30x14 You don't know shit about fuck

Imagem: TingTing Huang

Meu caro,

Eu amo você.
E é por isso que peço educadamente: Vá se foder. Você não faz a menor ideia de quem eu sou.

Eu gosto de Russian Red. Durmo no sofá. E eu bebo até desligar qualquer pudor.
Beijo rapazes. Eu gosto de beijar na boca. Mas eu não gosto de nenhum deles, nem mesmo um. Porque eu amo você.
Viajei para uma cidade que me assusta, que é um enigma gigantesco, com meu melhor amigo. E desbravamos o monstro, andamos de metrô, talvez tenhamos nos encontrados com a fera que vive na São Paulo de baixo. Ela vivia na linha amarela e sussurrava meu nome. Quando eu dormia, ela tomava sua forma e arrancava meu coração do peito incontáveis vezes. E eu sobrevivi. Eu não sou covarde.
Eu fechei o caderno no tutorial. E falei. Não morri disso. Eu sou capaz disso. E não me venha dizer que sempre soube, porque você não sabe de porra nenhuma.
Eu estive no limbo que é o oceano que fica no meio da sua sala de estar por 6 meses, esperando que você voltasse pra me ver e esquecer, ou pra puxar minha mão quando a hora chegasse, e você me esqueceu. Porque você não sabe porra nenhuma. Me deixou plantada no meio da sala, com medo dos meus próprios demônios, enquanto trouxe outras pessoas pra sua vida, que eu considero infinitamente mais o que quer que seja. Que eu não considero nada, eu acho.
Você não me pediu pra esperar, nem disse que voltava. Porque você não sabe porra nenhuma de mim, nem soube ler o título desse blog, onde fica claro que esperar é uma das minhas coisas favoritas.
E foi o que eu fiz.
É o que eu tô fazendo.
Você sabe tanto, tantas coisas que ninguém sabe. Tantos significados ocultos nos meus atos. Mas não sabe de porra nenhuma. Não sabe que eu acordei e me pintei pra guerra, rasguei tudo o que me fazia mal e queimei meu corpo até a dor passar. Nem sabe que eu coloquei o dedo na tua campainha uma noite, pra matar ou morrer. Mas tive coragem de deixar pra lá.
Você não sabe de nada, porque eu olhei nos seus olhos e menti incontáveis vezes nos últimos meses, tantas, tantas, sem sentir, sem pensar, eu só me esqueci que tinha dito pra mim mesma que ia te dizer o que pensava pra consertar as coisas. Ou talvez eu tenha me lembrado que isso nunca trouxe nada de bom.
Se você soubesse quem eu sou, não me magoaria dessa maneira. Se soubesse quem eu sou, não faria isso comigo.
Se me conhecesse, pelo menos um pouco,
Mas você não sabe de porra nenhuma.

Você não sabe sobre como machuquei meu joelho, ou como Otto apareceu de repente e tirou minha vida dos eixos, sobre uma aliança que guardei por 7 anos e que talvez seja a hora de colocar no dedo, sobre como descobri que meu melhor amigo não queria ser o rei do mundo como conheço, sobre o que ele me ensinou sobre a vida enquanto nos sentávamos no chão do banheiro. Você não sabe porra nenhuma sobre quantas vezes o meu nariz sangrou e quantos narizes eu fiz sangrar, sobre os cortes nos pulsos de Ingrid, o que eu disse nas cartas que você não leu, o que a mãe dela nunca riscou, uma playlist secreta e limpa, sem dono, pra pessoa certa.
Você  não sabe de porra nenhuma, sobre o meu lado da história, sobre o que houve antes, o que houve depois.
Você nem sabe que eu não sou uma vadia escrota, que eu não simplesmente mudo meu humor do nada, que você me ataca sem saber e eu me defendo atacando de volta. Que só porque você não sabe qual é o motivo, não quer dizer que não tenha um.
Você não sabe que eu poderia ter perguntado qualquer coisa, que eu poderia saber qualquer coisa, mas eu preferi não saber porque eu sou uma filha da puta covarde, incapaz de admitir o óbvio.
Você não sabe porra nenhuma.
Então não finja que sabe, não aja como se me conhecesse porque já viu de perto a cicatriz nas minhas costas e já sentiu meu mau hálito matinal.

Porque você não sabe porra nenhuma sobre mim.
E eu digo isso, meu caro,

porque também não sei porra nenhuma sobre você.

Atenciosamente,

B.

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