história infantil.
Alice, sim.
Mas por que Alice e não Maria?
Tem o rosto frágil, adolescente, por trás dos óculos e da armadura.
Mas de frágil não tem nada.
Cutuca o piercing no nariz, passa a língua pelos dentes e fica vermelha quando se exalta.
Alice.
Bonito e poético sentir que o feminino em você fala alto, emociona.
Vai além da saia, da tua boca bonita e vermelha, e é bonita de ver.
Fica mais bonito, infinitamente, quando você fala
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The Lumineers
34x19 Não ou sim (Season Finale)
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
- Quer namorar?
Assim só, simples, sem grandes ações.
Sem grandes preparações.
"Acho que estou destinada a conseguir pretendentes incapazes de me propor namoro com flores e jantares", pensei. É a maldição daqueles filmes dos anos 90. Tudo bem.
Quero dizer,
não.
Eu quero estar apaixonada, eu quero querer você.
Não.
Eu quero ser livre, eu não quero me comprometer com a felicidade de outro nós.
Não.
Eu gosto de você. Muito. Mas não quero namorar com alguém porque temos interesses similares, porque é fácil, porque minha família acharia ok
Não.
Eu não sei o que quero, ou o que fazer quando souber.
Eu diria sim, eu juro que diria.
Estável, seguro. Você é bom e, nesse exato momento, eu desejo nunca ter te conhecido, nunca ter te feito mal.
Eu diria sim, em outra época, outra vida, outra B.
Mas a pessoa que sou - ou estou tentando ser -, essa não quer nem tentar.
Eu me conheço melhor.
Sei o que não quero.
E não quero nós.
Coloco todo o sentimento, a vontade, a incerteza, a insegurança, saber quem sou, em uma palavra, um som, desvio o olhar, digo alto, da maneira mais segura que consigo dizer:
- Não.
Você vai ficar bem.
E eu também.
- Quer namorar?
Assim só, simples, sem grandes ações.
Sem grandes preparações.
"Acho que estou destinada a conseguir pretendentes incapazes de me propor namoro com flores e jantares", pensei. É a maldição daqueles filmes dos anos 90. Tudo bem.
Quero dizer,
não.
Eu quero estar apaixonada, eu quero querer você.
Não.
Eu quero ser livre, eu não quero me comprometer com a felicidade de outro nós.
Não.
Eu gosto de você. Muito. Mas não quero namorar com alguém porque temos interesses similares, porque é fácil, porque minha família acharia ok
Não.
Eu não sei o que quero, ou o que fazer quando souber.
Eu diria sim, eu juro que diria.
Estável, seguro. Você é bom e, nesse exato momento, eu desejo nunca ter te conhecido, nunca ter te feito mal.
Eu diria sim, em outra época, outra vida, outra B.
Mas a pessoa que sou - ou estou tentando ser -, essa não quer nem tentar.
Eu me conheço melhor.
Sei o que não quero.
E não quero nós.
Coloco todo o sentimento, a vontade, a incerteza, a insegurança, saber quem sou, em uma palavra, um som, desvio o olhar, digo alto, da maneira mais segura que consigo dizer:
- Não.
Você vai ficar bem.
E eu também.
34x18 Tín Man
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Martín.
Parei para falar contigo, coisa corriqueira, sorrimos, teu celular tocou e eu fui embora.
Só.
Mas eu não queria que fosse só.
Parte de mim foi mesmo pra casa, estudar, ler e devanear ao som de Snaggletooth.
Mas, Martín, parte de mim ficou,
arriscou.
Esperou sua conversa acabar, te puxou pelo braço e te chamou pra um café.
Café rápido, no píer mesmo.
Bebemos devagar, eu consigo até sentir o cheiro doce,
e eu te disse pra não ousar falar sobre coisas acadêmicas.
Falamos de mim, de você. De tudo o que existe de ameno, e nossas pernas se encostaram debaixo da mesa.
Martín, você não sabe, mas me acompanhou até o estacionamento e, quando me deu adeus e me deu as costas, eu te chamei de volta e fui eu quem tomou a iniciativa no nosso primeiro beijo.
Ah, Martín, você não faz ideia, mas nossas férias foram lindas. Tomamos tanto sorvete e eu até sujei seu nariz de chocolate,
Já andamos de mãos dadas por aí e eu te desejei boa noite, bom dia, boa sorte, eu te amo.
Até saímos pra dançar, e você é muito menos desajeitado do que pensa.
Gostei do seu cheiro, da textura da sua pele e escolhi um osso favorito no seu corpo, pra chamar de meu.
Eu fiquei tão zangada, na nossa primeira briga (cujo motivo foi tão irrelevante que nem me lembro dele), que achei que te odiava. Mas passou, em questão de segundos.
Viajamos juntos, cedo demais, foi confuso demais
mas eu já te amava, eu já queria só você e mais ninguém, mas você não entendeu isso até que eu dissesse,
até que eu gritasse bem alto,
bêbada de vodka, amor e intensidade.
Você sentiu medo e eu eu senti medo, mas a gente não sentia medo de sentir medo do futuro.
Dormimos juntos, naquela noite, e em todas as noites seguintes, até à última.
Martín, nós nos amamos tanto.
Mas você não sabe disso,
porque dei as costas,
desci as escadas,
e fui embora sozinha.
E foi só.
Martín.
Parei para falar contigo, coisa corriqueira, sorrimos, teu celular tocou e eu fui embora.
Só.
Mas eu não queria que fosse só.
Parte de mim foi mesmo pra casa, estudar, ler e devanear ao som de Snaggletooth.
Mas, Martín, parte de mim ficou,
arriscou.
Esperou sua conversa acabar, te puxou pelo braço e te chamou pra um café.
Café rápido, no píer mesmo.
Bebemos devagar, eu consigo até sentir o cheiro doce,
e eu te disse pra não ousar falar sobre coisas acadêmicas.
Falamos de mim, de você. De tudo o que existe de ameno, e nossas pernas se encostaram debaixo da mesa.
Martín, você não sabe, mas me acompanhou até o estacionamento e, quando me deu adeus e me deu as costas, eu te chamei de volta e fui eu quem tomou a iniciativa no nosso primeiro beijo.
Ah, Martín, você não faz ideia, mas nossas férias foram lindas. Tomamos tanto sorvete e eu até sujei seu nariz de chocolate,
Já andamos de mãos dadas por aí e eu te desejei boa noite, bom dia, boa sorte, eu te amo.
Até saímos pra dançar, e você é muito menos desajeitado do que pensa.
Gostei do seu cheiro, da textura da sua pele e escolhi um osso favorito no seu corpo, pra chamar de meu.
Eu fiquei tão zangada, na nossa primeira briga (cujo motivo foi tão irrelevante que nem me lembro dele), que achei que te odiava. Mas passou, em questão de segundos.
Viajamos juntos, cedo demais, foi confuso demais
mas eu já te amava, eu já queria só você e mais ninguém, mas você não entendeu isso até que eu dissesse,
até que eu gritasse bem alto,
bêbada de vodka, amor e intensidade.
Você sentiu medo e eu eu senti medo, mas a gente não sentia medo de sentir medo do futuro.
Dormimos juntos, naquela noite, e em todas as noites seguintes, até à última.
Martín, nós nos amamos tanto.
Mas você não sabe disso,
porque dei as costas,
desci as escadas,
e fui embora sozinha.
E foi só.
34x17 De ordem mista
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Corro na sua direção, corro, corro
e nunca te alcanço, mesmo quando você não está se movendo.
Eu não sei o que quero da vida, ando preocupada com a futilidade, a finitude, com o tamanho da minha bunda, com as provas finais.
Não sei dizer se te amo.
Um homem me pergunta, no meio da noite, com uma leve preocupação na voz.
E eu não sei.
Quero te ver.
Quero falar com você.
Quero você, e mais ninguém, mas não quero.
Não quero mais lutar, não quero mais nada disso, nem me sentir assim.
Eu quero me sentir bem.
Amar, pra mim, é se sentir bem. É fazer bem.
Certo?
Dou as costas e corro, na direção contrária à sua.
Almoçamos.
Ele me olha nos olhos, estou bonita, fala, falamos, é cortês, educado, engraçado.
Não sinto nada.
Jantamos.
Ele me impressiona.
Conta uma história, faz uma mágica, me faz rir e fechar os olhos.
Gosto disso, gosto muito, e ele diz o que pensa, o que sente, do que gosta.
Parece honesto.
E eu senti falta disso.
Mas, no fim das contas, passa.
Saímos juntos, ele me beija, e eu perco o interesse.
Eu não quero mais brincar de beijar sem sentir nada especial.
Eu não sinto,
eu não sinto nada.
Tô desse lado da mesa, ouvindo, ouvindo, ouvindo,
sem vontade de falar, sem vontade de me deixar conhecer demais.
Eu quero me levantar e correr, correr de olhos fechados, na direção do amor.
Eu sou boba, sou piegas, eu não posso simplesmente desistir.
Cresci com estrelas, amores Tom Hanks-Meg Ryan,
eu quero o impossível, eu quero desobedecer as linhas da mão, o horóscopo e as cartas de tarô,
eu quero você.
Dou meia volta e corro na tua direção, na tua, na tua.
Enquanto isso, rezo
pra tudo e todos, de olhos fechados.
Corro,
torcendo pelo impacto violento que espero que signifique que você também está correndo.
Correndo pra mim.
Corra.
Corro na sua direção, corro, corro
e nunca te alcanço, mesmo quando você não está se movendo.
Eu não sei o que quero da vida, ando preocupada com a futilidade, a finitude, com o tamanho da minha bunda, com as provas finais.
Não sei dizer se te amo.
Um homem me pergunta, no meio da noite, com uma leve preocupação na voz.
E eu não sei.
Quero te ver.
Quero falar com você.
Quero você, e mais ninguém, mas não quero.
Não quero mais lutar, não quero mais nada disso, nem me sentir assim.
Eu quero me sentir bem.
Amar, pra mim, é se sentir bem. É fazer bem.
Certo?
Dou as costas e corro, na direção contrária à sua.
Almoçamos.
Ele me olha nos olhos, estou bonita, fala, falamos, é cortês, educado, engraçado.
Não sinto nada.
Jantamos.
Ele me impressiona.
Conta uma história, faz uma mágica, me faz rir e fechar os olhos.
Gosto disso, gosto muito, e ele diz o que pensa, o que sente, do que gosta.
Parece honesto.
E eu senti falta disso.
Mas, no fim das contas, passa.
Saímos juntos, ele me beija, e eu perco o interesse.
Eu não quero mais brincar de beijar sem sentir nada especial.
Eu não sinto,
eu não sinto nada.
Tô desse lado da mesa, ouvindo, ouvindo, ouvindo,
sem vontade de falar, sem vontade de me deixar conhecer demais.
Eu quero me levantar e correr, correr de olhos fechados, na direção do amor.
Eu sou boba, sou piegas, eu não posso simplesmente desistir.
Cresci com estrelas, amores Tom Hanks-Meg Ryan,
eu quero o impossível, eu quero desobedecer as linhas da mão, o horóscopo e as cartas de tarô,
eu quero você.
Dou meia volta e corro na tua direção, na tua, na tua.
Enquanto isso, rezo
pra tudo e todos, de olhos fechados.
Corro,
torcendo pelo impacto violento que espero que signifique que você também está correndo.
Correndo pra mim.
Corra.
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34x16 Eastwood
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Imagem: TingTing Huang
Chego em casa do cinema, meus amigos me chamaram pra sair de novo: não quis.
Eu queria mais.
Ou menos.
Nem sei.
Cabeça pra fora da janela, tudo fica bem, tudo fica estável, tudo parece controlável num mundo em que toca Home e Elephant Gun, mas aí desço do carro e sou só eu.
Falo com Pégaso.
Não resisto, crio assuntos, deixo mensagens implícitas e falo e leio a resposta e não é o bastante.
Não é.
Viajo pela lista de contatos pensando em procurar alguém pra conversar, um desavisado, perguntar a ele sobre a lua e sobre a estranhice.
Mas acabo chegando no teu nome, Otto, e percebo que quero mesmo é falar com você.
Chamar.
Mas o telefone não chama, impossibilitado de receber chamadas. Chamadas minhas.
Deixo recado pra ninguém ouvir, de mentirinha.
Oi
Tudo bem?
Sou eu, Bels.
Tô te ligando porque sinto a sua falta.
Queria falar com você.
Sobre nada específico, só bobagens.
Você se parece com o Clint Eastwood de anos atrás, sabe?
Até no jeito, ele faz aquela coisa, a cara de mau. Resting bitch face, haha.
Sinto falta disso.
Quero te contar sobre a República Dominicana e músculos do antebraço.
Suturas e essa carta que escrevi sobre ir atrás de você.
Eu quero falar de você, quero ouvir sobre você.
Tenho medo de nunca mais te ver.
E eu preciso te ver de novo, Otto.
Eu preciso te ver de novo.
Eu preciso te ver de novo.
Eu preciso te ver de novo.
E, de repente, estou pedindo,
rezando,
implorando
para o aparelho de celular
mudo.
Estou ficando louca, Otto.
Um dia desses, vou arrumar a mochila e ir atrás de você.
Metal e ossos na cidade de concreto.
Vamos nos ver de novo, Otto,
quando estivermos prontos.
Eu preciso te ver de novo e,
talvez você ainda não tenha se dado conta,
mas precisa me ver de novo também.
Chego em casa do cinema, meus amigos me chamaram pra sair de novo: não quis.
Eu queria mais.
Ou menos.
Nem sei.
Cabeça pra fora da janela, tudo fica bem, tudo fica estável, tudo parece controlável num mundo em que toca Home e Elephant Gun, mas aí desço do carro e sou só eu.
Falo com Pégaso.
Não resisto, crio assuntos, deixo mensagens implícitas e falo e leio a resposta e não é o bastante.
Não é.
Viajo pela lista de contatos pensando em procurar alguém pra conversar, um desavisado, perguntar a ele sobre a lua e sobre a estranhice.
Mas acabo chegando no teu nome, Otto, e percebo que quero mesmo é falar com você.
Chamar.
Mas o telefone não chama, impossibilitado de receber chamadas. Chamadas minhas.
Deixo recado pra ninguém ouvir, de mentirinha.
Oi
Tudo bem?
Sou eu, Bels.
Tô te ligando porque sinto a sua falta.
Queria falar com você.
Sobre nada específico, só bobagens.
Você se parece com o Clint Eastwood de anos atrás, sabe?
Até no jeito, ele faz aquela coisa, a cara de mau. Resting bitch face, haha.
Sinto falta disso.
Quero te contar sobre a República Dominicana e músculos do antebraço.
Suturas e essa carta que escrevi sobre ir atrás de você.
Eu quero falar de você, quero ouvir sobre você.
Tenho medo de nunca mais te ver.
E eu preciso te ver de novo, Otto.
Eu preciso te ver de novo.
Eu preciso te ver de novo.
Eu preciso te ver de novo.
E, de repente, estou pedindo,
rezando,
implorando
para o aparelho de celular
mudo.
Estou ficando louca, Otto.
Um dia desses, vou arrumar a mochila e ir atrás de você.
Metal e ossos na cidade de concreto.
Vamos nos ver de novo, Otto,
quando estivermos prontos.
Eu preciso te ver de novo e,
talvez você ainda não tenha se dado conta,
mas precisa me ver de novo também.
Early Cuts: Alice
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garota solteira procura,
Alice é brava.
Fica vermelha quando fala sua fala visceral.
Alice.
Tenho milhões de perguntas
De onde veio o teu nome? Por que Alice? E como é que pode esse teu nome combinar tanto?
Fica vermelha quando fala sua fala visceral.
