Imagem: TingTing Huang
Onde você está?
Eu tô sentada, casa às escuras, olhando pela fresta da cortina.
Eu tô com medo do que você sabe.
Eu quero saber tanto quanto você.
Quem é você?
Lavo meus cabelos e visto roupas limpas, mas eu ainda estou suja.
Ainda estou suja,
e valho tão pouco, sou tão pequena que minha vida toda cabe em uma janela.
Entro em casa, tranco a porta, arrasto o sofá pra frente da porta.
Mas eu não tô segura.
Eu nunca mais vou estar segura.
Lá fora ou aqui dentro, onde você pode me ver.
Onde você pode me ver cozinhar, cantar e dançar, onde você fez parte dos meus dias, me viu acordar e escrever sentada na janela no meio da noite, quando o ar no telhado parecia melhor.
Por que eu?
Se eu não sou ninguém.
Eu me sento no escuro e rezo, coisa que raramente faço, porque estou com medo, estou com muito medo de acender as luzes.
Estou com muito medo de quando a manhã chegar.
Estou com muito medo de que você me mande mensagens dizendo que ainda pode me ver, eu tapo as frestas, eu me cubro da cabeça aos pés, cada homem nas ruas carrega uma ameaça diferente, porque o seu rosto está em todos os lugares, as suas palavras estão em todas as bocas e isso me dá nojo.
Mas não me dá nojo de mim, me dá nojo de você, não se engane.
Me dá nojo de você e da sua mente tacanha que acredita que o corpo de uma mulher é seu só porque você a viu seminua.
Que ela é uma vagabunda por se expor, em qualquer lugar que seja.
Que seus motivos eram nobres, que suas palavras de alguma forma fariam sentido, que elas me fariam ter qualquer coisa diferente de náusea.
Eu tô com medo.
E daria qualquer coisa pra não estar.
Pra abrir mais as janelas e andar como bem quisesse.
Porque o seu fetiche, a tua masturbação, a tua estupidez, o porco que você é, nada disso é problema meu.
Nada disso deveria me afetar.
Mas, ao invés de pegar uma faca e cortar fora os teus dedos, chamar a polícia, fazer um escândalo, gritar pro mundo como você é um lixo,
eu tô sentada na janela, olhando por uma fresta,
petrificada,
com medo de respirar,
de me mover,
usar pijamas,
sair de casa quando a manhã chega,
falar sobre o assunto.
Eu tô finalmente entendendo
que as pessoas vão te dar razão.
Tô ouvindo elas dizerem
que eu deveria ter colocado cortinas
se ia andar feito uma vagabunda
na minha própria casa.
Eu tô ouvindo as pessoas simplificarem
e banalizarem
dizendo
Bloqueia e pronto
Tô ouvindo as pessoas
me dizerem que fiz bem em dizer que eu tinha namorado
porque nada como um homem, inexistente ou não, pra me defender.
Uma ou outra garota revoltada, um cara ou outro.
De que isso me serve?
De que isso me serve, porra?
Ele ainda está lá.
Do outro lado da minha janela.
E eu nem sequer sei onde.
Ele está lá.
Sabe onde eu moro.
Sabe quem eu sou.
Quando eu acordo.
Quando eu como.
Ele vê minhas luzes acesas e sabe que estou em casa.
Ele sabe que cheguei.
Eu não quero falar sobre isso
eu não quero pensar sobre isso
eu não quero mais imaginar que ele se senta lá do outro lado e olha pra mim,
eu não quero pensar sobre o que ele pensa quando me vê,
eu não quero que ele saiba quando vou ao banheiro
eu não quero pensar nas vezes em que eu esqueci a toalha no quarto e não tinha ninguém em casa, as vezes em que olhei rápido pela janela pra ver se tinha alguém lá - e nunca tinha
e nada disso é tão ruim, nada disso me faz ficar acordada, olhando, rezando, remoendo.
Nada é tão brutal
tão assustador
tão terrível
quanto não ter certeza se ele sabe que
não moro sozinha.
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