Imagem: Ting Ting Huang
Cabelos recém lavados, cheirando a xampu e suor. Orelhas limpas, ligeiramente ácidas, tão pouca pele cobrindo as mandíbulas claras e o pescoço magro.
"E pra que isso seria bom? Os fins não justificam os meios, B. Isso só vai te fazer sentir pior, suja, indigna".
Seguro sua cabeça num abraço estranho, não quero olhar seu rosto, saber quem você é. Me interessam apenas essa pele parca, esses ossos quase expostos, esses ombros. Sabe que, quando de olhos fechados, tocando seus cabelos, você poderia ser outra pessoa?
"A culpa foi sua e de suas escolhas tolas e egoístas, você sabe"
Costelas firmes batendo nas minhas, ruídos abafados pelo tecido, pela música alta, pela boca. Você quer falar e eu não deixo, não quero saber, não quero ouvir.
"Você acha que quer mudar? Você não pode mudar, você não consegue! E, se conseguisse, não adiantaria, não traria nada de volta".
Você quer pele, e eu também quero. Encontro a sua primeiro, lisa e esticada, aperto-a com os dedos comos e quisesse atravessá-la e você não reclama.
"Será que você consegue lutar contra essa sua mania de ser mártir, de se comprometer com as pessoas, só pra fazer isso?"
É pouco ainda, para calar as vozes, as bocas, as lembranças, é pouca pele, me diz pra onde ir, me diz o que fazer. Não diz, só a mesma repetição de movimentos, os ossos, a pele. Preciso de mais.
"Isso não é saudável, você precisa sair daqui, ver pessoas. Me deixa te ajudar".
Caminhamos a 4 pés, você ri e eu guio. Preciso de mais e você quer dar mais. É um alívio o contato entre a mão áspera e o tecido liso.
"Você precisa me ouvir"
Mais um pouco, você olha pra mim e eu vejo seus dentes surgirem, vejo as coisas acontecendo lentamente - e, ainda assim, depressa demais - no seu rosto.
"Você ainda acredita em inferno?"
Seus olhos, seu nariz, sua boca "vem". Mas eu ajeito as roupas e o cabelo depressa.
- Adeus.
Sem olhar pra trás, sem me arrepender.
Apática.
17x20 (Maybe, probably) You only live once
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Imagem: TingTing Huang
(Não é difícil entender de que ou de quem trata esse post. O porquê é que está escondido)
"Me leva pra casa, me leva pra casa", era tudo o que você dizia. E eu dirigia, passando rápido pelos buracos, o coração batendo forte de medo, de amor, fui dirigindo por um caminho paradoxal e a sua casa parecia nunca chegar.
Meu coração doía e você nem via nada, só pedia que te levasse pra casa, os olhos miúdos fechados, um cheiro forte de álcool me embriagando junto.
"Não dorme, Mikael, por favor", eu pedi.
"Me leva pra casa"
(Eu não entendia, então, Mikael, eu não queria entender)
Naquela noite, você sorriu pra mim, através de mim, uísque em mãos. Te abracei e segurei seu rosto entre as mãos. "Fica", eu disse. E você rodopiou e cantou, cheirando a uísque e suor.
Entrou no carro e eu ,"fica", mas você me puxou pela mão e eu fui. (As risadas não saíram dos meus ouvidos ainda, sabe?) "Vamos voltar", pedi, mas você só encostou a cabeça no meu ombro. No que é que você pensou? Eu não tive tempo de perguntar. De repente, éramos uma confusão de berros e baques, e eu te enlacei como se fôssemos um só, enquanto o carro voava, enquanto voávamos na direção da grama.
Você era sangue e carne no centro da manhã clara, fundido à grama, ao vidro, à terra. Tentei tirar o vidro do seu cabelo, do seu rosto, disse "Vai ficar tudo bem", mas não era verdade.
Ali, no meio de grilos e luzes de faróis e murmúrios de curiosos, você me viu, finalmente. Disse algo que não escutei, seu coração batia alto demais, me ensurdecia até. Cheguei mais perto, o nariz colado ao seu, pra olhar seus olhinhos escuros de sangue e noite, escutei apenas o final.
Mas eu entendo agora, Mikael, esteja onde estiver.
Deitei na grama, sobre o vidro e o sangue e segurei sua mão de leve, assistindo às lágrimas, gritos e ao nascer de outro sol, o seu último. Só mais um.
(Não é difícil entender de que ou de quem trata esse post. O porquê é que está escondido)
"Me leva pra casa, me leva pra casa", era tudo o que você dizia. E eu dirigia, passando rápido pelos buracos, o coração batendo forte de medo, de amor, fui dirigindo por um caminho paradoxal e a sua casa parecia nunca chegar.
Meu coração doía e você nem via nada, só pedia que te levasse pra casa, os olhos miúdos fechados, um cheiro forte de álcool me embriagando junto.
"Não dorme, Mikael, por favor", eu pedi.
"Me leva pra casa"
(Eu não entendia, então, Mikael, eu não queria entender)
Naquela noite, você sorriu pra mim, através de mim, uísque em mãos. Te abracei e segurei seu rosto entre as mãos. "Fica", eu disse. E você rodopiou e cantou, cheirando a uísque e suor.
Entrou no carro e eu ,"fica", mas você me puxou pela mão e eu fui. (As risadas não saíram dos meus ouvidos ainda, sabe?) "Vamos voltar", pedi, mas você só encostou a cabeça no meu ombro. No que é que você pensou? Eu não tive tempo de perguntar. De repente, éramos uma confusão de berros e baques, e eu te enlacei como se fôssemos um só, enquanto o carro voava, enquanto voávamos na direção da grama.
Você era sangue e carne no centro da manhã clara, fundido à grama, ao vidro, à terra. Tentei tirar o vidro do seu cabelo, do seu rosto, disse "Vai ficar tudo bem", mas não era verdade.
Ali, no meio de grilos e luzes de faróis e murmúrios de curiosos, você me viu, finalmente. Disse algo que não escutei, seu coração batia alto demais, me ensurdecia até. Cheguei mais perto, o nariz colado ao seu, pra olhar seus olhinhos escuros de sangue e noite, escutei apenas o final.
Mas eu entendo agora, Mikael, esteja onde estiver.
Deitei na grama, sobre o vidro e o sangue e segurei sua mão de leve, assistindo às lágrimas, gritos e ao nascer de outro sol, o seu último. Só mais um.
17x19 A rush of blood through the head
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Imagem: TingTing Huang
Chuva e fogo consumindo aos poucos as árvores, as casas, as pessoas.
"É tudo meu", ele pensa, e joga mais teria sobre os cadáveres, os vivos caindo nos túmulos enquanto enterram seus mortos em covas rasas.
Caminha pelas ruas cheias de fuligem e pó dos arranha-céus caídos, desviando-se dos corpos de bebês sem rosto.
Nas poucas casas intactas, Ele põe fogo e observa-as queimar lentamente enquanto enquanto espera sentir algo - alegria, dor, ira...- salvar a si mesmas, com uma magnum antiga, sem prazer.
"É tudo meu", ele pensa, e sente a pulsação acelerar, as coisas adquirem significado.
Checa o garoto de olhos arregalados que anda atrás dele.
"Vai ficar tudo bem, filho.", o brilho das chamas refletido nos olhos pequenos e castanhos.
Algumas pessoas choram, outras riem enquanto ele atira em uma de cada vez, se perguntando "por que".
Eles correm , assustados, felizes, vivos.
Ele atira em todos , pega o filho no colo e caminham pelo lugar, enquanto esperam que o fogo consuma tudo.
O menino olha as próprias mãos feridas e chora.
"Não adianta pensar nisso. O que importa é que a guerra acabou. Vai brincar"
Enquanto o pai observa, o menino corre no meio dos cadáveres e da fumaça, chutando pedras, corpos e balas.
Um novo dia que chega, pensa o pai. E descansa, antes de voltar ao trabalho.
Chuva e fogo consumindo aos poucos as árvores, as casas, as pessoas.
"É tudo meu", ele pensa, e joga mais teria sobre os cadáveres, os vivos caindo nos túmulos enquanto enterram seus mortos em covas rasas.
Caminha pelas ruas cheias de fuligem e pó dos arranha-céus caídos, desviando-se dos corpos de bebês sem rosto.
Nas poucas casas intactas, Ele põe fogo e observa-as queimar lentamente enquanto enquanto espera sentir algo - alegria, dor, ira...- salvar a si mesmas, com uma magnum antiga, sem prazer.
"É tudo meu", ele pensa, e sente a pulsação acelerar, as coisas adquirem significado.
Checa o garoto de olhos arregalados que anda atrás dele.
"Vai ficar tudo bem, filho.", o brilho das chamas refletido nos olhos pequenos e castanhos.
Algumas pessoas choram, outras riem enquanto ele atira em uma de cada vez, se perguntando "por que".
Eles correm , assustados, felizes, vivos.
Ele atira em todos , pega o filho no colo e caminham pelo lugar, enquanto esperam que o fogo consuma tudo.
O menino olha as próprias mãos feridas e chora.
"Não adianta pensar nisso. O que importa é que a guerra acabou. Vai brincar"
Enquanto o pai observa, o menino corre no meio dos cadáveres e da fumaça, chutando pedras, corpos e balas.
Um novo dia que chega, pensa o pai. E descansa, antes de voltar ao trabalho.
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17x18 Se eu morresse amanhã (21-12-2012)
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Se eu morresse amanhã, não teria me despedido de quem amo - e ele jamais saberia.
Se eu morresse amanhã, meus olhos se encheriam de luz e dos flashes de Coppola, risadas e memórias que roubei.
Se eu morresse amanhã, chegaria ao purgatório sm saber se Dante encontra Beatriz, quem é Lasher, por que a gente acabou, se passei no vestibular.
Se morresse amanhã, nunca teria filhos, nunca me casaria, nunca namoraria, nunca publicaria, nunca dançaria o foxtrot, nunca abriria um cadáver, nunca ouviria outro CD da Florence + the machine, nunca veria meus irmãos quando adultos, nunca leria "Perto do coração selvagem" ou a trilogia de sangue.
Se eu morresse amanhã, nunca conheceria a Coréia e a Irlanda.
Se eu morresse amanhã, não assistiria à copa do mundo ou à 2ª temporada de Homeland.
Mas, se eu morresse amanhã, não teria mais que estudar e fracassar, correr, sofrer, ter medo, escutar, falar, mudar, enfrentar os fins de semana ruins, pensar, sangrar, lutar.
Se eu morresse amanhã, a guerra teria fim.
Se eu morresse amanhã, não teria me despedido de quem amo - e ele jamais saberia.
Se eu morresse amanhã, meus olhos se encheriam de luz e dos flashes de Coppola, risadas e memórias que roubei.
Se eu morresse amanhã, chegaria ao purgatório sm saber se Dante encontra Beatriz, quem é Lasher, por que a gente acabou, se passei no vestibular.
Se morresse amanhã, nunca teria filhos, nunca me casaria, nunca namoraria, nunca publicaria, nunca dançaria o foxtrot, nunca abriria um cadáver, nunca ouviria outro CD da Florence + the machine, nunca veria meus irmãos quando adultos, nunca leria "Perto do coração selvagem" ou a trilogia de sangue.
Se eu morresse amanhã, nunca conheceria a Coréia e a Irlanda.
Se eu morresse amanhã, não assistiria à copa do mundo ou à 2ª temporada de Homeland.
Mas, se eu morresse amanhã, não teria mais que estudar e fracassar, correr, sofrer, ter medo, escutar, falar, mudar, enfrentar os fins de semana ruins, pensar, sangrar, lutar.
