30x15 Fuerte - A walkthrough

Imagem: TingTing Huang

Passo a mão nos cabelos que não tenho.
Me olho no espelho, avalio meu corpo.
E eu não sou bonita.

Minha pele não é bonita, minha cor não é bonita, nem as costas, os ossos, a bunda.
- Você não é bonita, o espelho diz, e eu já ouvi isso tantas vezes que nem ligo.

Esse cansaço estampado no rosto, esse medo, o gosto estranho da boca. Eu não sou bonita. Os rapazes não me olham nos corredores, não me admiram, não me vêem.

E eu percebi, espelho, que não me importo tanto assim.

Ser bonita, moça bonita, deitada na grama, com laço de fita, linda e cheia de graça, possuir o essencial, -- bom, é bom. Deve ser muito bom.

Mas
Eu me interesso pelas pessoas.
Eu faço rir.
Eu sei cantar "Ainda é cedo".
Eu já li "Os meninos do Brasil", tenho HQ's favoritas. Eu gosto de seriados, eu conheço coisas, eu faço coisas.

Ser bonita deve ser muito bom, mas
eu não trocaria aquele momento em que você descobre que sua banda favorita é a banda favorita dele.
O momento em que ele diz que seus olhos são lindos, em que ele encontra beleza em você, beleza que você nem sabe que tem.
Aquele apaixonar-se pelos seus detalhes, aquele te achar bonita quando as luzes se acendem.

Eu não sou bonita para os padrões atuais.
Nem para os meus padrões.

Mas eu consigo gritar a letra de Elastic Heart,
sei multiplicar frações.
Ô moço, eu sei tanta coisa e não preciso provar que sei.
Nem preciso ser melhor do que as moças bonitas, nem sou melhor do que elas.

Eu sou quem sou, e você pode achar bom ou não.

Eu fico zangada. Muito facilmente.
Sou mal-humorada, assusto criancinhas, agressiva, acordo com o cabelo todo bagunçado, cheia de frescuras com comida, tenho medo do mundo e daquela cor que não é verde nem azul. Não gosto de gente conhecida, nem de bicho, nem de nada. Gosto mesmo de livros, muitos, vários.
Leio tudo na ordem.
Assisto tudo na ordem.
Amo na ordem.
Mas sou um caos.

Eu beijo. Até o som da palavra beijar me deixa feliz, falo com gosto. Eu beijo.
Mas eu magoo as pessoas.
Durmo tarde, acordo tarde.
Não gosto muito de limpar a casa, mas gosto de arrumar o guarda-roupa.
Amo vestidos.
E amo ficar bonita pras pessoas de quem gosto.
Sou muito muito orgulhosa. Demais pra certas coisas. Então, se eu disser que errei, valorize isso.
Peço desculpas o tempo todo. E me sinto um pouco lixo quando o faço muitas vezes. Sinto como se estivesse me diminuindo. Então parei um pouco. Tô tentando substituir desculpe por "obrigada".
Não gosto de conflitos, mas não consigo evitá-los. Parte de mim tenta a todo custo dizer "vamos parar aqui, vamos não brigar", e a outra parte só quer chegar distribuindo socos.
Eu afasto as pessoas. O tempo todo. Estou sempre afastando alguém. Geralmente, essa pessoa que afasto é alguém próximo demais. Proximidade me assusta. É como se, de repente, fosse tudo ou nada. Eu tenho que me mostrar por inteiro e, ao mesmo tempo, eu tenho que tirar essa pessoa de perto, eu não quero que ela veja o que tem pra ser visto.
Sinto que ninguém me conhece de verdade. Ao mesmo tempo, tento ser o mais previsível possível. Segura.
Acho que sentir-se seguro é algo que todo mundo quer.
Sofro de insegurança crônica. Em todos os aspectos da vida.
Eu nunca serei boa o suficiente.
Pra mim.
Nunca.

Às vezes, me pergunto se preciso de ajuda profissional mais específica.
Eu falo sobre isso com o Dr. House, como falava com o Teleborian. Mas tenho dificuldade em entender que parte de mim tem conserto.
Eu posso não ser mais insegura? O mau humor é parte da minha personalidade?

Tenho medo de mudar.
Eu finjo. Muito. Adquiro capacidades. Mas não mudo.
Percebi isso há uns meses quando comi um filé de alcatra (quando o que queria mesmo era comer umas batatas com sorvete de casquinha)
A verdade é que tenho medo de que a mudança me mude.
Há que se mudar para que o mundo não mude. Mas eu não me importo com o mundo.

Eu me importo com pouquíssima coisa, a bem da verdade.
Minto, eu me importo com coisas pequeninas.
Muitas, muitas.

Minhas unhas dos pés estão azuis.
E eu não sou bonita.

Mas isso é lindo, uma combinação única de coisas, de cores, de sabores,
que me faz ter pena de você
e de quem quer que ela seja.

