34x15 When I stayed

Imagem: TingTing Huang

- Não.

Pediu que eu jogasse tarô. Queria saber se seu relacionamento tinha futuro.
Disse a ela que não jogaria.
Ela me perguntou o porquê. "Você já sabe a resposta para a sua pergunta"

A gente sempre sabe a resposta.
O difícil é aceitar.

Ela me perguntou se eu nunca tive esse tipo de curiosidade, quase em tom de acusação.
Não.
Na verdade, não.

Coisa engraçada.
Eu sou uma descendente profissional.
Durante anos, acordei, fiz chá, interpretei meus sonhos, li meu horóscopo, joguei meu tarô e vivi o dia de acordo com as previsões.
Uma personagem de história pronta.

Um dia, decidi me apaixonar.
Decidi, sim. Eu estava pronta para amar e ser amada.
Perguntei à elas.
E elas me descreveram ele, Pégaso.

Confundi tudo, interpretei tudo errado, achei que fosse sobre Holden, fiz a maior bagunça.
Mas ele chegou, mesmo assim.
Ele veio.
"The following", exatamente como previsto, sem tirar nem pôr.
E eu o amei.

Assustador, no entanto, saber que elas sempre estiveram certas.
Sabiam
Sobre mim, sobre ele, sobre nós.
Tinham meu futuro todo escrito, desenhado, tecido.
Respostas para todas as perguntas que eu ainda não queria fazer.

Depois do nosso primeiro encontro, decidi que tomaria, sozinha, todas as minhas decisões sobre nós.

Engraçado é que ele sempre reclamou do fato de que eu não fazia escolhar.
O que comer,
pra onde ir,
o que fazer.
Um bando de escolhas irrelevantes
que eu decidi
não fazer.

No fundo, por detrás de todas essas futilidades,
me orgulhava de fazer, sozinha, todas as escolhas referentes a nós.

Sozinha,
sem mapa,
sem guia,
sem estrelas.
Perdida, perdida, perdida.

Eu me orgulho disso, de todas as decisões que tomei, de todos os erros que cometi sozinha.

Durante nosso relacionamento, só consultei as cartas uma vez.
Uma semana antes de terminarmos, eu perguntei à elas
o que deveria fazer pra que a gente ficasse bem.
Pra que tudo ficasse bem de novo.

E elas foram implacáveis, claras, duras.
A primeira, de muitas vezes que se seguiriam.
E eu fiz o que faria todas as outras vezes,

ignorei.

Eu escolhi ficar.
Ninguém me disse pra ficar,
nem pra lutar,
pra esperar,
pra tentar de novo.

Eu escolhi ficar.
Fico me perguntando, nesse meu mau humor atual,
se não acabei apressando as coisas, incorrendo na fúria das tecelãs do destino, se teria sido diferente se eu tivesse obedecido, se tivesse
ido.

Nunca vamos saber, certo?
Mas eu escolhi ficar,
e tenho certeza de que, de alguma forma,
isso fez toda a diferença do mundo.

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