Se eu morresse amanhã, a guerra teria fim.
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17x17 Breaking
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Imagem: TingTing Huang
Breaking rules: - Alguém já te disse que a sua boca não tem gosto?
- Como assim?
- Ué, não tem gosto. Sempre foi assim.
- É assim que tem que ser.
Breaking bad: Ajoelhada, balbuciou coisas incompreensíveis, me ofereceu dinheiro, e eu, semi-surda, puxei-lhe os cabelos finos e empurrei sua cabeça de encontro ao meu joelho, com força. Uma, duas, três vezes.
Mordia a língua e não sentia dor, só o joelho indo e vindo, esmagando a cartilagem, úmido de sangue.
Breaking dawn: Os olhos arregalados pra escuridão. Medo de quê? Medo de quem? O sono chega, estígio ou não, luto contra ele: ninguém vence. Cochilo de olhos abertos, vejo coisas (vejo gente, insetos minúsculos bebendo meu sangue e comendo minha carne), acordo suada, fecho os olhos, sacudo os lençóis. Cochilo.
A porta range, os encanamentos assobiam e os trovões rugem, tudo fala. Acordo, acendo as luzes, tomo remédios.
Fecho os olhos e resolvo equações, faço distribuições eletrônicas, escrevo cartas mentais, até amanhecer.
Breaking down: (Um frasco do ar que você respira, uma mecha dos seus cabelos que não faça falta) Eu sei que você pode me ver, que você pode olhar pra mim, se quiser. Que, se eu te tocar, você não vai desaparecer, que você tem cheiro, gosto e sua voz é mais do que um tom.
Eu sei, mas não faz a menor diferença.
Breaking rules: - Alguém já te disse que a sua boca não tem gosto?
- Como assim?
- Ué, não tem gosto. Sempre foi assim.
- É assim que tem que ser.
Breaking bad: Ajoelhada, balbuciou coisas incompreensíveis, me ofereceu dinheiro, e eu, semi-surda, puxei-lhe os cabelos finos e empurrei sua cabeça de encontro ao meu joelho, com força. Uma, duas, três vezes.
Mordia a língua e não sentia dor, só o joelho indo e vindo, esmagando a cartilagem, úmido de sangue.
Breaking dawn: Os olhos arregalados pra escuridão. Medo de quê? Medo de quem? O sono chega, estígio ou não, luto contra ele: ninguém vence. Cochilo de olhos abertos, vejo coisas (vejo gente, insetos minúsculos bebendo meu sangue e comendo minha carne), acordo suada, fecho os olhos, sacudo os lençóis. Cochilo.
A porta range, os encanamentos assobiam e os trovões rugem, tudo fala. Acordo, acendo as luzes, tomo remédios.
Fecho os olhos e resolvo equações, faço distribuições eletrônicas, escrevo cartas mentais, até amanhecer.
Breaking down: (Um frasco do ar que você respira, uma mecha dos seus cabelos que não faça falta) Eu sei que você pode me ver, que você pode olhar pra mim, se quiser. Que, se eu te tocar, você não vai desaparecer, que você tem cheiro, gosto e sua voz é mais do que um tom.
Eu sei, mas não faz a menor diferença.
17x16 Relicário
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Imagem: TingTing Huang
me dá sua boca pra eu esconder dela
me dá seus olhos e tudo que já viram
me dá seus ouvidos pra eu te contar histórias
me dá suas mãos pra eu segurar
me dá seu rosto pra eu guardar na memória
me dá os seus cabelos pra eu adorar
me dá os seus dedos, com aliança ou sem, pra eu curar os cortes de papel
me dá os seus ombros pra eu encostar a boca
me dá seu pescoço com os pêlos por arrepiar com meu hálito
me dá suas pernas pra se embolarem nas minhas quando o frio chegar
me dá seus pés batendo no ritmo de uma música qualquer
entregue-se a mim, inteiro ou despedaçado.
em átomos, em cubos: mas eu só quero se for você.
me dá sua boca pra eu esconder dela
me dá seus olhos e tudo que já viram
me dá seus ouvidos pra eu te contar histórias
me dá suas mãos pra eu segurar
me dá seu rosto pra eu guardar na memória
me dá os seus cabelos pra eu adorar
me dá os seus dedos, com aliança ou sem, pra eu curar os cortes de papel
me dá os seus ombros pra eu encostar a boca
me dá seu pescoço com os pêlos por arrepiar com meu hálito
me dá suas pernas pra se embolarem nas minhas quando o frio chegar
me dá seus pés batendo no ritmo de uma música qualquer
entregue-se a mim, inteiro ou despedaçado.
em átomos, em cubos: mas eu só quero se for você.
17x15 Formato mínimo (ou "O corvo e a escrivaninha")
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Imagem: TingTing Huang
O corvo: - Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo; a boca vermelha, o gosto dela na boca, o cheiro dela, os cabelos dela, o corpo dela: ela inteira, real como nunca havia sido antes.
Havia uma chance, talvez mais de uma, oculta como suas pernas, seus seios - com os quais ele havia sonhado mais de uma vez e... "Vá devagar", pensou, mas não controlava mais seu corpo. Seu corpo era dela, finalmente. Era ela, também, uma extensão.
- Eu te amo, eu te amo, eu te amo, dizia em seus cabelos. E os cabelos nada diziam. Mas ainda havia esperança.
A escrivaninha: "Mas que fome é essa?", pensava, "essa fome é de mim?" e ele a engolia aos poucos.
Ela teve medo de se deixar devorar, teve medo de machucá-lo, se conteve.
Eu te amo, ele disse. Eu te amo, ela quis dizer. Porque ela a amava ali, ela o amava assim, um amor instantâneo e finito.
Ele queria entrar no corpo dela pela boca ela o mantinha levemente afastado, pra não magoar, pra não ter que dizer que já estava tão cheia de si que só cabia mais uma pessoa - que já tinha reservado lugar.
Não há vagas, ela piscou.
Mas ele, cego, não leu.
E ela, muda, nunca disse.
Qual é a semelhança, Jack, entre o corvo e a escrivaninha?
(Ele procurava uma princesa, ela procurava o próximo)
O corvo: - Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo; a boca vermelha, o gosto dela na boca, o cheiro dela, os cabelos dela, o corpo dela: ela inteira, real como nunca havia sido antes.
Havia uma chance, talvez mais de uma, oculta como suas pernas, seus seios - com os quais ele havia sonhado mais de uma vez e... "Vá devagar", pensou, mas não controlava mais seu corpo. Seu corpo era dela, finalmente. Era ela, também, uma extensão.
- Eu te amo, eu te amo, eu te amo, dizia em seus cabelos. E os cabelos nada diziam. Mas ainda havia esperança.
A escrivaninha: "Mas que fome é essa?", pensava, "essa fome é de mim?" e ele a engolia aos poucos.
Ela teve medo de se deixar devorar, teve medo de machucá-lo, se conteve.
Eu te amo, ele disse. Eu te amo, ela quis dizer. Porque ela a amava ali, ela o amava assim, um amor instantâneo e finito.
Ele queria entrar no corpo dela pela boca ela o mantinha levemente afastado, pra não magoar, pra não ter que dizer que já estava tão cheia de si que só cabia mais uma pessoa - que já tinha reservado lugar.
Não há vagas, ela piscou.
Mas ele, cego, não leu.
E ela, muda, nunca disse.
Qual é a semelhança, Jack, entre o corvo e a escrivaninha?
(Ele procurava uma princesa, ela procurava o próximo)
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17x14 The Blower's daughters
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Imagem: TingTing Huang
Sonhei com elas, de novo. Estão virando uma obssessão irritante.
"Tô grávida", eu dizia, e ele sorria. Seu sorriso me ofuscava e eu me escondia nas suas gengivas, me deitava com uma garotinha no colo: Teresa.
A Teresa de Coppola se (con)fundia com a Teresa de Kundera, eu passava a mãe nos seus cabelos louros e eles ficavam castanhos e eles ficavam castanhos; eu leria livros pra ela e diria que era linda.
Debaixo das cobertas, Maria me espreita. Parece esperta e um tanto dentuça e eu quero tocá-la, tão loira e tão morena, tão nós dois, nós quatro. "Vem cá, Maria, e me prometa que nunca vai confiar em ninguém que não exista", ela balança a cabeça. Assim, tudo vai ficar bem.
Bianca pede licença pra entrar, porque é feita de educação pura. Por favor, obrigada, com licença, sua cara rosada é sempre uma interrogação sutil. O rosto dela é o meu, feito uma tabula rasa em que desenharam os seus traços. Exceto os olhos - como em Harry Potter, puxaram os meus.
E lá vem ela, como se uma pessoa tivesse te arrancado os olhos e os cabelos e os estivesse usando. E os teus joelhos, e a tua pele, e a tua respiração.
- Deixa soltos os cabelos, Luz, assim.
Passo mal, sinto dores: dou à luz Cecília, os olhos tão claros que parecem cegos, buscando uma revelação.
Não é um nome, é um fardo, Cecília. Ela não fecha os olhos, nunca dorme, nunca chora.
"Está morta. Temos que enterrá-la", eles dizem.
Digo que não," como pode estar morta se ela come, se ela respira?"
E eles: "O corpo tem vida, a alma não. A luz se apagou"
Digo ela está viva, viva, não deixo.
E você vem e me toma a pequena Cecília, dizendo: "Acabou"
Acordei com a boca seca, Brasília me sugando e você perdido.
Acabou, mas
acho que, comigo, as coisas nunca têm fim.
Sonhei com elas, de novo. Estão virando uma obssessão irritante.
"Tô grávida", eu dizia, e ele sorria. Seu sorriso me ofuscava e eu me escondia nas suas gengivas, me deitava com uma garotinha no colo: Teresa.
A Teresa de Coppola se (con)fundia com a Teresa de Kundera, eu passava a mãe nos seus cabelos louros e eles ficavam castanhos e eles ficavam castanhos; eu leria livros pra ela e diria que era linda.
Debaixo das cobertas, Maria me espreita. Parece esperta e um tanto dentuça e eu quero tocá-la, tão loira e tão morena, tão nós dois, nós quatro. "Vem cá, Maria, e me prometa que nunca vai confiar em ninguém que não exista", ela balança a cabeça. Assim, tudo vai ficar bem.
Bianca pede licença pra entrar, porque é feita de educação pura. Por favor, obrigada, com licença, sua cara rosada é sempre uma interrogação sutil. O rosto dela é o meu, feito uma tabula rasa em que desenharam os seus traços. Exceto os olhos - como em Harry Potter, puxaram os meus.
E lá vem ela, como se uma pessoa tivesse te arrancado os olhos e os cabelos e os estivesse usando. E os teus joelhos, e a tua pele, e a tua respiração.
- Deixa soltos os cabelos, Luz, assim.
Passo mal, sinto dores: dou à luz Cecília, os olhos tão claros que parecem cegos, buscando uma revelação.
Não é um nome, é um fardo, Cecília. Ela não fecha os olhos, nunca dorme, nunca chora.
"Está morta. Temos que enterrá-la", eles dizem.
Digo que não," como pode estar morta se ela come, se ela respira?"
E eles: "O corpo tem vida, a alma não. A luz se apagou"
Digo ela está viva, viva, não deixo.
E você vem e me toma a pequena Cecília, dizendo: "Acabou"
Acordei com a boca seca, Brasília me sugando e você perdido.
Acabou, mas
acho que, comigo, as coisas nunca têm fim.