Porque ela é bonita. Ela é inteligente. Ela tem uma saia vermelha e já viajou pelo mundo.

Mas ela não lia Harry Potter debaixo das cobertas, não tem um conto de fadas favorito que envolve gigantes e olhos cor de violeta, ela não sonha que é uma princesa azul brilhante nem usa o casaco do avô quando precisa ser forte.
O cabelo dela pode estar lindo pela manhã, mas ela nunca vai sentir o seu cheiro como eu posso. Ou enxergar suas cores como meus olhos fazem. Pode até ter lido o livro da Rebecca Brandenwyne e achar que o último livro que vai ler na vida tem uma menina de olho azul na capa, mas ela nunca vai sentir o mesmo aperto no peito quando tua voz lê a dedicatória de um livro pela primeira vez.

Ela é sensível, incrível, maravilhosa, beija melhor do que todo mundo no mundo, cheira bem, come toda a comida sem frescura, está feliz 24 horas por dia, não assusta nem afasta, mas homem, ela nunca foi atrás de uma poesia desaparecida com tanto afinco.
E nem evitou beijar quem pudesse amar, só pra não trair a memória de outra pessoa.

Pode ser que ela também tenha ouvido a trilha sonora de Once e se apaixonado por McCandless, mas será que ela já usou a palavra Mazelas? Talvez ela faça os melhores mojitos e goste de Girls, saiba cantar "Tompkins Square Park" e recitar até Camões.
Vai ver o pai dela também não é muito presente e não deixava ela brincar de casinha.
Mas ela nunca, nunca
vai sussurrar as mesmas músicas que eu sussurrei no escuro, enquanto desejava que você chegasse.

E ela pode até conhecer a força de que se precisa pra acordar pela manhã e encarar um dia medíocre no qual você não está presente - ou pior, está. Pode até saber de quanta força eu preciso pra chegar em casa e não chorar, de quanta força eu preciso pra não pensar nas coisas nas quais não penso.

Mas ela nunca vai saber, e nem você,
da força necessária pra te colocar fora da visão, pra deixar cair as roupas na cama e notar que todas têm um pedaço seu, a força necessária pra apagar da mente os pedaços exatos que me dizem algo de bom. A força pra reconstruir mentalmente certas luzes, a penumbra, as nuances de cor, o horário preciso, a sensação, a dor, o gosto.
E a força que se faz pra guardar tudo isso no canto mais escuro da mente, inacessível, trancado, guardado por cérbero, maldições de todos os professores de Hogwarts.

Disso só eu sei.

E continuo a não ser bonita,
mas sou forte.

Aí você diz que não é o bastante.

Bom,
você é um babaca.

Boa noite

30x14 You don't know shit about fuck

Imagem: TingTing Huang

Meu caro,

Eu amo você.
E é por isso que peço educadamente: Vá se foder. Você não faz a menor ideia de quem eu sou.

Eu gosto de Russian Red. Durmo no sofá. E eu bebo até desligar qualquer pudor.
Beijo rapazes. Eu gosto de beijar na boca. Mas eu não gosto de nenhum deles, nem mesmo um. Porque eu amo você.
Viajei para uma cidade que me assusta, que é um enigma gigantesco, com meu melhor amigo. E desbravamos o monstro, andamos de metrô, talvez tenhamos nos encontrados com a fera que vive na São Paulo de baixo. Ela vivia na linha amarela e sussurrava meu nome. Quando eu dormia, ela tomava sua forma e arrancava meu coração do peito incontáveis vezes. E eu sobrevivi. Eu não sou covarde.
Eu fechei o caderno no tutorial. E falei. Não morri disso. Eu sou capaz disso. E não me venha dizer que sempre soube, porque você não sabe de porra nenhuma.
Eu estive no limbo que é o oceano que fica no meio da sua sala de estar por 6 meses, esperando que você voltasse pra me ver e esquecer, ou pra puxar minha mão quando a hora chegasse, e você me esqueceu. Porque você não sabe porra nenhuma. Me deixou plantada no meio da sala, com medo dos meus próprios demônios, enquanto trouxe outras pessoas pra sua vida, que eu considero infinitamente mais o que quer que seja. Que eu não considero nada, eu acho.
Você não me pediu pra esperar, nem disse que voltava. Porque você não sabe porra nenhuma de mim, nem soube ler o título desse blog, onde fica claro que esperar é uma das minhas coisas favoritas.
E foi o que eu fiz.
É o que eu tô fazendo.
Você sabe tanto, tantas coisas que ninguém sabe. Tantos significados ocultos nos meus atos. Mas não sabe de porra nenhuma. Não sabe que eu acordei e me pintei pra guerra, rasguei tudo o que me fazia mal e queimei meu corpo até a dor passar. Nem sabe que eu coloquei o dedo na tua campainha uma noite, pra matar ou morrer. Mas tive coragem de deixar pra lá.
Você não sabe de nada, porque eu olhei nos seus olhos e menti incontáveis vezes nos últimos meses, tantas, tantas, sem sentir, sem pensar, eu só me esqueci que tinha dito pra mim mesma que ia te dizer o que pensava pra consertar as coisas. Ou talvez eu tenha me lembrado que isso nunca trouxe nada de bom.
Se você soubesse quem eu sou, não me magoaria dessa maneira. Se soubesse quem eu sou, não faria isso comigo.
Se me conhecesse, pelo menos um pouco,
Mas você não sabe de porra nenhuma.

