Imagem: TingTing Huang
Quando Werther morreu,
dormi.
Sonhei com você, um sonho ruim, que esqueci, mas que me deixou uma sensação de inquietude que eu não conseguia deixar de lado.
Werther morreu e eu não queria morrer de novo. Pelo contrário: eu queria viver.
Fiquei olhando pro teto, deitada no mesmo lugar em que me deitei quando você me deixou pela segunda vez.
E, desde então, você vem me deixando, de novo e de novo, sem nem saber que eu tenho mantido o nós vivo, oculto, tenho insuflado ar em seus pulmões diariamente, mantendo-o vivo enquanto eu morro aos poucos.
Mas Werther morreu e eu percebi que não quero mais morrer.
Percebi que não posso mais fazer isso, que essa dor não é mais necessária.
Desenrolei meus cabelos como se me preparasse para um ritual há muito adiado e me vesti - de preto, é claro -, ainda com aquela sensação ruim, aquele luto antigo a sair de mim, a escorrer pelos dedos.
Passei maquiagem, me vesti sob o olhar acusador de nós, débil, pálido.
Beijei-o nos lábios, deixando machas de batom cor de rosa.
Apaguei as luzes, desliguei as máquinas, saí de casa.
Adeus.
No fundo, você sabe, esperava que ele lutasse, que fosse mais forte que isso.
Mas era imperativo viver.
Werther estava morto, e é assim que é.
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