Imagem: TingTing Huang
Apagam-se as luzes.
Não durmo.
É maio, como poderia?
Existe fome no mundo, pobreza, homens que matam mulheres, dor e futuros incertos, oportunidades perdidas, um mundo de possibilidades que me mantêm alerta, pronta pra luta.
Farejo o ar, sinto o cheiro de álcool e pílulas, sinto o cheiro de sol, cabelos queimados, o cheiro de maio, de sangue quente, recém saído do corpo, a molhar a cama e o piso de azulejos brancos.
É maio, amo quem não deveria amar, odeio quem não deveria odiar.
Afio facas de trinchar, espero a guerra, eu não quero brigar e meu corpo não aguenta mais esperar, tenso, pela batalha. Meu sangue pede o seu sangue, minha lâmina pede a sua pele, meus dedos se cortam no aço fino dos segredos que eu escondo.
É maio.
Mostro as pernas recém-cortadas, frescas, escondo as marcas sob tão pouca roupa que elas se tornam invisíveis, que eu me torno invisível. As pessoas não querem ver o que as pessoas não querem ver.
Apago as luzes de Maio e espero, no escuro, as feridas escorrendo ácido, queimando a pele no trajeto até o chão.
Apago as luzes de maio,
apago as luzes de maio
e espero que as luzes de junho se acendam rápido, antes que algo pior aconteça.
Nox.
Lumos.
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