45x19 When tomorrow comes

 

Imagem: TingTing Huang

Querido (amado, adorado) Otto,

olá. 
Como vai você? 

Gostaria de mentir, gostaria que fosse mentira, mas
não tenho pensado em você. 

Acho até que não tenho pensado.

Tentei um exercício, um velho velho exercício, aquela coisa que vivi muitas vidas atrás. 

(Penso em você quando despelo uma laranja, etc etc.)

Eu queria te escrever uma carta de amor. Mesmo não sabendo mais se ainda te amo. 
Quero dizer, eu te amo. 
Mas, você sabe,
Aqui vai.

Eu sinto a sua falta. Isso não é mentira. 
Quando ando de elevador, no frio e no calor, existe uma ausência, um vazio, palavras não ditas e o silêncio dos segredos sagrados das mulheres e dos padres. 
Sinto a sua falta, da maturidade que desconheço, dos seus dedos e do cheiro do seu couro cabeludo, mesmo quando nem sei. 

Afundo no sofá no meio da madrugada, insone, alerta - às vezes, eu espero ouvir a sua voz no apartamento silencioso, mesmo aqui, a quilômetros e universos de distância. 

Sinto falta do seu silêncio, suas cores. 

Elas não existem aqui, suas cores, Otto, elas são só suas. 

Se eu pudesse escolher um lugar do mundo pra me teletransportar, aqui, agora, por segundos que fossem, eu iria agora me sentar na sua frente em um café escuro, pra te ver comer sua fatia de torta sem prestar atenção a ela, girando o garfo entre os dedos enquanto mexe no celular, como quem tem ou quer ter todo o tempo só pra si. 

Eu quero te ver. 
Eu quero respostas, Otto. Sobre mim, sobre nós, quem sou eu e os mistérios do universo. 

Sinto que tô perdida e, sempre que me sinto assim, 
te encontro 
dentro de mim. 

Curioso, não? 

Fique bem. Fique vivo. 

Com amor, 

B. 

0 comentários: