Imagem: TingTing Huang
Eu não sei que música colocar. Eu não sei que roupa vestir.
Eu não quero vestir preto pro teu funeral.
Eu não quero ouvir a música que tocava naquela noite, eu não quero ouvir algo que queira dizer algo.
Queria que chovesse, mas faz um calor ameno e o céu continua lindo. Você morreu e a temperatura nem mudou, e o mundo não age de acordo.
Meu celular apita, descontrolado, nenhuma prova foi cancelada e nem as pessoas me deixam chorar em paz.
E eu também não quero chorar.
Tudo errado.
Essa música triste tomou um significado feliz, tem até um cara sorrindo nesse vídeo, por Deus.
Coloco minhas roupas, um vestido colorido pra dançar, que faz um efeito incrível quando eu giro. Eu não quero me sentar e chorar, eu quero sair pra dançar, meu coração tá batendo, tem sangue fluindo por todo o meu corpo, pequenos focos de energia que aparecem e desaparecem e me tornam capaz de sentir milhões de coisas em um segundo. De sentir a tristeza pela sua morte, a felicidade pela sua breve existência e a vontade de descobrir o que mais tem por aí.
Meu cabelo tá macio, cheiroso, enrolado, meu corpo tá pedindo atividade, uma massagem nas costas e um beijo na boca daqueles que demoram uma eternidade pra acabar.
Eu quero chorar, quero acender uma vela pro teu cadáver, eu quero limpar meu batom e prender meus cabelos em um coque austero, sair em um dia cinzento pra chorar tua morte atrás dos meus óculos escuros, mas a verdade é
já faz muito muito tempo que você morreu pra mim.
Eu já vivi essa dor incontáveis vezes, choramingando no balcão de alguns bares, mesas de cafés, fast-foods, sob as páginas arrancadas dos meus livros, diários e guardanapos, abraçada ou não à garrafas de vinho, catuaba e latas de guaraná.
As cartas do tarô previram sua morte incontáveis vezes, pra que eu me preparasse e eu acho que eu finalmente fiz isso, então não é uma grande surpresa que tenha acontecido.
E é, talvez você mereça uma cerimônia bonita, umas flores, algumas palavras e eu juro que esse texto correu na contramão da minha vontade de colocar uma música bem triste e escrever sobre o quanto você é incrível, mas sabe, será que você foi mesmo? Quero dizer, eu nem sei se você realmente existiu ou se eu montei seus pedaços e preenchi as lacunas com coisas que eu queria que tivessem acontecido.
Minha intenção era escrever um texto bonito, Magnetc North, sobre como eu sempre acabo onde você está, mas a verdade é que meu norte tá apontando pra quilômetros de distância de você, um mundo novo que eu ainda vou desbravar, onde eu vou sangrar, eu tô a dezenas de livros de distância de você, dezenas de episódios, de histórias e de lágrimas.
Um dia desses, eu prometo visitar seu túmulo, comprar flores, quem sabe, eu prometo contar boas histórias sobre você, Mas isso é tudo. Porque a única coisa que eu me lembro de verdade sobre você, nesse exato momento, é que você não tinha nada pra oferecer.
Bom, eu tenho.
A gente se vê.
Sem pressa.
39x09 A moça
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
- Mas e se eu te amar? E se eu quiser continuar, e se eu quiser nunca dizer adeus?
Sinto aquela coisa ruim, aquela aflição doida, mas Otto segura a minha mão e eu não digo nada quando você se levanta e sai do café, colocando as mãos sobre a cabeça pra se proteger da chuva torrencial.
Espero você voltar correndo pro calor do café, pro gosto amargo, o cheiro de gordura e fumaça de cigarro. Mas você não volta e eu olho para Otto, que sacode a cabeça devagar.
Não, não não, não não não não, eu não sei o que fazer, eu não sei o que acontece agora, eu preciso sair daqui. Ele tenta me acalmar, mas eu não quero dormir, eu quero ficar acordada, eu quero amar de novo, eu quero amar agora, eu quero nunca mais fechar meus olhos, eu quero
Ele me segura e eu arranho seu rosto, eu tento morder seus braços e me desvencilhar do seu abraço firme, eu quero entender o que tá acontecendo comigo, mas eu não consigo parar de gritar, de espernear e de lutar
Alguém tenta ajudar, talvez Jack ou Berenice, mas eu não consigo me controlar, eu esperneio, eu dou uma cabeçada em alguém, alguém arranha meus braços, puxa meu cabelo, tenta me derrubar e eu tropeço e fico de quatro, engatinhando desesperadamente, e chutando pessoas às cegas, ouvindo ais e uis, sem nunca parar, enquanto me puxam as pernas e tentam rasgar minhas roupas.
Eu tento me levantar, mas alguém se joga em cima de mim, agarra minha cintura, arranha meu rosto inteiro e eu golpeio o ar sem conseguir enxergar, eu me sacudo inteira, até perceber que é com McCandless que estou lidando. Agarro os cabelos dele e puxo, puxo, até arrancar parte dos fios, e ele uiva, xinga e me larga, pra que eu possa continuar me arrastando.
Eu me arrasto até a porta e me levanto, ofegante, vitoriosa. Quase lá, eu agarro a maçaneta, abro a porta e quase meto a cabeça no rosto desse cara que acabou de chegar.
Acontece, a gente se olha nos olhos e eu não sinto absolutamente nada.
Ele olha meu cabelo bagunçado, minhas roupas rasgadas, rosto arranhado e emite um som curto e baixo de desaprovação.
- Com licença, ele diz, preparando-se para entrar.
Mas eu não saio da frente.
- Já estamos fechando, digo.
- Ah. Que pena.
Ele dá meia volta, indo na direção da chuva e vai se afastando devagar.
- Ei. - grito, e ele se volta pra olhar - Eu conheço um lugar. Fica perto daqui.
Ele me olha, intrigado, como se estivesse se certificando de que foi com ele que falei e, depois do que parece uma eternidade, acena com a cabeça.
Eu não sei o que isso quer dizer, só sei que é assim que acontece.
Deseje-me sorte.
Acho que vou precisar.
- Mas e se eu te amar? E se eu quiser continuar, e se eu quiser nunca dizer adeus?
Sinto aquela coisa ruim, aquela aflição doida, mas Otto segura a minha mão e eu não digo nada quando você se levanta e sai do café, colocando as mãos sobre a cabeça pra se proteger da chuva torrencial.
Espero você voltar correndo pro calor do café, pro gosto amargo, o cheiro de gordura e fumaça de cigarro. Mas você não volta e eu olho para Otto, que sacode a cabeça devagar.
Não, não não, não não não não, eu não sei o que fazer, eu não sei o que acontece agora, eu preciso sair daqui. Ele tenta me acalmar, mas eu não quero dormir, eu quero ficar acordada, eu quero amar de novo, eu quero amar agora, eu quero nunca mais fechar meus olhos, eu quero
Ele me segura e eu arranho seu rosto, eu tento morder seus braços e me desvencilhar do seu abraço firme, eu quero entender o que tá acontecendo comigo, mas eu não consigo parar de gritar, de espernear e de lutar
Alguém tenta ajudar, talvez Jack ou Berenice, mas eu não consigo me controlar, eu esperneio, eu dou uma cabeçada em alguém, alguém arranha meus braços, puxa meu cabelo, tenta me derrubar e eu tropeço e fico de quatro, engatinhando desesperadamente, e chutando pessoas às cegas, ouvindo ais e uis, sem nunca parar, enquanto me puxam as pernas e tentam rasgar minhas roupas.
Eu tento me levantar, mas alguém se joga em cima de mim, agarra minha cintura, arranha meu rosto inteiro e eu golpeio o ar sem conseguir enxergar, eu me sacudo inteira, até perceber que é com McCandless que estou lidando. Agarro os cabelos dele e puxo, puxo, até arrancar parte dos fios, e ele uiva, xinga e me larga, pra que eu possa continuar me arrastando.
Eu me arrasto até a porta e me levanto, ofegante, vitoriosa. Quase lá, eu agarro a maçaneta, abro a porta e quase meto a cabeça no rosto desse cara que acabou de chegar.
Acontece, a gente se olha nos olhos e eu não sinto absolutamente nada.
Ele olha meu cabelo bagunçado, minhas roupas rasgadas, rosto arranhado e emite um som curto e baixo de desaprovação.
- Com licença, ele diz, preparando-se para entrar.
Mas eu não saio da frente.
- Já estamos fechando, digo.
- Ah. Que pena.
Ele dá meia volta, indo na direção da chuva e vai se afastando devagar.
- Ei. - grito, e ele se volta pra olhar - Eu conheço um lugar. Fica perto daqui.
Ele me olha, intrigado, como se estivesse se certificando de que foi com ele que falei e, depois do que parece uma eternidade, acena com a cabeça.
Eu não sei o que isso quer dizer, só sei que é assim que acontece.
Deseje-me sorte.
Acho que vou precisar.
39x08 Too much to ask
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Imagem: TingTing Huang
Minha cabeça está cheia de segredos.
Ando misturando histórias,
esqueço fatos,
eu sei coisas demais sobre as pessoas,
e os meus próprios segredos escorrem pelos meus dedos enquanto durmo.
Tenho essa sensação ruim, constantemente.
Sensação de não ter feito algo,
o peito apertado,
ou será que eu fiz algo que não deveria ter feito?
Eu disse algo errado?
Não consigo dormir.
Fico pensando, pensando, remoendo seus segredos e como eles afetam as outras pessoas.
L. enfia uma chave de fenda gelada no meu ouvido direito,
aperta uns parafusos,
fumamos um cigarro,
tomo uns comprimidos
e me sinto aliviada porque ela não tem nada novo pra dizer,
porque ela está morta.
- Eu tô morta? Essa sensação de estar saindo do meu corpo, quer dizer que estou morta? Eu nunca sei.
Ela dá de ombros, eu pego meu celular pra fazer alguma burrice, mas eu não sinto vontade de fazer nada. Devo estar mesmo morta, porque não encontro nada pra fazer e falar com você é a última coisa na minha mente.
Tem algo errado, mas não é o de sempre, eu acho.
É uma sensação.
Eu tento explicar a L. que não é a mesma coisa de antes, é diferente.
É como se eu não fosse real.
Não tem a ver com estar morta, ou tristeza, ou com o que aconteceu naquelas noites, eu acho.
Mas eu sinto como se nada disso estivesse acontecendo.
- Está acontecendo? Prove que está acontecendo. Mostre algo, faça algo.
