39x16 Coisas que a gente ainda não sabe

Imagem: TingTing Huang

- Oi
Bato na parede, e você responde
- Oi
Coloco a boca o mais próximo que posso da única fresta que temos pra nos comunicar, esse buraco no espaço-tempo, por onde passa o fio vermelho que vai nos unir em algum momento.

Eu me aconchego perto da parede gelada, pra ouvir melhor a tua voz, pra falar melhor.
Quero te contar sobre os meus dias.

Eu tô cansada.
Tão cansada.
Mas resisto, eu luto contra essa vontade de não tentar.
Eu acordo de manhã e me levanto da cama, homem, e isso me custa tanto que você nem faz ideia.
Eu conto sobre essa coisa que tô ignorando, sobre esse cara que eu acho que é você (e você ri, sei lá se acertei ou errei), sobre uma coisa que comi, uma dança engraçada, a vontade de ficar bêbada e o medo de ficar só.

Você me conta coisas.
Coisas que eu ainda não sei.
Que eu não devo saber, me ensina uma conta, uma poesia, uma canção, me ensina a te encontrar aqui e agora.
Mas eu não entendo nada.
Eu só sei ouvir a sua voz.

Tento não me preocupar, mas não sei se consigo.

Você tá aí, eu tô aqui.
Por que a gente não simplesmente derruba a parede e dá as mãos?
Por que a gente não encontra o final desse muro, por que não pulamos o muro, por que não construímos uma escada, abrimos mais essa fresta?

Eu me levanto, agitada, eu grito, eu faço planos
e você me diz pra ter paciência
paciência, mulher

Mais dia, menos dia
a fresta se abre,
uma escada aparece,
o muro cai

e eu te levo
pro exato momento em que a gente se encontra.

Paciência.
Como eu odeio essa palavra.

Deixe estar.
Mais dia, menos dia
vamos nos encontrar no lugar exato,
na hora exata,
que a gente ainda não sabe qual é,
e eu tenho a leve impressão de que vai parecer até que a gente sempre soube.

Até logo.

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