Imagem: TingTing Huang
Perdi.
Acabou.
Não consigo mais, aconteceu o que eu mais termia: perdi o jeito pra escrever, pra falar.
Começou com uma dissociação curta entre o meu pensar e o meu falar, parei de escrever, ficava cansada, parei de ver a poesia nas coisas, parei de rir.
Eu não sei rir.
Como posso fazer rir?
Eu sou incapaz de achar graça nisso, incapaz de qualquer coisa, fui carimbada com a incapacidade de fazer, de agir, tô com medo, apavorada de não saber mais fazer a única coisa que eu sei fazer.
E ninguém vê, ninguém percebe que eu não sou.
Eu não tô "não bem", eu não sou
Eu tô enlouquecendo, escrevendo furiosamente, um monte de bosta desconexa que não faz nenhum sentido, que eu não tô conseguindo fazer com que faça sentido.
Então é isso? Eu acordo um dia e acabou, simplesmente foi embora porque eu não fui boa e disciplinada o bastante, porque eu não soube usar direito?
Fico parada na frente do computador por horas, paralisada,
eu não consigo.
Acabou.
Sufoco um pouco e me dá vontade de chorar, mas eu não consigo.
Tô muito assustada, muito desesperada até pra isso.
Talvez até um pouco conformada, como se eu sempre tivesse sabido que eu não era boa o bastante. É claro que eu não era.
Certo?
- É isso o que você acha? - Felipe me pergunta, de volta do mundo dos mortos.
Eu não sei.
- Você sabe. Tem muitas coisas acontecendo. Muitas coisas te sufocando. Mas eu sei o que dá pra fazer com essas coisas. Dá pra transformar em palavras, de todos os tipos e tamanhos. Dá pra transformar em mim, me trazer de volta, não me deixe morrer de verdade.
Acendo as luzes, pego papel e caneta.
Eu tô escrevendo pra salvar minha vida, porque é tudo o que eu sei fazer,
eu tô escrevendo pra trazê-lo de volta à vida, de uma vez por todas,
eu tô escrevendo, mesmo que ninguém leia, mesmo que só uma pessoa leia, tô escrevendo pra fazer a diferença na vida de uma só pessoa que seja.
Tô escrevendo pra me sentar no metrô na frente de uma garota lendo algo com meu nome na capa.
Eu tô escrevendo porque sinto as histórias escorrerem pelos meus dedos, porque não consigo me conter, porque não consigo mais segurar os gritos dentro da minha cabeça.
Talvez eu não seja mesmo boa,
talvez eu tenha mesmo perdido meu mojo,
mas eu não vou parar.
Eu vou continuar escrevendo, dia e noite, em cadernos, guardanapos, atrás das provas, durante as aulas, eu vou contar as histórias que coleciono, eu vou escrever nas paredes, nas roupas, até que não haja mais nada pra escrever.
Por mim,
por você,
enquanto eu conseguir.
40x07 Mojo
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Maio,
mão suja de tinta da vida,
muito pertinente,
numa aula
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