Mas ela só sopra fumaça no meu rosto e me manda calar a boca e parar de ser tão maluca o tempo todo, e eu me deito na grama, sem saber se tô acordada ou se tô dormindo, se esses últimos meses realmente aconteceram ou se eu imaginei tudo,
se eu imaginei janeiro,
e ainda estou deitada na cama da minha avó em dezembro,
ansiosa pelo início desse ano,
pelas possibilidades
Talvez depois eu reflita e perceba que as coisas tinham que ter acontecido dessa maneira, que eu precisava --
mas a sensação de estar dormindo, de que isso é tudo um sonho
é boa,
boa demais pra desperdiçar.
Minha cabeça está cheia de segredos.
Ando misturando histórias,
esqueço fatos,
eu sei coisas demais sobre as pessoas,
e os meus próprios segredos escorrem pelos meus dedos enquanto durmo.
Tenho essa sensação ruim, constantemente.
Sensação de não ter feito algo,
o peito apertado,
ou será que eu fiz algo que não deveria ter feito?
Eu disse algo errado?
Não consigo dormir.
Fico pensando, pensando, remoendo seus segredos e como eles afetam as outras pessoas.
L. enfia uma chave de fenda gelada no meu ouvido direito,
aperta uns parafusos,
fumamos um cigarro,
tomo uns comprimidos
e me sinto aliviada porque ela não tem nada novo pra dizer,
porque ela está morta.
- Eu tô morta? Essa sensação de estar saindo do meu corpo, quer dizer que estou morta? Eu nunca sei.
Ela dá de ombros, eu pego meu celular pra fazer alguma burrice, mas eu não sinto vontade de fazer nada. Devo estar mesmo morta, porque não encontro nada pra fazer e falar com você é a última coisa na minha mente.
Tem algo errado, mas não é o de sempre, eu acho.
É uma sensação.
Eu tento explicar a L. que não é a mesma coisa de antes, é diferente.
É como se eu não fosse real.
Não tem a ver com estar morta, ou tristeza, ou com o que aconteceu naquelas noites, eu acho.
Mas eu sinto como se nada disso estivesse acontecendo.
- Está acontecendo? Prove que está acontecendo. Mostre algo, faça algo.
Mas ela só sopra fumaça no meu rosto e me manda calar a boca e parar de ser tão maluca o tempo todo, e eu me deito na grama, sem saber se tô acordada ou se tô dormindo, se esses últimos meses realmente aconteceram ou se eu imaginei tudo,
se eu imaginei janeiro,
e ainda estou deitada na cama da minha avó em dezembro,
ansiosa pelo início desse ano,
pelas possibilidades
Talvez depois eu reflita e perceba que as coisas tinham que ter acontecido dessa maneira, que eu precisava --
mas a sensação de estar dormindo, de que isso é tudo um sonho
é boa,
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39x07 Cavorting
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Imagem: TingTing Huang
Eu precisava sair, sair de casa e respirar.
Saí pra dançar, mas não era o bastante, eu estava faminta. Precisava sair pra caçar.
Pintei meu rosto, meus olhos, eu me camuflei pra parecer mais gente, mais
humana.
Apanhei minhas armas e corri, minhas botas fazendo barulho ao entrar em contato com o concreto, enquanto eu rezava pra ela que me trouxesse algo bom pra comer.
Algo doce.
Mas ela me abandonou,
muitos éons atrás,
ela me abandonou à deriva no meio de um lago gelado, enquanto eu pedia só um pouquinho de paciência,
um pouco mais de resiliência.
(Tem gente que vive tanto tempo com a dor, por que eu não podia? Por que eu não podia ser uma dessas pessoas?)
Mesmo sabendo disso,
eu escolhi rezar,
me ajoelhar nua sob a lua crescente e renovar meus votos,
me despir e correr,
farejando o ar, apurando os ouvidos pra escutar o coração das feras que vivem escondidas no escuro.
Encontrei você,
farejei o ar ao seu redor,
e esperei,
ouvindo o seu coração bater devagar.
Eu salivava, faminta, e minha boca seca atrapalhava minha fala,
a fome quase atrapalhava minha concentração,
mas eu esperei.
Sutil, eu fiquei encoberta pela folhagem, controlando meus batimentos,
olhando nos olhos dos outros caçadores como quem diz "aqui não",
esperei em silêncio.
Eu fui me intoxicando com os odores do sangue e das ervas mágicas, ninfas
e com o gosto do vento que a sua boca soprava na minha direção.
o sonho dos gatos acordou dentro de mim e se espreguiçou, sacudindo e arrepiando todo o meu corpo molhado, gelado,
morto
eu olhei nos seus olhos e você olhou de volta
Era isso então, Mulher?
Eu coloquei meus dedos nas têmporas dele, senti o pulsar,
eu estava faminta,
mas será que estava?
Ou será que é o que você quer que eu pense?
Que eu preciso disso,
sair pela cidade, nua, descalça,
voltar com os pés em carne viva,
sem saber como andar até o banheiro,
sem saber quem sou,
ou de quem é todo esse sangue
"Não", eu disse, soprando a fumaça pra longe da água.
Peguei minhas roupas e fui pra casa, tonta
ferida, suja,
sob o primeiro sol que surge atrás da ponte.
Deitei no colchão, na sala, nua,
porque não conseguia andar mais do que alguns passos pra trocar de roupa,
não conseguia me arrastar até o banheiro
Sonhei com ele, coisa que não acontecia há meses,
e tive medo.
Tive muito medo do que isso pode significar.
Sonhei com ele porque você quer me punir por não ter me alimentado,
por não ter sacrificado ninguém no seu altar, quando você me ofereceu tudo o que eu precisava.
Eu tô vendo agora que você tentou,
mas não da maneira como eu tentaria,
porque eu não quero machucar ninguém.
Eu só tô com fome,
mas dá pra aguentar,
dá pra esperar
até não dar mais.
Eu precisava sair, sair de casa e respirar.
Saí pra dançar, mas não era o bastante, eu estava faminta. Precisava sair pra caçar.
Pintei meu rosto, meus olhos, eu me camuflei pra parecer mais gente, mais
humana.
Apanhei minhas armas e corri, minhas botas fazendo barulho ao entrar em contato com o concreto, enquanto eu rezava pra ela que me trouxesse algo bom pra comer.
Algo doce.
Mas ela me abandonou,
muitos éons atrás,
ela me abandonou à deriva no meio de um lago gelado, enquanto eu pedia só um pouquinho de paciência,
um pouco mais de resiliência.
(Tem gente que vive tanto tempo com a dor, por que eu não podia? Por que eu não podia ser uma dessas pessoas?)
Mesmo sabendo disso,
eu escolhi rezar,
me ajoelhar nua sob a lua crescente e renovar meus votos,
me despir e correr,
farejando o ar, apurando os ouvidos pra escutar o coração das feras que vivem escondidas no escuro.
Encontrei você,
farejei o ar ao seu redor,
e esperei,
ouvindo o seu coração bater devagar.
Eu salivava, faminta, e minha boca seca atrapalhava minha fala,
a fome quase atrapalhava minha concentração,
mas eu esperei.
Sutil, eu fiquei encoberta pela folhagem, controlando meus batimentos,
olhando nos olhos dos outros caçadores como quem diz "aqui não",
esperei em silêncio.
Eu fui me intoxicando com os odores do sangue e das ervas mágicas, ninfas
e com o gosto do vento que a sua boca soprava na minha direção.
o sonho dos gatos acordou dentro de mim e se espreguiçou, sacudindo e arrepiando todo o meu corpo molhado, gelado,
morto
eu olhei nos seus olhos e você olhou de volta
Era isso então, Mulher?
Eu coloquei meus dedos nas têmporas dele, senti o pulsar,
eu estava faminta,
mas será que estava?
Ou será que é o que você quer que eu pense?
Que eu preciso disso,
sair pela cidade, nua, descalça,
voltar com os pés em carne viva,
sem saber como andar até o banheiro,
sem saber quem sou,
ou de quem é todo esse sangue
"Não", eu disse, soprando a fumaça pra longe da água.
Peguei minhas roupas e fui pra casa, tonta
ferida, suja,
sob o primeiro sol que surge atrás da ponte.
Deitei no colchão, na sala, nua,
porque não conseguia andar mais do que alguns passos pra trocar de roupa,
não conseguia me arrastar até o banheiro
Sonhei com ele, coisa que não acontecia há meses,
e tive medo.
Tive muito medo do que isso pode significar.
Sonhei com ele porque você quer me punir por não ter me alimentado,
por não ter sacrificado ninguém no seu altar, quando você me ofereceu tudo o que eu precisava.
Eu tô vendo agora que você tentou,
mas não da maneira como eu tentaria,
porque eu não quero machucar ninguém.
Eu só tô com fome,
mas dá pra aguentar,
dá pra esperar
até não dar mais.
39x06 Mais um texto sobre paixão dedicado à pessoa errada
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
(N.A.: Eu não consigo parar de escrever sobre esse cara. Tô obcecada por ele, como vocês podem ver. Não acho isso ruim, acho muito bom, a sensação é boa pra caralho - por enquanto. Vou esperar passar. Enquanto não passa, escrevo)
Acordo cedo, cedo demais, o dia ainda escuro, deitada no sofá, e já tô pensando em nós dois.
Será que tem como a gente sair agora, fugir pras colinas e se esconder atrás de uma árvore pra rir de alguma coisa que só a gente entende?
Você dá uma risada no meio da tarde, o sol queima a minha pele e andamos de bicicleta tirando as mãos do guidão, você parece um adolescente, eu já tô velha demais pra isso, não?
Você me responde que a gente nunca vai ficar velho demais pra isso, aí andamos de patins.
Eu te explico que não sei cozinhar, mas a gente inventa um prato novo, feito de macarrão e tomate, o gosto fica horrível, mas você come sem fazer careta. Você acena com a cabeça e eu acho muito engraçada a forma como você não consegue mexer apenas a cabeça, tem que mexer o corpo todo.
- Aaaa você é muito desengonçado, que agonia!
Você não responde à ofensa, só sacode a cabeça (e o corpo) e sorri, como se dissesse "olha quem fala", e eu sinto uma ternura tão grande por você, tão grande, que fico meio emocionada e finjo que tô lavando a louça, pra não demonstrar demais.
A gente fica tanto tempo sem se ver, por que a gente fica tanto tempo sem se ver? Por que pessoas legais não moram perto mesmo?
