Imagem: TingTing Huang
Dentes, flor do cerrado - o rei foi falando cada vez mais perto do meu rosto, perto demais.
Dessa vez, não dei dois passos pra trás.
Era eu e não era eu; Bêbada e sóbria.
A boca dele tocou a minha e eu sabia o que fazer, como se fosse uma lembrança de um aprendizado antigo, tão antigo que eu nem me lembrava mais que havia aprendido um dia.
Ele me tocou e eu soube, em algum lugar da minha mente, que se supunha que aquilo fosse bom.
"Não pare", algo comandou.
Então, continuei acessando cada memória, descobrindo a boca, a língua, mandíbulas, pescoço, costelas, escápulas, úmero. E ele me mostrou dentes e lábios, tão diferente, tão igual.
"Não pare", de novo a voz.
Eu já estava sóbria demais, mas meu meu corpo não era meu, eu era vontade, tempestade e ímpeto, dores de amor que eu não podia gritar ao mundo, era a lembrança da sua respiração na minha boca e do meu corpo na penumbra, algo incontrolável, fome profunda e antiga.
Mordi o lábio dele, como quem sussurra "eu também vi sua fome, eu a vejo nos seus olhos, eu a sinto no seu hálito. Mostre-me", e ele me mostrou.
Tempestade e ímpeto, ele me empurrou, sem soltar a boca da minha, de encontro ao muro. Dessa vez, o muro não era meu. Ele estava faminto de sangue e ossos, como eu estava.
E sugamos a vida um do outro, trocamos força, como se a dor fosse ficar suportável, rei e autômato lutaram feito loucos enquanto o mundo ao redor assistia, embasbacado.
- Quer mais? - ele sussurrou, sorrindo, daquele jeito que ele sorri.
Eu sóbria, queria casa, doramas, quadrinhos.
"Não pare".
Mas minha boca encontrou a dele, de novo e de novo.
E a vida seguiu seu curso.
27x07 King and Robotheart
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