Você não sabe sobre como machuquei meu joelho, ou como Otto apareceu de repente e tirou minha vida dos eixos, sobre uma aliança que guardei por 7 anos e que talvez seja a hora de colocar no dedo, sobre como descobri que meu melhor amigo não queria ser o rei do mundo como conheço, sobre o que ele me ensinou sobre a vida enquanto nos sentávamos no chão do banheiro. Você não sabe porra nenhuma sobre quantas vezes o meu nariz sangrou e quantos narizes eu fiz sangrar, sobre os cortes nos pulsos de Ingrid, o que eu disse nas cartas que você não leu, o que a mãe dela nunca riscou, uma playlist secreta e limpa, sem dono, pra pessoa certa.
Você  não sabe de porra nenhuma, sobre o meu lado da história, sobre o que houve antes, o que houve depois.
Você nem sabe que eu não sou uma vadia escrota, que eu não simplesmente mudo meu humor do nada, que você me ataca sem saber e eu me defendo atacando de volta. Que só porque você não sabe qual é o motivo, não quer dizer que não tenha um.
Você não sabe que eu poderia ter perguntado qualquer coisa, que eu poderia saber qualquer coisa, mas eu preferi não saber porque eu sou uma filha da puta covarde, incapaz de admitir o óbvio.
Você não sabe porra nenhuma.
Então não finja que sabe, não aja como se me conhecesse porque já viu de perto a cicatriz nas minhas costas e já sentiu meu mau hálito matinal.

Porque você não sabe porra nenhuma sobre mim.
E eu digo isso, meu caro,

porque também não sei porra nenhuma sobre você.

Atenciosamente,

B.

30x13 Witchcraft

Imagem: TingTing Huang

- Por que você me ama?

Olho pro céu incrivelmente azul dessa Brasília louca. Matei mais uma aula e tô aqui, deitada no meio de tudo, na grama, feito louca.

- Porque você não existe.
- É claro que eu existo. Você está falando comigo. Você acredita em mim. Portanto, eu existo.

Reviro os olhos.
- Já falamos sobre isso. Você não é real. Você só existe na minha cabeça. Eu estou ciente disso, e você também.
- Mas o doutor disse --
- Disse que não teria problema desde que eu entendesse que você não existe.

Ele se deita do meu lado, segura minha mão.
- Como é que eu posso não ser real? Eu estou aqui, eu sempre estive aqui.
- Eu sei. Mas você é só um reflexo do meu subconsciente. Você não está aqui de verdade.
- Como você sabe?

Olho nos olhos dele, todos os argumentos médicos na ponta da língua, textos repetidos e decorados desde sempre, escritos e reescritos, um monte de palavras difíceis que só faz sentido pra quem não pode estender a mão e tocar o rosto dele, sentir fios de cabelo finos e curtos, quase invisíveis a olho nu, roçarem as pontas dos dedos, a textura do pescoço, o jeito como as pupilas dele se dilatam com uma rapidez impressionante.

- Eu não sei. Eu só sei.
- Talvez, só talvez, já pensou na possibilidade de eu ser real,
e você não?
Fecho os olhos, enquanto ele me fala de um mundo no qual eu sou só um eco. Eu não sinto dor, eu não me importo, eu só existo sem existir, sem ter que decidir, eu só preciso ser.
E eu sinto--
Eu me sinto bem.

- Ei. Volte. Não faça isso. - ele aperta minha mão de mansinho - Sabe por que eu te amo, B.?
- Hm --
- Porque você existe. Não é simples. Dói muito. Mas você consegue, você existe. Levanta daí, vamos pra casa. Você vai dormir um pouco e tudo vai parecer melhor. Eu prometo.

Fecho os olhos de novo.

- Mas e se eu --
- Por favor. De novo não.

Não digo nada, dobro minha blusa de frio, guardo minhas coisas e vamos pra casa, imersos em diferentes tipos de silêncio.
Tento ler a mente dele, desse reflexo do meu subconsciente e não consigo.

Não me surpreendo, afinal

existem coisas sobre as quais não penso.

30x12 Lemonade

Imagem: TingTing Huang

Ele estava sentado na banheira. Água, álcool, gelo e limão, os cheiros se misturando no ar, fazendo arder meu nariz.
Me sentei no vaso sanitário, e comecei a desembaraçar seus cabelos.