Invento que a gente enjoaria um do outro, mas você acha que não, diz alguma coisa que não tem a menor graça, mas que é engraçado porque eu tô apaixonada por você. A verdade é que também acho que não, mas morar longe tem suas vantagens, tipo essa
chegar em casa feito uma maluca descabelada e você tomando sol no nariz, sentado na minha porta com essa mala cheia de tralhas e de camisas amassadas, bermudas jeans e outras coisas aleatórias, tudo tão brilhante e limpinho, a gente se abraça tão forte e você cheira tão bem, tão bem que o meu dia pesado, minha vida caótica, tudo some
e eu fico só no mundo, só com você e com seu cheiro de branco, seu gosto de saudade.
A gente sobe as escadas e eu só quero nunca mais soltar sua mão.
Meu Deus, eu quero nunca mais soltar a sua mão, que coisa assustadora gostar tanto de alguém assim.
Você já dormiu, mas eu não.
Eu tô te olhando, e isso é meio esquisito, meio assustador.
Teu cabelo cai no rosto e se move com a sua respiração, mas eu não tiro.
Eu tô pensando,
eu tô tentando entender, tentando racionalizar, tentando não me jogar tanto pra cima de você
mas no meio desse processo eu não consigo deixar de ver a poesia na sua pele, na maneira como seus olhos se fecham, nos fios da sua barba que nem barba é, nos seus pés que teimam em ficar fora das minhas cobertas limpas, tem alguma coisa em você, alguma coisa diferente de tudo o que eu conheço, de tudo o que já conheci, de tudo o que já houve no mundo, alguma coisa que não é
Porque o que eu tô sentindo não é normal.
Estendo a mão pro teu peito magro e ponho a mão em cima do seu coração.
O teu eu adormecido se move, resmunga e põe a mão em cima da minha.
Adormeço.
Pensei nos nomes dos nossos filhos.
Foi involuntário, estava te olhando brincar de aviãozinho com o teu sobrinho e imaginei nosso filho com cabelos enroladinhos, me imaginei cantando pra ele com minha voz desafinada, enquanto você tenta me explicar essas tuas coisas malucas e maravilhosas, me diz pra não parar, não paro, porque isso é a vida acontecendo.
"Tá ouvindo essa música?", eu pergunto.
Você tá distraído, olhando pela janela, olha pra mim, meio assustado.
Você tá me escondendo algo.
E isso não me perturba, por alguma razão bizarra.
Coisa tua, vou ficar sabendo quando e se tiver que saber, você me pergunta que música é e eu te explico a história e o quanto gosto dela.
Você só fica acenando com a cabeça (e o corpo, haha) e se vira pra olhar pro céu azulzinho, fica calado de novo.
- Tá tudo bem?, pergunto, preocupada.
Aí você olha pra mim, vai piscando os olhos de mansinho, o seu rosto todo se abre, se ilumina, de um jeito que só você consegue fazer, como se tivesse tido uma grande ideia, quase como quando uma música te surge no meio da noite, no meio do almoço de domingo, seu peito infla e eu tô com medo do que você vai dizer, mas tô ansiosa também, eu não sei o que vem por aí, mas eu quero o que vem por aí
Eu quero o que vem por aí, seja o que for.
Seja o que for.
(N.A.: Eu não consigo parar de escrever sobre esse cara. Tô obcecada por ele, como vocês podem ver. Não acho isso ruim, acho muito bom, a sensação é boa pra caralho - por enquanto. Vou esperar passar. Enquanto não passa, escrevo)
Acordo cedo, cedo demais, o dia ainda escuro, deitada no sofá, e já tô pensando em nós dois.
Será que tem como a gente sair agora, fugir pras colinas e se esconder atrás de uma árvore pra rir de alguma coisa que só a gente entende?
Você dá uma risada no meio da tarde, o sol queima a minha pele e andamos de bicicleta tirando as mãos do guidão, você parece um adolescente, eu já tô velha demais pra isso, não?
Você me responde que a gente nunca vai ficar velho demais pra isso, aí andamos de patins.
Eu te explico que não sei cozinhar, mas a gente inventa um prato novo, feito de macarrão e tomate, o gosto fica horrível, mas você come sem fazer careta. Você acena com a cabeça e eu acho muito engraçada a forma como você não consegue mexer apenas a cabeça, tem que mexer o corpo todo.
- Aaaa você é muito desengonçado, que agonia!
Você não responde à ofensa, só sacode a cabeça (e o corpo) e sorri, como se dissesse "olha quem fala", e eu sinto uma ternura tão grande por você, tão grande, que fico meio emocionada e finjo que tô lavando a louça, pra não demonstrar demais.
A gente fica tanto tempo sem se ver, por que a gente fica tanto tempo sem se ver? Por que pessoas legais não moram perto mesmo?
Invento que a gente enjoaria um do outro, mas você acha que não, diz alguma coisa que não tem a menor graça, mas que é engraçado porque eu tô apaixonada por você. A verdade é que também acho que não, mas morar longe tem suas vantagens, tipo essa
chegar em casa feito uma maluca descabelada e você tomando sol no nariz, sentado na minha porta com essa mala cheia de tralhas e de camisas amassadas, bermudas jeans e outras coisas aleatórias, tudo tão brilhante e limpinho, a gente se abraça tão forte e você cheira tão bem, tão bem que o meu dia pesado, minha vida caótica, tudo some
e eu fico só no mundo, só com você e com seu cheiro de branco, seu gosto de saudade.
A gente sobe as escadas e eu só quero nunca mais soltar sua mão.
Meu Deus, eu quero nunca mais soltar a sua mão, que coisa assustadora gostar tanto de alguém assim.
Você já dormiu, mas eu não.
Eu tô te olhando, e isso é meio esquisito, meio assustador.
Teu cabelo cai no rosto e se move com a sua respiração, mas eu não tiro.
Eu tô pensando,
eu tô tentando entender, tentando racionalizar, tentando não me jogar tanto pra cima de você
mas no meio desse processo eu não consigo deixar de ver a poesia na sua pele, na maneira como seus olhos se fecham, nos fios da sua barba que nem barba é, nos seus pés que teimam em ficar fora das minhas cobertas limpas, tem alguma coisa em você, alguma coisa diferente de tudo o que eu conheço, de tudo o que já conheci, de tudo o que já houve no mundo, alguma coisa que não é
Porque o que eu tô sentindo não é normal.
Estendo a mão pro teu peito magro e ponho a mão em cima do seu coração.
O teu eu adormecido se move, resmunga e põe a mão em cima da minha.
Adormeço.
Pensei nos nomes dos nossos filhos.
Foi involuntário, estava te olhando brincar de aviãozinho com o teu sobrinho e imaginei nosso filho com cabelos enroladinhos, me imaginei cantando pra ele com minha voz desafinada, enquanto você tenta me explicar essas tuas coisas malucas e maravilhosas, me diz pra não parar, não paro, porque isso é a vida acontecendo.
"Tá ouvindo essa música?", eu pergunto.
Você tá distraído, olhando pela janela, olha pra mim, meio assustado.
Você tá me escondendo algo.
E isso não me perturba, por alguma razão bizarra.
Coisa tua, vou ficar sabendo quando e se tiver que saber, você me pergunta que música é e eu te explico a história e o quanto gosto dela.
Você só fica acenando com a cabeça (e o corpo, haha) e se vira pra olhar pro céu azulzinho, fica calado de novo.
- Tá tudo bem?, pergunto, preocupada.
Aí você olha pra mim, vai piscando os olhos de mansinho, o seu rosto todo se abre, se ilumina, de um jeito que só você consegue fazer, como se tivesse tido uma grande ideia, quase como quando uma música te surge no meio da noite, no meio do almoço de domingo, seu peito infla e eu tô com medo do que você vai dizer, mas tô ansiosa também, eu não sei o que vem por aí, mas eu quero o que vem por aí
Eu quero o que vem por aí, seja o que for.
Seja o que for.
39x05 Nuvem ou o meu medo de nós dois
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pergunto se você penteia o cabelo
Assim mesmo,
"você penteia o cabelo?"
Pergunto assim porque eu não sei como me expressar melhor. Eu tô sentindo tanta coisa e não sei como dizer.
Tô apaixonada por você.
Mas você não lê meus pensamentos,
você não me lê.
Responde "penteio", porque você não tem graça.
O que acontece com essas pessoas? Por que elas não podem ser engraçadas, continuar o diálogo, facilitar as coisas? Por que você tem que ser uma dessas pessoas?
Não me conformo.
Eu não sei me doar.
Eu não sou só isso que você pode ver, mas eu não sei como te dizer.
Eu não sei como beijar a sua boca pra te fazer entender e você tá me olhando confuso, confuso.
Você não entende nada de mim, não entende nada.
Eu te mostro minha intensidade, meu caos e você se encolhe feito uma mola,
não fuja de mim, eu tento dizer, mas não adianta nada
Por que você me procura se não quer me encontrar?
Por que você me procura, se não quer me ver?
Não, não me abraça agora.
Não me abraça agora, porque eu posso querer ficar.
E não podemos ficar, a gente não tem jeito.
Você me diz pra ter coragem, que a gente dá um jeito.
Mas nessas coisas não se dá jeito, essas coisas são ou não são.
Eu não quero você também, eu quero o impossível,
eu quero a não possibilidade de ficarmos juntos.
Eu quero você no seu dia mais triste, no momento em que você estiver em casa querendo ficar só,
eu quero você nas horas em que você está ocupado
e quando está dormindo, quando está sonhando com uma garota que não sou eu, que está longe de ser eu,
que eu estou longe de ser.
Eu quero desistir sem tentar, eu quero desistir agora,
eu quero arrumar minhas malas e ir embora,
por que você não diz a coisa certa?
Me conta alguma coisa que você aprendeu,
me conta uma coisa nova,
me diz uma coisa burra que você não entende,
me fala uma coisa sobre essa sua cacofonia poética, mas não me deixa ir embora
Mas você só me olha, só me olha,
e eu não sei ler pensamentos também, não entendo nada de você
ou das suas sinapses lentas e brilhantes, eu me movimento rápido, minha doença é outra,
e eu não sei falar tua língua, eu não sei acreditar no teu delírio.
Cê tá sentado, camisa amassada, cabelo bagunçado, me olhando, me olhando,
pernas cruzadas, usando meias brancas demais,essa camisa é branca demais,
você é demais, e o excesso de você me dá nos nervos,
me vira pelo avesso, me tira toda a estabilidade, quero ir pra casa me empanturrar de pipoca e esquecer o teu nome
o teu rosto e o teu sorriso, mas você tá grudado na minha pele, mesmo sem me tocar
e eu sei que não adianta lavar, não adianta arrancar minha pele inteira, porque você veio de dentro pra fora
você não sai.
E eu tô com medo.
