Imagem: TingTing Huang
Deita.
Vento quente, sufocante, sua perna, seu corpo, quente, sua por baixo do tecido grosso.
Estende os dedos e enrola, fio a fio, rápido, ligeiro.
Por fora, dormente, atenta.
Por dentro, a mulher é um turbilhão.
Ventania gelada, sopra, congelando as veias, o estômago afunda, caos e
Para, respira. Tenta se concentrar em movimentos lentos e propositalmente curtos. Um balé, uma dança.
Enrola os cabelos com os dedos. Não consegue não fazer algo.
A angústia, a friagem interna avançam, inexoravelmente.
Ela, em contrapartida, luta como pode, senta, deita perto do sol, queima os pés e enrola, enrola os fios até que se quebrem e caiam, murchos, no estofado escuro.
Dói feito pesadelo, mais do que os pesadelos até, porque não para, não passa.
Aos poucos, ela sufoca, gelada por dentro, quente por fora.
Sente a friagem consumir tudo, seus sonhos, a manhã, o conceito de cadeiras, a ideia de verdade, corta em pedaços quem ela quer ser.
Agulhas geladas, perfurando o peito enquanto ela, como num ritual, enrola e enrola e enrola os cabelos.
Ele, silêncio.
Ela, tempestade de verão, chuva fria na terra quente, inundando, lavando tudo.
Destruindo o que quer que esteja no caminho.
0 comentários:
Postar um comentário