- Você sente dor?
- Não.
- Medo?
- Não.
- Fome?
- Não.
-Você consegue sentir alguma coisa?

- Eu amo você, ele diz.
Mas é triste.
Amor nem sempre é bom.
Não desse tipo, não a esse ponto.

Passo a mão nos seus cabelos, no seu rosto frio.
- Você sente isso?
- Eu não sinto nada. Eu só-- Eu só amo você. É complexo. Eu tento pensar, eu tento entender o que você diz, o que sinto, o que quero, o que houve. Mas só consigo pensar em você. Não consigo me lembrar de como era antes de pensar em você, eu só sinto essa vontade incontrolável de estar com você, de falar com você, te ver, te ouvir.

- Era isso o que você queria?
Não respondo.
Ele segura minhas mãos, se vira pra me olhar, pra me ouvir, o rosto branco feito cera, as pupilas mais dilatadas do que achei que fosse ´possível.

- E você? Sente dor, medo? Fome? Consegue sentir alguma coisa?
- Eu amo você, digo.
- Espero que isso seja o suficiente, dessa vez.

É, eu também.

30x11 Tompkins Square Park

Imagem: TingTing Huang

(Hoje foi horrível.
O que é que acontece com esses dias, onde estão as pessoas que nos avisam pra não sair de casa?
Gente pra me impedir de falar em público, de me desculpar por ler no papel, de me impedir de passar tanta vergonha que dá pena, que as pessoas têm que desviar o rosto.
Pra me impedir de qualquer coisa que não seja ficar em casa.)

Acordei, noite alta, frio invadindo o apartamento. Gosto ruim na boca, de quem apagou sem escovar os dentes.
Sonhei com você.
Levantei do sofá, fui pra janela do quarto, fumei um cigarro.
Sonhar não dói, eu acho.
Não é real.
Não é algo que eu possa controlar.
Ou é?

É a terceira noite seguida.
Noite alta, mal dormida. Em que eu acordo assim, depois de sonhar com você.
E durmo, pra sonhar de novo.

Não dói.

Eu me levanto da cama de manhã.
E não dói.
Eu me visto, eu procuro roupas no guarda roupa, eu tento ser quem quero ser, eu penteio o cabelo, eu uso maquiagem, eu me ponho normal, me ponho aceitável.
E não dói.
Eu saio de casa.
E não dói.
Pego o carro, ouço música, eu escrevo, eu assisto aula, eu passo vergonha.
E até dói, mas não daquele jeito.
Eu sinto vontade de colo. Uma vontade incontrolável de ir chorar minhas mágoas. Engulo o choro, finjo que esqueço.
E até dói, mas ok.
A gente se fala.
E não dói.
A gente se olha.
E não dói.
A gente se estressa.
E não dói.
A gente vai embora.
E não dói.


Mas alguma coisa dói.
Alguma coisa dói.
E eu não sei o quê, eu não sei explicar.
Eu não sei dar nome, eu não entendo, eu não

Mil mensagens no celular, de gente que não sabe se morri, se tô viva, se meio a meio, se sim ou não, eu dizendo "Tô aqui, tô viva, celular descarregou, desculpe"

E eu me dou conta de que, pra você, nem faz diferença.


E até dói, mas


DÓI.


E eu escrevo sem medo, eu escrevo sem vergonha, eu escrevo com os culhões que eu já tinha antes mesmo da Florence me dar novos.
Com a estupidez de quem sabe
que você nem lê,
que você nem sabe quem eu sou,
qual é a textura do meu cabelo,
ou que marca de cigarros eu fumo.
Nem quanta bebida meu corpo aguenta,
ou quem segura meus cabelos enquanto vomito.
Se ainda sei ler,
ou se ainda sei me importar.
Escrevo e foda-se quem lê e quem deixa de ler, porque isso é o que sobrou, é o que eu tenho
é onde eu tenho,
e você não entende porra nenhuma, nunca entendeu e agora nunca vai,
e nem dá a mínima,
enquanto eu perco meu tempo precioso de ócio puro, de sono e de sonhos estúpidos,
tentando me fazer entender o que todo mundo já entendeu faz tempo

que você nem liga,
e até dói, mas tudo bem


"no flame burns forever"

30x10 Gênesis, Parte 3

Imagem: TingTing Huang

Eu não conseguia respirar.
Estava de pé há horas.
Com sede, sem poder beber água. Porque estava com muita vontade de fazer xixi.
Uma vez que você sai de perto da grade, não tem volta.

Isso, se você conseguir sair.

Era dor, era medo, era tudo junto.