Tô com medo do que você vai fazer comigo, se eu deixar.
Começo a explodir e derreter.
Você acorda, se movimenta, rápido demais até pra você, mas do teu jeito, no seu tempo, seca minha lágrima única e solitária, segura a minha mão
e diz a coisa certa
as palavras mágicas 3:40
e é tão estúpido, tão sem graça
que eu rio,
eu não consigo parar de rir.
pergunto se você penteia o cabelo
Assim mesmo,
"você penteia o cabelo?"
Pergunto assim porque eu não sei como me expressar melhor. Eu tô sentindo tanta coisa e não sei como dizer.
Tô apaixonada por você.
Mas você não lê meus pensamentos,
você não me lê.
Responde "penteio", porque você não tem graça.
O que acontece com essas pessoas? Por que elas não podem ser engraçadas, continuar o diálogo, facilitar as coisas? Por que você tem que ser uma dessas pessoas?
Não me conformo.
Eu não sei me doar.
Eu não sou só isso que você pode ver, mas eu não sei como te dizer.
Eu não sei como beijar a sua boca pra te fazer entender e você tá me olhando confuso, confuso.
Você não entende nada de mim, não entende nada.
Eu te mostro minha intensidade, meu caos e você se encolhe feito uma mola,
não fuja de mim, eu tento dizer, mas não adianta nada
Por que você me procura se não quer me encontrar?
Por que você me procura, se não quer me ver?
Não, não me abraça agora.
Não me abraça agora, porque eu posso querer ficar.
E não podemos ficar, a gente não tem jeito.
Você me diz pra ter coragem, que a gente dá um jeito.
Mas nessas coisas não se dá jeito, essas coisas são ou não são.
Eu não quero você também, eu quero o impossível,
eu quero a não possibilidade de ficarmos juntos.
Eu quero você no seu dia mais triste, no momento em que você estiver em casa querendo ficar só,
eu quero você nas horas em que você está ocupado
e quando está dormindo, quando está sonhando com uma garota que não sou eu, que está longe de ser eu,
que eu estou longe de ser.
Eu quero desistir sem tentar, eu quero desistir agora,
eu quero arrumar minhas malas e ir embora,
por que você não diz a coisa certa?
Me conta alguma coisa que você aprendeu,
me conta uma coisa nova,
me diz uma coisa burra que você não entende,
me fala uma coisa sobre essa sua cacofonia poética, mas não me deixa ir embora
Mas você só me olha, só me olha,
e eu não sei ler pensamentos também, não entendo nada de você
ou das suas sinapses lentas e brilhantes, eu me movimento rápido, minha doença é outra,
e eu não sei falar tua língua, eu não sei acreditar no teu delírio.
Cê tá sentado, camisa amassada, cabelo bagunçado, me olhando, me olhando,
pernas cruzadas, usando meias brancas demais,essa camisa é branca demais,
você é demais, e o excesso de você me dá nos nervos,
me vira pelo avesso, me tira toda a estabilidade, quero ir pra casa me empanturrar de pipoca e esquecer o teu nome
o teu rosto e o teu sorriso, mas você tá grudado na minha pele, mesmo sem me tocar
e eu sei que não adianta lavar, não adianta arrancar minha pele inteira, porque você veio de dentro pra fora
você não sai.
E eu tô com medo.
Tô com medo do que você vai fazer comigo, se eu deixar.
Começo a explodir e derreter.
Você acorda, se movimenta, rápido demais até pra você, mas do teu jeito, no seu tempo, seca minha lágrima única e solitária, segura a minha mão
e diz a coisa certa
as palavras mágicas 3:40
e é tão estúpido, tão sem graça
que eu rio,
eu não consigo parar de rir.
39x04 Rejoice
Postado por
garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Eu conto coisas que me fariam arrepiar os cabelos, fosse eu mais humana.
Tô morta por dentro, eu não sinto nada por mim, nem por ninguém, eu machuco as pessoas, eu vou te machucar, sem dó nem piedade, eu tiro meia máscara, eu te dou familiaridade suficiente pra você ir embora, mas você não vai.
Pior: você quer ficar, acha que somos iguais - e talvez sejamos.
Talvez a gente seja igualzinho, e o monstro em mim saúde o monstro em você, mas o que isso diz sobre nós?
Você quer se sentir em casa no meu escuro, me contar sobre a morte e pecados não expiados, mas não
Eu quero me alimentar de sangue puro, sentir o gosto de quem é feliz, eu quero me alimentar de inocentes, eu quero que me olhem como se eu pudesse ser salva.
É o que você quer também, pense um pouco.
Eu não quero me sentir um monstro o tempo todo, quero uma vida normal, uma família de margarina, vida corriqueira, brigar pela cor das paredes, eu quero o banal, o fútil, alguém que não tenha medo do que escondo, do que eu já fiz, do que eu sou capaz de fazer, não quero ser eternamente o brinquedo quebrado, eu quero mais.
Mas você olha minhas cicatrizes, me mostra as tuas como se fosse um jogo de "quem tem mais" e fica me olhando como se eu fosse uma nova aquisição pro teu clube secreto.
Eu conheço esse olhar, venho fugindo dele há 10 anos.
Eu não quero ser olhada assim, eu quero gente que me veja com olhos de quem quer que dê certo, como se eu não estivesse amaldiçoada, como se eu tivesse jeito.
Cartas na mesa, eu não tenho nada pra oferecer, e não quero nada que não seja ir embora pra casa, dormir um sono intranquilo no chão da sala, sonhar com as coisas que eu não tenho, com as pessoas que não conheci.
Você já experimentou algo assim? Alguém já te olhou assim? Como se você fosse normal, bonito de se ver, como se não fosse estragado, como se fosse
bom?
Eu posso estar confusa, posso não estar entendendo nada de nada, perdida no meio da bagunça do meu quarto, da bagunça da minha vida e dos meus sentimentos, eu posso não ter nada aqui pra ninguém.
Mas eu sei o que eu quero.
E é isso o que eu quero, o monstro dentro de mim bem amarrado e amordaçado, eu quero estabilidade, viver de fingimento, se for preciso, eu quero a sensação de normalidade, de não andar diariamente na beira do tal abismo, eu quero andar de bicicleta no domingo, eu quero acordar com o sol no rosto e me levantar de bom humor,
dar um sorriso involuntário, quero explicar uma coisa que não seja mórbida ou sombria, quero não querer assustar.
Você vai dizer
que eu quero não ser eu.
E é exatamente isso.
Eu conto coisas que me fariam arrepiar os cabelos, fosse eu mais humana.
Tô morta por dentro, eu não sinto nada por mim, nem por ninguém, eu machuco as pessoas, eu vou te machucar, sem dó nem piedade, eu tiro meia máscara, eu te dou familiaridade suficiente pra você ir embora, mas você não vai.
Pior: você quer ficar, acha que somos iguais - e talvez sejamos.
Talvez a gente seja igualzinho, e o monstro em mim saúde o monstro em você, mas o que isso diz sobre nós?
Você quer se sentir em casa no meu escuro, me contar sobre a morte e pecados não expiados, mas não
Eu quero me alimentar de sangue puro, sentir o gosto de quem é feliz, eu quero me alimentar de inocentes, eu quero que me olhem como se eu pudesse ser salva.
É o que você quer também, pense um pouco.
Eu não quero me sentir um monstro o tempo todo, quero uma vida normal, uma família de margarina, vida corriqueira, brigar pela cor das paredes, eu quero o banal, o fútil, alguém que não tenha medo do que escondo, do que eu já fiz, do que eu sou capaz de fazer, não quero ser eternamente o brinquedo quebrado, eu quero mais.
Mas você olha minhas cicatrizes, me mostra as tuas como se fosse um jogo de "quem tem mais" e fica me olhando como se eu fosse uma nova aquisição pro teu clube secreto.
Eu conheço esse olhar, venho fugindo dele há 10 anos.
Eu não quero ser olhada assim, eu quero gente que me veja com olhos de quem quer que dê certo, como se eu não estivesse amaldiçoada, como se eu tivesse jeito.
Cartas na mesa, eu não tenho nada pra oferecer, e não quero nada que não seja ir embora pra casa, dormir um sono intranquilo no chão da sala, sonhar com as coisas que eu não tenho, com as pessoas que não conheci.
Você já experimentou algo assim? Alguém já te olhou assim? Como se você fosse normal, bonito de se ver, como se não fosse estragado, como se fosse
bom?
Eu posso estar confusa, posso não estar entendendo nada de nada, perdida no meio da bagunça do meu quarto, da bagunça da minha vida e dos meus sentimentos, eu posso não ter nada aqui pra ninguém.
Mas eu sei o que eu quero.
E é isso o que eu quero, o monstro dentro de mim bem amarrado e amordaçado, eu quero estabilidade, viver de fingimento, se for preciso, eu quero a sensação de normalidade, de não andar diariamente na beira do tal abismo, eu quero andar de bicicleta no domingo, eu quero acordar com o sol no rosto e me levantar de bom humor,
dar um sorriso involuntário, quero explicar uma coisa que não seja mórbida ou sombria, quero não querer assustar.
Você vai dizer
que eu quero não ser eu.
E é exatamente isso.
39x03 Life (and death) of Pablo
Postado por
garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Vida e morte, eu estou pronta?
Se o paciente me diz que sente dor, o que eu faço?
Que pílula eu escolho? É hora de pedir gasometria, seguir os critérios, fluxogramas, protocolos, diretrizes, ou de olhar nos olhos dele e conversar?
Mas nem tudo se resolve conversando, e eu sei disso, mas também não se resolvem com os punhos, então eu não sei resolver de outro jeito.
Pare, respire, qual é a dose? Qual é a maldita dose??
Eu tenho que saber?
O que é que eu tenho que saber?
Alguém me sussurra uma canção antiga sobre a Besta e eu paraliso na frente de um paciente imaginário, eu tô tentando ajudar, mas eu não fui realmente feita pra ajudar, ou fui?
As máquinas apitam, eu observo enquanto as pessoas se desesperam e eu me desespero, porque eu não sei o que fazer.
Eu sei outras coisas, o panteão greco-romano, ou partes dele, sei fazer estrogonofe de frango, eu sei os nomes dos perpétuos e o que acontece no final de "O clube mefisto", mas nada disso ajuda, nem os nomes dos presidentes do Brasil ou as principais obras de Clarice Lispector, o preparo correto de jello shots, eu posso recitar "Ismália" e cantar "Dog days are over", "Riptide", "Me cura".
Eu posso cantar, se isso for ajudar, te conto uma história, eu invento uma história, eu jogo tarô e descubro se você vive ou morre, mas eu não sei quanto de atropina eu uso pra te mandar de volta pra casa, intacto, eu não sei se primeiro vêm os corticóides ou a imunoglobulina, plasmaférese ou o que tem antes da intubação.
Eu sinto muito, mas eu não posso ajudar, não posso arriscar, não posso dizer a coisa errada, trocar o número na dose ou escolher um medicamento só porque é o único que conheço.
Eu não posso nem segurar a sua mão ou dizer que vai ficar tudo bem.
Essa parte o horóscopo não explica, ninguém me contou que eu teria que furar seu peito no lugar certo ou que você poderia ficar pior com minhas tentativas de te fazer melhorar.
E eu sei que parece que desisti, mas eu tô pensando, tô lutando com todas as informações que acumulei ao longo da vida, com os pronomes oblíquos e a resenha de um livro da Ana Miranda, matrizes e lentes, eu tô caçando números em desespero, listando contraindicações, eu tô procurando o ruído certo nos seus pulmões, o espaço perfeito entre as tuas costelas, eu tô orando pra todos os panteões, enquanto minha mão treme e treme, eu não paro de tremer, e você também treme, estertora, e eu tento pensar
eu tento pensar, no meio de todo aquele ruído,
eu tento pensar,
mas não sei se tô pronta,
não sei se algum dia estarei pronta.
O problema é que o teu corpo não se importa se tô pronta e a vida escorre pela tua boca, a máquina grita e os teus pulmões queimam, alguém me empurra e toma a frente, grita comigo e me pede uma posição, uma dose, uma ação
e é agora ou nunca
Pra você, não tem meio termo.
É agora ou nunca.
A máquina apita mais uma vez, me chamando à ação, me convocando pra lutar pela sua vida, pela minha vida, me pedindo uma bravura que eu não tenho ainda e eu quero sair correndo, eu quero sair correndo até que meus sapatos fiquem gastos, correr por dias a fio, sem parar, sem nunca olhar pra trás, jogar fora esse jaleco e encontrar outro rumo pra vida, eu tô com tanto medo, eu só quero sentir o vento nos cabelos, o sol no rosto e ter a vida que eu tinha antes disso tudo, eu não quero que ninguém dependa das minhas decisões, eu quero--
- A dose, doutora, a dose! Agora!
A língua desenrola, sozinha, sem que eu tenha tempo pra pensar: "1 a 2 mg/dose, de 10/10 min", que eu nem sei como sei, ou se sei, ou se confundi, ou se li errado, se você vive ou se morre.
Tô esperando a tua resposta, a resposta pras minhas orações, pras minhas dúvidas.
E eu poderia correr agora, sair pela porta e não voltar nunca mais, (é agora ou nunca)
mas eu fico.
Só mais um dia, só mais esse dia.
Eu preciso que você fique bem.
Mesmo que eu não fique.
Então eu não corro, eu espero.
Eu espero, e rezo pros deuses das paredes brancas, dos tubos e máscaras, os deuses do oxigênio e das seringas.
E espero, como toda e qualquer criança espera, toda e qualquer pessoa, porque, no fim dia,
no fim da aula,
no fim da vida,
diante da morte
eu sou só humana.
Vida e morte, eu estou pronta?
Se o paciente me diz que sente dor, o que eu faço?
Que pílula eu escolho? É hora de pedir gasometria, seguir os critérios, fluxogramas, protocolos, diretrizes, ou de olhar nos olhos dele e conversar?
Mas nem tudo se resolve conversando, e eu sei disso, mas também não se resolvem com os punhos, então eu não sei resolver de outro jeito.
Pare, respire, qual é a dose? Qual é a maldita dose??
Eu tenho que saber?
O que é que eu tenho que saber?
Alguém me sussurra uma canção antiga sobre a Besta e eu paraliso na frente de um paciente imaginário, eu tô tentando ajudar, mas eu não fui realmente feita pra ajudar, ou fui?
As máquinas apitam, eu observo enquanto as pessoas se desesperam e eu me desespero, porque eu não sei o que fazer.
Eu sei outras coisas, o panteão greco-romano, ou partes dele, sei fazer estrogonofe de frango, eu sei os nomes dos perpétuos e o que acontece no final de "O clube mefisto", mas nada disso ajuda, nem os nomes dos presidentes do Brasil ou as principais obras de Clarice Lispector, o preparo correto de jello shots, eu posso recitar "Ismália" e cantar "Dog days are over", "Riptide", "Me cura".
Eu posso cantar, se isso for ajudar, te conto uma história, eu invento uma história, eu jogo tarô e descubro se você vive ou morre, mas eu não sei quanto de atropina eu uso pra te mandar de volta pra casa, intacto, eu não sei se primeiro vêm os corticóides ou a imunoglobulina, plasmaférese ou o que tem antes da intubação.
Eu sinto muito, mas eu não posso ajudar, não posso arriscar, não posso dizer a coisa errada, trocar o número na dose ou escolher um medicamento só porque é o único que conheço.
Eu não posso nem segurar a sua mão ou dizer que vai ficar tudo bem.
Essa parte o horóscopo não explica, ninguém me contou que eu teria que furar seu peito no lugar certo ou que você poderia ficar pior com minhas tentativas de te fazer melhorar.
E eu sei que parece que desisti, mas eu tô pensando, tô lutando com todas as informações que acumulei ao longo da vida, com os pronomes oblíquos e a resenha de um livro da Ana Miranda, matrizes e lentes, eu tô caçando números em desespero, listando contraindicações, eu tô procurando o ruído certo nos seus pulmões, o espaço perfeito entre as tuas costelas, eu tô orando pra todos os panteões, enquanto minha mão treme e treme, eu não paro de tremer, e você também treme, estertora, e eu tento pensar
eu tento pensar, no meio de todo aquele ruído,
eu tento pensar,
mas não sei se tô pronta,
não sei se algum dia estarei pronta.
O problema é que o teu corpo não se importa se tô pronta e a vida escorre pela tua boca, a máquina grita e os teus pulmões queimam, alguém me empurra e toma a frente, grita comigo e me pede uma posição, uma dose, uma ação
e é agora ou nunca
Pra você, não tem meio termo.
É agora ou nunca.
A máquina apita mais uma vez, me chamando à ação, me convocando pra lutar pela sua vida, pela minha vida, me pedindo uma bravura que eu não tenho ainda e eu quero sair correndo, eu quero sair correndo até que meus sapatos fiquem gastos, correr por dias a fio, sem parar, sem nunca olhar pra trás, jogar fora esse jaleco e encontrar outro rumo pra vida, eu tô com tanto medo, eu só quero sentir o vento nos cabelos, o sol no rosto e ter a vida que eu tinha antes disso tudo, eu não quero que ninguém dependa das minhas decisões, eu quero--
- A dose, doutora, a dose! Agora!
A língua desenrola, sozinha, sem que eu tenha tempo pra pensar: "1 a 2 mg/dose, de 10/10 min", que eu nem sei como sei, ou se sei, ou se confundi, ou se li errado, se você vive ou se morre.
Tô esperando a tua resposta, a resposta pras minhas orações, pras minhas dúvidas.
E eu poderia correr agora, sair pela porta e não voltar nunca mais, (é agora ou nunca)
mas eu fico.
Só mais um dia, só mais esse dia.
Eu preciso que você fique bem.
Mesmo que eu não fique.
Então eu não corro, eu espero.
Eu espero, e rezo pros deuses das paredes brancas, dos tubos e máscaras, os deuses do oxigênio e das seringas.
E espero, como toda e qualquer criança espera, toda e qualquer pessoa, porque, no fim dia,
no fim da aula,
no fim da vida,
diante da morte
eu sou só humana.
39x02 Do or die
Postado por
garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Perdida.
O que acontece agora?
Jack me manda essa mensagem e eu não consigo pensar. Eu não consigo pensar.
Preciso de um sinal, de uma epifania, preciso saber o que fazer, o que dizer.
Preciso entender o que tá acontecendo, mas minha mente só trabalha, voa, vai e volta e eu não compreendo as imagens.
Respiro fundo, mas não me acalmo, eu não entendo os significados, eu não entendo os sinais ou os ruídos.
Ele me manda essa mensagem e eu não sei o que dizer, eu me sinto encurralada e eu odeio me sentir assim.
Perco o fio da meada, ela me faz perguntas e eu queria responder do jeito certo, mas eu não sei quem eu sou.
Eu preciso escrever, eu preciso entender, eu preciso dizer, eu preciso ouvir, mas eu não consigo me concentrar no que você diz, no que eu digo ou no que eu penso, alguém me diz coisas das quais sou capaz e eu deito no escuro e procuro a sua mão,
mesmo sem saber quem você é.
Eu quero saber o que vai acontecer, mas preciso entender, eu preciso pensar e entender o que tá acontecendo agora, corro até elas, eu preciso de colo, de ar, de certezas
e choro sem lágrimas, deitada no regaço da mãe ou da donzela, enquanto Morta me diz exatamente o que acha que preciso saber pra continuar
- Você está fazendo as coisas certas, só quer conseguir o que deseja, é sincera, bem intencionada, mas a instabilidade e a hipocrisia irão te atrapalhar. Você quer amor. Pare de se esconder, de mentir. Você quer amor, quer intensidade, se sentir viva de novo. Você tem a verdade a seu favor, mas também tem a falta da bravura necessária pra isso. É passado o tempo da vontade, é hora de agir, de seguir na direção dos desapontamentos e das mágoas. Você age da maneira certa, com a confiança de quem sabe pra onde vai, mesmo sem saber e as pessoas certas te ajudarão a conseguir o que você precisa. Você teme a guerra, desistência, oposição e ruína, mas seu coração deseja a bravura, a conquista. E talvez você consiga.
- Talvez? Como assim, talvez?
- Vai depender de você, B. Você é pessimista, está perdida, perdeu a fé na vida e nas pessoas. Você vai chegar a um ponto em que terá duas opções: você pode conseguir a bravura necessária pra chegar até onde deseja, ou pode piorar as coisas. Você precisará de ajuda e de coragem para pedir ajuda, pra quebrar padrões. A escolha, novamente, é toda sua. Você pode lutar ou ser uma vítima pra sempre, o que achar melhor.
Eu não sei.
Ainda nem sei se é mesmo isso o que eu quero. Talvez eu goste da minha vida miserável, talvez goste da esperar e de nunca correr atrás das minhas fantasias.
Talvez eu não tenha o que é preciso pra dizer em voz alta que gosto de você.
Talvez eu não queira mais gostar de ninguém, e tudo bem.