Alice.
Tenho milhões de perguntas
De onde veio o teu nome? Por que Alice? E como é que pode esse teu nome combinar tanto?
34x15 When I stayed
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
- Não.
Pediu que eu jogasse tarô. Queria saber se seu relacionamento tinha futuro.
Disse a ela que não jogaria.
Ela me perguntou o porquê. "Você já sabe a resposta para a sua pergunta"
A gente sempre sabe a resposta.
O difícil é aceitar.
Ela me perguntou se eu nunca tive esse tipo de curiosidade, quase em tom de acusação.
Não.
Na verdade, não.
Coisa engraçada.
Eu sou uma descendente profissional.
Durante anos, acordei, fiz chá, interpretei meus sonhos, li meu horóscopo, joguei meu tarô e vivi o dia de acordo com as previsões.
Uma personagem de história pronta.
Um dia, decidi me apaixonar.
Decidi, sim. Eu estava pronta para amar e ser amada.
Perguntei à elas.
E elas me descreveram ele, Pégaso.
Confundi tudo, interpretei tudo errado, achei que fosse sobre Holden, fiz a maior bagunça.
Mas ele chegou, mesmo assim.
Ele veio.
"The following", exatamente como previsto, sem tirar nem pôr.
E eu o amei.
Assustador, no entanto, saber que elas sempre estiveram certas.
Sabiam
Sobre mim, sobre ele, sobre nós.
Tinham meu futuro todo escrito, desenhado, tecido.
Respostas para todas as perguntas que eu ainda não queria fazer.
Depois do nosso primeiro encontro, decidi que tomaria, sozinha, todas as minhas decisões sobre nós.
Engraçado é que ele sempre reclamou do fato de que eu não fazia escolhar.
O que comer,
pra onde ir,
o que fazer.
Um bando de escolhas irrelevantes
que eu decidi
não fazer.
No fundo, por detrás de todas essas futilidades,
me orgulhava de fazer, sozinha, todas as escolhas referentes a nós.
Sozinha,
sem mapa,
sem guia,
sem estrelas.
Perdida, perdida, perdida.
Eu me orgulho disso, de todas as decisões que tomei, de todos os erros que cometi sozinha.
Durante nosso relacionamento, só consultei as cartas uma vez.
Uma semana antes de terminarmos, eu perguntei à elas
o que deveria fazer pra que a gente ficasse bem.
Pra que tudo ficasse bem de novo.
E elas foram implacáveis, claras, duras.
A primeira, de muitas vezes que se seguiriam.
E eu fiz o que faria todas as outras vezes,
ignorei.
Eu escolhi ficar.
Ninguém me disse pra ficar,
nem pra lutar,
pra esperar,
pra tentar de novo.
Eu escolhi ficar.
Fico me perguntando, nesse meu mau humor atual,
se não acabei apressando as coisas, incorrendo na fúria das tecelãs do destino, se teria sido diferente se eu tivesse obedecido, se tivesse
ido.
Nunca vamos saber, certo?
Mas eu escolhi ficar,
e tenho certeza de que, de alguma forma,
isso fez toda a diferença do mundo.
- Não.
Pediu que eu jogasse tarô. Queria saber se seu relacionamento tinha futuro.
Disse a ela que não jogaria.
Ela me perguntou o porquê. "Você já sabe a resposta para a sua pergunta"
A gente sempre sabe a resposta.
O difícil é aceitar.
Ela me perguntou se eu nunca tive esse tipo de curiosidade, quase em tom de acusação.
Não.
Na verdade, não.
Coisa engraçada.
Eu sou uma descendente profissional.
Durante anos, acordei, fiz chá, interpretei meus sonhos, li meu horóscopo, joguei meu tarô e vivi o dia de acordo com as previsões.
Uma personagem de história pronta.
Um dia, decidi me apaixonar.
Decidi, sim. Eu estava pronta para amar e ser amada.
Perguntei à elas.
E elas me descreveram ele, Pégaso.
Confundi tudo, interpretei tudo errado, achei que fosse sobre Holden, fiz a maior bagunça.
Mas ele chegou, mesmo assim.
Ele veio.
"The following", exatamente como previsto, sem tirar nem pôr.
E eu o amei.
Assustador, no entanto, saber que elas sempre estiveram certas.
Sabiam
Sobre mim, sobre ele, sobre nós.
Tinham meu futuro todo escrito, desenhado, tecido.
Respostas para todas as perguntas que eu ainda não queria fazer.
Depois do nosso primeiro encontro, decidi que tomaria, sozinha, todas as minhas decisões sobre nós.
Engraçado é que ele sempre reclamou do fato de que eu não fazia escolhar.
O que comer,
pra onde ir,
o que fazer.
Um bando de escolhas irrelevantes
que eu decidi
não fazer.
No fundo, por detrás de todas essas futilidades,
me orgulhava de fazer, sozinha, todas as escolhas referentes a nós.
Sozinha,
sem mapa,
sem guia,
sem estrelas.
Perdida, perdida, perdida.
Eu me orgulho disso, de todas as decisões que tomei, de todos os erros que cometi sozinha.
Durante nosso relacionamento, só consultei as cartas uma vez.
Uma semana antes de terminarmos, eu perguntei à elas
o que deveria fazer pra que a gente ficasse bem.
Pra que tudo ficasse bem de novo.
E elas foram implacáveis, claras, duras.
A primeira, de muitas vezes que se seguiriam.
E eu fiz o que faria todas as outras vezes,
ignorei.
Eu escolhi ficar.
Ninguém me disse pra ficar,
nem pra lutar,
pra esperar,
pra tentar de novo.
Eu escolhi ficar.
Fico me perguntando, nesse meu mau humor atual,
se não acabei apressando as coisas, incorrendo na fúria das tecelãs do destino, se teria sido diferente se eu tivesse obedecido, se tivesse
ido.
Nunca vamos saber, certo?
Mas eu escolhi ficar,
e tenho certeza de que, de alguma forma,
isso fez toda a diferença do mundo.
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Eu a sinto.
Na preguiça mortal de domingo, enquanto encaro o teto e as teias de aranha nele.
Eu a sinto no cantinho da minha cabeça, sussurrando perguntas que não sei responder, seu nome, procurando dor, procurando muita dor que eu não posso sentir agora.
Eu a sinto acordar no meu estômago e pedir comida, pedir, pedir.
E eu como, sem sentir fome, o mundo todo parece tão bom que eu enfio pedaço atrás de pedaço na goela. Sem sentir.
Eu a sinto, mas não só nos dias ruins.
Eu a sinto nos dias muito bons.
Dias brilhantes, cheios de som. Eu a sinto rir, passar a noite inteira acordada escrevendo fervorosamente sobre amor.
Eu a sinto, em sua busca obsessiva pelo verdadeiro amor, rindo alto e teorizando sobre horóscopos e estrelas que não sei se são mais do que rocha flutuante.
Dramática, agressiva, ela senta no chão e encara a parede, chora sem razão, assiste todos os filmes românticos que tem à mão.
Ela me põe louca, sonsa, argumenta comigo e sempre vence, decide agir por conta própria, depois desiste, larga tudo e some, não quer mais, entra debaixo das cobertas e me diz que não sai mais de lá nem por um decreto.
Fica nua, se acha gorda, grita comigo por comer tanto e, depois, come até ficar enjoada, tem diarreias, fica fraca e briga comigo porque acha que eu quero viver pra sempre.
Mando que ela cale a boca e seja normal, finja que é normal, estável.
Mas ela só fica mais louca, mais furiosa, mais destrutiva, mais
Aí desiste, larga tudo,
some.
E eu fico só, em paz, em silêncio
esperando que ela volte e bagunce tudo de novo,
como de costume.
Eu a sinto.
Na preguiça mortal de domingo, enquanto encaro o teto e as teias de aranha nele.
Eu a sinto no cantinho da minha cabeça, sussurrando perguntas que não sei responder, seu nome, procurando dor, procurando muita dor que eu não posso sentir agora.