Mas quando ela entrou, luzes, brilho
Os gritos me deixando quase surda

Ela ali, na minha frente, braços abertos,
feito uma divindade

Eu chorei.
Chorei feito criança, de esconder o rosto com as mãos e soluçar, sem conseguir cantar, sem conseguir fazer mais nada.
Eu chorei.
Parecia que tudo o que havia de ruim, de pesado, os últimos meses, o último ano, parecia que estavam lutando pra sair, me rasgando pelos olhos,

à minha volta, as pessoas pulavam, gritavam. E eu parada, chorando, chorando como eu não chorava há muito tempo, chorando sem parar, sem tentar conter, sem tentar limpar.
Deixa chorar.

E, tão de repente quanto o choro veio, ele foi embora, e eu gritei, música por música, cada verso, como se estivesse orando, como se cada palavra fosse a única verdade que conheço.
Eu gritei como se minha voz fosse se extinguir pra sempre, como se ela fosse ouvir, como se ela esperasse que eu gritasse pra ela.
Eu gritei, e não podia ter sido de outro jeito.

Eu só podia gritar, eu queria me entregar por inteiro àquelas músicas, eu queria me partir em pedaços, eu queria morrer ali, eu queria que meu último suspiro fosse dado enquanto eu gritava Sweet nothing.
E todas músicas eram minhas, unicamente minhas,
Eram nossas, e eu toquei pessoa por pessoa pra me certificar se eram reais, se aquilo era real. E eu nunca senti nada menos real do que aquilo, do que eu.
Nunca me senti tão pequena e tão parte de algo.
Tão conectada, como não me sentia desde o ano passado, tão pouco perdida.

Eu estava no lugar certo, na hora certa.

Mesmo quando ela desceu e tocou muita gente que não era eu, eu senti a eletricidade da pele dela na minha.
Eu senti algo.
E senti que não acabava ali, que eu a veria ainda muitas vezes, muitas e muitas, porque eu tinha que vê-la de novo. Talvez de perto, talvez de longe.
Mas eu sabia que a distância não importava.

Aquilo que eu senti, aquela conexão com aquelas pessoas que eu nunca mais vou ver, aquela sensação de pertencer ao mundo, de pertencer a mim mesma, de ser minha, de ser eu.
Fez valer a pena, fez tudo valer a pena.

Foi como se toda a dor que eu senti, tudo o que tinha acontecido, tivesse que acabar ali.

Eu não consigo explicar o que aconteceu.
Eu não consigo explicar nada.

Eu não consigo explicar a sensação de simplesmente ter que tirar algo pra sacudir quando ela pediu, não consigo explicar porque não sacudi a blusa de frio, porque tirei a blusa ao invés disso e fiquei ali, seminua, cantando e gritando, sob o olhar atônito de James.

E não consigo explicar porque isso me pareceu e me parece tão normal. E porque as pessoas acham tão ousado, quando eu achei perfeitamente naturar tirar a blusa, mesmo quando nenhuma outra garota perto de mim fez o mesmo.

Eu queria me entregar por inteiro, e minha seminudez não significava nada pra mim, era um tributo, era
"Wave it for love, wave it for peace, wave it because you have been released"

E eu fui.
Eu fui liberta.

E eu provei isso.


Amém, Florence.

30x09 Gênesis, parte 2

Imagem: TingTing Huang

"Can you save, can you save my-
Can you save my heavydirtysoul?"

Ele perguntou, meu coração batendo rápido, a música entrando, bagunçando os átomos, a cabeça girando, vontade de ir embora, mas vontade maior de ver a Florence de pertinho.
Eu não sabia letra nenhuma, mas a música deles me invadiu, como se estivesse me preparando para o que viria, me arrancando dali e me misturando com milhares de pessoas, me preparando, me transformando.

Aí acabou, e eu relaxei enquanto esperava o Noel.

E ele veio. Numa explosão de cor, som, de memórias. Tocou pra mim, Holden, uma menina que segurava uma placa pedindo por "Don't look back in anger". Tocou Wonderwall.
E eu cantei, clichê que sou, cantei wonderwall com fé de quem canta uma música que espera que um dia signifique alguém. Mas que é só uma música.

Por enquanto.

Depois do Noel, calor intenso, expectativa, o povo transformando o palco num cenário incrível, a vontade de vê-la crescendo, o calor me sufocando, e eu já sabia que não ia aguentar, que precisava sair pra não passar mal.
Que era eu ou ela, que não tinha nada pra fazer, que eu não a veria de perto, e isso me doeu na hora, me deixou tão triste e eu fechei os olhos e disse pro meu corpo todo desligar, faltavam só 8 minutos, mas eu já não conseguia respirar
Eu ja não conseguia respirar
Disse pra mim mesma que tinha ar o suficiente, que estava em um local aberto, que tinha ar pra todo mundo,
mas meu corpo não acreditava
E eu sabia que não dava mais, que eu tinha ficado mais de 5 horas de pé à toa. Porque eu não era forte o suficiente, eu nunca seria forte o suficiente pra nada, eu

E aí ela entrou.