Eu não sei.
Quando a hora chegar, espero saber.
É, espero.
Perdida.
O que acontece agora?
Jack me manda essa mensagem e eu não consigo pensar. Eu não consigo pensar.
Preciso de um sinal, de uma epifania, preciso saber o que fazer, o que dizer.
Preciso entender o que tá acontecendo, mas minha mente só trabalha, voa, vai e volta e eu não compreendo as imagens.
Respiro fundo, mas não me acalmo, eu não entendo os significados, eu não entendo os sinais ou os ruídos.
Ele me manda essa mensagem e eu não sei o que dizer, eu me sinto encurralada e eu odeio me sentir assim.
Perco o fio da meada, ela me faz perguntas e eu queria responder do jeito certo, mas eu não sei quem eu sou.
Eu preciso escrever, eu preciso entender, eu preciso dizer, eu preciso ouvir, mas eu não consigo me concentrar no que você diz, no que eu digo ou no que eu penso, alguém me diz coisas das quais sou capaz e eu deito no escuro e procuro a sua mão,
mesmo sem saber quem você é.
Eu quero saber o que vai acontecer, mas preciso entender, eu preciso pensar e entender o que tá acontecendo agora, corro até elas, eu preciso de colo, de ar, de certezas
e choro sem lágrimas, deitada no regaço da mãe ou da donzela, enquanto Morta me diz exatamente o que acha que preciso saber pra continuar
- Você está fazendo as coisas certas, só quer conseguir o que deseja, é sincera, bem intencionada, mas a instabilidade e a hipocrisia irão te atrapalhar. Você quer amor. Pare de se esconder, de mentir. Você quer amor, quer intensidade, se sentir viva de novo. Você tem a verdade a seu favor, mas também tem a falta da bravura necessária pra isso. É passado o tempo da vontade, é hora de agir, de seguir na direção dos desapontamentos e das mágoas. Você age da maneira certa, com a confiança de quem sabe pra onde vai, mesmo sem saber e as pessoas certas te ajudarão a conseguir o que você precisa. Você teme a guerra, desistência, oposição e ruína, mas seu coração deseja a bravura, a conquista. E talvez você consiga.
- Talvez? Como assim, talvez?
- Vai depender de você, B. Você é pessimista, está perdida, perdeu a fé na vida e nas pessoas. Você vai chegar a um ponto em que terá duas opções: você pode conseguir a bravura necessária pra chegar até onde deseja, ou pode piorar as coisas. Você precisará de ajuda e de coragem para pedir ajuda, pra quebrar padrões. A escolha, novamente, é toda sua. Você pode lutar ou ser uma vítima pra sempre, o que achar melhor.
Eu não sei.
Ainda nem sei se é mesmo isso o que eu quero. Talvez eu goste da minha vida miserável, talvez goste da esperar e de nunca correr atrás das minhas fantasias.
Talvez eu não tenha o que é preciso pra dizer em voz alta que gosto de você.
Talvez eu não queira mais gostar de ninguém, e tudo bem.
Eu não sei.
Quando a hora chegar, espero saber.
É, espero.
39x01 Run away with me
Postado por
garota solteira procura,
Eu sei, a gente não vai se casar.
Mas eu gosto aqui, eu gosto agora e não quero que essa noite acabe.
Pegue na minha mão, vamos ao mercado comprar frutas, eu te ensino uns truques.
Vamos dirigir por aí pra ver as luzes,
você quer ver o nascer do sol?
Eu não sei que coisa é essa que você tem que me dá vontade de descer as escadas correndo e nunca querer entender quase nada do que você diz, eu só quero não ir embora agora.
Eu quero me atrasar pra todos os compromissos importantes,
e te contar a minha vida toda,
ou pelo menos as partes que importam.
Quando eu voltar pra casa, quero te mandar mensagens pra saber se você chegou bem,
eu quero me comunicar com você por sinais de fumaça e telepatia (e é, agora você já sabe que é de você que eu tô falando)
e quero te explicar que meus tremores súbitos são o jeito do meu corpo dizer que tô sentindo algo que não consigo explicar pra mim mesma.
Você me dá vontade de usar camisetas folgadas e sair no domingo à tarde.
Mas isso não quer dizer nada, é Vênus retrógrado (e você não acredita nessas coisas, eu suponho)
minha alma escorre a torto e à direito, eu tô doente
eu tô com essa vontade maluca de fazer algo burro
e você só está no lugar errado, na hora errada, com a pessoa mais errada do universo.
E tudo bem,
não precisa significar nada,
nada mesmo.
Só tô com essa vontade de descer do carro e te dizer pra parar,
vamos pra outro lugar
e outro
e outro
e outro
só hoje, só vamos visitar todos os lugares com e sem significado e contar histórias que não fazem sentido (ou que fazem sentido demais) e você pode explicar essas coisas enquanto eu tento pensar em algo legal pra dizer, que nunca sai do jeito como eu queria que saísse
Sei lá, é só uma ideia
sobre a qual você nunca vai saber
porque sou só eu tentando te tirar dos eixos,
te puxar pra um canto escuro e distante da sua vida certinha
só pra ver o que acontece.
Vou guardar esses devaneios aqui e,
se você quiser saber sobre eles,
vai ter que ler meus pensamentos.
38x19 No vacancy (Season Finale)
Postado por
garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Quando criança, me disseram que, se você ouve alguém chamar seu nome sem que ninguém o tenha feito realmente, só pode ter sido ela.
Ouço a voz dela no vento que balança as folhas na terça de manhã e quando caminho sozinha no início das férias de verão.
Eu a vejo nas formas circulares, e ela me chama todos os dias, naqueles segundos preciosos nos quais o dormir se confunde com o acordar.
Ninguém fala sobre ela, ninguém liga para ela, e ela caminha, solitária, observando as pessoas em suas roupas desalinhadas, emocionada com a profusão de cores e com as gotas de alma que escorrem pelas pontas dos dedos.
Eu a conheci muitos anos atrás, no corredor estreito e escuro que levava ao quarto que eu dividia com meus pais quando criança. Ela - porque a minha é uma mulher - me olhou nos olhos e me pediu segredo, disse que nos encontraríamos de novo. Desapareceu, pra retornar muitas vezes mais.
Caminhamos juntas no labirinto que é a minha vida, de mãos dadas, incontáveis vezes. Ela era a mão segurando a faca de pão, o toque do telefone no meio da madrugada, a pessoa que amarrou meus cabelos quando eles caiam nos meus olhos e me impediam de fazer o que era preciso, a força me segurando quando eu precisava correr e pedir ajuda pra salvar a vida de Ophelia e quem me fez correr até a casa de Inga pra ver se ela ainda estava respirando. Ela foi a última a ver Felipe e quem me contou a história sobre um menino que chamava a mãe enquanto sua alma escorria pelas orelhas. Ela apagou as luzes e me cobriu durante a noite, muitas vezes. A certeza da existência dela já me tirou pela cama em algumas manhãs, e ela costumava me abraçar durante horas a fio, quando eu não conseguia chorar. Ela leu minhas primeiras histórias e me cantou canções de ninar.
Ela me pegou no colo e me contou coisas que eu não consigo colocar em palavras. Ela me fascina de tantas formas, e penteia meus cabelos, me diz quando devo escovar meus dentes, ela me coloca a caneta na mão quando não quero mais escrever e me explica coisas que eu não compreendo, eu não compreendo.
E eu andaria com ela por aí, indefinidamente. Às vezes, eu acordo no meio da noite e eu estou pronta. E eu sei o que há pra saber. Eu digo a ela, eu digo a ela todas as razões possíveis e explico que não tem volta, que todos os dias eu me despeço, que eu deixo a casa em ordem, as luzes apagadas e as contas pagas, esperando que ela me chame.
Mas ela me conhece há tempo demais. Ela me conhece desde antes, da época em que eu era pó, desde o momento em que meus átomos se encontraram, ou desde quando eu vagava pelo grande salão das almas. Então eu acordo no meio da noite, digo a ela que está tudo pronto, eu já posso ir, e ela responde que eu só posso ir quando arrumar meu quarto,
quando disser adeus,
quando jogar fora as folhas velhas,
escrever um livro,
fazer algo de útil,
ir ao show do Rubel,
terminar só mais esse semestre,
terminar de ler todos esses livros na estante ("você não quer saber o final daquela história?"),
as séries nessa lista,
descobrir o que acontece quando o vênus retrógrado acabar,
disser a Otto o que sinto.
E, assim, eu vou vivendo,
uma noite
e depois a outra,
depois uma semana,
um mês,
um ano
e o outro.
L. me diz que não sabe, não entende como é que passamos dos 20 anos.
Como eu passei dos 20 anos sem remédios.
E é simples, tremendamente simples:
eu só finjo que algo vai acontecer.
E eu preciso ficar pra ver.
A parte estranha e curiosa da vida é:
algo sempre acontece.
Bom ou ruim, mas eu sempre acabo satisfeita por ter ficado pra ver.
Aí eu me viro pra ela e digo
"só mais um pouquinho. Você pode voltar amanhã?"
E ela sorri daquele jeito de quem sabe exatamente quando voltar, sem precisar que eu diga, me cobre, me beija a testa e sai por aí, pra levar quem realmente precisa ir.
Quem tem a coragem que eu não tenho
e que espero nunca mais ter.
Quando criança, me disseram que, se você ouve alguém chamar seu nome sem que ninguém o tenha feito realmente, só pode ter sido ela.
Ouço a voz dela no vento que balança as folhas na terça de manhã e quando caminho sozinha no início das férias de verão.
Eu a vejo nas formas circulares, e ela me chama todos os dias, naqueles segundos preciosos nos quais o dormir se confunde com o acordar.
Ninguém fala sobre ela, ninguém liga para ela, e ela caminha, solitária, observando as pessoas em suas roupas desalinhadas, emocionada com a profusão de cores e com as gotas de alma que escorrem pelas pontas dos dedos.
Eu a conheci muitos anos atrás, no corredor estreito e escuro que levava ao quarto que eu dividia com meus pais quando criança. Ela - porque a minha é uma mulher - me olhou nos olhos e me pediu segredo, disse que nos encontraríamos de novo. Desapareceu, pra retornar muitas vezes mais.