17x13 Delírios de consumo como os de Becky Bloom
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Imagem: TingTing Huang
Eu compro. Finalmente, eu compro.
Com ou sem dinheiro, compro.
Sonho com as coisas que vou comprar e basta pensar nelas pra me encher de felicidade.
Coisas completamente fúteis; normalmente eu não daria a mínima pra elas (até um ano atrás), coisas lindas e tolas.
"Comprar me faz feliz", que coisa mais tola de se dizer.
Que coisa mais verdadeira.
Eu compro. Finalmente, eu compro.
Com ou sem dinheiro, compro.
Sonho com as coisas que vou comprar e basta pensar nelas pra me encher de felicidade.
Coisas completamente fúteis; normalmente eu não daria a mínima pra elas (até um ano atrás), coisas lindas e tolas.
"Comprar me faz feliz", que coisa mais tola de se dizer.
Que coisa mais verdadeira.
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Annie,
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SHOPPING YAY
17x12 13:31
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Imagem: TingTing Huang
Bombas: Eu sinto que sou uma romântica entediada, velha, sem expectativas. Houveram pessoas, sempre. Nunca as que eu deveria amar.
Sempre preferi pessoas soturnas, cuja beleza se escondia em pequenas formas desarmônicas e intrigantes.
Navalhas: Acontece que esses detalhes me importam mais do que as pessoas que os possuem. Eu diria que os coleciono, como se fossem antiguidades.
Eu dizia "Você tem isso em você" e elas não entendiam que, pra mim, era só o que tinham.
Anéis: Às vezes, sinto como se tirasse das pessoas a beleza desses detalhes, como se murchassem ou fossem repentinamente despidas de todo o encanto. penso em devolver o que tirei, mas sempre me pergunto se o verdadeiro dono faria disso melhor uso do que eu.
Camisolas: Mas o que no é meu não me basta. Eu quero o que é deles, também.
Não me entenda mal, eles e seus intersses não me importam.
O que eu quero são as pessoas capazes de amar esses detalhes tanto quanto eu.
Quero que me amem, pois seus tão amados detalhes, suas paixões, pertencem a mim.
Bombas: Eu sinto que sou uma romântica entediada, velha, sem expectativas. Houveram pessoas, sempre. Nunca as que eu deveria amar.
Sempre preferi pessoas soturnas, cuja beleza se escondia em pequenas formas desarmônicas e intrigantes.
Navalhas: Acontece que esses detalhes me importam mais do que as pessoas que os possuem. Eu diria que os coleciono, como se fossem antiguidades.
Eu dizia "Você tem isso em você" e elas não entendiam que, pra mim, era só o que tinham.
Anéis: Às vezes, sinto como se tirasse das pessoas a beleza desses detalhes, como se murchassem ou fossem repentinamente despidas de todo o encanto. penso em devolver o que tirei, mas sempre me pergunto se o verdadeiro dono faria disso melhor uso do que eu.
Camisolas: Mas o que no é meu não me basta. Eu quero o que é deles, também.
Não me entenda mal, eles e seus intersses não me importam.
O que eu quero são as pessoas capazes de amar esses detalhes tanto quanto eu.
Quero que me amem, pois seus tão amados detalhes, suas paixões, pertencem a mim.
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17x11 Thanks for the memories
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Imagem: TingTing Huang
- Agosto, mês de desgosto - alguém diz, ao meu lado. E continua - Todo ano, a mesma coisa, ela não aguenta.
Mas suas palavras se perdem numa direção oposta à minha.
Ando, da forma mais solene possível, até o anjo cinzento que marca os túmulos familiares.
O sol brilha, quima, diferente do sol de 3 anos atrás, mirrado e triste. Até parece que superou.
Paro em frente aos três túmulos que me interessam; cruzes, nomes, datas e flores - certamente trazidas por Larissa - se confundem, criando uma atmosfera caótica.
Trouxe tulipas pra uma velha ranzinza que, certa vez, me disse que eu tinha bons dentes.
Uma mixórdia de flores secas roubadas de árvores e canteiros - algumas margaridas e uma ou outra flor mais fedorenta -, eu as trouxe pra um amigo que me disse que a vida era muito mais do que queria que acreditássemos. Um amigo que queria conhecer tudo e a quem tudo foi negado.
Sem mais nada nas mãos pra dar, me senti um pouco perdida. Pensei em pegar uma das tulipas, mas não pude.
Me abaixei e arranquei uns tufos de grama, com terra e tudo, e joguei sobre o terceiro túmulo, sujando tudo.
Minhas unhas ficaram escuras, cheias de terra. Me senti estranhamente bem com aquilo, com a minha oferta para o homem que nunca conheci; o homem sobre o qual ouvi tantas histórias que não passavam de mentiras.
Fui embora feliz, leve.
Pronta pra tudo o que estava por vir.
- Agosto, mês de desgosto - alguém diz, ao meu lado. E continua - Todo ano, a mesma coisa, ela não aguenta.
Mas suas palavras se perdem numa direção oposta à minha.
Ando, da forma mais solene possível, até o anjo cinzento que marca os túmulos familiares.
O sol brilha, quima, diferente do sol de 3 anos atrás, mirrado e triste. Até parece que superou.
Paro em frente aos três túmulos que me interessam; cruzes, nomes, datas e flores - certamente trazidas por Larissa - se confundem, criando uma atmosfera caótica.
Trouxe tulipas pra uma velha ranzinza que, certa vez, me disse que eu tinha bons dentes.
Uma mixórdia de flores secas roubadas de árvores e canteiros - algumas margaridas e uma ou outra flor mais fedorenta -, eu as trouxe pra um amigo que me disse que a vida era muito mais do que queria que acreditássemos. Um amigo que queria conhecer tudo e a quem tudo foi negado.
Sem mais nada nas mãos pra dar, me senti um pouco perdida. Pensei em pegar uma das tulipas, mas não pude.
Me abaixei e arranquei uns tufos de grama, com terra e tudo, e joguei sobre o terceiro túmulo, sujando tudo.
Minhas unhas ficaram escuras, cheias de terra. Me senti estranhamente bem com aquilo, com a minha oferta para o homem que nunca conheci; o homem sobre o qual ouvi tantas histórias que não passavam de mentiras.
Fui embora feliz, leve.
Pronta pra tudo o que estava por vir.
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eu sou um pequeno formspring x,
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Lady Gaga
17x11 Lion's song
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Imagem: TingTing Huang
Ele abriu a boca a 2 cm da minha e dela saiu um rugido.
- O que você disse?
Ele abriu os olhos, confuso e constrangido - Eu disse que...
E o rugido, de novo, uma canção, um chamamento: uma música infinitamente mais selvagem e assustadora do que a sua.
Eu te agarro as omoplatas e te ouço dizer, distante:
- O que foi, B.?
E o rugido aumentando, cada vez mais ensurdecedor.
"Não me deixe ir, não me deixe ir"
Mas eu já não sou mais dona de mim: minhas carnes parecem se desprender do corpo, seu cheiro se torna repulsivo e até sua música se torna insuportável.
Me desculpe, me desculpe.
Ninguém vai te amar como eu. Até o leão chamar.
Ele abriu a boca a 2 cm da minha e dela saiu um rugido.
- O que você disse?
Ele abriu os olhos, confuso e constrangido - Eu disse que...
E o rugido, de novo, uma canção, um chamamento: uma música infinitamente mais selvagem e assustadora do que a sua.
Eu te agarro as omoplatas e te ouço dizer, distante:
- O que foi, B.?
E o rugido aumentando, cada vez mais ensurdecedor.
"Não me deixe ir, não me deixe ir"
Mas eu já não sou mais dona de mim: minhas carnes parecem se desprender do corpo, seu cheiro se torna repulsivo e até sua música se torna insuportável.
Me desculpe, me desculpe.
Ninguém vai te amar como eu. Até o leão chamar.
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17x10 White lies
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Imagem: TingTing Huang
Parei de mentir e as mentiras vieram correndo atrás de mim.
Tranquei a casa, mas, mesmo à noite, suas unhas arranhavam a madeira da porta. Elas nunca dormem.
Durante a aula, olhei pela janela e vi uma delas lá embaixo, esperando que eu saísse.
Era uma mentira bonita, no início, que eu mantinha limpa e alimentada pelas minhas emoções e palavras forjadas. Agora é uma mulher fosca, de roupas puídas e dedos em carne viva.
Essa é, particularmente, a que mais me persegue.
Me atormenta em sonhos, viagens, me tira o apetite, o prazer dos filmes, a poesia. E me puxa os braços, os cabelos, me implora em silêncio que tudo volte a ser como antes. E eu fujo, sem dizer nada.
"Como seria se eu só dissesse não, se eu dissesse à ela que acabou?"
Mas falta coragem.
Sempre há de faltar.
Parei de mentir e as mentiras vieram correndo atrás de mim.
Tranquei a casa, mas, mesmo à noite, suas unhas arranhavam a madeira da porta. Elas nunca dormem.
Durante a aula, olhei pela janela e vi uma delas lá embaixo, esperando que eu saísse.
Era uma mentira bonita, no início, que eu mantinha limpa e alimentada pelas minhas emoções e palavras forjadas. Agora é uma mulher fosca, de roupas puídas e dedos em carne viva.
Essa é, particularmente, a que mais me persegue.
Me atormenta em sonhos, viagens, me tira o apetite, o prazer dos filmes, a poesia. E me puxa os braços, os cabelos, me implora em silêncio que tudo volte a ser como antes. E eu fujo, sem dizer nada.
"Como seria se eu só dissesse não, se eu dissesse à ela que acabou?"
Mas falta coragem.
Sempre há de faltar.
17x09 Are you there, Moriarty?
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Imagem: TingTing Huang
Vendei meus olhos para a nossa batalha pessoal, eu não iria mais fraquejar.
- Você está aí, Moriarty?
Bati com força, a mão nua. Acertei alguns fios de cabelo.
- Você está aí, Moriarty?
Nem cabelos; dessa vez, apenas ar.
- É sua vez, disse eu, temendo o golpe.
Mas não veio, nunca veio.
Eu esperei durante um bom tempo, até perder a paciência.
Tirei a venda.
- Você está aí, Moriarty?, gritei.
E ninguém respondeu.
Vendei meus olhos para a nossa batalha pessoal, eu não iria mais fraquejar.
- Você está aí, Moriarty?
Bati com força, a mão nua. Acertei alguns fios de cabelo.
- Você está aí, Moriarty?
Nem cabelos; dessa vez, apenas ar.
- É sua vez, disse eu, temendo o golpe.
Mas não veio, nunca veio.
Eu esperei durante um bom tempo, até perder a paciência.
Tirei a venda.
- Você está aí, Moriarty?, gritei.
E ninguém respondeu.
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Early Cuts: Espaços em branco
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Agora que você foi embora, tô tentando preencher esses espaços em branco.
Escrevo na folha inteira, deixei de fazer pausas para respirar enquanto falo. Deixei de falar.
Abandonei as esperas, me tornei pontual e os intervalos não me seduzem mais.
Agora que você se foi, detesto propagandas. Parei de pular degraus e de deixar portas entreabertas. Até sei o que vou comer amanhã.
Agora que você se foi, joguei fora as folhas incompletas, assisto tudo do começo ao fim.
Agora que você se foi, teimo em saber os detalhes e quero sempre as respostas completas.
Me tornei uma amolação, agora que você se foi, e não achei ainda ninguém que limpe a bagunça que você me faz fazer.
Agora que você foi embora, tô tentando preencher esses espaços em branco.
Escrevo na folha inteira, deixei de fazer pausas para respirar enquanto falo. Deixei de falar.