30x08 Gênesis, parte 1

Imagem: TingTing Huang

O mundo começou nos cabelos da Bessie.
Tranças longas, escuras, e a voz dela me enlaçou como se eu fosse um bebê, uma criança assustada, fugindo do mundo, da dor, de você.

Ela me abraçou forte, e me comunicou que eu chegaria viva no final dessa estação também. Ela disse que eu iria sobreviver à tempestade.
Feito mágica, eu soube, eu soube,
que eu iria conseguir.

Então ela desapareceu, e eu tive medo, medo de voltar, medo de só conseguir ser forte ali.

Halsey.
Entrou no palco, dona de si e do mundo e me gritou bem alto que não é errado ser como sou, levante-se, levante-se e seja o que você tiver que ser.
Ela gritou, e eu gritei de volta, até ter certeza de que era verdade.
De que não era errado ser assim.

Aí fui embora, encarar meus medos, todo aquele amor que eu senti um dia, toda essa dor, todas as mentiras contadas antes de dormir.

Fiquei de pé, esperando o Mumford, coração saindo pela boca, rezando pra conseguir sobreviver à Babel, pra que não doesse, sentindo os joelhos tremerem, a vontade de ficar de joelhos.
E aí eles entram,
e eu ouço os acordes da nossa música
E espero a dor jorrar.
Mas ela não vem.
É só uma música. É só mais amor perdido, transformado em qualquer coisa.
E eu fui ganhando força, minha voz gritando mais alto do que qualquer outra, eu quis gritar pra que você ouvisse, pra que você ouvisse a força da minha voz, da última vez que eu canto pra você, pra nós, minha voz se transformando em garoa e vento, em amor, em fé.
E quando chegou naquele pedaço, naquele nosso pedaço, escrito na sua letra há milhões de eras, fechado no fundo da minha estante de livros por um laço preto, com um nó quase cego,
eu gritei.
Eu gritei
Eu gritei
E não foi pra você.
Bem na metade, eu percebi
Que eu estava gritando, que eu estava gritando tão alto como nunca gritei antes
Porque você não cumpriu essa promessa.
Você não fez o que disse que ia fazer.
E não é culpa sua.
Mas eu vou fazer.
Por mim ou por alguém, um dia.
Eu vou fazer o que você não conseguiu.
Eu vou derrubar paredes, e eu não vou desistir, não vou me cansar.
Então eu gritei.
I'll play my bloody part,
to tear, tear them down.
E eu não menti. Como sei que você não mentiu.
Mas é preciso mais que vontade, mais que amor.
Agora eu sei disso.

Saímos, multidão e calor.
Marina.
Quando ela finalmente surgiu, vestida de rosa, eu soube que eu nunca mais seria a mesma.
Porque eu queria ser daquele jeito.
Eu queria ser a Marina quando eu crescesse.
Eu queria usar o cabelo que eu quisesse, a roupa que eu quisesse, queria falar sobre o que eu quisesse.
Eu queria ser forte, e brilhante, e rosa, e me mover feito uma bailarina desajeitada.
Eu queria ser quem eu quisesse ser.
E quando ela cantou as músicas, as minhas músicas de ir ver o Otto, todos os dias, de ir embora pensando em nós dois. Quando ela cantou a própria evolução, eu senti que era hora de evoluir também.
De ser quem eu quiser ser.
De me vestir como eu quiser.
De agir como eu achar que devo e aceitar as consequências.
De não parar mais.

Fui embora com o coração batendo forte, alto, sem saber o que dizer, sem saber como explicar a insanidade, a certeza, a sensação de outra forma que não fosse cantarolando bem baixinho a letra que tinha ouvido pela primeira vez

I don't wanna feel blue,

anymore.

30x07 Problema meu

Imagem: TingTing Huang

O problema é que eu espero demais.
Espero a luz do celular piscar e me jogo pra cima dele quando ela pisca, sedenta por uma mensagem sua. Uma mensagem que não diz nada, sem significados ocultos. Mais uma, de milhares, milhões.

Espero demais pelo momento em que você visualiza as mensagens, e mil vezes mais pelo momento em que você responde. Mas você não se dá ao trabalho. Dois risquinhos azuis me roendo por dentro e você
E você eu nem sei.

Eu espero demais.

Espero você sair, espero pra te ver, mesmo sem querer.
Espero que você venha me mandar a mensagem que eu não quero receber,
mas você eu nem sei.

Espero que pare de incomodar, esse aperto no peito, frio na barriga e dor nas costelas, só porque você. Só porque você. Eu tremo de frio, me frustro, me canso, me machuco.
E você eu nem sei.

Espero você entender que se eu te digo pra vir é porque quero que venha. Porque eu preciso de você aqui, eu tô pedindo socorro, eu tô pedindo trégua, eu tô pedindo
Mas você eu nem sei.