Eu a sinto acordar no meu estômago e pedir comida, pedir, pedir.
E eu como, sem sentir fome, o mundo todo parece tão bom que eu enfio pedaço atrás de pedaço na goela. Sem sentir.
Eu a sinto, mas não só nos dias ruins.
Eu a sinto nos dias muito bons.
Dias brilhantes, cheios de som. Eu a sinto rir, passar a noite inteira acordada escrevendo fervorosamente sobre amor.
Eu a sinto, em sua busca obsessiva pelo verdadeiro amor, rindo alto e teorizando sobre horóscopos e estrelas que não sei se são mais do que rocha flutuante.
Dramática, agressiva, ela senta no chão e encara a parede, chora sem razão, assiste todos os filmes românticos que tem à mão.
Ela me põe louca, sonsa, argumenta comigo e sempre vence, decide agir por conta própria, depois desiste, larga tudo e some, não quer mais, entra debaixo das cobertas e me diz que não sai mais de lá nem por um decreto.
Fica nua, se acha gorda, grita comigo por comer tanto e, depois, come até ficar enjoada, tem diarreias, fica fraca e briga comigo porque acha que eu quero viver pra sempre.
Mando que ela cale a boca e seja normal, finja que é normal, estável.
Mas ela só fica mais louca, mais furiosa, mais destrutiva, mais
Aí desiste, larga tudo,
some.
E eu fico só, em paz, em silêncio
esperando que ela volte e bagunce tudo de novo,
como de costume.
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34x13 Redoma de vidro
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Demorei muito pra escrever sobre isso.
Mas, lá vou eu.
Eu fui assaltada. Eu, James, osGênios.
Levaram meu celular.
E levaram outra coisa, também.
eu tô com medo.
Levaram algo, algo
Levaram minha casa, minha Brasília, o único lugar em que me senti segura na vida.
Levaram
Levaram a beleza dos estranhos que se aproximam, e das noites escuras.
Levaram minha capacidade de ouvir.
Eu tenho medo,
do escuro, das janelas abertas, de voltar sozinha pra casa, de demorar pra entrar no carro, de sair das festas.
De dormir.
Não tá tudo bem.
A cidade era minha, minha cidade, minha casa. Uma mulher gigantesca de concreto e vidro a me segurar pela mão,
Sólida.
E eu quero isso de volta.
Quero de volta as sensações fúteis, o não me importar com quem vive e quem morre, ou com amor e outras bobagens.
Queria que o tutorial fosse a maior das minhas preocupações, e não tremer de medo quando tenho que descer pra levar o lixo.
Eu não sei quem você é. Eu não sei da sua vida, da sua história. O que nos separa são milhares de oportunidades, de privilégios invisíveis dentro dessa minha velha redoma.
Eu não sei como é ser você,
eu não sei o que sentir sobre você.
Mas eu peço encarecidamente que me devolva.
Pode ficar com o celular, as músicas, as lembranças, as conversas.
Eu quero minha inocência de volta,
eu quero me sentir segura,
eu quero não ter medo de cada homem e mulher que surge ao longe,
e quero voltar dirigindo sem rezar pela minha vida, pra ficar salva, pra ficar sã.
Eu só quero de volta a sensação de ser imortal,
de estar segura.
Pode ficar com o resto.
Eu só quero voltar a ser eu.
Demorei muito pra escrever sobre isso.
Mas, lá vou eu.
Eu fui assaltada. Eu, James, osGênios.
Levaram meu celular.
E levaram outra coisa, também.
eu tô com medo.
Levaram algo, algo
Levaram minha casa, minha Brasília, o único lugar em que me senti segura na vida.
Levaram
Levaram a beleza dos estranhos que se aproximam, e das noites escuras.
Levaram minha capacidade de ouvir.
Eu tenho medo,
do escuro, das janelas abertas, de voltar sozinha pra casa, de demorar pra entrar no carro, de sair das festas.
De dormir.
Não tá tudo bem.
A cidade era minha, minha cidade, minha casa. Uma mulher gigantesca de concreto e vidro a me segurar pela mão,
Sólida.
E eu quero isso de volta.
Quero de volta as sensações fúteis, o não me importar com quem vive e quem morre, ou com amor e outras bobagens.
Queria que o tutorial fosse a maior das minhas preocupações, e não tremer de medo quando tenho que descer pra levar o lixo.
Eu não sei quem você é. Eu não sei da sua vida, da sua história. O que nos separa são milhares de oportunidades, de privilégios invisíveis dentro dessa minha velha redoma.
Eu não sei como é ser você,
eu não sei o que sentir sobre você.
Mas eu peço encarecidamente que me devolva.
Pode ficar com o celular, as músicas, as lembranças, as conversas.
Eu quero minha inocência de volta,
eu quero me sentir segura,
eu quero não ter medo de cada homem e mulher que surge ao longe,
e quero voltar dirigindo sem rezar pela minha vida, pra ficar salva, pra ficar sã.
Eu só quero de volta a sensação de ser imortal,
de estar segura.
Pode ficar com o resto.
Eu só quero voltar a ser eu.
34x12 Coadjuvante
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Eu te espero voltar enquanto o almoço esfria sobre o fogão.
Mas você não volta, você nunca mais volta.
Quem é você?
Eu não te reconheço, mas você não mudou nada. Sempre foi você.
Eu me apaixonei pela sombra escondida nos seus olhos, o jeito como os fios do seu cabelo teimavam em crescer.
Eu me apaixonei pelos seus sonhos.
Por tanto tempo, você foi a mão errada dentro da luva, um inseto preso no quarto, batendo na janela e tentando sair. Sentindo o vento, sem saber de onde ele vinha.
Eu amo você.
Eu amei você desde o primeiro segundo. Antes mesmo de te ver.
E, agora, eu te vejo.
Eu te via antes, fragmentada, nas pontas dos dedos, na respiração, na cor rosa da sua língua a roçar sua gengiva, na respiração, nas pausas, no toque. Mas agora é diferente.
Eu te vejo, por completo.
Eu te vejo quando abro os olhos pela manhã, e você me sussurra um bom dia doce e delicado, o seu bom dia.
Eu te vejo, e te amo, então tampo as panelas e distraio o estômago com um copo de suco
enquanto espero que você volte.
Mas você não volta.
Você não é como eu, você não simplesmente vai e volta, liga e desliga.
Você é.
Eu simplesmente existo, eu não sou.
Você é.
E, uma vez que se é, não se pode esconder.
Não esconda.
"Eu estou doente", digo, em tom de segredo, "mas você não está. Você é, e a doença, meu amor, a doença é existir. Você é".
Retiro sua máscara, com toda a delicadeza
e você é linda.
Você é.
E eu queria entender, queria saber, queria te proteger, eu queria
Mas não é sobre mim. É sobre rios, sobre saber quem você é, sobre ser, sobre você.
Então abro bem as janelas, pra que você possa voltar e sair quando quiser, voar pra bem longe, pra um lugar onde você possa ser.
E eu espero, meu amor, que eu também possa encontrar esse lugar ou, ao menos,
uma cura
pra minha própria existência.
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34x11 Silver Linings
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Eu quero me apaixonar.
Não pelo calor debaixo das cobertas num sábado frio,
nem pelo personagem principal da série de TV,
nem pela cor do esmalte favorito de alguém.
Eu quero me apaixonar por alguém.
Uma vontade sofrida,
desesperada,
que só pode ter as motivações erradas.
Me esforço,
converso,
vou a encontros mal sucedidos,
ando por aí cega, deslumbrada,
eu tô tentando.
Desesperadamente.
Educo minha mente com as músicas românticas, os filmes de sessão da tarde,
eu quero me apaixonar
eu quero me apaixonar,
quero sufocar meu cinismo e me fazer acreditar que existe mesmo esse tipo de amor que os filmes pregam.
Eu quero me apaixonar.
