46x13 Cila

 

Imagem: TingTing Huang

Besta em guarda, anda pelos corredores de um castelo submerso, carregando um molho de chaves, flutuando, sob a luz do luar. 

Às vezes, ela se veste, às vezes, flutua nua, de corredor em corredor. 

Para em frente a cada porta, confere a tranca, retranca, 01, 02, 03 voltas de chave. 
Nunca entra, nunca dorme, nunca come. 

Só tranca, Cila, sempre fecha uma por uma e, depois que termina, volta a fechar. 

Noite alta, água morna, Cila passa, trancando, 01, 02, 03 voltas de chave. Tranca portas há muito emperradas. 

No fim do corredor, uma réstia de luz nova. 
Cila gela. 
Corre-flutua, o molho de chaves balançando preguiçoso em sua mão. 
Anda-corre pelo chão de madeira morta até chegar bem perto da porta recém destrancada. 

Puxa forte a maçaneta pra si, e ela não cede. 

Puxa, puxa, puxa, tensiona os pés, o pescoço, puxa com todo o corpo, uma força de leviatã, até fechar. 
E tranca, 01, 02, 03 voltas de chave. 

Pronto. 
Tudo certo. 

Suspira, assustada, por um instante.

Depois, volta ao trabalho, 
e tranca
e tranca
e tranca. 

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