(Sobre uma garota à espera do diagnóstico)
Tic Tac
Acordo pela manhã, escola.
Tomo café quente e preto, pão com manteiga.
Minha mãe ri.
E eu rio de volta.
Mas ele não.
Ele não sabe rir, nem olhar nos olhos.
E, talvez, um dia, eu também não saiba.
Quero dizer "eu te amo"
Quero sentir amor.
Não só hoje, sempre.
Eu quero experimentar sensações e jamais ouvir os gritos das almas amordaçadas dentro da minha própria cabeça.
Eu quero saber o que é real, se isso é real.
Eu quero esperar mais do que um futuro sórdido de temor e frio.
Eu quero crescer.
Eu quero dormir com um homem, ou com uma mulher,
e sentir calor.
Eu quero articular frases, palavras que façam sentido para os ouvidos de estranhos.
Eu quero não sentir medo do dia, da noite ou das mulheres nos parques, dos cães nas ruas.
Quero não tomar ´pílulas pra sentir
Eu quero acordar
E dormir
Sorrir
Sentir
Apreciar o silêncio
Dançar
Eu quero amar você.
Eu quero amar você.
Intensamente.
Eu quero amar você, quebrar a maldição e ter bebês sorridentes.
Mas não vai acontecer, vai?
Tic, tac
Preciso aproveitar o tempo que tenho.
Não é muito.
Um dia desses, quando eu acordar
eu não vou acordar.
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