O horóscopo me prometeu isso, as estrelas me deixaram mensagens dizendo que aconteceria
E eu acreditei.
Com mais fé do que já acreditei em qualquer coisa no mundo.
Me prometeram uma paixão pra setembro,
mas já é novembro.
E eu
Eu quero me apaixonar.
Eu preciso.
Uma carta no tarô me diz que vai acontecer e eu espero,
eu espero
eu espero
Eu acredito tanto, tanto
Nada acontece.
Digo a H, histérica,
jurando ódio às mulheres estrelas,
à Mãe, à Donzela, à Morta,
ao amor e todo o resto.
Aí ele me diz
exatamente o que preciso ouvir.
Isso é quem eu sou.
Essa fé estranha em mulheres que lêem as mensagens que as estrelas mandam,
eu sou a Ashling sem o buda da sorte, com toda a dor do mundo.
Eu sou tão boa quanto posso ser.
Gosto de livros e de ficar em casa.
De batatas fritas, cozidas e de todos os tipos.
Eu gosto dos meus pés.
Eu acredito em horóscopos, eu sou uma descendente profissional.
Não sou boa com diálogos, nem gosto de filmes, nem sei tudo o que há para saber sobre nada.
E estou bem assim.
Eu me sinto ótima.
E não quero mais forçar as coisas.
Eu quero ficar em casa, sim, ficar em casa
Eu quero fazer as coisas do meu jeito, eu quero dançar feito uma maluca, eu quero me vestir como quiser, eu quero gostar de ser quem sou, e eu quero que gostem de mim por isso.
Não porque eu me esforcei pra ter um assunto pra falar,
porque eu me arrumei toda
ou só porque eu conheço a droga de um livro.
Eu sou incrível.
E, sei que parece estúpido, caro leitor, mas é muito difícil pra mim aceitar, dizer ou entender isso.
E eu não percebo, na maior parte do tempo.
Mas eu sou bem legal.
E existe muita coisa que as pessoas não sabem sobre mim. Nem mesmo você.
Espero que, um dia, alguém se interesse o suficiente pra tentar descobrir tudo.
- Você acredita em destino? - ele me perguntou.
E eu disse que sim, embora fosse horrível, porque é tão inalterável.
E ele me disse pra pensar nisso de outra forma, daquela forma incrível dele,
sobre esperar coisas boas.
Tem algo aí pra mim,
tem alguém aí pra mim.
E eu acredito nele.
Eu acredito.
Eu quero me apaixonar.
Não pelo calor debaixo das cobertas num sábado frio,
nem pelo personagem principal da série de TV,
nem pela cor do esmalte favorito de alguém.
Eu quero me apaixonar por alguém.
Uma vontade sofrida,
desesperada,
que só pode ter as motivações erradas.
Me esforço,
converso,
vou a encontros mal sucedidos,
ando por aí cega, deslumbrada,
eu tô tentando.
Desesperadamente.
Educo minha mente com as músicas românticas, os filmes de sessão da tarde,
eu quero me apaixonar
eu quero me apaixonar,
quero sufocar meu cinismo e me fazer acreditar que existe mesmo esse tipo de amor que os filmes pregam.
Eu quero me apaixonar.
O horóscopo me prometeu isso, as estrelas me deixaram mensagens dizendo que aconteceria
E eu acreditei.
Com mais fé do que já acreditei em qualquer coisa no mundo.
Me prometeram uma paixão pra setembro,
mas já é novembro.
E eu
Eu quero me apaixonar.
Eu preciso.
Uma carta no tarô me diz que vai acontecer e eu espero,
eu espero
eu espero
Eu acredito tanto, tanto
Nada acontece.
Digo a H, histérica,
jurando ódio às mulheres estrelas,
à Mãe, à Donzela, à Morta,
ao amor e todo o resto.
Aí ele me diz
exatamente o que preciso ouvir.
Isso é quem eu sou.
Essa fé estranha em mulheres que lêem as mensagens que as estrelas mandam,
eu sou a Ashling sem o buda da sorte, com toda a dor do mundo.
Eu sou tão boa quanto posso ser.
Gosto de livros e de ficar em casa.
De batatas fritas, cozidas e de todos os tipos.
Eu gosto dos meus pés.
Eu acredito em horóscopos, eu sou uma descendente profissional.
Não sou boa com diálogos, nem gosto de filmes, nem sei tudo o que há para saber sobre nada.
E estou bem assim.
Eu me sinto ótima.
E não quero mais forçar as coisas.
Eu quero ficar em casa, sim, ficar em casa
Eu quero fazer as coisas do meu jeito, eu quero dançar feito uma maluca, eu quero me vestir como quiser, eu quero gostar de ser quem sou, e eu quero que gostem de mim por isso.
Não porque eu me esforcei pra ter um assunto pra falar,
porque eu me arrumei toda
ou só porque eu conheço a droga de um livro.
Eu sou incrível.
E, sei que parece estúpido, caro leitor, mas é muito difícil pra mim aceitar, dizer ou entender isso.
E eu não percebo, na maior parte do tempo.
Mas eu sou bem legal.
E existe muita coisa que as pessoas não sabem sobre mim. Nem mesmo você.
Espero que, um dia, alguém se interesse o suficiente pra tentar descobrir tudo.
- Você acredita em destino? - ele me perguntou.
E eu disse que sim, embora fosse horrível, porque é tão inalterável.
E ele me disse pra pensar nisso de outra forma, daquela forma incrível dele,
sobre esperar coisas boas.
Tem algo aí pra mim,
tem alguém aí pra mim.
E eu acredito nele.
Eu acredito.
34x10 Caring is creepy
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
- Eu não sei - respondo
Eu não sei.
Talvez eu me importe demais.
Confundo as coisas, enxergo sinais onde não existem, meu peito dá um nó, eu não entendo o que sinto.
E não, não estou em negação, até admitiria tudo e cairia de joelhos de novo, se tivesse a certeza que já tive.
Não tenho.
Certeza nenhuma.
Penso que não,
minhas costelas queimam,
sonho sonhos de dor,
busco seu nome no Facebook,
procuro essa linha vermelha amarrada em você - sinto vontade de rasgar suas roupas pra procurar a ponta desse fio que tem que estar lá, que tem que estar lá, que não pode estar lá, por favor, Deus, não pode estar lá,
eu quero falar com você,
eu quero te ver.
Penso que sim.
Mas não é você que eu quero.
Que merda, você nem sabe quem é a Russian Red, E eu não quero te explicar.
Eu não quero dormir com você,
eu não quero ficar com você,
eu nem sei se quero beijar você.
Eu só quero
alguma coisa.
(E, enquanto escrevo isso, tenho essa impressão de que eu só quero mesmo alguma coisa. Mas não precisa vir de você)
Yoda me diz, no seu palavreado confuso e profundo, que preciso me resolver, preciso me decidir, preciso conversar.
Mas eu não sei o que dizer.
Eu não entendo o que tá acontecendo.
Pergunto se acaba, se isso termina no final, se as coisas são mesmo cíclicas, porque eu tô perdida, porque eu realmente não sei mais essa resposta, que eu achei que fosse óbvia.
Eu quero saber quando é que isso passa,
quando é que isso sai das minhas costelas e da ponta dos meus dedos.
E ela me diz que vai passar quando eu menos esperar.
Mas eu só posso esperar.
Eu só posso esperar.
34x09 Remain Nameless
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
"Acorde"
Um grito no meio da noite.
Abri os olhos e a realidade baixa aos poucos, sem se encaixar nos lugares certos.
Eu não sou eu.
Há quanto tempo isso não acontecia? Semanas, meses. Talvez um ano.
Tomei alguma coisa, alguma droga, provavelmente, e não conseguia me defender de mim mesma.
Ela abriu meus olhos, assustada, ferida, todas as sensações a que ela jamais tinha acessado, de uma vez, cegando, enregelando, machucando, nauseando, ensurdecendo, enlouquecendo.
Sem nome, sem saber nada do mundo, a fera saiu de seu útero escuro, úmido e fétido.
