Imagem: TingTing Huang
Ela olhou nos meus olhos.
Magra, parda, os olhos úmidos de chorar. Ela me pediu que a deixasse morrer.
E eu, que já matei tanta gente, logo eu, disse que não.
Ela argumentou, me jurou que já tinha feito de tudo. Jurou que já tinha aproveitado a vida, que 21 anos tinham sido mais do que suficientes.
Ela me prometeu que lorazepam, clomipramina, amitriptilina e venlafaxina,
que seu problema não era a serotonina. Seu problema, ela afirmou, era a vida.
A vida era muito.
A vida era demais.
Me deixa morrer
Ela jurou que não queria mais sentimentos, não queria viagens, nem cores, nem músicas, nem os filmes novos da Marvel, nem beijar alguém que você sempre amou, nem primeiros beijos, nem sexo, nem a dor de perder ou de ganhar.
Ela me disse, por favor, acredite, eu fiz tudo o que me pediram, mas não melhora nunca. E eu não quero que melhore.
Eu só quero que acabe.
E eu, intrometida,
invasiva,
salvadora não requisitada,
prometi mundos e fundos, prometi que o lítio, prometi que a quetamina, prometi preencher o vazio de uma vida com singelos 300mg.
Na batalha entre a autonomia e a obrigação,
quem venceu foi o tempo.
Não eu, não ela.
"Sinto muito",
saiu da minha boca, sem controle, antes que eu pudesse sair correndo, sempre correndo,
como se algo estivesse me perseguindo.
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