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Imagem: TingTing Huang

Eu a sinto.
Na preguiça mortal de domingo, enquanto encaro o teto e as teias de aranha nele.

Eu a sinto no cantinho da minha cabeça, sussurrando perguntas que não sei responder, seu nome, procurando dor, procurando muita dor que eu não posso sentir agora.

Eu a sinto acordar no meu estômago e pedir comida, pedir, pedir.
E eu como, sem sentir fome, o mundo todo parece tão bom que eu enfio pedaço atrás de pedaço na goela. Sem sentir.
Eu a sinto, mas não só nos dias ruins.

Eu a sinto nos dias muito bons.
Dias brilhantes, cheios de som. Eu a sinto rir, passar a noite inteira acordada escrevendo fervorosamente sobre amor.
Eu a sinto, em sua busca obsessiva pelo verdadeiro amor, rindo alto e teorizando sobre horóscopos e estrelas que não sei se são mais do que rocha flutuante.
Dramática, agressiva, ela senta no chão e encara a parede, chora sem razão, assiste todos os filmes românticos que tem à mão.

Ela me põe louca, sonsa, argumenta comigo e sempre vence, decide agir por conta própria, depois desiste, larga tudo e some, não quer mais, entra debaixo das cobertas e me diz que não sai mais de lá nem por um decreto.

Fica nua, se acha gorda, grita comigo por comer tanto e, depois, come até ficar enjoada, tem diarreias, fica fraca e briga comigo porque acha que eu quero viver pra sempre.

Mando que ela cale a boca e seja normal, finja que é normal, estável.
Mas ela só fica mais louca, mais furiosa, mais destrutiva, mais
Aí desiste, larga tudo,
some.
E eu fico só, em paz, em silêncio

esperando que ela volte e bagunce tudo de novo,
como de costume.

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