E correu, sem saber como se corria.
A experiência, de que eu já tinha me esquecido, assemelhava-se um pouco a colocar a mão em uma luva ao contrário, dedão no espaço do mindinho.
As coisas não se encaixavam.
Ela se sentia mal, uma experiência mal sucedida, Frankenstein, mas não achava as palavras, coisa recém-criada.
Tentei explicar, tentei entender, mas não consegui.
Ela estava assustada, não me ouvia, não entendia, e eu me sentia engolfada por todo aquele medo, aquela dor.
Tentei acessá-la de todas as maneiras, acalmá-la, mas o pânico era imenso. Maior do que qualquer coisa que já senti nos últimos dias, talvez, desde muito tempo o sentimento mais intenso que já tive, nada romântico ou sexual: medo.
Assim como ela surgiu, foi embora. No outro dia, pela manhã.
Mais uma, de tantas, pensei, enquanto tomava meus remédios negligenciados.
Ela vai aparecer de novo, em algum momento.
Tenho uma certeza enorme disso. Acho que acontece porque, apesar da falta de jeito, a conexão pareceu a certa.
Natural, de um jeito completamente novo.
Aquele medo, aquela dor.
Quem quer que seja a mulher sem nome, a besta silenciosa e arredia que saiu do escuro usando meu rosto,
tenho a perturbadora impressão de que, de todos os fragmentos dessa minha mente transtornada,
aquele era o que mais continha pedaços de mim.
Era eu, na minha versão original, sem cortes, sem extras.
Eu.
E nos encontraremos de novo.
Disso, não há a menor dúvida.
"Acorde"
Um grito no meio da noite.
Abri os olhos e a realidade baixa aos poucos, sem se encaixar nos lugares certos.
Eu não sou eu.
Há quanto tempo isso não acontecia? Semanas, meses. Talvez um ano.
Tomei alguma coisa, alguma droga, provavelmente, e não conseguia me defender de mim mesma.
Ela abriu meus olhos, assustada, ferida, todas as sensações a que ela jamais tinha acessado, de uma vez, cegando, enregelando, machucando, nauseando, ensurdecendo, enlouquecendo.
Sem nome, sem saber nada do mundo, a fera saiu de seu útero escuro, úmido e fétido.
E correu, sem saber como se corria.
A experiência, de que eu já tinha me esquecido, assemelhava-se um pouco a colocar a mão em uma luva ao contrário, dedão no espaço do mindinho.
As coisas não se encaixavam.
Ela se sentia mal, uma experiência mal sucedida, Frankenstein, mas não achava as palavras, coisa recém-criada.
Tentei explicar, tentei entender, mas não consegui.
Ela estava assustada, não me ouvia, não entendia, e eu me sentia engolfada por todo aquele medo, aquela dor.
Tentei acessá-la de todas as maneiras, acalmá-la, mas o pânico era imenso. Maior do que qualquer coisa que já senti nos últimos dias, talvez, desde muito tempo o sentimento mais intenso que já tive, nada romântico ou sexual: medo.
Assim como ela surgiu, foi embora. No outro dia, pela manhã.
Mais uma, de tantas, pensei, enquanto tomava meus remédios negligenciados.
Ela vai aparecer de novo, em algum momento.
Tenho uma certeza enorme disso. Acho que acontece porque, apesar da falta de jeito, a conexão pareceu a certa.
Natural, de um jeito completamente novo.
Aquele medo, aquela dor.
Quem quer que seja a mulher sem nome, a besta silenciosa e arredia que saiu do escuro usando meu rosto,
tenho a perturbadora impressão de que, de todos os fragmentos dessa minha mente transtornada,
aquele era o que mais continha pedaços de mim.
Era eu, na minha versão original, sem cortes, sem extras.
Eu.
E nos encontraremos de novo.
Disso, não há a menor dúvida.
34x08 Trust Issues
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Vomito e apago, num banheiro escuro no centro do mundo.
Nasci sozinha, hei de morrer sozinha,
meu corpo gruda, o cérebro não funciona, eu não sinto, porque não consigo traduzir o cheiro, o desejo, o medo, o gosto
Sou puro instinto, vomito e durmo, apago num borrão de sensações indistinguíveis.
Acordo na noite escura, animal assustado, ferido, anestesiado e grito, uivo alto, tenho medo.
Saio na chuva, buscando as luzes, mas não sei pra onde ir. Esqueci onde estou, esqueci quem sou.
Eu simplesmente existo.
Sem razão aparente,
simplesmente existo em meio ao caos.
O céu desaba enquanto choro feito bebê, sem motivo, a dor de existir sem rumo.
Alguém me encontra e me diz meu nome, não o reconheço e, ao mesmo tempo, sou eu.
Um nome, uma sina, olho minhas mãos cheias de linhas fundas, eu existo.
Ele me pergunta se alguém fez algo comigo.
E eu sei o que ele quer saber, eu sei, lá no fundo, mas eu quero dizer que sim, fizeram muitas coisas
Existem muitas coisas ruins que se pode fazer com alguém, e nem sempre envolvem sexo.
Chorei, ou a chuva no meu rosto chorou, minha boca não conseguia expressar toda a dor e o medo. Eu tremia, de frio ou de pavor.
"Tá tudo bem, confia em mim"
Id solto, bêbada na chuva, morrendo de frio, de medo, de qualquer coisa que não sei explicar bem,
dei dois passos pra trás,
eu não confio.
Cega, incapaz de fugir, de lutar, eu não conseguia aceitar ajuda.
Eu não confio.
Chorei de novo, uma luta interna pra dizer "ok, eu acredito"
Ok, eu confio
Não deu.
Eu não confio.
Eu não confio, algo grita nos meus ouvidos, o som de milhares de gritos me ensurdecendo, eu não confio, não confiamos, não confiamos, não confiamos, não confiamos
Dormi: sono sem sonhos, gosto ruim na boca.
E acordei longe do escuro,
com essa sensação ambivalente de estar protegida por um milhão de armaduras.
Me sinto segura e, ao mesmo tempo,
certa de que
nunca
vou deixar alguém entrar.
Vomito e apago, num banheiro escuro no centro do mundo.
Nasci sozinha, hei de morrer sozinha,
meu corpo gruda, o cérebro não funciona, eu não sinto, porque não consigo traduzir o cheiro, o desejo, o medo, o gosto
Sou puro instinto, vomito e durmo, apago num borrão de sensações indistinguíveis.
Acordo na noite escura, animal assustado, ferido, anestesiado e grito, uivo alto, tenho medo.
Saio na chuva, buscando as luzes, mas não sei pra onde ir. Esqueci onde estou, esqueci quem sou.
Eu simplesmente existo.
Sem razão aparente,
simplesmente existo em meio ao caos.
O céu desaba enquanto choro feito bebê, sem motivo, a dor de existir sem rumo.
Alguém me encontra e me diz meu nome, não o reconheço e, ao mesmo tempo, sou eu.
Um nome, uma sina, olho minhas mãos cheias de linhas fundas, eu existo.
Ele me pergunta se alguém fez algo comigo.
E eu sei o que ele quer saber, eu sei, lá no fundo, mas eu quero dizer que sim, fizeram muitas coisas
Existem muitas coisas ruins que se pode fazer com alguém, e nem sempre envolvem sexo.
Chorei, ou a chuva no meu rosto chorou, minha boca não conseguia expressar toda a dor e o medo. Eu tremia, de frio ou de pavor.
"Tá tudo bem, confia em mim"
Id solto, bêbada na chuva, morrendo de frio, de medo, de qualquer coisa que não sei explicar bem,
dei dois passos pra trás,
eu não confio.
Cega, incapaz de fugir, de lutar, eu não conseguia aceitar ajuda.
Eu não confio.
Chorei de novo, uma luta interna pra dizer "ok, eu acredito"
Ok, eu confio
Não deu.
Eu não confio.
