Imagem: TingTing Huang
Eu não conseguia respirar.
Estava de pé há horas.
Com sede, sem poder beber água. Porque estava com muita vontade de fazer xixi.
Uma vez que você sai de perto da grade, não tem volta.
Isso, se você conseguir sair.
Era dor, era medo, era tudo junto.
Mas quando ela entrou, luzes, brilho
Os gritos me deixando quase surda
Ela ali, na minha frente, braços abertos,
feito uma divindade
Eu chorei.
Chorei feito criança, de esconder o rosto com as mãos e soluçar, sem conseguir cantar, sem conseguir fazer mais nada.
Eu chorei.
Parecia que tudo o que havia de ruim, de pesado, os últimos meses, o último ano, parecia que estavam lutando pra sair, me rasgando pelos olhos,
à minha volta, as pessoas pulavam, gritavam. E eu parada, chorando, chorando como eu não chorava há muito tempo, chorando sem parar, sem tentar conter, sem tentar limpar.
Deixa chorar.
E, tão de repente quanto o choro veio, ele foi embora, e eu gritei, música por música, cada verso, como se estivesse orando, como se cada palavra fosse a única verdade que conheço.
Eu gritei como se minha voz fosse se extinguir pra sempre, como se ela fosse ouvir, como se ela esperasse que eu gritasse pra ela.
Eu gritei, e não podia ter sido de outro jeito.
Eu só podia gritar, eu queria me entregar por inteiro àquelas músicas, eu queria me partir em pedaços, eu queria morrer ali, eu queria que meu último suspiro fosse dado enquanto eu gritava Sweet nothing.
E todas músicas eram minhas, unicamente minhas,
Eram nossas, e eu toquei pessoa por pessoa pra me certificar se eram reais, se aquilo era real. E eu nunca senti nada menos real do que aquilo, do que eu.
Nunca me senti tão pequena e tão parte de algo.
Tão conectada, como não me sentia desde o ano passado, tão pouco perdida.
Eu estava no lugar certo, na hora certa.
Mesmo quando ela desceu e tocou muita gente que não era eu, eu senti a eletricidade da pele dela na minha.
Eu senti algo.
E senti que não acabava ali, que eu a veria ainda muitas vezes, muitas e muitas, porque eu tinha que vê-la de novo. Talvez de perto, talvez de longe.
Mas eu sabia que a distância não importava.
Aquilo que eu senti, aquela conexão com aquelas pessoas que eu nunca mais vou ver, aquela sensação de pertencer ao mundo, de pertencer a mim mesma, de ser minha, de ser eu.
Fez valer a pena, fez tudo valer a pena.
Foi como se toda a dor que eu senti, tudo o que tinha acontecido, tivesse que acabar ali.
Eu não consigo explicar o que aconteceu.
Eu não consigo explicar nada.
Eu não consigo explicar a sensação de simplesmente ter que tirar algo pra sacudir quando ela pediu, não consigo explicar porque não sacudi a blusa de frio, porque tirei a blusa ao invés disso e fiquei ali, seminua, cantando e gritando, sob o olhar atônito de James.
E não consigo explicar porque isso me pareceu e me parece tão normal. E porque as pessoas acham tão ousado, quando eu achei perfeitamente naturar tirar a blusa, mesmo quando nenhuma outra garota perto de mim fez o mesmo.
Eu queria me entregar por inteiro, e minha seminudez não significava nada pra mim, era um tributo, era
"Wave it for love, wave it for peace, wave it because you have been released"
E eu fui.
Eu fui liberta.
E eu provei isso.
Amém, Florence.
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