Imagem: TingTing Huang
James me levou pra dançar, me tirou de casa, da dor de ficar sabendo que acabamos.
Na noite escura, eu já tinha rasgado minha pele e queimado minhas mãos com o ácido que jorrava das minhas veias.
Eu estava com raiva, mas não era raiva. Era dor, mas eu não sabia como expressar. Não sei mais uivar, não queria falar.
Eu só queria silêncio, ficar debaixo das cobertas, não ver mais nada que significasse "nós".
Graças a Deus, James, camisas brancas, liguei o carro e fomos pra longe de tudo, pro centro de tudo, socar e cuspir - James foi enfrentar as próprias lembranças e eu fui fugir das minhas.
Dancei. 5 horas seguidas, até não conseguir mais andar. Eu dancei cada música, no meio de tantos estranhos. Dancei pra mim mesma, sem querer que ninguém me olhasse, sem querer parar.
Dancei pra não gritar, concentrei toda a minha fúria, músculos e ossos, vias neurais em chamas, o corpo todo gritando o seu nome, te mandando embora.
Eu gritei no escuro, no meio da fumaça, gritei tudo e nada porque eu não tinha nada pra te dizer.
E tinha tudo o que eu não disse, tudo o que escrevi em pequenas folhas coloridas, tudo o que nunca vou dizer porque nada vai mudar. Ou porque, talvez, tudo mude.
Então dancei minhas palavras não ditas, dancei minha nudez, nossa nudez, dancei toda a dor surda até que se tornasse física, até não conseguir ouvir, até não conseguir andar.
E, no final, quando eu já me sentia limpa, livre de toda a fúria, ele apareceu.
Mas já era tarde. Toda a fúria a ser convertida em algo já tinha se esvaído. Agora só tinha medo, que ele confundiu com timidez.
Era medo de toque, medo de ser rejeitada de novo, medo de superar, medo de gostar de alguém, medo de gente, de escuro, da proximidade da boca dele do meu ouvido, de qualquer proximidade.
Dei dois passos pra trás, mas teria dado dez, se houvesse espaço.
Eu deixei toda a raiva ali, fui pra casa mancando.
E é por isso que não sinto mais raiva.
Só sinto medo.
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