Abandonei as esperas, me tornei pontual e os intervalos não me seduzem mais.
Agora que você se foi, detesto propagandas. Parei de pular degraus e de deixar portas entreabertas. Até sei o que vou comer amanhã.
Agora que você se foi, joguei fora as folhas incompletas, assisto tudo do começo ao fim.
Agora que você se foi, teimo em saber os detalhes e quero sempre as respostas completas.
Me tornei uma amolação, agora que você se foi, e não achei ainda ninguém que limpe a bagunça que você me faz fazer.
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17x08 O que você quer saber de verdade
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Imagem: TingTing Huang
Não quero saber da minha origem, ou de onde veio o pó sob os meus pés.
Não quero saber quem vai ser meu grande amor ou quem vai me amar amanhã.
Não quero saber se ele vai se casar ou se mora a duas quadras daqui.
Não quero saber se amo, nem se odeio.
Não quero saber quem sou nem quem devo ser.
Não quero saber a verdade, porque sempre preferi mentiras.
Não quero saber da minha origem, ou de onde veio o pó sob os meus pés.
Não quero saber quem vai ser meu grande amor ou quem vai me amar amanhã.
Não quero saber se ele vai se casar ou se mora a duas quadras daqui.
Não quero saber se amo, nem se odeio.
Não quero saber quem sou nem quem devo ser.
Não quero saber a verdade, porque sempre preferi mentiras.
17x07 Yoü and I
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
- Vou, não sei se volto - digo pra um amigo.
Mentira minha, é claro que volto. Talvez não seja logo, mas volto.
Eu vou voltar e não vou embora enquanto você não souber da verdade.
Estúpido, quero que você saiba sobre o sangue nas minhas veias e sobre as canetas emprestadas.
Eu não vou embora até que você leia minhas cartas, até que cheire a limões.
Vou te agarrar pelo colarinho, furiosa, e te levar pra onde você deveria ter ido.
Talvez você me abandone. Mesmo assim, eu volto no tempo, se for preciso. E você também, pra me assombrar.
Voltaremos pra casa e você me dirá pra ir embora, mas eu direi "essa é a minha casa, vá você", mas você não irá embora, vai morrer.
E voltará pra mim incontáveis vezes, como eu farei também.
Agora é só a sua vez de me esperar.
- Vou, não sei se volto - digo pra um amigo.
Mentira minha, é claro que volto. Talvez não seja logo, mas volto.
Eu vou voltar e não vou embora enquanto você não souber da verdade.
Estúpido, quero que você saiba sobre o sangue nas minhas veias e sobre as canetas emprestadas.
Eu não vou embora até que você leia minhas cartas, até que cheire a limões.
Vou te agarrar pelo colarinho, furiosa, e te levar pra onde você deveria ter ido.
Talvez você me abandone. Mesmo assim, eu volto no tempo, se for preciso. E você também, pra me assombrar.
Voltaremos pra casa e você me dirá pra ir embora, mas eu direi "essa é a minha casa, vá você", mas você não irá embora, vai morrer.
E voltará pra mim incontáveis vezes, como eu farei também.
Agora é só a sua vez de me esperar.
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17x06 Plans
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Imagem: TingTing Huang
Estudei louca, insana, cega, furiosa.
Ainda quero muito passar no vestibular.
Não é por ele, não é por Ella, não é por mim: é pelo filho que vou ter.
Será que é feio isso, que cada respiração minha seja pra ele e por ele?
Será que estou sufocando alguém que nem existe?
Não é essa aminha intenção. Ele não precisa nem saber que essa vontade intensa de dar à luz a ele existiu.
Basta que a vontade exista.
É o futuro que me puxa.
Estudei louca, insana, cega, furiosa.
Ainda quero muito passar no vestibular.
Não é por ele, não é por Ella, não é por mim: é pelo filho que vou ter.
Será que é feio isso, que cada respiração minha seja pra ele e por ele?
Será que estou sufocando alguém que nem existe?
Não é essa aminha intenção. Ele não precisa nem saber que essa vontade intensa de dar à luz a ele existiu.
Basta que a vontade exista.
É o futuro que me puxa.
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17x05 La Valse
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Imagem: TingTing Huang
Danço.
Sozinha, em casa, em meio a meu próprio turbilhão: danço.
Danço a liberdade de P., seu amor por suas próprias asas.
Danço o pescoço de C., cada passo, uma prece.
Danço os fios de cabelo, as chaves encontradas e os amores não correspondidos.
Já dançava, antes mesmo de saber que a dança é que me levaria intacta até o final.
Danço.
Sozinha, em casa, em meio a meu próprio turbilhão: danço.
Danço a liberdade de P., seu amor por suas próprias asas.
Danço o pescoço de C., cada passo, uma prece.
Danço os fios de cabelo, as chaves encontradas e os amores não correspondidos.
Já dançava, antes mesmo de saber que a dança é que me levaria intacta até o final.
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Early Cuts: Zero
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
I never loved nobody fully
Always one foot on the ground
And by protecting my heart truly
I got lost
- ...e eu disse, tanto faz, acabou. E ela disse que tinha certeza de que eu estava terminando com ela por sua causa, por causa daquela vez em que a Larissa... - Ulrika falava, no telefone.
Eu ri, despreocupada. Quando se tratavam dos flertes de Ulrika, eu apenas mantinha distância. Tudo sempre acabava numa choradeira insistente e, quando eu me envolvia, acabava por passar noites insones ouvindo lamentos pelo telefone.
Esse era o motivo oficial do meu não-envolvimento. À parte esse havia mais um, secreto: eu nunca tinha amado ninguém tão intensamente. Eu nunca tinha conhecido ninguém por quem fosse capaz de ameaças e lamentos.
Sempre me perguntava se, algum dia... Nem que fosse pra acabar em lamentos e ameaças.
- E eu fiquei tipo "tá doida, ela é a minha melhor amiga, ela nunca diria isso e ela não tá nem aí"...
Ela continuou a falar, mas eu parei de prestar atenção. Tinha um grupo de pessoas sentadas no térreo de um prédio. Todos deviam ter a minha idade e pareciam estar se divertindo muito.
Fiquei parada, sacola na mão, olhando aquelas pessoas e sentindo falta dos meus amigos, de todos eles. E senti medo de nunca mais fazer amigos, de nunca mais me divertir daquele jeito.
Devo ter ficado parada ali por uns 2 minutos. Parece pouco, mas é bastante esquisito. Foi quando me dei conta de que um deles olhava pra mim. Era o único virado na minha direção, o que explicava isso. Os outros riam alto, mas ele não.
Não desviei o olhar, uma vez na vida, nem ele.É besteira, mas acho que ele se sentia um pouco como eu, sentia que não se encaixava, mas era melhor ficar do que enfrentar as incertezas da saída.
Isso aconteceu em questãode segundos.
Sempre me perguntava se, algum dia... Nem que fosse pra acabar em lamentos e ameaças.
- E eu fiquei tipo "tá doida, ela é a minha melhor amiga, ela nunca diria isso e ela não tá nem aí"...
Ela continuou a falar, mas eu parei de prestar atenção. Tinha um grupo de pessoas sentadas no térreo de um prédio. Todos deviam ter a minha idade e pareciam estar se divertindo muito.
Fiquei parada, sacola na mão, olhando aquelas pessoas e sentindo falta dos meus amigos, de todos eles. E senti medo de nunca mais fazer amigos, de nunca mais me divertir daquele jeito.
Devo ter ficado parada ali por uns 2 minutos. Parece pouco, mas é bastante esquisito. Foi quando me dei conta de que um deles olhava pra mim. Era o único virado na minha direção, o que explicava isso. Os outros riam alto, mas ele não.
Não desviei o olhar, uma vez na vida, nem ele.É besteira, mas acho que ele se sentia um pouco como eu, sentia que não se encaixava, mas era melhor ficar do que enfrentar as incertezas da saída.
Isso aconteceu em questãode segundos.
Ulrika ao telefone: - E você não vai acreditar na merda que o Al mandou os garotos fazerem, eu disse caralho, merda merda...
E eu já seguia o meu caminho, embaraçada por aqueles segundos de intimidade.
Na época, não significou nada. Agora, chamo a esse momento Marco Zero.
E eu já seguia o meu caminho, embaraçada por aqueles segundos de intimidade.
Na época, não significou nada. Agora, chamo a esse momento Marco Zero.
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uma noite na vida
17x04 Beat it
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Imagem: TingTing Huang
Eu queria pedir desculpas, mas teimo em achar que estou certa.
Eu queria fingir ignorar, mas meu rosto têm contado meus segredos.
Eu queria perdoar, mas perdoar quem se ama é mais difícil, infinitamente.
Eu queria discutir, mas tenho medo de que você me peça desculpas e eu não possa desculpar.
Eu queria te bater, mas você talvez achasse injusto.
Eu queria te perturbar, mas talvez você não compreendesse.
Eu queria me afastar, mas as férias chegaram e sou obrigada a ir pra casa e me fingir de apática enquanto ponho a cabeça no lugar e decido se quem apanha é você ou eu.
Eu queria pedir desculpas, mas teimo em achar que estou certa.
Eu queria fingir ignorar, mas meu rosto têm contado meus segredos.
Eu queria perdoar, mas perdoar quem se ama é mais difícil, infinitamente.
Eu queria discutir, mas tenho medo de que você me peça desculpas e eu não possa desculpar.
Eu queria te bater, mas você talvez achasse injusto.
Eu queria te perturbar, mas talvez você não compreendesse.
Eu queria me afastar, mas as férias chegaram e sou obrigada a ir pra casa e me fingir de apática enquanto ponho a cabeça no lugar e decido se quem apanha é você ou eu.
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17x03 Try a little tenderness
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Imagem: TingTing Huang (Você já deve ter notado que esse fotógrafo virou figurinha carimbada por aqui. Eu amo o trabalho dele. Espero que você também)
Laura em casa, fiz macarrão.
Ela quase não comeu e eu senti uma ternura por ela, por essa garota meio cadavérica.
Pensei em minha mãe no futuro, com cabelos brancos, e senti uma dor nas costas. Laura disse que eram medo e amor misturados.
Uma saudade de dois amigos temporários, acabou que também era amor.
Pensei no Yossef, crescido, na sua voz mudando. Senti um aperto no peito.
Outro dia, meus olhos se encheram de água quando lia a história do fuzilamento do Dínamo de Kiev.
"Me desacostumei a essa ternura toda, Laura, não sei o que me deu".
Ela me disse que era barriga cheia: eu tinha comido quase toda a panela de macarrão.
Mas eu acho que é amor. Acho que, aos poucos, vai voltando.
Laura em casa, fiz macarrão.
Ela quase não comeu e eu senti uma ternura por ela, por essa garota meio cadavérica.
Pensei em minha mãe no futuro, com cabelos brancos, e senti uma dor nas costas. Laura disse que eram medo e amor misturados.
Uma saudade de dois amigos temporários, acabou que também era amor.
Pensei no Yossef, crescido, na sua voz mudando. Senti um aperto no peito.
Outro dia, meus olhos se encheram de água quando lia a história do fuzilamento do Dínamo de Kiev.
"Me desacostumei a essa ternura toda, Laura, não sei o que me deu".
Ela me disse que era barriga cheia: eu tinha comido quase toda a panela de macarrão.
Mas eu acho que é amor. Acho que, aos poucos, vai voltando.
Early Cuts: Fun-period
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Tenho escutado Lana Del Rey. Muito.Ao contrário do esperado ("Para de ouvir essa música de fossa, ARGH") por todo o mundo, a combinação dessas músicas me deixa singularmente otimista.