Caminhamos juntas no labirinto que é a minha vida, de mãos dadas, incontáveis vezes. Ela era a mão segurando a faca de pão, o toque do telefone no meio da madrugada, a pessoa que amarrou meus cabelos quando eles caiam nos meus olhos e me impediam de fazer o que era preciso, a força me segurando quando eu precisava correr e pedir ajuda pra salvar a vida de Ophelia e quem me fez correr até a casa de Inga pra ver se ela ainda estava respirando. Ela foi a última a ver Felipe e quem me contou a história sobre um menino que chamava a mãe enquanto sua alma escorria pelas orelhas. Ela apagou as luzes e me cobriu durante a noite, muitas vezes. A certeza da existência dela já me tirou pela cama em algumas manhãs, e ela costumava me abraçar durante horas a fio, quando eu não conseguia chorar. Ela leu minhas primeiras histórias e me cantou canções de ninar.
Ela me pegou no colo e me contou coisas que eu não consigo colocar em palavras. Ela me fascina de tantas formas, e penteia meus cabelos, me diz quando devo escovar meus dentes, ela me coloca a caneta na mão quando não quero mais escrever e me explica coisas que eu não compreendo, eu não compreendo.
E eu andaria com ela por aí, indefinidamente. Às vezes, eu acordo no meio da noite e eu estou pronta. E eu sei o que há pra saber. Eu digo a ela, eu digo a ela todas as razões possíveis e explico que não tem volta, que todos os dias eu me despeço, que eu deixo a casa em ordem, as luzes apagadas e as contas pagas, esperando que ela me chame.
Mas ela me conhece há tempo demais. Ela me conhece desde antes, da época em que eu era pó, desde o momento em que meus átomos se encontraram, ou desde quando eu vagava pelo grande salão das almas. Então eu acordo no meio da noite, digo a ela que está tudo pronto, eu já posso ir, e ela responde que eu só posso ir quando arrumar meu quarto,
quando disser adeus,
quando jogar fora as folhas velhas,
escrever um livro,
fazer algo de útil,
ir ao show do Rubel,
terminar só mais esse semestre,
terminar de ler todos esses livros na estante ("você não quer saber o final daquela história?"),
as séries nessa lista,
descobrir o que acontece quando o vênus retrógrado acabar,
disser a Otto o que sinto.
E, assim, eu vou vivendo,
uma noite
e depois a outra,
depois uma semana,
um mês,
um ano
e o outro.
L. me diz que não sabe, não entende como é que passamos dos 20 anos.
Como eu passei dos 20 anos sem remédios.
E é simples, tremendamente simples:
eu só finjo que algo vai acontecer.
E eu preciso ficar pra ver.
A parte estranha e curiosa da vida é:
algo sempre acontece.
Bom ou ruim, mas eu sempre acabo satisfeita por ter ficado pra ver.
Aí eu me viro pra ela e digo
"só mais um pouquinho. Você pode voltar amanhã?"
E ela sorri daquele jeito de quem sabe exatamente quando voltar, sem precisar que eu diga, me cobre, me beija a testa e sai por aí, pra levar quem realmente precisa ir.
Quem tem a coragem que eu não tenho
e que espero nunca mais ter.
38x18 Uma confusão de sensações, sons, pessoas e etcetera
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Não acordei meio Audrey Hepburn. Não me espreguicei e bocejei bonito,
é só mais um dia de escovar os dentes rápido demais, lavar o rosto com água gelada e tentar acordar.
Hospital, diálogos, uma discussão, jalecos, gluconato de cálcio, e a tarde livre pra não estudar quando devo estudar
Porra, eu tô cansada, perdida no espaço-tempo, 11 conversas não lidas, no mínimo, que eu não posso ler, eu não quero ler, eu não vou ler.
Não, eu durmo por umas 4 horas e depois acordo com uma puta dor de cabeça, eu me sento de pernas cruzadas no sofá e olho pra parede branca.
Estável.
Cansada, mas estável.
E meu coração fica leve porque eu tô bem. Sabe como é difícil ficar bem?
Eu sei de coisas, eu fiz coisas, que ninguém quer saber, sobre as quais ninguém quer ouvir, ninguém pode ouvir.
Eu respiro fundo e ainda sinto medo, mas
talvez eu esteja pronta pra lidar com ele.
Cansei de ficar sentada esperando que as coisas passassem ou acontecessem, que um esquecimento milagroso tomasse conta de mim e me levasse pra longe dessa necessidade constante de estar não pensando no que houve em janeiro, seja me enchendo de ocupações, de segredos, de livros, de séries, de álcool e outras coisas igualmente ineficazes.
Ah, não. Você, de novo.
Mas é só você.
Eu fico com medo, meu coração dá aquele pinote de medo de que eu me importe demais. E eu até me importo um pouco.
Mas aí uma voz na minha cabeça me lembra que a noite passada foi incrível e que você não existiu nela, nem por um segundo.
E isso me surpreende, me deixa tão feliz que eu quero que você fique feliz.
Porque querer o contrário não faz bem pra nenhum de nós.
Seja feliz, homem.
Mas longe de mim, por favor.
Aí tô em casa e sinto essa vontade maluca de entender certas coisas sobre a vida e elas me acolhem, me acalmam, me acalentam, me deixam deitar no chão e ouvir o barulho do tecido, sentir o cheiro de pano, o calor, o frio.
Elas não precisam nem me dizer pra que eu saiba, vai ficar tudo bem.
Porque eu tô sentindo, eu consigo sentir algo surdo, lá no fundo de mim, tentando voltar à tona, consigo sentir o cheiro da intensidade de mim pronta pra voltar. E eu tenho medo, sim, muito.
Mas isso sou eu também.
A mãe me beija no rosto, duas vezes, e eu sei que vai ficar tudo bem, mesmo que eu não entenda como, quando ou onde. Eu não quero saber, eu só quero esperar por isso, mesmo sem saber o que é.
Tá aqui, na ponta da língua o nome dessa coisa que tô sentindo nas costas, no peito, essa tonteira, eu sei o que é, eu já peguei isso antes, é a época do ano, é o chão de madeira da casa de um dos meus melhores amigos, a conformação dos astros, o nome começa com alguma letra que me remete à cor do pôr do sol de um fim de semana bom e era o cheiro que eu senti no cabelo do meu melhor amigo desse último fim de semana, a textura da bochecha dele na minha boca, e aquele tocar, aquele amor.
Não, calma, acho que é algo que tem a ver com o fato de que eu nunca dei tanta risada ao maratonar um seriado com alguém que amo.
E não me importo por ter perdido umas horas de sono pra ficar com ela.
Acho que essa sensação surda tem a ver com o gosto do chocolate que eu compro no mercado e como sozinha, com a silhueta desse cara na varanda do prédio da frente, um gosto de frutas vermelhas que eu não sei onde senti.
Eu nem sei onde esse texto vai dar, eu só queria escrever sobre esperança, sobre essa sensação nova e mais antiga do que tudo o que já senti, mas eu não quero só escrever que tô assim, porque eu tô mais que isso, tô de novo com saudade de quem ainda nem conheci, tem algo nas pontas dos meus dedos querendo encontrar as pontas dos dedos de outra pessoa e eu não sei como fazer isso, eu só
Eu só
tô com vontade.
É, caralho,
vontade.
Depois de todo esse tempo,
finalmente.
Não acordei meio Audrey Hepburn. Não me espreguicei e bocejei bonito,
é só mais um dia de escovar os dentes rápido demais, lavar o rosto com água gelada e tentar acordar.
Hospital, diálogos, uma discussão, jalecos, gluconato de cálcio, e a tarde livre pra não estudar quando devo estudar
Porra, eu tô cansada, perdida no espaço-tempo, 11 conversas não lidas, no mínimo, que eu não posso ler, eu não quero ler, eu não vou ler.
Não, eu durmo por umas 4 horas e depois acordo com uma puta dor de cabeça, eu me sento de pernas cruzadas no sofá e olho pra parede branca.
Estável.
Cansada, mas estável.
E meu coração fica leve porque eu tô bem. Sabe como é difícil ficar bem?
Eu sei de coisas, eu fiz coisas, que ninguém quer saber, sobre as quais ninguém quer ouvir, ninguém pode ouvir.
Eu respiro fundo e ainda sinto medo, mas
talvez eu esteja pronta pra lidar com ele.
Cansei de ficar sentada esperando que as coisas passassem ou acontecessem, que um esquecimento milagroso tomasse conta de mim e me levasse pra longe dessa necessidade constante de estar não pensando no que houve em janeiro, seja me enchendo de ocupações, de segredos, de livros, de séries, de álcool e outras coisas igualmente ineficazes.
Ah, não. Você, de novo.
Mas é só você.
Eu fico com medo, meu coração dá aquele pinote de medo de que eu me importe demais. E eu até me importo um pouco.
Mas aí uma voz na minha cabeça me lembra que a noite passada foi incrível e que você não existiu nela, nem por um segundo.
E isso me surpreende, me deixa tão feliz que eu quero que você fique feliz.
Porque querer o contrário não faz bem pra nenhum de nós.
Seja feliz, homem.
Mas longe de mim, por favor.
Aí tô em casa e sinto essa vontade maluca de entender certas coisas sobre a vida e elas me acolhem, me acalmam, me acalentam, me deixam deitar no chão e ouvir o barulho do tecido, sentir o cheiro de pano, o calor, o frio.
Elas não precisam nem me dizer pra que eu saiba, vai ficar tudo bem.
Porque eu tô sentindo, eu consigo sentir algo surdo, lá no fundo de mim, tentando voltar à tona, consigo sentir o cheiro da intensidade de mim pronta pra voltar. E eu tenho medo, sim, muito.
Mas isso sou eu também.
A mãe me beija no rosto, duas vezes, e eu sei que vai ficar tudo bem, mesmo que eu não entenda como, quando ou onde. Eu não quero saber, eu só quero esperar por isso, mesmo sem saber o que é.
Tá aqui, na ponta da língua o nome dessa coisa que tô sentindo nas costas, no peito, essa tonteira, eu sei o que é, eu já peguei isso antes, é a época do ano, é o chão de madeira da casa de um dos meus melhores amigos, a conformação dos astros, o nome começa com alguma letra que me remete à cor do pôr do sol de um fim de semana bom e era o cheiro que eu senti no cabelo do meu melhor amigo desse último fim de semana, a textura da bochecha dele na minha boca, e aquele tocar, aquele amor.
Não, calma, acho que é algo que tem a ver com o fato de que eu nunca dei tanta risada ao maratonar um seriado com alguém que amo.
E não me importo por ter perdido umas horas de sono pra ficar com ela.
Acho que essa sensação surda tem a ver com o gosto do chocolate que eu compro no mercado e como sozinha, com a silhueta desse cara na varanda do prédio da frente, um gosto de frutas vermelhas que eu não sei onde senti.
