Imagem: TingTing Huang
- Ei, vem cá. Saia daí, deixe eu te ver.
E ela descobre a cabeça, sai debaixo das cobertas, viva, palpável, pulsátil: esperança.
Andei lendo meus textos antigos espalhados pela casa, muita dor, vontade de deitar na cama e não acordar mais. Andei pelas ruas feito um fantasma, uma grande mentira contada quando eu era criança, feito gente grande, feito gente.
Ontem à noite, não consegui dormir. Fiquei ouvindo playlists, olhando pela janela, respondendo mensagens, e meu coração batia tão forte de encontro às costelas que senti medo de me machucar.
Eu tô com medo, e nem sei de quê.
Pensar sobre o futuro me faz ficar extremamente ansiosa, a ponto de evitar ao máximo estender meus pensamentos além do próximo fim de semana.
Colapso nervoso, burnout, estresse. Sei lá o que me deu, o que me dá.
Mas eu não estava bem.
Eu disse pra todo mundo que estava tudo bem, mas não estava. Que loucura mentir sobre isso. Que loucura dizer isso agora.
Acho que é essa vibe de sinceridade contagiante de um grupo do facebook, todas aquelas pessoas honestas e lindas contando coisas sobre suas vidas, enquanto eu observo em silêncio.
Bom, eu surtei.
E não vou admitir isso pra mais ninguém, eu acho. Eu surtei. E eu precisava de ajuda. Mas eu não queria ajuda.
De novo, não. Já tive muita ajuda nessa vida, obrigada, e isso vai me perseguir pelo resto da vida.
Então, quando o doutor me olhou nos olhos e me contou uma história, me disse que não poderia me ajudar se eu não contasse a verdade ---
- Tá tudo bem.
Mas não 'tava. Eu perdi o controle sobre mim mesma, sobre as minhas emoções, sobre o meu corpo, sobre a realidade.
E eu só percebi isso muito tarde, porque até eu cheguei a acreditar no "Tá tudo bem".
Eu não conseguia mais me expressar, não controlava meu corpo,
uma bateria de exames pra eu saber que estava toda errada e descompensada
e eu comecei a acreditar que ia morrer.
Ok, parece estúpido. Não foi tão simplista.
Recebi meus exames, fiz o que todo mundo faz: Google. Daí fui pra biblioteca, li o que tinha que ser lido.
O médico viu meus exames, ficou preocupado, pediu que eu fosse a outro médico.
E eu não fui.
Por que?
Exatamente por essa razão na qual você pensou.
Eu deitava na cama todos os dias e pensava
Eu vou morrer.
E não sentia nada sobre isso.
Nada, nada, nada mesmo, eu nunca chorei, eu nunca fui mais gentil com as pessoas por isso ou disse a verdade, ou mandei mais mensagens humilhantes.
Perdi a realidade. Só tinha certeza de que tinha algo crescendo dentro de mim, me engolindo de dentro pra fora, se alimentando de mim, que essa era a razão pela qual eu emagrecia cada vez mais.
Pedi socorro à minha maneira. Escrevi um trabalho sobre o assunto, ganhei "A+" e o professor leu em voz alta, sem saber que era sobre mim que ele lia.
Escrevi sobre minha desesperança em relatórios gigantes que voltavam com mensagens motivacionais que eu guardo com carinho.
E falei sozinha durante 5 minutos sobre meu problema, só pra que a professora dissesse "É justamente isso que ela disse, descreveu perfeitamente".
Eu precisava das pessoas e não queria precisar de ninguém. Eu tinha medo de voltar pra casa depois das aulas e não querer mais sair.
Fiz grandes amigos, que entenderam minha necessidade de não ir embora e ficaram comigo.
E eu percebi, em algum momento, que aquilo não era certo.
Não estava tudo bem.
E foi muito muito muito difícil admitir isso.
As aulas acabaram e eu passei raspando em algumas coisas, tudo desabando.
Lembro de dirigir até o consultório do médico. Foi uma viagem de alguns minutos só, mas eu só queria saber. Como é que isso chama, eu acho. Eu acho que me cansei de estar doente. E nem sei o porquê.
Ele fez tudo o que é feito normalmente, perguntas, exames, piadas. Me disse que achava que não era o que eu pensava. Que achava que era estresse. Pediu uma bateria de exames.
E o resultado?
Ainda não saiu.
Tirei uma quantidade canalha de sangue na última semana, nem sei de onde saiu tanto.
Mas o resultado não importa.
Ele não vai me fazer ficar bem.
Não tá tudo bem.
Mas vai ficar.
Eu sei que vai ficar,
porque eu lavo meu cabelo maluco com amor, não porque acho que se não lavá-lo 4 vezes, vou me sentir limpa.
Sei que vai ficar porque quando acordo, tomo um copo com água.
Sei que vai ficar porque não como pra suprir minha necessidade de qualquer coisa, como porque me faz bem.
Sei que vai ficar quando arrumo meus cabelos, uso maquiagem. Não porque não quero que as pessoas pensem coisas sobre mim, mas porque eu fico feliz.
Porque não entro em crise quando meu cabelo está horrível. Eu uso um chapéu. E gosto.
Sei que vai ficar bem porque afrouxei as rédeas, porque não leio livros que não quero ler. Leio na ordem sim, porque amo minha ordem. Mas não hesito (muito) em admitir que não vou ler um livro. Sinto muito, James Joyce.
Sei que vai ficar tudo bem porque eu sou capaz de chorar de rir sozinha.
E porque parte de mim quer ficar perto das pessoas que eu amo.
Porque eu não tenho medo de sair. E nem de voltar.
Porque eu até digo não, de vez em quando. E me sinto péssima haha, mas NÃO.
E, embora eu ainda não consiga dormir,
embora a ideia de voltar pra faculdade me dê náuseas,
assim como a ideia de escrever histórias, ou sequer imaginar algo,
e eu não queira que ninguém se aproxime demais;
Embora não esteja tudo bem:
Vai ficar.
E não vai ser amanhã.
Nem depois.
Mas isso também não importa agora.
Eu preciso ter paciência.
Não 'tá tudo bem.
Mas vai ficar.
Baby steps, B. Baby steps.
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