Quando ouço as músicas, assim como quem não quer nada, me vêm essas imagens de mim mesma, me divertindo com alguém cujo rosto eu não consigo ver.
É bom ver isso, não porque eu ache que vá me apaixonar, nem por um desses motivos usuais. É bom porque me dá esperança. Eu me vejo me divertindo sem culpa, sem tensões.
Provavelmente, não significa nada, são apenas devaneios.
Mas servem como estímulo. Servem de consolo.
Enquanto isso, Lana Del Rey no repeat.
Tenho escutado Lana Del Rey. Muito.Ao contrário do esperado ("Para de ouvir essa música de fossa, ARGH") por todo o mundo, a combinação dessas músicas me deixa singularmente otimista.
Quando ouço as músicas, assim como quem não quer nada, me vêm essas imagens de mim mesma, me divertindo com alguém cujo rosto eu não consigo ver.
É bom ver isso, não porque eu ache que vá me apaixonar, nem por um desses motivos usuais. É bom porque me dá esperança. Eu me vejo me divertindo sem culpa, sem tensões.
Provavelmente, não significa nada, são apenas devaneios.
Mas servem como estímulo. Servem de consolo.
Enquanto isso, Lana Del Rey no repeat.
17x02 Give your heart a break
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Disse pra Laura que nunca mais vou amar ninguém. Ela não acredita, é claro, diz que é impossível. Mas eu bem sei que ela nunca amou ninguém, e nem vai.
Sei, mas não disse na hora porque, numa comparação de motivos, Laura teria uma vitória esmagadora.
"Você sempre amou tanto...", ela diz, "e tanta gente"
"Por isso mesmo. Já chega. Não quero mais", digo.
Ela me beija a bochecha antes de ir embora e me entrega um post it verde.
"Descanse, concentre-se e volte a ser como antes, ok?".
Tranco a porta e leio o post-it pra encontrar uma pergunta que já respondemos um bilhão de vezes sem que nossas respostas mudassem.
Sorrio. Só preciso de tempo. Tudo vai voltar a ser como antes.
Disse pra Laura que nunca mais vou amar ninguém. Ela não acredita, é claro, diz que é impossível. Mas eu bem sei que ela nunca amou ninguém, e nem vai.
Sei, mas não disse na hora porque, numa comparação de motivos, Laura teria uma vitória esmagadora.
"Você sempre amou tanto...", ela diz, "e tanta gente"
"Por isso mesmo. Já chega. Não quero mais", digo.
Ela me beija a bochecha antes de ir embora e me entrega um post it verde.
"Descanse, concentre-se e volte a ser como antes, ok?".
Tranco a porta e leio o post-it pra encontrar uma pergunta que já respondemos um bilhão de vezes sem que nossas respostas mudassem.
"Você prefere amar ou ser amada?
(B) Amar
(L) Ser amada"
Sorrio. Só preciso de tempo. Tudo vai voltar a ser como antes.
17x01 Alcalose
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Marcela ofegava "dessa vez, a gente vai morrer", ria.
Eu também senti.
A morte veio lépida, amoleceu minhas pernas. Eu ri, sem sentir a cara, Marcela fazia caretas no tapete.
Eu me deixei escorregar até o chão, os braços derretendo.
Naquele dia, jurei que iríamos ser felizes daquele jeito pra sempre, Marcela e eu.
Eu ofeguei e Marcela coçou a cabeça com o tubo de caneta.
Eu puxei uns fios do seu cabelo e fiz um bigode pra mim.
Então a noite chegou: Morremos, sem nunca morrer.
Mas era só falta de dióxido de carbono.
A gente cresce e deixa de acreditar.
Marcela ofegava "dessa vez, a gente vai morrer", ria.
Eu também senti.
A morte veio lépida, amoleceu minhas pernas. Eu ri, sem sentir a cara, Marcela fazia caretas no tapete.
Eu me deixei escorregar até o chão, os braços derretendo.
Naquele dia, jurei que iríamos ser felizes daquele jeito pra sempre, Marcela e eu.
Eu ofeguei e Marcela coçou a cabeça com o tubo de caneta.
Eu puxei uns fios do seu cabelo e fiz um bigode pra mim.
Então a noite chegou: Morremos, sem nunca morrer.
Mas era só falta de dióxido de carbono.
A gente cresce e deixa de acreditar.
16x30 The Death of you and me (Season Finale)
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
All alone
It was always there you see
And even on my own
It was always standing next to me
Milhões de pequenas coisas, tão ínfimas que nem as percebi, traçaram meu caminho até esse nosso último encontro.
I can see is coming from the edge of the room
Creeping in the streetlight
As luzes dos postes piscaram, uma óbvia recomendação, mas meu mundo era outro, não as vi.
Dei três belos saltos na calçada, amei meus tênis infantis e amei andar. O tempo úmido e frio queimava meus braços de leve e as ruas vazias choravam saudades.
Holding my hand in the pear grove
Can you see it coming now?
Pensei em correr. Mas lembrei que era sábado, não tinha pressa.
Atravessei na faixa, no sinal vermelho. Mas era sábado e ninguém morrer aos sábados, então não atravessei na faixa, corri pelo meio da rua.
Cheguei ao outro lado, viva. Ainda pensava em belas irmãs e casamentos na praia quando ele surgiu.
Oh - i think i'm breaking down again
Oh - i think i'm breaking down
Ele se aproximou e eu também, ainda hipnotizada pelo poder de um par de globos oculares.
Olhava pra mim ou olhava através de mim, não importava.
Tentei tocá-lo, chamar sua atenção, mas meu braço não se moveu.
Minha boca ficou colada e o ar parecia ter parado de circular nos meus pulmões.
Eu soube que algo em mim morria sem que eu pudesse fazer nada.
All alone
Even when i was a child
I've always known
That it was something to be frightened of
Isso me assustou e eu corri pra chamá-lo, mas a boca não se movia.
Ele continuou seu caminho, parcialmente iluminado pelos postes de luz e eu esperei que ele me olhasse. Eu acenaria e ele saberia, saberia que algo estava errado.
I can see is coming from the edge of the room
Creeping in the streetlight
Eu esperei, no frio e no escuro, enquanto as ruas choravam. Esperei.
Esperei até a última luz, até que você sumisse no escuro.
Holding my hand in the pear grove
Can you see it coming now?
Mas você não se virou nem uma vez.
E, o que quer que houvesse dentro de mim, morreu naquela noite, à sua espera.
Oh - i think i'm breaking down again
Mas você não se virou. Nem uma vez.
Oh - i think i'm breaking down.
All alone
It was always there you see
And even on my own
It was always standing next to me
Milhões de pequenas coisas, tão ínfimas que nem as percebi, traçaram meu caminho até esse nosso último encontro.
I can see is coming from the edge of the room
Creeping in the streetlight
As luzes dos postes piscaram, uma óbvia recomendação, mas meu mundo era outro, não as vi.
Dei três belos saltos na calçada, amei meus tênis infantis e amei andar. O tempo úmido e frio queimava meus braços de leve e as ruas vazias choravam saudades.
Holding my hand in the pear grove
Can you see it coming now?
Pensei em correr. Mas lembrei que era sábado, não tinha pressa.
Atravessei na faixa, no sinal vermelho. Mas era sábado e ninguém morrer aos sábados, então não atravessei na faixa, corri pelo meio da rua.
Cheguei ao outro lado, viva. Ainda pensava em belas irmãs e casamentos na praia quando ele surgiu.
Oh - i think i'm breaking down again
Oh - i think i'm breaking down
Ele se aproximou e eu também, ainda hipnotizada pelo poder de um par de globos oculares.
Olhava pra mim ou olhava através de mim, não importava.
Tentei tocá-lo, chamar sua atenção, mas meu braço não se moveu.
Minha boca ficou colada e o ar parecia ter parado de circular nos meus pulmões.
Eu soube que algo em mim morria sem que eu pudesse fazer nada.
All alone
Even when i was a child
I've always known
That it was something to be frightened of
Isso me assustou e eu corri pra chamá-lo, mas a boca não se movia.
Ele continuou seu caminho, parcialmente iluminado pelos postes de luz e eu esperei que ele me olhasse. Eu acenaria e ele saberia, saberia que algo estava errado.
I can see is coming from the edge of the room
Creeping in the streetlight
Eu esperei, no frio e no escuro, enquanto as ruas choravam. Esperei.
Esperei até a última luz, até que você sumisse no escuro.
Holding my hand in the pear grove
Can you see it coming now?
Mas você não se virou nem uma vez.
E, o que quer que houvesse dentro de mim, morreu naquela noite, à sua espera.
Oh - i think i'm breaking down again
Mas você não se virou. Nem uma vez.
Oh - i think i'm breaking down.
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my dear myself,
Otto
16x29 Não sou Sabina
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Imagem: Ting Ting Huang
Quero participar.
Quero lutar.
Quero crescer.
Eu era Sabina, 3 semanas atrás, olhando, apática, as coisas que não eram.
Mas quero ser Treza. Eu quero lutar por mim, quero crescer e compreender.
Eu não caibo mais nesse recipiente, nem tenho medo da explosão.
Talvez seja mal de Ulrika, mas tudo bem se for.
Eu vou marchar.
Quero participar.
Quero lutar.
Quero crescer.
Eu era Sabina, 3 semanas atrás, olhando, apática, as coisas que não eram.
Mas quero ser Treza. Eu quero lutar por mim, quero crescer e compreender.
Eu não caibo mais nesse recipiente, nem tenho medo da explosão.
Talvez seja mal de Ulrika, mas tudo bem se for.
Eu vou marchar.
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16x28 West Egg
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Eu me olhei no espelho e, finalmente, me senti bem. Eu me vi. Queria tanto que você tivesse visto, que você me visse.
Ma svocê não estava lá, não estava em lugar algum.
Éramos só eu e a cidade deserta, de novo.
Quando eu sigo em frente, invariavelmente abandono meu passado.
O que é passado? O ontem, a semana passada... A vida passada?
Não é que eu queira deixar quem eu fui, mas eles nunca me deixam ser mais.
Eu me olhei no espelho e, finalmente, me senti bem. Eu me vi. Queria tanto que você tivesse visto, que você me visse.
Ma svocê não estava lá, não estava em lugar algum.
Éramos só eu e a cidade deserta, de novo.
Quando eu sigo em frente, invariavelmente abandono meu passado.
O que é passado? O ontem, a semana passada... A vida passada?
Não é que eu queira deixar quem eu fui, mas eles nunca me deixam ser mais.
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16x27 The Words You Live In
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Tem um outdoor com seu nome no lugar em que já te vi quando não te amava.
Está lá, pra todo mundo que chega e eles nem sabem. Nem você sabe.
O seu nome nos protagonistas de duas novelas, que diferentes mulheres dizem com amor ensaiado na voz, o nome que gritam, que arranca sorrisos delas.
Está lá pra todo mundo ouvir.
Alguém deve ter notado, talvez você tenha.
Florence Welsh dizendo "And I'd do anything to make you stay", as oportunidades perdidas ecoando no fim dessas palavras.
Está lá, mas só eu ouço. E você nunca vai ouvir.
Tem um outdoor com seu nome no lugar em que já te vi quando não te amava.
Está lá, pra todo mundo que chega e eles nem sabem. Nem você sabe.
O seu nome nos protagonistas de duas novelas, que diferentes mulheres dizem com amor ensaiado na voz, o nome que gritam, que arranca sorrisos delas.
Está lá pra todo mundo ouvir.
Alguém deve ter notado, talvez você tenha.
Florence Welsh dizendo "And I'd do anything to make you stay", as oportunidades perdidas ecoando no fim dessas palavras.
Está lá, mas só eu ouço. E você nunca vai ouvir.
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Otto
16x26 Meat is murder?
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Imagem: TingTing Huang
18. Se você fosse um animal, que animal você seria?
Animais sonham?
Animais tem alma?
No século passado - parece ter sido há muito tempo, mas não foi -, negros não tinham alma.
Eu não posso fingir que sei o que isso significa, talvez eu não tenha mesmo alma.
Mas talvez eu tenha. E isso quer dizer que injustiças foram cometidas, injustiças enormes. E outra está sendo cometida.
Mas se eu não sei o que é a alma, como dizer a que conclusões isso deve levar?
Quem disse que ter alma é bom? Quem disse que todo mundo tem? Ter alma é pensar? Ou ter alma é gostar - como cães gostam?
Aí não quero mais comer carne, mas quem me diz que plantas não têm alma?
E todas as lendas e os mitos não tem um fundo de verdade? (Há quem acredite que o barro tem alma)
Quem está certo e quem não está?
Eu não sei e, talvez, nunca saiba.
Mas fico feliz por ter os olhos abertos o suficiente para questionar.
18. Se você fosse um animal, que animal você seria?
Animais sonham?
Animais tem alma?
No século passado - parece ter sido há muito tempo, mas não foi -, negros não tinham alma.
Eu não posso fingir que sei o que isso significa, talvez eu não tenha mesmo alma.
Mas talvez eu tenha. E isso quer dizer que injustiças foram cometidas, injustiças enormes. E outra está sendo cometida.
Mas se eu não sei o que é a alma, como dizer a que conclusões isso deve levar?
Quem disse que ter alma é bom? Quem disse que todo mundo tem? Ter alma é pensar? Ou ter alma é gostar - como cães gostam?
Aí não quero mais comer carne, mas quem me diz que plantas não têm alma?
E todas as lendas e os mitos não tem um fundo de verdade? (Há quem acredite que o barro tem alma)
Quem está certo e quem não está?
Eu não sei e, talvez, nunca saiba.
Mas fico feliz por ter os olhos abertos o suficiente para questionar.
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Sleeping At Last
16x25 Sodium Amytal
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Imagem: TingTing Huang
Brasília, março de 2005.
Meu uniforme escolar estava sujo de vômito. Eu fedia, mas ninguém parecia notar. Eu estava invisível, uma menina parada no corredor, fedendo a vômito e suor.
A porta ao meu lado se abriu e minha mãe reapareceu, os olhos vermelhos, ainda inchados, seguida pelo doutor.
Eu logo pensei na expressão "espreme-crânios", como de costume.
Mas, dessa vez, foi diferente. Não houve conversa.
"Sua mãe disse que você vomitou muito, B. Você se importa de tomar soro pra não desidratar?"
Algo na expressão da minha mãe disse que eu não me importava.
Tudo foi feito rapidamente e, deitada em uma maca improvisada, fiquei olhando o soro gotejar. Eu só queria que acabasse logo, pra que pudéssemos voltar pra casa.
E então já era noite, sem que eu tivesse sequer adormecido, e o soro tinha acabado.
Naquele dia, eu tive a nítida sensação de que eu era mágica, de que havia poderes ocultos em mim.
Eu queria jamais ter acreditado em outra coisa.
Brasília, março de 2005.
Meu uniforme escolar estava sujo de vômito. Eu fedia, mas ninguém parecia notar. Eu estava invisível, uma menina parada no corredor, fedendo a vômito e suor.
A porta ao meu lado se abriu e minha mãe reapareceu, os olhos vermelhos, ainda inchados, seguida pelo doutor.
Eu logo pensei na expressão "espreme-crânios", como de costume.
Mas, dessa vez, foi diferente. Não houve conversa.
"Sua mãe disse que você vomitou muito, B. Você se importa de tomar soro pra não desidratar?"
Algo na expressão da minha mãe disse que eu não me importava.
Tudo foi feito rapidamente e, deitada em uma maca improvisada, fiquei olhando o soro gotejar. Eu só queria que acabasse logo, pra que pudéssemos voltar pra casa.
E então já era noite, sem que eu tivesse sequer adormecido, e o soro tinha acabado.
Naquele dia, eu tive a nítida sensação de que eu era mágica, de que havia poderes ocultos em mim.
Eu queria jamais ter acreditado em outra coisa.
16x24 On my way to believe
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
"Detodas as pessoas aqui, você é a única que vale a pena", ele me disse.
E eu não senti nada, eu só quis ir pra casa.
"Por favor. Eu não valho a pena, não mesmo", eu disse.
Não era mentira. O pico tinha passado e eu me sentia lixo, eu era lixo.
"Não diz isso. E eu não vou dizr mais nada, mas você tá sozinha porque quer".
Eu quero estar junto, mas não desse jeito. O qu eu quero é uma espécie de verão eterno e ninguém pode me dar isso.
E eu quero Otto, mas ficaria com Gusto pelos motivos errados, porque ele me daria conversas e ideias.
Mas eu tenho a impressão de que as coisas são lentas demais.
Às vezes eu sonho com um olhar só, que vai me dizer tudo. Eu não quero ficar junto pra sempre, eu não quero não ficar junto. Eu quero que as coisas caminhem sozinhas, no seu próprio tempo. Sem planos, sem passos.
Esem aquela fase da corte, da conquista.
Talvez eu seja mesmo "toda errada", como dizem, mas eu prefiro mil vezes dar as mãos (eca) do que ouvir essas palavras vazias que, acredito, só fazem sentido quando as luzes não se apagaram.
"Detodas as pessoas aqui, você é a única que vale a pena", ele me disse.
E eu não senti nada, eu só quis ir pra casa.
"Por favor. Eu não valho a pena, não mesmo", eu disse.
Não era mentira. O pico tinha passado e eu me sentia lixo, eu era lixo.
"Não diz isso. E eu não vou dizr mais nada, mas você tá sozinha porque quer".
Eu quero estar junto, mas não desse jeito. O qu eu quero é uma espécie de verão eterno e ninguém pode me dar isso.
E eu quero Otto, mas ficaria com Gusto pelos motivos errados, porque ele me daria conversas e ideias.
Mas eu tenho a impressão de que as coisas são lentas demais.
Às vezes eu sonho com um olhar só, que vai me dizer tudo. Eu não quero ficar junto pra sempre, eu não quero não ficar junto. Eu quero que as coisas caminhem sozinhas, no seu próprio tempo. Sem planos, sem passos.
Esem aquela fase da corte, da conquista.
Talvez eu seja mesmo "toda errada", como dizem, mas eu prefiro mil vezes dar as mãos (eca) do que ouvir essas palavras vazias que, acredito, só fazem sentido quando as luzes não se apagaram.
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16x23 Dead battery
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Imagem: TingTing Huang
Não quis comer. Meu corpo sentia fome, mas eu não quis comer nada.
Estranho, não era náusea, era só uma não-vontade, como se eu não precisasse mais comer.
Meu estômago roncava, natural, não estava habituado.
E nem eu. Mesmo assim, não sentia nada à ideia de comer, não sentia nada à ideia de nada.
É possível que se gaste toda a sua energia vital em um só dia?
Se é possível, a minha foi gasta ontem.
Não quis comer. Meu corpo sentia fome, mas eu não quis comer nada.
Estranho, não era náusea, era só uma não-vontade, como se eu não precisasse mais comer.
Meu estômago roncava, natural, não estava habituado.
E nem eu. Mesmo assim, não sentia nada à ideia de comer, não sentia nada à ideia de nada.
É possível que se gaste toda a sua energia vital em um só dia?
Se é possível, a minha foi gasta ontem.
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16x22 The Other Place
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Imagem: TingTing Huang
Não abri a porta.
Sabia que me levaria até algo bom, até amores perdidos - mas nunca esquecidos - e alegrias simples.
Eu sabia que aquela porta escondia atrás de si as histórias que eu nunca contara e as pessoas como costumavam ser.
Eu podia sentir Otto a alguns passos, uma vida inteira pulsando ali.
Não abri a porta.
A felicidade verdadeira é como uma droga.
Não preciso dela.
Não quero experimentá-la.
Tranquei a porta e voltei para a cama, para a felicidade que conheço.
Sem excessos.
Não abri a porta.
Sabia que me levaria até algo bom, até amores perdidos - mas nunca esquecidos - e alegrias simples.
Eu sabia que aquela porta escondia atrás de si as histórias que eu nunca contara e as pessoas como costumavam ser.
Eu podia sentir Otto a alguns passos, uma vida inteira pulsando ali.
Não abri a porta.
A felicidade verdadeira é como uma droga.
Não preciso dela.
Não quero experimentá-la.
Tranquei a porta e voltei para a cama, para a felicidade que conheço.
Sem excessos.
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16x21 Deslumbre
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Imagem: TingTing Huang
"Já vi mais feias, quero dizer, você não é feia, você entende o que eu quero dizer?"
É você que não entende o que está dizendo. É tudo uma peça e as palavras que você diz não são as que você pensa.
Se eu te contasse, me pergunto, você acreditaria?
Se eu abrisse os seus olhos, isso te machucaria? Te faria sentir vivo?
"Tanto faz", respondo pra ele.
Ignorância é felicidade.
"Já vi mais feias, quero dizer, você não é feia, você entende o que eu quero dizer?"
É você que não entende o que está dizendo. É tudo uma peça e as palavras que você diz não são as que você pensa.
Se eu te contasse, me pergunto, você acreditaria?
Se eu abrisse os seus olhos, isso te machucaria? Te faria sentir vivo?
"Tanto faz", respondo pra ele.
Ignorância é felicidade.
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16x20 Tomato Soup
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Imagem: TingTing Huang
Autismo social beirando a misantropia. Só mais um rótulo.
Sacudida, cuspida, dopada, a chave do quarto firmemente amarrada no pulso.
Eu não gosto de gente.
Pessoas me irritam, outras pessoas.
Quando me tocam, falam comigo, sinto uma espécie de fúria se expandir dentro de mim, de um tipo que não sei se consigo controlar totalmente.
Só gosto de vê-los, observá-los.
Mas é difícil, se não se é invisível, olhar sem ser olhada. E isso me deixa doente. Fisicamente doente, dores de cabeça e diarréia.
Por isso é que resolvi trancar minha porta por 48 horas. Era só isso. Eu só achei que me faria sentir melhor - e fez.
Mas disseram que não é normal.
Nunca é.
Autismo social beirando a misantropia. Só mais um rótulo.
Sacudida, cuspida, dopada, a chave do quarto firmemente amarrada no pulso.
Eu não gosto de gente.
Pessoas me irritam, outras pessoas.
Quando me tocam, falam comigo, sinto uma espécie de fúria se expandir dentro de mim, de um tipo que não sei se consigo controlar totalmente.
Só gosto de vê-los, observá-los.
Mas é difícil, se não se é invisível, olhar sem ser olhada. E isso me deixa doente. Fisicamente doente, dores de cabeça e diarréia.
Por isso é que resolvi trancar minha porta por 48 horas. Era só isso. Eu só achei que me faria sentir melhor - e fez.
Mas disseram que não é normal.
Nunca é.
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16x19 The Scene
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Imagem: TingTing Huang
"Eu te amo. Só amo, sem perguntas ou medidas."
- Acho que vai chover.
- Você acha? Espero que não.
Qual das cenas é a real? Aconteceu dentro de mim ou dentro de nós, naquele outro lugar?
Você olha pra mim e eu sei, nos seus olhos, que você esteve lá também.
Você diz "eu te amo sem perguntas", sem dizer nada, quase um pedido de socorro, que eu respondo.
Mas não há nada a ser feito, tudo tem que continuar como está porque eles podem nos ver. E eles vão descobrir que sabemos que existe algo além disso.
Mexo a cabeça, numa negação quase imperceptível, "não podemos", e você volta a olhar pra frente.
Não aconteceu nada, nunca.
"Eu te amo. Só amo, sem perguntas ou medidas."
- Acho que vai chover.
- Você acha? Espero que não.
Qual das cenas é a real? Aconteceu dentro de mim ou dentro de nós, naquele outro lugar?
Você olha pra mim e eu sei, nos seus olhos, que você esteve lá também.
Você diz "eu te amo sem perguntas", sem dizer nada, quase um pedido de socorro, que eu respondo.
Mas não há nada a ser feito, tudo tem que continuar como está porque eles podem nos ver. E eles vão descobrir que sabemos que existe algo além disso.
Mexo a cabeça, numa negação quase imperceptível, "não podemos", e você volta a olhar pra frente.
Não aconteceu nada, nunca.
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16x18 Chimera
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Imagem: TingTing Huang
- Eu preciso que você me acorde, L.
Ela verifica minhas pupilas leitosas e meu hálito amargo.
Tremo de frio e calor ao mesmo tempo, bato os dentes.
Me sinto num limbo, os olhos enevoados, os sentidos vagos, lentos. Ouço a voz dela, mas suas palavras e o que significam: tudo se perde no caminho.
Me sinto escorrer, acho que estou morrendo. Tento dizer isso a ela, mas a minha língua incha.
Sinto algo bater em meu rosto, repetidamente.
Sufoco, como se sentir e respirar se excluíssem mutuamente.
Uma velha memória de um filme me vêm a mente "Breath, just breath".
Inspiro, pensando na dor, mas ela não vem e eu continuo respirando depressa. Aos poucos, a névoa nos meus olhos se desfaz e consigo enxergá-la.
- Você tá legal? - ela me olha, assustada.
- Não tá funcionando, L. Preciso de algo mais forte. Você precisa conseguir pra mim. Você entende isso? - sacudo-a pelos ombros, insanamente, até a raiva passar.
Ela tem o que eu preciso, a solução pra todos os meus problemas. Ela presencia o meu desespero mais do que qualquer outra pessoa e, mesmo assim, tem a coragem de me olhar nos olhos e dizer
- Não.
- Eu preciso que você me acorde, L.
Ela verifica minhas pupilas leitosas e meu hálito amargo.
Tremo de frio e calor ao mesmo tempo, bato os dentes.
Me sinto num limbo, os olhos enevoados, os sentidos vagos, lentos. Ouço a voz dela, mas suas palavras e o que significam: tudo se perde no caminho.
Me sinto escorrer, acho que estou morrendo. Tento dizer isso a ela, mas a minha língua incha.
Sinto algo bater em meu rosto, repetidamente.
Sufoco, como se sentir e respirar se excluíssem mutuamente.
Uma velha memória de um filme me vêm a mente "Breath, just breath".
Inspiro, pensando na dor, mas ela não vem e eu continuo respirando depressa. Aos poucos, a névoa nos meus olhos se desfaz e consigo enxergá-la.
- Você tá legal? - ela me olha, assustada.
- Não tá funcionando, L. Preciso de algo mais forte. Você precisa conseguir pra mim. Você entende isso? - sacudo-a pelos ombros, insanamente, até a raiva passar.
Ela tem o que eu preciso, a solução pra todos os meus problemas. Ela presencia o meu desespero mais do que qualquer outra pessoa e, mesmo assim, tem a coragem de me olhar nos olhos e dizer
- Não.
16x17 Another bar in the cage
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Desci as escadas, abri a porta, "tudo bem, vai dar tudo certo", 10 passos, talvez menos, meu reflexo numa porta de vidro.
O suficiente pra que eu voltasse pra casa correndo, o coração já querendo sair pela boca, "Pelo amor de Deus, fica ali na esquina!", mas eu não podia mais, eu não queria mais.
Só depois de trancar a porta é que me senti segura.
Me parece tão triste isso e, ao mesmo tempo, tão distante de mim. Não há nada de errado comigo, só preciso de um tempo. Sozinha.
Desci as escadas, abri a porta, "tudo bem, vai dar tudo certo", 10 passos, talvez menos, meu reflexo numa porta de vidro.
O suficiente pra que eu voltasse pra casa correndo, o coração já querendo sair pela boca, "Pelo amor de Deus, fica ali na esquina!", mas eu não podia mais, eu não queria mais.
Só depois de trancar a porta é que me senti segura.
Me parece tão triste isso e, ao mesmo tempo, tão distante de mim. Não há nada de errado comigo, só preciso de um tempo. Sozinha.
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16x16 Meu
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Penso em como ficarão seus cabelos a medida que for envelhecendo, nos óculos que talvez tenha que usar.
Nas suas rugas, nas suas veias azuis.
Eu penso no peso dos anos caindo aos poucos sobre você, nas suas dores, nas tosses, no seu cobertor, no seu sofá.
Penso em você, sempre.
E que dure.
Penso em como ficarão seus cabelos a medida que for envelhecendo, nos óculos que talvez tenha que usar.
Nas suas rugas, nas suas veias azuis.
Eu penso no peso dos anos caindo aos poucos sobre você, nas suas dores, nas tosses, no seu cobertor, no seu sofá.
Penso em você, sempre.
E que dure.
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Meu Otto
16x15 O primeiro cantar do galo
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33 Mas Pedro, respondendo, disse-lhe: Ainda que todos se escandalizem em ti, eu nunca me escandalizarei.
34 Disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo cante, três vezes me negarás.
35 Disse-lhe Pedro: Ainda que me seja mister morrer contigo, não te negarei. E todos os discípulos disseram o mesmo.
- Onde você esteve a manhã inteira, B.?
- Err... Com uns amigos.
- Onde você esteve a manhã inteira, B.?
- Err... Com uns amigos.
16x14 Ingrid
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Imagem: TingTing Huang
Liguei pra ela
alô, como vai, obrigada, você sumiu, venha me ver qualquer dia...
E eu soube que nossa amizade nunca mais seria a mesma, sabia que a pessoa do outro lado também sabia disso.
Eu sabia disso antes dessa ligação. Muito antes, na verdade.
Mas liguei, ainda assim, e não pude dizer - não pude dizer a verdade, de novo.
Então escrevo, pra me redimir, Inga, que a pessoa que você é não existe. Você morreu, quase 3 anos atrás, suicidou-se. Minha amiga, a quem amava, morreu afogada em pílulas.O que fica é um eco sem vida de todo aquele drama, toda aquela paixão.
E eu sabia disso, repito, antes dessa ligação.
Mas liguei.
Hoje, mais cedo, estava sentada na igreja e uma menina veio correndo do fundo do salão e parou na minha frente, me encarando. Ela me olhava nos olhos, a testinha franzida, como se estivesse tentando se lembrar de algo. Eu sorri pra ela, que saiu correndo. Mas o olhar não saia da minha cabeça, aqueles olhinhos escuros, o rosto branquinho e os cachos loiros - tudo me era familiar, tudo me remetia a uma certa fotografia de uma dama de honra colada na contracapa de um diário adolescente.
Não ofereci resistência ao pensamento de que aquela garotinha era você a me chamar de volta.
Então liguei.
Um erro de interpretação. Aquele era o seu fantasma, Ingrid. Ou talvez eu tenha voltado no tempo de novo.
Se for isso, não se zangue: dessa vez, não vou mudar nada.
(Sorrio. A criança corre. Como deve ser)
Liguei pra ela
alô, como vai, obrigada, você sumiu, venha me ver qualquer dia...
E eu soube que nossa amizade nunca mais seria a mesma, sabia que a pessoa do outro lado também sabia disso.
Eu sabia disso antes dessa ligação. Muito antes, na verdade.
Mas liguei, ainda assim, e não pude dizer - não pude dizer a verdade, de novo.
Então escrevo, pra me redimir, Inga, que a pessoa que você é não existe. Você morreu, quase 3 anos atrás, suicidou-se. Minha amiga, a quem amava, morreu afogada em pílulas.O que fica é um eco sem vida de todo aquele drama, toda aquela paixão.
E eu sabia disso, repito, antes dessa ligação.
Mas liguei.
Hoje, mais cedo, estava sentada na igreja e uma menina veio correndo do fundo do salão e parou na minha frente, me encarando. Ela me olhava nos olhos, a testinha franzida, como se estivesse tentando se lembrar de algo. Eu sorri pra ela, que saiu correndo. Mas o olhar não saia da minha cabeça, aqueles olhinhos escuros, o rosto branquinho e os cachos loiros - tudo me era familiar, tudo me remetia a uma certa fotografia de uma dama de honra colada na contracapa de um diário adolescente.
Não ofereci resistência ao pensamento de que aquela garotinha era você a me chamar de volta.
Então liguei.
Um erro de interpretação. Aquele era o seu fantasma, Ingrid. Ou talvez eu tenha voltado no tempo de novo.
Se for isso, não se zangue: dessa vez, não vou mudar nada.
(Sorrio. A criança corre. Como deve ser)
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16x13 O mapa do metrô
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Imagem: TingTing Huang
Os dois sentados na sombra, pedaços de papel higiênico enfiados nas narinas.
- Parece contagioso - ele quebra o silêncio
- Eu juro que não tenho doença nenhuma, eu não sei o que...
- Eu sei. Foi uma piada.
Não digo nada. Ele continua.
- Seu nariz sempre sangra assim?
- Não.
- Então isso é recente?
Fico mais cautelosa.
- Mais ou menos.
- Engraçado, os meus também são recentes...
- É o tempo seco! - grito, me levantando.
- É, eu... Onde você vai?
- Trocar os papéis higiênicos.
Saio correndo, sem olhar pra trás, adivinhando seu olhar confuso, suas perguntas que eu não posso responder.
Eu não sei, só estou.
Os dois sentados na sombra, pedaços de papel higiênico enfiados nas narinas.
- Parece contagioso - ele quebra o silêncio
- Eu juro que não tenho doença nenhuma, eu não sei o que...
- Eu sei. Foi uma piada.
Não digo nada. Ele continua.
- Seu nariz sempre sangra assim?
- Não.
- Então isso é recente?
Fico mais cautelosa.
- Mais ou menos.
- Engraçado, os meus também são recentes...
- É o tempo seco! - grito, me levantando.
- É, eu... Onde você vai?
- Trocar os papéis higiênicos.
Saio correndo, sem olhar pra trás, adivinhando seu olhar confuso, suas perguntas que eu não posso responder.
Eu não sei, só estou.
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16x12 Bengoechea & Puliciccio
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E, precisamente naquele momento, quando a moçatímida e casta se achegou a ele, Atena enviou-lhe a timidez e a indecisão, que a fizeram recuar, pálida e confusa.
E o rapaz, também um protegé da Atena do coração intrépido, foi tomado por uma vontade urgente de escrever algo, assim como a moça, que já trabalhava febrilmente em um conto, no pensamento.
Estavam próximos e, ao mesmo tempo, tremendamente afastados em seus transes criativos.
(Assim ficaram, assim ficarão até que a imcomparável Afrodite volte os olhos para eles, num momento de distração de sua indomável irmã)
Acredito que, então, a moça se sentirá tocada pela cor dos cabelos do rapaz, pelo jeito como a brisa levanta os fios. A timidez e a indecisão abandonarão a moça e ela há de tirar o rapaz do transe, tocando-o de leve no ombro, depois no pescoço, olhando-o nos olhos.
