Imagem: TingTing Huang
Não dormi.
1:00, 2:00. 4:00, depois 6:00 e eu de olhos bem abertos, sem sono, sem nada, o coração estralando as costelas de novo.
Eu tenho medo da vida.
Aí apaguei, acordei tarde, comi, dei risada, dei tanta risada. Estudei, assisti TV, calma. Criei um ambiente seguro pra mim, outra gaiola dentro da gaiola. Tô me mantendo segura. Tô me mantendo sã.
Mas ficar sã, ficar na gaiola, isso não me faz ficar mais forte.
Daqui a pouco é dia 22 e eu tenho que voltar pra lá, e eu não posso me perder de novo.
Enchi a mão de xampu, e lavei os cabelos, mecha por mecha, ao som de músicas da Mallu. Da Mallu, é. E quando ela cantou Sambinha bom, confesso que me deu um medo, um medo de doer, mas não doeu.
Eu respirei fundo e pensei em coisas boas, cabelos brancos, cachinhos curtos, pensei em muitos chocolates, que amores não são perdidos, em um show perdido em algum lugar da memória de Brasília, caído na grama, na lama, no concreto. A canção tocou até o fim, enquanto eu enchia o cabelo de creme e de amor, de amor meu pra mim, cada rolinho uma lembrança boa que eu quero guardar.
Enrolei muito no banheiro, ouvindo cada música que me rasgou a pele meses atrás (quase um ano!), que é música. Não é pra doer.
E aí saí. A pele intacta, o cabelo com cheiro gostoso de carinho e de meu. De mim.
Sentei no sofá, dei minha opinião no grupo das minhas amigas, meu lugar seguro. E uma delas insistiu que eu dissesse pra todo mundo o que pensava. Tive vergonha de dizer que tinha medo, que não ia dizer nada, que meu coração queria sair da boca só de pensar em digitar algo, que minha mão nunca tremeu tanto só porque eu ia dizer que não gostei de algo.
Eu tive tanto medo. E sei que não é normal. Que sou capaz de falar em público, mas não consigo mandar uma mensagem com minha opinião.
Tremi tanto, que não conseguia escrever.
Parei, respirei fundo, mil, trimilhões de vezes.
ô, B. Quem te deixou assim tão covarde?
Queria chorar. Acho curioso que ninguém saiba o quanto me custa mandar uma mensagem.
O peito fica em chamas, o estômago embrulha, os dedos tremem.
Mandei a mensagem, me desculpei pela mensagem, ando me desculpando por existir há um bom tempo.
E as pessoas concordaram comigo.
Gostaram das minhas ideias.
Eu poderia chorar. Gratidão.
Porque eu tô tremendo até agora.
Eu tenho medo da vida.
Eu invento coisas.
E não é só puro estalo, eu leio coisas, eu vejo coisas, eu quero inventar coisas que as pessoas entendam.
Quero ser mais corajosa.
Quero mostrar quem eu sou e o que importa pra mim.
Queria não ter medo de expressar minha opinião, mas queria que as pessoas entendessem esse meu medo.
Esse pavor.
Essa vontade de calar.
Eu tenho medo de viver.
Alguém esbarra em mim e eu peço desculpas.
Desculpe por estar aqui.
Eu não quero mais me sentir segura, porque não é mais suficiente.
Eu quero ser corajosa.
Eu quero me levantar e bater se preciso,
não quero ficar em silêncio.
Não quero me encolher quando alguém muda o tom de voz numa conversa.
Eu quero ser a pessoa que sei que posso ser.
Quero ser minha heroína, meu príncipe do cavalo branco.
Minha casa, meu cavalo, meu cão de caça.
Quero nunca mais tremer ao apertar enviar,
a não ser que seja uma mensagem de amor.
Aí tudo bem.
Esse medo do não eu consigo levar.
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