Conheci uma mulher na semana passada que me disse que sua cabeça estava sendo habitada por um verme.
Eu olhei nos olhos dela, tristes e velhos, e acreditei.
Acreditei porque também existe um em mim, solitário, a se arrastar pela minha cabeça alimentando-se de memórias e defecando paranoias.
Ela me disse
Como o verme chegou na sua cabeça? Por onde entrou, de onde veio?
De onde eles vêm?
Eu sentei ao seu lado, e ela chorou de medo.
Medo de quê?
Medo de quem?
Da solidão.
Da solidão, eu acho.
Ela chorou e eu quis chorar junto, porque eu não sabia.
Porque eu não sei.
Eu não sei o que fazer.
Por ela, por mim.
Então ficamos sentadas,
ela chorando, e eu fingindo consolá-la, me consolando.
Vai ficar tudo bem,
estamos aqui pra te ajudar,
você não vai ficar sozinha
você não vai morrer sozinha
você não vai piorar invariavelmente, até seu cérebro apodrecer e suas memórias se tornarem pó, erguidas sob fundações tão finas que você nunca mais vai saber o que é verdade,
você não precisa ter medo de acordar um dia apavorada com seus próprios pensamentos,
você não --
- Posso ir embora? Tenho gente em casa pra cuidar.
É, vamos embora.
Não faz sentido ficar aqui e esperar.
Não faz sentido nenhum.
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