Imagem: TingTing Huang
Ela sangra.
Não, não, antes disso.
Ela caminha, fala, come, alheia à vontade de uma célula minúscula, sem rumo, sem casa, buscando morada em outros lugares.
Ela se apaixona.
E se desapaixona, mas não tem filhos. Por que?
E a célula cria raízes, se multiplica, cria cópias filhas de si e cresce, quentinha, oculta sob a pele, os desejos e o medo.
E então ela sangra.
1,2,3,4,5,6,7,20 dias seguidos.
Sangra e sangra, mas tão pouco que o cérebro se encarrega de arranjar desculpas.
Mas o sangue se torna secundário.
Ela está fraca, tão fraca, tão magra e pálida que --
"É anemia", diz o médico.
E ela volta pra casa e compra feijão, feijão e ferro e vitaminas complexas que eu não consigo enumerar.
Mas o sangramento não cessa, e a vida cresce, se desenvolve e se alimenta da vida dela, devagar, mas nem tanto.
Cresce, faminto, estende braços e pernas, infiltra-se em lugares escuros, íntimos, úmidos.
Ela sangra,
E incha.
E sabe
E luta.
E respira com dificuldade, me diz que tudo vai ficar bem. E eu torço por ela, eu torço.
Eu digo em voz baixa "Lute, lute como uma garota", mas ela não pode me ouvir.
Ele pode.
E luta, como fez desde o início, luta contra ela, e cresce, em útero, pronto, maduro, esperando por algo mais, luta pra sobreviver, sem se dar conta de que sua sobrevivência e a dela são forças opostas que brigam até o momento exato em que o fim chega,
e a luta termina,
para ambos.
42x05 Fight like cancer
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Thanks for the memories,
The End?
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