O problema é que eu espero demais.
Espero que não seja verdade - mas é, sempre é.
Espero que seja diferente - mas não é, nunca é.
Que você diga - mas você nunca diz.
Que você também saia do caminho proposto, reto - mas você nunca sai.

Me confunda, me dê sinais trocados, náuseas, teu interesse no evento em que eu confirmei presença, tua admiração pelo meu corpo e pela minha boca, diga que viria e não venha, me mande uma música, me mande correr.
Só não nada.
Não desse jeito.

O problema, meu caro, é que eu espero demais.
E você eu nem sei.

E, depois de domingo, nem quero saber.

30x06 Eu e outros poemas

Imagem: TingTing Huang

Eu, de novo.

Eu posso fazer rir.
Eu tenho esse amigo secreto - mas nem tanto - , e eu gosto quando ele sorri. Gosto quando ele está de bom humor. E parece que estamos sempre de bom humor ao mesmo tempo, como se um conseguisse contagiar o outro. Gosto tanto quando ele ri alto, mostra o pescoço, me encosta pra mostrar que é dia de pessoas.  (:

Meus cabelos são malucos.
Fortes e frágeis, eles possuem vida própria. E eu parei de tentar controlá-los. Deixei que eles fizessem sua própria poesia, sem margem, sem rima.

Eu amo meus amigos.
De um jeito novo, único, grato, de quem só ama, porque sim, porque quer. Cada um deles, tenho vontade de amá-los diariamente, de correr por aí jurando amor, distribuindo abraços.
E não ligo se nem todo mundo gosta deles, se uns não gostam dos outros. Eu os amo. Com todo o meu coração.

Música.
Parece correr nas minhas veias, parece me dizer o que fazer, me inspirar. É o que me diz pra acordar, pra dormir, pra correr por aí com o coração partido.

Tu.
Olho pro teu rosto e meu coração canta, assovia. Meu sangue desliza, meu corpo todo dança a mentira que eu criei, meu corpo todo acha que essa música, que essa canção é tua.
Mas essa canção é minha.
Essa dor é minha. No máximo, nossa. Mas não tua.
Então, eu te amo. Eu amo a ti.
Mas só porque ainda não me amo o bastante.

Ela.
Tinha medo de dormir e sonhar com ela.
Medo de vê-la, medo de falar com ela.
E hoje falo, olho nos olhos, digo OI bem alto, quase grito. Eu não tenho medo, eu não tenho vergonha.
E nem ela deveria ter.

Minha boca.
Tem gosto de dor.
Gosto de medo.
Gosto de anonimato, de solidão.
Mas também tem gosto de pipa, de autorama, de carrinho de controle remoto. Gosto de livro colorido, de nota boa na prova, de quando a série é renovada e o livro ganha adaptação para o cinema. Gosto de oscar do leonardo diCaprio.

Tanta poesia escorrendo pelos dedos, pelos olhos,
tanta dor
mas tanta vontade

Tanta vontade.
Por enquanto, é vontade de ti
Mas calma,
mais dia, menos dia
vira vontade
tanta vontade

de ser feliz (:

Early Cuts: Prosopon

Imagem: TingTing Huang

Aviso: Encontrei este texto recentemente. E tenho a impressão de que essa dor e confusão que encontrei nele não chega nem perto da dor que senti ao escrevê-lo. Queria poder reencontrar a B. desses meses, desse último ano, e abraçá-la bem forte. Vai ficar tudo bem. Só depende do ponto de vista.
É um texto confuso, mas contém toda a verdade sobre o que aconteceu enquanto a vida seguia seu curso.

Olho nos olhos da sua máscara, minha máscara, nossa máscara.
Quem é --- eu?
Eu não sou mais. Somos.
Partes do corpo trabalhando, transformando caos, sem criar ordem.

Eu penso, ela fala, você faz.
Eu penso.
Um dos pensamentos ali dentro é meu.
Uma dessas bocas é minha.
Mas qual?
Quem veio primeiro?
Eu sou a ideia original?
Sou aquela que se repete eternamente, em ciclos.
Isso sou eu ou é fase?

Você é minha ou eu sou sua?
Existe eu?
Uma tábua crua, nua, onde jogaram palavras e cores.
Eu me vejo em você. Você se vê?
Sinto o seu coração estranho empurrar minhas costelas, seu cérebro, nosso cérebro que pulsa.
Você me diz que tudo pulsa.
É sangue, estou viva.

O que é vida? Controlo mãos,
e pés, e boca. Estou viva.
Então, eu sou. E você não.
Certo?

Então, quem me controla?
Então o que é você?
Então falo,
ouço
ando
penso
sinto.

NADA.

Eu sou só a voz na minha cabeça.
Nem mãos, nem és, olhos e orelhas.

Acordo com mãos
Acordo

Quero mais.
Quero menos.
Quero acordar eletricidade,
gás.

Quero não-mãos
Quero não-pés

Quero não-eu.