Por um instante, ele se assustará. Mas então, perceberá o brilho febril nos olhos da moça, refletindo o seu.
Todo o resto acontece rápido e Afrodite, lá em cima, sorri, vitoriosa.
E, precisamente naquele momento, quando a moçatímida e casta se achegou a ele, Atena enviou-lhe a timidez e a indecisão, que a fizeram recuar, pálida e confusa.
E o rapaz, também um protegé da Atena do coração intrépido, foi tomado por uma vontade urgente de escrever algo, assim como a moça, que já trabalhava febrilmente em um conto, no pensamento.
Estavam próximos e, ao mesmo tempo, tremendamente afastados em seus transes criativos.
(Assim ficaram, assim ficarão até que a imcomparável Afrodite volte os olhos para eles, num momento de distração de sua indomável irmã)
Acredito que, então, a moça se sentirá tocada pela cor dos cabelos do rapaz, pelo jeito como a brisa levanta os fios. A timidez e a indecisão abandonarão a moça e ela há de tirar o rapaz do transe, tocando-o de leve no ombro, depois no pescoço, olhando-o nos olhos.
Por um instante, ele se assustará. Mas então, perceberá o brilho febril nos olhos da moça, refletindo o seu.
Todo o resto acontece rápido e Afrodite, lá em cima, sorri, vitoriosa.
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16x11 Circus Freak
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Descobri que era feia muito tempo atrás.
Ninguém disse, eu não vi, só soube. Às vezes, a gente só sabe.
Na hora em que soube, disse pra mim mesma que não importava. Eu faria com que a beleza fosse desnecessária.
Eu menti.
Todos os dias, antes de dormir, quero ser bela.
Quero tanto, tento tanto que acabo me tornando o que há de pior, socialmente falando, uma verdadeira aberração: aquela que não se aceita.
É sujo, digno de pena. Mas tem seu lado cômico, tudo tem.
Um garotinho se sujou todo de lama e disse "quero ser negro". Arrancou sorrisos das pessoas.
Um menino negro se pintou de branco, "Meu Deus, como o mundo é triste", deixa de ser piada.
Uma menina bonita se enfeia, palmas pra ela por não querer ser julgada por sua aparência.
Mas a menina feia se embelezando
Palhaça.
Descobri que era feia muito tempo atrás.
Ninguém disse, eu não vi, só soube. Às vezes, a gente só sabe.
Na hora em que soube, disse pra mim mesma que não importava. Eu faria com que a beleza fosse desnecessária.
Eu menti.
Todos os dias, antes de dormir, quero ser bela.
Quero tanto, tento tanto que acabo me tornando o que há de pior, socialmente falando, uma verdadeira aberração: aquela que não se aceita.
É sujo, digno de pena. Mas tem seu lado cômico, tudo tem.
Um garotinho se sujou todo de lama e disse "quero ser negro". Arrancou sorrisos das pessoas.
Um menino negro se pintou de branco, "Meu Deus, como o mundo é triste", deixa de ser piada.
Uma menina bonita se enfeia, palmas pra ela por não querer ser julgada por sua aparência.
Mas a menina feia se embelezando
Palhaça.
Early Cuts: Let me be
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Imagem: TingTing Huang
"Você compreende que temos que removê-la?"
Descobriram quando eu tinha 9 anos, uma verdadeira decepção.
Ficava ao lado do olho esquerdo, uma pequena aglomeração. Com os remédios certos, disseram, ela vai ser perfeitamente normal.
E eu fui, até o limite. Eu fui mais normal do que o padrão. Impecavelmente normal.
Voltei a sonhar aos 14. Ecos distantes, lembranças. Aos 15, doutor T.H. e seus olhinhos azuis me informaram de que eu estava seriamente danificada "Os remédios esconderam a falha".
16, 17. Morri pra dentro. Acordei num quarto branco, a língua mole, têmporas meladas, gente esperançosa.
18, senti o cérebro explodir, os dentes tremeram, os músculos se descontrolaram."Infelizmente, nada dá resultado, é preciso ir mais fundo". Agulhas e análise do sono.
19.
"É só um pedacinho, você compreende?"
Eu gostaria de parar, de desistir. Mas, cada vez que eu acordo sem saber onde estou, cada vez que a minha cabeça explode ou meus sentidos param, sei que todas essas falhas não importam.
Vou lutar contra isso enquanto eu respirar.
"Você compreende que temos que removê-la?"
Descobriram quando eu tinha 9 anos, uma verdadeira decepção.
Ficava ao lado do olho esquerdo, uma pequena aglomeração. Com os remédios certos, disseram, ela vai ser perfeitamente normal.
E eu fui, até o limite. Eu fui mais normal do que o padrão. Impecavelmente normal.
Voltei a sonhar aos 14. Ecos distantes, lembranças. Aos 15, doutor T.H. e seus olhinhos azuis me informaram de que eu estava seriamente danificada "Os remédios esconderam a falha".
16, 17. Morri pra dentro. Acordei num quarto branco, a língua mole, têmporas meladas, gente esperançosa.
18, senti o cérebro explodir, os dentes tremeram, os músculos se descontrolaram."Infelizmente, nada dá resultado, é preciso ir mais fundo". Agulhas e análise do sono.
19.
"É só um pedacinho, você compreende?"
Eu gostaria de parar, de desistir. Mas, cada vez que eu acordo sem saber onde estou, cada vez que a minha cabeça explode ou meus sentidos param, sei que todas essas falhas não importam.
Vou lutar contra isso enquanto eu respirar.
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16x10 Wings
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Imagem: TingTing Huang
Eu estava rasgada, como estive muitas outras vezes.
Carne à mostra, carne nua.
Mas, dessa vez, ninguém vai me limpar, me costurar.
Eu quero a feiúra do lado de fora, eu não quero mais ser invisível.
Eu quero poder voar também, com minhas asas de carne sujas de terra.
Eu quero abrir a carne, mostrar a podridão outrora inaceitável.
Ariel duvida que alguém note - o mundo já se acostumou a ignorar a feiúra e idolatrar a beleza.
Mas eu não vou ser ignorada.
Vou rasgar cada centímetro de pele, me expor, jorrar ácido.
Quero que vejam o que acontece sob a luz deles, ao lado deles, toda a podridão, a putrefação, a ação do tempo e da vida sobre a beleza infantil.
Quero que vejam como a vida corrompe.
Dorian Gray exibe seu retrato.
Eu estava rasgada, como estive muitas outras vezes.
Carne à mostra, carne nua.
Mas, dessa vez, ninguém vai me limpar, me costurar.
Eu quero a feiúra do lado de fora, eu não quero mais ser invisível.
Eu quero poder voar também, com minhas asas de carne sujas de terra.
Eu quero abrir a carne, mostrar a podridão outrora inaceitável.
Ariel duvida que alguém note - o mundo já se acostumou a ignorar a feiúra e idolatrar a beleza.
Mas eu não vou ser ignorada.
Vou rasgar cada centímetro de pele, me expor, jorrar ácido.
Quero que vejam o que acontece sob a luz deles, ao lado deles, toda a podridão, a putrefação, a ação do tempo e da vida sobre a beleza infantil.
Quero que vejam como a vida corrompe.
Dorian Gray exibe seu retrato.
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16x09 C & A
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"Você tá bichada", diz Ariel, me ajudando a limpar o sangue do meu nariz.
"Eu quero ir pra casa", digo.
As luzes me incomodam, estou cansada e suja de sangue, toda borrada.
"Ah, Calibã. Calibã, Calibã, Calibã...", ela suspira, enquanto limpa o sangue do meu queixo."Até quando, Calibã? Até quando vai se esconder? Eu já não te disse que, no escuro, somos todos bonitos?"
"Mas eu não me sinto nada bonita, Ariel. Eu sei que não sou bonita."
"Então finja, Calibã. As pessoas acreditam em tudo."
"Você tá bichada", diz Ariel, me ajudando a limpar o sangue do meu nariz.
"Eu quero ir pra casa", digo.
As luzes me incomodam, estou cansada e suja de sangue, toda borrada.
"Ah, Calibã. Calibã, Calibã, Calibã...", ela suspira, enquanto limpa o sangue do meu queixo."Até quando, Calibã? Até quando vai se esconder? Eu já não te disse que, no escuro, somos todos bonitos?"
"Mas eu não me sinto nada bonita, Ariel. Eu sei que não sou bonita."
"Então finja, Calibã. As pessoas acreditam em tudo."
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16x08 Ariel e Calibã
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Ela segurou minha cabeça com força entre as duas mãos e aproximou o rosto do meu.
- Eu preciso que você entenda. Você tem que fazer.
- Eu não... - começo
Ela comprime minha cabeça.
- Vicê tem que fazer, Calibã. Por mim.
Encosta a testa na minha.
- Por favor, Calibã, eu imploro. Não me decepcione.
São as palavras mágicas. Eu detesto decepcionar. Ainda mais Ariel, que tornou minha feiúra aceitável, minha podridão menos repulsiva.
Ela passa os polegares pelas minhas sobrancelhas, ergue a cabeça e me encara "por favor".
Tiro suas mãos da minha cabeça.
- Por você, faria isso mil vezes.
Ela segurou minha cabeça com força entre as duas mãos e aproximou o rosto do meu.
- Eu preciso que você entenda. Você tem que fazer.
- Eu não... - começo
Ela comprime minha cabeça.
- Vicê tem que fazer, Calibã. Por mim.
Encosta a testa na minha.
- Por favor, Calibã, eu imploro. Não me decepcione.
São as palavras mágicas. Eu detesto decepcionar. Ainda mais Ariel, que tornou minha feiúra aceitável, minha podridão menos repulsiva.
Ela passa os polegares pelas minhas sobrancelhas, ergue a cabeça e me encara "por favor".
Tiro suas mãos da minha cabeça.
- Por você, faria isso mil vezes.
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16x07 Brick
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Imagem: TingTing Huang
"Você se arrepende daquela noite?"
Dois tijolos.
Eu corri tanto que meu corpo doía. Ulrika corria também, estávamos tão próximas que o cabelo dela açoitava meu rosto quando ela passava à frente.
Tínhamos feito merd. Não era a primeira vez, mas seria a última.
De uma forma ou de outra, sabíamos que era a última vez.
Entramos no casso e fomos embora.
Alex ria alto, comentando cada lance. Eu limpava o sangue da testa e Ulrika apertava os pedaços de tijolo na mão, com força.
- Acabou, Ulrika.
Ela largou o tijolo e segurou meu pulso.
- Você tá sangrando, deixa eu
Ela olhou meu rosto, cabelo, mãos, pernas. Suspirou alto e desviou o olhar.
Aquele sangue não era meu.
"Você se arrepende daquela noite?"
Dois tijolos.
Eu corri tanto que meu corpo doía. Ulrika corria também, estávamos tão próximas que o cabelo dela açoitava meu rosto quando ela passava à frente.
Tínhamos feito merd. Não era a primeira vez, mas seria a última.
De uma forma ou de outra, sabíamos que era a última vez.
Entramos no casso e fomos embora.
Alex ria alto, comentando cada lance. Eu limpava o sangue da testa e Ulrika apertava os pedaços de tijolo na mão, com força.
- Acabou, Ulrika.
Ela largou o tijolo e segurou meu pulso.
- Você tá sangrando, deixa eu
Ela olhou meu rosto, cabelo, mãos, pernas. Suspirou alto e desviou o olhar.
Aquele sangue não era meu.
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