Eu não confio, algo grita nos meus ouvidos, o som de milhares de gritos me ensurdecendo, eu não confio, não confiamos, não confiamos, não confiamos, não confiamos
Dormi: sono sem sonhos, gosto ruim na boca.
E acordei longe do escuro,
com essa sensação ambivalente de estar protegida por um milhão de armaduras.
Me sinto segura e, ao mesmo tempo,
certa de que
nunca
vou deixar alguém entrar.
34x07 Meia-Verdade
Postado por
garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Você está doente.
Abro a boca e molho a pílula com saliva quente,
eu tô doente.
Mas se eu não tô
me levando da cama e danço, aí você chega.
- Você tá doente.
Abro a boca, engulo o remédio, mais um, mais outro, eu tô doente.
Sinto calor, sinto dor,
aí você desaparece na sua nuvem, na sua vida,
na sua sina que não tem mais nada a ver com a minha
e eu fico curada,
nova em folha
pronta pra luta
em posição de ataque
até você abrir a porta para um beijo de boa noite, leite quente e xarope doce,
eu tô doente,
fecho a boca , digo que não engulo mais nada e você
"Você tá doente"
Que pessoa ruim eu sou,
te magoando assim, recusando seu cuidado, seu amor, leite quente e xarope doce,
devo estar mesmo doente.
Acordo cedo, morta de dor, vontade de sair correndo, de voar,
e te pego cortando as pontas das minhas asas.
"Você tá doente"
Eu choro e você me diz que só quer que eu melhore, pra voar de novo, pra voar mais alto e pra bem longe.
Vai passar rápido, vai passar logo, vai passar, mas agora não,
hoje não,
essa noite não.
Abro a boca, tomo remédio com leite quente.
Afinal de contas, eu tô doente,
eu sou doente.
Fecho os olhos e tento dormir
Antes que o sono chegue de vez,
me vêm à cabeça
xarope doce - leite quente
Será que não é você,
quem está doente?
Aí durmo e esqueço.
Você está doente.
Abro a boca e molho a pílula com saliva quente,
eu tô doente.
Mas se eu não tô
me levando da cama e danço, aí você chega.
- Você tá doente.
Abro a boca, engulo o remédio, mais um, mais outro, eu tô doente.
Sinto calor, sinto dor,
aí você desaparece na sua nuvem, na sua vida,
na sua sina que não tem mais nada a ver com a minha
e eu fico curada,
nova em folha
pronta pra luta
em posição de ataque
até você abrir a porta para um beijo de boa noite, leite quente e xarope doce,
eu tô doente,
fecho a boca , digo que não engulo mais nada e você
"Você tá doente"
Que pessoa ruim eu sou,
te magoando assim, recusando seu cuidado, seu amor, leite quente e xarope doce,
devo estar mesmo doente.
Acordo cedo, morta de dor, vontade de sair correndo, de voar,
e te pego cortando as pontas das minhas asas.
"Você tá doente"
Eu choro e você me diz que só quer que eu melhore, pra voar de novo, pra voar mais alto e pra bem longe.
Vai passar rápido, vai passar logo, vai passar, mas agora não,
hoje não,
essa noite não.
Abro a boca, tomo remédio com leite quente.
Afinal de contas, eu tô doente,
eu sou doente.
Fecho os olhos e tento dormir
Antes que o sono chegue de vez,
me vêm à cabeça
xarope doce - leite quente
Será que não é você,
quem está doente?
Aí durmo e esqueço.
34x06 Who's bad?
Postado por
garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Caro Pégaso,
não preciso da sua validação.
Mas preciso.
Preciso saber.
Quem é mau?
Quem foi mau?
Foi tão ruim assim?
Eu me olho no espelho e me vejo, sou capaz de me ver.
Eu sou capaz de gostar do meu rosto, do meu corpo.
Eu gosto de mim.
Mas esse estigma não sai.
A cicatriz nas minhas costas desapareceu há muito tempo, mas essa não some.
Sou uma pessoa ruim?
Eu consigo ficar com alguém?
Eu consigo lutar por algo?
Consigo ficar ?
E se eu ficar?
Não quero repetir padrões, não quero um número no CID, não quero que me digam como vou viver meus relacionamentos.
Mas, às vezes, quero que você diga.
Que você confirme que não fui feita pra coisa, que me diga que posso dormir tranquila sabendo que vou acabar sozinha, criando gatos ou chinchilas, amarga ou não.
Quem errou?
Eu?
Fui eu quem errou?
Fui eu quem veio toda errada, signo avoado, vênus muito intenso, essa lua em aquário, meu pai que foi embora e sumiu, essa mãe incrível, mas meio pai, cheia de assuntos inacabados.
Meus exemplos falhos de romance,
o cinismo e todos esses casamentos que acabam em divórcio,
foi aí que eu errei?
Já vim com defeito?
Ou foi depois, minha insegurança, o ciúme excessivo, foi o fato de estar doente?
Ou era você, que não aguentava mais olhar?
Foi a minha dor inexplicada pelo mundo e toda a beleza que eu não sabia ter?
Eu te sufoquei?
Todos os dias, de maneira que você não viu outra saída?
Eu não te amei o bastante?
Ou eu não me amei o bastante?
Por isso você foi embora?
Sou lesa, demoro a entender, perco os significados e as nuances de cor. Não entendo de aritmética, geometria, geografia, não entendo de amor.
Não entendo de você, nem se te conheço de verdade, não entendo de mim, do tempo ou do que costumávamos ser.
Sento aqui e te escrevo uma carta, cheia de medo de obter as respostas pras minhas perguntas, cheia de fúria e de coragem pra não aceitar a culpa de mais nada.
Eu quero saber
Mas não sei se me importo.
Não sei se faz diferença.
Eu não preciso da sua validação, ela disse.
Mas eu quero.
Só que não sei se me importo
Com o meu querer,
ou com o que quer que você tenha pra dizer.
Com amor,
B.
Caro Pégaso,
não preciso da sua validação.
Mas preciso.
Preciso saber.
Quem é mau?
Quem foi mau?
Foi tão ruim assim?
Eu me olho no espelho e me vejo, sou capaz de me ver.
Eu sou capaz de gostar do meu rosto, do meu corpo.
Eu gosto de mim.
Mas esse estigma não sai.
A cicatriz nas minhas costas desapareceu há muito tempo, mas essa não some.
Sou uma pessoa ruim?
Eu consigo ficar com alguém?
Eu consigo lutar por algo?
Consigo ficar ?
E se eu ficar?
Não quero repetir padrões, não quero um número no CID, não quero que me digam como vou viver meus relacionamentos.
Mas, às vezes, quero que você diga.
Que você confirme que não fui feita pra coisa, que me diga que posso dormir tranquila sabendo que vou acabar sozinha, criando gatos ou chinchilas, amarga ou não.
Quem errou?
Eu?
Fui eu quem errou?
Fui eu quem veio toda errada, signo avoado, vênus muito intenso, essa lua em aquário, meu pai que foi embora e sumiu, essa mãe incrível, mas meio pai, cheia de assuntos inacabados.
Meus exemplos falhos de romance,
o cinismo e todos esses casamentos que acabam em divórcio,
foi aí que eu errei?
Já vim com defeito?
Ou foi depois, minha insegurança, o ciúme excessivo, foi o fato de estar doente?
Ou era você, que não aguentava mais olhar?
Foi a minha dor inexplicada pelo mundo e toda a beleza que eu não sabia ter?
Eu te sufoquei?
Todos os dias, de maneira que você não viu outra saída?
Eu não te amei o bastante?
Ou eu não me amei o bastante?
Por isso você foi embora?
Sou lesa, demoro a entender, perco os significados e as nuances de cor. Não entendo de aritmética, geometria, geografia, não entendo de amor.
Não entendo de você, nem se te conheço de verdade, não entendo de mim, do tempo ou do que costumávamos ser.
