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Imagem: TingTing Huang

Oi.

Queria começar direito, formal.
Não consigo, não consigo levar isso a sério.
Escrevo pra dizer que te amo.
É, escrevo porque precisava botar isso no papel. E nunca te entregar, e nunca te dizer. 

Que merda. 

Eu amo você. 

Tenho tantas razões, tantas coisas pra dizer. 

Você é tão--
Intensa. Veloz. Brilhante. Amo a sua pele, o jeito como a sua voz muda ao longo do dia.
Eu amo quando você ri.
Eu amo quando você fica pensativa.
Eu amo tudo sobre você, e isso assusta pra porra.
Você é doida. De um jeito mágico, místico, misterioso, sua pele queimada brilhando sob a luz do céu da manhã, e eu só queria que você soubesse--
Eu não quero ficar só. Eu quero ficar com você. 

Quero ficar com você. 

Penso em você o tempo todo. Na sua boca, no seu corpo nu
Perdoe se pareço vulgar, mas é que eu sou vulgar. Penso no seu corpo nu, penso em fazer sexo com você em todos os lugares que conheço e desconheço.
Penso no gosto que a sua boca vai ter, agridoce, na sua saliva quente.
Às vezes, penso nisso enquanto estamos juntos. Não consigo evitar.
Você fala, e você ri e você toca de leve o meu ombro.
Sinto arrepios.
Às vezes, à noite, penso em você.
Quero ficar com você. 

Quero poder olhar pra você, quero poder te tocar sem medo.
Quero poder te dizer todas essas coisas em voz alta. Quero não precisar desviar meus olhos dos seus, por medo de que você possa ler minha mente.
Quero parar de falar sobre assuntos amenos quando estamos juntos.
Quero poder acariciar seus cabelos, te puxar na minha direção.
Eu quero poder te dizer o quão incrível você é.
E tudo bem, se você não sentir o mesmo--

Não.

Não.
Eu quero que você sinta o mesmo. Eu realmente, realmente, quero que você sinta o mesmo.
Mas sim, eu sei. Eu me conheço.
Você é diferente. Tão brilhante e aberta e eu sou tão--
não você.
Às vezes, acho que te amo porque você é tudo o que eu não sou.
E eu sou tudo o que você não é.
Como daria certo?
Acho que essa sombra que me acompanha, que consome tudo, que suga tudo, acabaria por te devorar.
E eu não quero que ela te devore. 

Então, me resigno a sentar do seu lado no horário de almoço, te ouvir falar sobre essa outra pessoa por quem você talvez esteja apaixonada.
Você reluz e eu dou risada. Por dentro, eu sufoco.
Eu o odeio, sem conhecê-lo.
Odeio que ele possa te tocar, odeio que ele possa te consolar, odeio que ele possa tocar seus seios, odeio que ele tenha te visto nua na penumbra do seu quarto.
Odeio como você fala o nome dele, odeio os apelidos carinhosos que vocês trocaram.
Odeio as coisas que ele te diz. 

Naquela noite, naquela que você bem sabe,  eu ia te dizer que te amo.
Estávamos bêbados, no mesmo hotel.
Eu, menos bêbado do que gostaria, você toda sorridente.
Estava tentando criar coragem, achar coragem no fundo de uma garrafa.
Você cheirava a sabonete.
Seu rosto, suas mãos a um toque de distância.
Eu tinha fantasiado várias vezes, eu tinha o discurso na ponta da língua.
Paramos na porta do seu quarto.
Você me olhou. Como se soubesse, como se, talvez, quem sabe, quisesse...?
Eu queria dizer.
Mas eu não disse.
Eu nunca vou entender o que houve. Quero dizer, houve tanta coisa. Tanta gente.
Então, você disse "Boa noite".
Eu não dormi aquela noite. Meu coração parecia que ia sair pela boca. Minha mente correndo veloz, gritando que eu batesse na porta do seu quarto, feito uma cena de comédia romântica, daquelas que você tanto aprecia.
Eu devia ter batido.
Eu devia ter te beijado com toda a intensidade do que eu sinto. 

Perdi a oportunidade.
Essa e outras tantas, incontáveis.
Um oceano entre a sua boca e a minha.
E, agora, eu me sinto extremamente sozinho. 

Ainda sonho com você. Noite e dia. Enquanto dirijo pra casa depois do trabalho.
Quando estou correndo no parque.
Quando despelo uma laranja.
Quando ouço a nossa música, aquela que você desconhece.
Sinto vontade de sair correndo, fugir, a toda velocidade, dessa obsessão que você se tornou, da vontade de te ter pra mim.
Talvez você nem exista. Talvez eu esteja apaixonado pela versão de você que criei na minha cabeça. 

Não daria certo, certo?
Quero dizer, você quer romance, longas caminhadas na praia ao luar, de mãos dadas.
Eu quero sombra, aconchego, sexo, pedir comida e comer no chão, quero ficar nu com você por dias a fio.
Você quer sair, ir a cafés, discutir política e justiça social.
Eu só quero ir ao cinema e decorar as curvas do seu corpo, eu não quero saber de filosofia, eu quero saber de poesia e teatro, da sua língua dentro da minha boca,
você quer dançar lento na cozinha, e eu quero cozinhar pra você, escovar os dentes pra te beijar de novo e de novo e de novo. 

Dane-se! Eu quero o que você quiser.
Diga sim agora, e eu te busco em casa em algumas horas, eu te levo pra onde você quiser ir,
vamos ver o nascer do sol e fazer bruxarias sob a lua negra.
Feitiços de amor e morte, e você pode me sacrificar nas fogueiras quando tudo acabar.
Sei que soa como maluquice, mas eu preciso escrever sem pensar muito sobre tudo.
Sei que você nunca vai ler, sei que nunca vai saber.
Então eu preciso dizer, eu preciso colocar no mundo que eu largaria o que estou fazendo agora pra ficar com você.
E isso me deixa enfurecido, ensandecido, porque eu sei que não tenho a coragem necessária.
Se eu tivesse--

Eu amo como você se importa. Mesmo que finja que não.
Você é uma boa pessoa.
As pessoas tem sorte por ter você perto delas. 

Eu estou exausto. Mentir cansa. Tem sido cansativo, todos esses anos.
Eu te amo, e tenho te odiado, e me odiado.
É um limiar tênue.
Eu não quero brigar, eu não quero me afastar, mas eu não consigo mais ficar perto.
Lembro-me desse dia, muito tempo atrás.
Eu toquei você e você encolheu. Um choque, eu senti como se meu corpo todo estivesse aceso, elétrico.
Como se eu acordasse.
E, então, você se afastou. Tenho andado por aí feito um sonâmbulo, desde então.
A espera de um toque, uma palavra, um sinal. 

Eu não quero ficar só.
Eu quero ficar com você.
Mas eu não posso, entende? Se pudesse ler isso, se pudesse entender toda essa bagunça, toda essa insanidade.
Eu quero que você fique bem e eu não sou uma boa pessoa.
Eu quero que você seja feliz. 

E eu quero ser feliz com você.
Mas eu não sei se consigo. 

Eu não acho que consigo. 

Talvez,
um dia?

Se não for tarde demais,
quem sabe?

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