Imagem: TingTing Huang
Queria conseguir escrever uma crônica, algumas.
Seguir alguns padrões, andar sobre as linhas, escrever com as letras duras sobre as pautas, sem letras cursivas flutuantes no papel.
Não consigo.
Até tento, mas as letras saem voando, correndo, fugindo do papel como fogem da minha cabeça.
Fogem em busca de um lugar seguro.
Tolice.
Não existem lugares seguros.
Sentamos no banquinho de pedra, sob o sol quente do fim da manhã.
Ele ri.
Uma risada frouxa, boba, de adolescente.
Eu gosto.
Teve um dia ruim, uns dias ruins.
Fico pensando que as pessoas só chegam pra mim assim, em dias ruins.
Todo dia é um dia ruim de alguém, pra mim.
Ele me fala de música, tá animado pra me contar sobre um dia, uma noite, um beijo, uma vontade. Conta sobre prazeres secretos, a escola, um sonho. Quase como se eu,
como se eu fosse um lugar seguro.
Mas não existe nenhum lugar seguro.
Mesmo assim, eu deixo. Eu sou o lugar seguro, ou tenho o poder mágico de tornar lugares seguros, umas letras e palavras mágicas de amor e conforto, um colo místico, abro as asas de carne e esquento seus ossinhos arrepiados.
- Tudo bem, criança, vai ficar tudo bem -, minto.
Eu minto, mas espero que fique.
Espero que fiquemos.
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