30x05 Otto

Imagem: TingTing Huang

- Quem é Otto?, ela perguntou.
E eu não soube dizer, eu não pude responder.

Aqui vai

Otto. Substantivo Masculino.
1. Um palíndromo.
2. Nome curto, alemão, que não sei de onde tirei, só surgiu, assim como o próprio Otto;
3. Cabelo loiro caído por aí, pelas calçadas, no chão da casa, no meio das cobertas, soltando das escovas, enrolado nos meus dedos;
4. Vontade de amar e de sair correndo, vontade de gritar, de ficar quieta, de destruir tudo e de guardar tudo;
5. Nome de um restaurante na asa sul. :)
6. Otto é aquele momento em que o sol machuca um pouco os olhos quando você está tentando ver se seu ônibus está vindo ou não.
7. Camisa azul. Otto é uma camisa azul
8. Otto é o movimento dos joelhos ao som da sua música favorita, quando você está em público.
9. Otto era minha razão pra acordar cedo e pra conseguir dormir, meu remédio favorito.
10. Otto é aquela pessoa que você vê no rosto de todos os atores do cinema, aquele rosto que você não sabe descrever, mas você só sabe que se parece com o de todo mundo, e isso faz seu coração acelerar o tempo todo, sempre que você vê alguém.
11. Otto é aquela música que te dá uma dorzinha nas costelas, faz sua respiração ficar mais difícil, o estômago enlouquecer.
12. Otto é a inspiração que te faz escrever pela madrugada toda, é o que te faz passar o outro dia inteiro cansada, mas feliz.
13. Otto é aquele sorriso que fica na boca quando você se distrai.
14. Otto é o gosto do chocolate branco misturado com chocolate preto, é achar um livro que você não queria, mas que você sabe que te escolheu.
15. Otto é aquele momento em que você descobre a textura dos lábios de outra pessoa pela primeira vez, e se pergunta como é que era sua vida antes daquilo, como pôde existir algo antes daquilo.
16. Otto é acordar pela manhã e não precisar correr, é querer se atrasar.
17. Olhar nos olhos de alguém e saber. Só saber.
18. É aquele aperto no peito, é fechar os olhos quando se está em um lugar bem alto, é ter medo de cair e não ter medo nunca mais.
19. É prender a respiração.
20. É tomar banho e ter onde deitar a cabeça.
21. É um copo de água e alguém pra apagar as luzes quando você dorme com elas acesas.
22. É um dia de chuva em Brasília.
23. É um dia com trilha sonora, e uma manhã cinzenta.
24. É a sensação de que você nunca está só de verdade


E eu poderia fazer isso indefinidamente, até as palavras se esgotarem.
Porque não posso simplesmente contar uma história,
não posso simplesmente expor os fatos,
não posso.
É simples, mas eu não quero que seja. Eu não deixo que seja.

E, portanto,

Prefiro não responder.

Early Cuts:Pillowtalk

Imagem: TingTing Huang

Cabeça no travesseiro, não durmo.
Fecho os olhos: Mimi-Rose.
Quase posso sentir o gosto daquela boca na sua.

Sento na cama, pego os fones, coloco música, penso em hemoglobina, heme, globina, sua boca, ferro, bilirrubina, o corpo dela, aqueles seus olhos antigos, alfa-talassemias, me dá náuseas, penso em filmes antigos, conto carneirinhos, Downton Abbey,

mas Claire tem razão, sempre teve:

Você não me conhece mesmo.

30x04 (I am) The one that got away

Imagem: TingTing Huang

- Se estiver sentindo dor, pode dizer.

Ai.
Dói.
Às vezes, dói bastante.

Mas tá passando.
Porque eu acordo pela manhã com vontade de lutar pelo que eu quero,
porque eu conheço pessoas incríveis que me amam com molho ou sem,
porque eu fico bonita nas quartas-feiras.

Um cara perguntou sobre mim,
e tá cheio de gente por aí pra ter paciência.
Gente que sabe que eu sou boa, que quer estar comigo pra dar risada, porque eu sei dar risada.
E eu sei brigar.
Mesmo assim, tem gente que não vai embora.

Eu sei que tá passando, porque eu não tenho mais medo de ficar sozinha.
Acho até graça,
e sei que não quero não ficar sozinha.

Sou muito leonina sim (às vezes) e acho legal quando elogiam o que eu escrevo.
Eu sei que sei fazer coisas boas.

E eu sei que consigo fazer qualquer coisa, não preciso que me digam.
Eu não vou mais duvidar, vou tentar não duvidar.

Ontem, a Mãe me disse que ia ficar tudo bem.
"Vá viver", ela disse, "as coisas acontecem nas encruzilhadas".
Eu acredito.
E vou.

Ser o melhor que puder.
Mesmo que o melhor de mim não seja o suficiente pra todo mundo.
(: