34x17 De ordem mista

Imagem: TingTing Huang

Corro na sua direção, corro, corro
e nunca te alcanço, mesmo quando você não está se movendo.

Eu não sei o que quero da vida, ando preocupada com a futilidade, a finitude, com o tamanho da minha bunda, com as provas finais.

Não sei dizer se te amo.
Um homem me pergunta, no meio da noite, com uma leve preocupação na voz.
E eu não sei.

Quero te ver.
Quero falar com você.
Quero você, e mais ninguém, mas não quero.

Não quero mais lutar, não quero mais nada disso, nem me sentir assim.
Eu quero me sentir bem.
Amar, pra mim, é se sentir bem. É fazer bem.
Certo?

Dou as costas e corro, na direção contrária à sua.

Almoçamos.
Ele me olha nos olhos, estou bonita, fala, falamos, é cortês, educado, engraçado.
Não sinto nada.
Jantamos.

Ele me impressiona.
Conta uma história, faz uma mágica, me faz rir e fechar os olhos.
Gosto disso, gosto muito, e ele diz o que pensa, o que sente, do que gosta.
Parece honesto.
E eu senti falta disso.
Mas, no fim das contas, passa.

Saímos juntos, ele me beija, e eu perco o interesse.
Eu não quero mais brincar de beijar sem sentir nada especial.
Eu não sinto,
eu não sinto nada.

Tô desse lado da mesa, ouvindo, ouvindo, ouvindo,
sem vontade de falar, sem vontade de me deixar conhecer demais.
Eu quero me levantar e correr, correr de olhos fechados, na direção do amor.

Eu sou boba, sou piegas, eu não posso simplesmente desistir.
Cresci com estrelas, amores Tom Hanks-Meg Ryan,
eu quero o impossível, eu quero desobedecer as linhas da mão, o horóscopo e as cartas de tarô,
eu quero você.

Dou meia volta e corro na tua direção, na tua, na tua.
Enquanto isso, rezo
pra tudo e todos, de olhos fechados.
Corro,
torcendo pelo impacto violento que espero que signifique que você também está correndo.

Correndo pra mim.
Corra.

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