Imagem: TingTing Huang
Eu conto coisas que me fariam arrepiar os cabelos, fosse eu mais humana.
Tô morta por dentro, eu não sinto nada por mim, nem por ninguém, eu machuco as pessoas, eu vou te machucar, sem dó nem piedade, eu tiro meia máscara, eu te dou familiaridade suficiente pra você ir embora, mas você não vai.
Pior: você quer ficar, acha que somos iguais - e talvez sejamos.
Talvez a gente seja igualzinho, e o monstro em mim saúde o monstro em você, mas o que isso diz sobre nós?
Você quer se sentir em casa no meu escuro, me contar sobre a morte e pecados não expiados, mas não
Eu quero me alimentar de sangue puro, sentir o gosto de quem é feliz, eu quero me alimentar de inocentes, eu quero que me olhem como se eu pudesse ser salva.
É o que você quer também, pense um pouco.
Eu não quero me sentir um monstro o tempo todo, quero uma vida normal, uma família de margarina, vida corriqueira, brigar pela cor das paredes, eu quero o banal, o fútil, alguém que não tenha medo do que escondo, do que eu já fiz, do que eu sou capaz de fazer, não quero ser eternamente o brinquedo quebrado, eu quero mais.
Mas você olha minhas cicatrizes, me mostra as tuas como se fosse um jogo de "quem tem mais" e fica me olhando como se eu fosse uma nova aquisição pro teu clube secreto.
Eu conheço esse olhar, venho fugindo dele há 10 anos.
Eu não quero ser olhada assim, eu quero gente que me veja com olhos de quem quer que dê certo, como se eu não estivesse amaldiçoada, como se eu tivesse jeito.
Cartas na mesa, eu não tenho nada pra oferecer, e não quero nada que não seja ir embora pra casa, dormir um sono intranquilo no chão da sala, sonhar com as coisas que eu não tenho, com as pessoas que não conheci.
Você já experimentou algo assim? Alguém já te olhou assim? Como se você fosse normal, bonito de se ver, como se não fosse estragado, como se fosse
bom?
Eu posso estar confusa, posso não estar entendendo nada de nada, perdida no meio da bagunça do meu quarto, da bagunça da minha vida e dos meus sentimentos, eu posso não ter nada aqui pra ninguém.
Mas eu sei o que eu quero.
E é isso o que eu quero, o monstro dentro de mim bem amarrado e amordaçado, eu quero estabilidade, viver de fingimento, se for preciso, eu quero a sensação de normalidade, de não andar diariamente na beira do tal abismo, eu quero andar de bicicleta no domingo, eu quero acordar com o sol no rosto e me levantar de bom humor,
dar um sorriso involuntário, quero explicar uma coisa que não seja mórbida ou sombria, quero não querer assustar.
Você vai dizer
que eu quero não ser eu.
E é exatamente isso.
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