Sento aqui e te escrevo uma carta, cheia de medo de obter as respostas pras minhas perguntas, cheia de fúria e de coragem pra não aceitar a culpa de mais nada.
Eu quero saber
Mas não sei se me importo.
Não sei se faz diferença.
Eu não preciso da sua validação, ela disse.
Mas eu quero.
Só que não sei se me importo
Com o meu querer,
ou com o que quer que você tenha pra dizer.
Com amor,
B.
34x05 Saudade, uma versão
Postado por
garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Sinto a sua falta e nem te conheço.
Ando inquieta, distraída.
Fiz uma prova ou duas, estudei, trabalhei com teu nome na nas pontas: da língua e dos dedos.
Sinto ânsias de falar com você, mas não sei o que dizer. Tô esperando passar, tô esperando melhorar dessa síndrome febril que você me fez desenvolver.
Sinto falta do seu cabelo e do seu abraço meio desajeitado.
Sinto falta de tanta coisa que nem sequer aconteceu.
Sou estúpida, sinto falta das brigas que não tivemos e de jantares a que fomos de mãos dadas num futuro distante e imaginário.
Daqui a alguns dias, semanas ou meses, vou rir de tudo isso, dessa paixonite absurda que me conecta a mais uma pessoa que nunca vai saber que existi. Talvez sinta até um pouco de vergonha por toda essa tolice.
Mas agora, sinto a sua falta.
Saudade,
penso em você dormindo em uma tarde nublada de domingo, ou lendo, maquinando planos de dominação mundial, gritando palavras de ordem nas ruas ou em bares, penteando os cabelos ou dando risada de algo que alguém disse pra te impressionar.
Tudo isso enquanto escrevo sobre você, essa coisas que você jamais vai ler
e que eu nunca vou dizer.
Sinto a sua falta e nem te conheço.
Ando inquieta, distraída.
Fiz uma prova ou duas, estudei, trabalhei com teu nome na nas pontas: da língua e dos dedos.
Sinto ânsias de falar com você, mas não sei o que dizer. Tô esperando passar, tô esperando melhorar dessa síndrome febril que você me fez desenvolver.
Sinto falta do seu cabelo e do seu abraço meio desajeitado.
Sinto falta de tanta coisa que nem sequer aconteceu.
Sou estúpida, sinto falta das brigas que não tivemos e de jantares a que fomos de mãos dadas num futuro distante e imaginário.
Daqui a alguns dias, semanas ou meses, vou rir de tudo isso, dessa paixonite absurda que me conecta a mais uma pessoa que nunca vai saber que existi. Talvez sinta até um pouco de vergonha por toda essa tolice.
Mas agora, sinto a sua falta.
Saudade,
penso em você dormindo em uma tarde nublada de domingo, ou lendo, maquinando planos de dominação mundial, gritando palavras de ordem nas ruas ou em bares, penteando os cabelos ou dando risada de algo que alguém disse pra te impressionar.
Tudo isso enquanto escrevo sobre você, essa coisas que você jamais vai ler
e que eu nunca vou dizer.
34x04 Alice
Postado por
garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Fiquei estúpida.
Digo coisas sem sentido, palavras ao acaso sobre as quais não penso.
Ensaio várias coisas inteligentes-simpáticas-educadas que te chamem a atenção, aí olho pro teu rosto e as palavras somem.
Eu quero ficar perto de você.
Tô tentando ser honesta, mas não me entendo, não entendo nada, voltei a ser leiga nessas coisas de gostar.
Como é que se gosta e por que é que se gosta de alguém com quem troquei duas palavras?
Alice.
Seu nome tem gosto de doce,
sua voz faz cócegas.
Boca vermelha escura,
visceral,
capaz de gritar palavras de ordem,
histórias tristes,
de sorrir bonito.
Gosto do seu cabelo.
Queria ter sentido o seu cheiro de perto, ter te dito algo que te fizesse rir.
Não sei o que acontece, nem porque parece tão natural assim que eu goste de você.
Mas vai passar, Alice. Infelizmente ou não, sempre passa.
Eu me apaixono assim, bobamente, a todo minuto, por todo mundo.
Vai passar.
Eu só não sei se quero que passe.
34x03 Alone is not together
Postado por
garota solteira procura,
Imagem: Ting Ting Huang
Sozinho não é junto.
Nunca foi, nunca vai ser.
Enquanto você conversa com seus amigos, de costas pra mim.
Sozinho não é junto, enquanto eu me sinto derreter no sofá de casa, numa tarde quente de um dia qualquer, mais um dia, só mais um, e você não vem.
Sozinho não é junto quando choro no carro, parada na frente de casa.
Sozinho não é junto quando você finge dormir pra não ter mais que conversar.
Sozinho não é junto quando eu tô sentada te esperando chegar por horas, horas e horas.
Sozinho não é junto quando você está com ela.
Sozinho não é junto quando eu tenho que descobrir todas as respostas, quando não entendo as perguntas, quando eu nem sei quem eu sou.
Sozinho não é junto quando não sei onde eu termino e onde você começa.
Sozinho não é junto quando parece que falamos duas línguas completamente diferentes.
Sozinho não é junto
Sozinho não é junto
Sozinho não é junto
Eu consigo entender, só não consigo aceitar.
34x02 Undateable
Postado por
garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
- Eu não posso fazer isso.
Eu não posso.
Porque eu não amo você.
E eu não quero mais não amar alguém.
Eu quero querer você como você me quer.
Mas eu não posso.
Eu posso tentar fingir,
mas meu corpo não consegue mais mentir.
Eu não consigo.
Eu me importo com você, muito muito
o bastante pra não querer fazer isso. Não dessa maneira.
Te observo dormir,
e eu sei que não posso mais fazer isso.
Estou ficando louca.
E eu não quero mais ficar louca.
Eu quero ficar ok.
Eu quero ficar bem.
Eu quero ficar feliz.
E eu tô com medo, um medo estranho, mas com o qual dá pra viver
de que eu só consiga ser feliz assim,
como eu quero ser,
se estiver sozinha.
Como eu sou quando você vai embora,
no silêncio de uma tarde de domingo,
quieta e sã.
Não porque você veio, mas porque você partiu.
Eu sinto muito,
não posso fazer isso.
Nem com você,
nem comigo mesma.
Boa sorte.
34x01 Back in the saddle
Postado por
garota solteira procura,
Drinks - 0
Cigarrettes - 0
Dates - 0
Weight - 50
Ex talks - 1
Eu quero me apaixonar.
Assim, sem necessidade de esperar, de forma honesta e adulta,
eu não quero mais esperar uma previsão favorável do horóscopo ou a boa vontade de mulheres estrelas, que com certeza têm mais o que fazer, com todos esses mortais e suas velas da Babilônia.
Eu não quero mais ouvir 3 mulheres cegas descrevendo o homem a quem vou amar, ou me forçar a gostar de alguém que gosta de mim.
Eu não quero mais fazer coisas contra a minha vontade, ou porque acho que devo ou porque acho que vou gostar ou porque
Eu não quero mais.
Eu quero me apaixonar por alguém que goste de coisas de que gosto também, alguém com quem eu queira conversar e que eu queira ver.
Por alguém que queira me ver.
E eu não quero mais ficar em casa.
Mas também não quero mais sair por aí beijando desconhecidos (e é possível que eu seja muito criticada pelo Brasil inteiro e tenha que ficar fingindo pra todo mundo e pra mim mesma que não sou boa o suficiente).
Resta me render ao estereótipo de solteirona, sorrowed spinster do século XXI, e esperar por aquele famigerado match, eu suponho.
Escolho aquela foto favorita, que provavelmente não vai ser a foto favorita de cara nenhum, me coloco na vitrine, sem frase de efeito pra usar - poxa, eu sou só normal - e espero que alguém olhe nos meus olhos congelados na fotografia e decida arriscar.
E é depois que faço isso, que tomo essa decisão de agir, é que percebo que, agora,
só resta esperar.
E é assim que, no fim das contas, acabo, como sempre
esperando.
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