Eu nem sei onde esse texto vai dar, eu só queria escrever sobre esperança, sobre essa sensação nova e mais antiga do que tudo o que já senti, mas eu não quero só escrever que tô assim, porque eu tô mais que isso, tô de novo com saudade de quem ainda nem conheci, tem algo nas pontas dos meus dedos querendo encontrar as pontas dos dedos de outra pessoa e eu não sei como fazer isso, eu só
Eu só
tô com vontade.
É, caralho,
vontade.
Depois de todo esse tempo,
finalmente.
38x17 Pródromo
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Quase.
Sente isso?
Nos seus dedos dos pés, a boca dormente, sente isso?
Eu leio esse livro, assisto esse filme
eu sinto essa coisa
é boa.
Saio correndo na chuva, fico doente, inquieta, eu fico acordada até tarde,
eu sinto esse cheiro.
Eu saio de casa no meio da noite, sem rumo definido, sem medo.
(Lembra da última vez em que aconteceu?)
Começo a escrever, desesperadamente,
as pessoas parecem diferentes
eu estou diferente
as coisas estão diferentes
Essa canção do Rubel
e outro dia em que eu estava sentada no sofá e comecei a cantar, do nada, uma música de amor
aí hoje
eu não senti o cheiro dele.
Ontem à noite, eu soube
eu senti
essa coisa bizarra, essa sensação única
de que alguém estava chegando,
de que, mais dia, menos dia, alguém vai me mandar mensagem dizendo
"Desça"
no meio da noite
e eu vou descer.
Pior,
eu vou querer descer.
Eu vou querer muito.
Quase.
Sente isso?
Nos seus dedos dos pés, a boca dormente, sente isso?
Eu leio esse livro, assisto esse filme
eu sinto essa coisa
é boa.
Saio correndo na chuva, fico doente, inquieta, eu fico acordada até tarde,
eu sinto esse cheiro.
Eu saio de casa no meio da noite, sem rumo definido, sem medo.
(Lembra da última vez em que aconteceu?)
Começo a escrever, desesperadamente,
as pessoas parecem diferentes
eu estou diferente
as coisas estão diferentes
Essa canção do Rubel
e outro dia em que eu estava sentada no sofá e comecei a cantar, do nada, uma música de amor
aí hoje
eu não senti o cheiro dele.
Ontem à noite, eu soube
eu senti
essa coisa bizarra, essa sensação única
de que alguém estava chegando,
de que, mais dia, menos dia, alguém vai me mandar mensagem dizendo
"Desça"
no meio da noite
e eu vou descer.
Pior,
eu vou querer descer.
Eu vou querer muito.
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38x16 V
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Ok, respire.
Eu beijo a sua boca, enfio meus dedos entre os seus cabelos, eu quero coisas, tantas coisas que meu corpo pede, os astros pedem, mas a mente condena, reprime, penso em morder a tua boca, mas não quero te assustar, eu não quero te afastar.
Não agora, ainda não, eu toco o seu braço, tô flertando, oh céus, não consigo controlar a porra do flerte, dou uma risada de algo que não entendi, eu olho nos seus olhos e entreabro a boca.
Vem.
Eu não quero fazer isso.
Em algum lugar da cabeça, eu sei que quero ir para casa assistir seriados e ouvir músicas.
Mas ela não deixa e eu mordo o seu queixo, enquanto você respira fundo, se afasta um pouco, você tenta me tirar do meu transe e isso só me deixa mais excitada.
Eu quero te tirar dos eixos e não quero querer isso, quero querer te deixar em paz, feliz, estável.
Mas também quero quebrar seus ossos, devorar o seu corpo.
Por que?
Eu não quero você, não quero te levar pra casa ou te ouvir falar de amor.
Mas eu quero.
Eu quero estragar você, arrancar seus olhos e enfiar meus dedos entre os giros do seu cérebro, eu quero sugar a sua energia vital, destruir tudo em que você acredita, então eu beijo o seu pescoço e puxo o seu rosto pra perto, encosto o meu corpo no seu até que você perca o controle.
Mas você não perde o controle e isso me dá mais fome, me deixa ansiosa e letal.
Eu paro, me afasto, eu finjo, eu manipulo, uso as suas palavras, que saem da minha boca tão vazias quanto eu me sinto, quase mortas, mas eu imprimo nelas a fome pela tua boca e você acredita e me consola e me beija e se doa com tanta intensidade que eu percebo
perdeu a graça
você já é meu, mas eu não posso ser sua.
Eu não posso ser nada além disso e eu não quero mais ser outra coisa.
Eu cansei de significar e de gostar, de querer ficar.
E você me beija, faminto, transbordando sentimentos, sensações,
sua língua procura a minha sem parar, as suas mãos me impedem de escapar, mas não de me desintegrar.
E eu me desintegro em pequenos pedaços e tudo o que sobra é você, vazio, traído, amargo
Só.
Pisco os olhos duas vezes, saio desse devaneio ridículo e solto a sua mão, me despeço,
te deixando confuso, inseguro.
Eu tô tentando te ajudar, moço.
Não me dê bola.
Se você me estender a mão, prometo devorar teu braço.
Não sei fazer de outro jeito.
Desculpe.
Ok, respire.
Eu beijo a sua boca, enfio meus dedos entre os seus cabelos, eu quero coisas, tantas coisas que meu corpo pede, os astros pedem, mas a mente condena, reprime, penso em morder a tua boca, mas não quero te assustar, eu não quero te afastar.
Não agora, ainda não, eu toco o seu braço, tô flertando, oh céus, não consigo controlar a porra do flerte, dou uma risada de algo que não entendi, eu olho nos seus olhos e entreabro a boca.
Vem.
Eu não quero fazer isso.
Em algum lugar da cabeça, eu sei que quero ir para casa assistir seriados e ouvir músicas.
Mas ela não deixa e eu mordo o seu queixo, enquanto você respira fundo, se afasta um pouco, você tenta me tirar do meu transe e isso só me deixa mais excitada.
Eu quero te tirar dos eixos e não quero querer isso, quero querer te deixar em paz, feliz, estável.
Mas também quero quebrar seus ossos, devorar o seu corpo.
Por que?
Eu não quero você, não quero te levar pra casa ou te ouvir falar de amor.
Mas eu quero.
Eu quero estragar você, arrancar seus olhos e enfiar meus dedos entre os giros do seu cérebro, eu quero sugar a sua energia vital, destruir tudo em que você acredita, então eu beijo o seu pescoço e puxo o seu rosto pra perto, encosto o meu corpo no seu até que você perca o controle.
Mas você não perde o controle e isso me dá mais fome, me deixa ansiosa e letal.
Eu paro, me afasto, eu finjo, eu manipulo, uso as suas palavras, que saem da minha boca tão vazias quanto eu me sinto, quase mortas, mas eu imprimo nelas a fome pela tua boca e você acredita e me consola e me beija e se doa com tanta intensidade que eu percebo
perdeu a graça
você já é meu, mas eu não posso ser sua.
Eu não posso ser nada além disso e eu não quero mais ser outra coisa.
Eu cansei de significar e de gostar, de querer ficar.
E você me beija, faminto, transbordando sentimentos, sensações,
sua língua procura a minha sem parar, as suas mãos me impedem de escapar, mas não de me desintegrar.
E eu me desintegro em pequenos pedaços e tudo o que sobra é você, vazio, traído, amargo
Só.
Pisco os olhos duas vezes, saio desse devaneio ridículo e solto a sua mão, me despeço,
te deixando confuso, inseguro.
Eu tô tentando te ajudar, moço.
Não me dê bola.
Se você me estender a mão, prometo devorar teu braço.
Não sei fazer de outro jeito.
Desculpe.
38x15 No rest for the wicked
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Eu morro.
Só um pouco a cada dia, o outro lado dos 100%.
Não durmo, não descanso, eu sigo, elétrica, o caminho de tijolos, eu ouço broncas, cobranças, uma amiga que depende de mim quando eu não posso depender de mim.
Quero trancar as portas e desligar o celular.
Mas e o mundo lá fora?
E as pessoas que esperam algo de mim?
Eu me sento para ouvir a aula, mas eu não paro, meu cérebro corre, descarrila, eu caio dos degraus do meu pensar, eu não sei mais entender, eu preciso de tanta coisa, eu preciso beijar a sua boca e entender o que tá acontecendo com meus ossos, com meus olhos, com meu quarto.
Caio na cama, eu tento desligar a Wi-fi, mas você fala e fala e fala, me encontra no corredor, me conta um segredo, me ama e eu não sei. Eu não posso.
Porque eu tô cansada, eu tô uma pilha, eu não consigo fazer o básico e o trabalho se acumula debaixo da cama, não tem B. suficiente pra todo mundo, não tem B. suficiente pra mim.
Eu quero me desligar, eu quero apagar, me arrastar pra cama e dormir por 3 dias seguidos, mas você me diz que não é assim que funciona,
não é assim que funciona,
a vida não é assim,
ser adulto é aceitar responsabilidades
Então eu não durmo,
eu não descanso
sigo, elétrica, o caminho de tijolos
enquanto torço, silenciosamente,
pra cair morta antes de cair doente.
De novo.
Eu morro.
Só um pouco a cada dia, o outro lado dos 100%.
Não durmo, não descanso, eu sigo, elétrica, o caminho de tijolos, eu ouço broncas, cobranças, uma amiga que depende de mim quando eu não posso depender de mim.
Quero trancar as portas e desligar o celular.
Mas e o mundo lá fora?
E as pessoas que esperam algo de mim?
Eu me sento para ouvir a aula, mas eu não paro, meu cérebro corre, descarrila, eu caio dos degraus do meu pensar, eu não sei mais entender, eu preciso de tanta coisa, eu preciso beijar a sua boca e entender o que tá acontecendo com meus ossos, com meus olhos, com meu quarto.
Caio na cama, eu tento desligar a Wi-fi, mas você fala e fala e fala, me encontra no corredor, me conta um segredo, me ama e eu não sei. Eu não posso.
Porque eu tô cansada, eu tô uma pilha, eu não consigo fazer o básico e o trabalho se acumula debaixo da cama, não tem B. suficiente pra todo mundo, não tem B. suficiente pra mim.
Eu quero me desligar, eu quero apagar, me arrastar pra cama e dormir por 3 dias seguidos, mas você me diz que não é assim que funciona,
não é assim que funciona,
a vida não é assim,
ser adulto é aceitar responsabilidades
Então eu não durmo,
eu não descanso
sigo, elétrica, o caminho de tijolos
enquanto torço, silenciosamente,
pra cair morta antes de cair doente.
De novo.
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