40x03 Whatever will be

Imagem: TingTing Huang

Maio tá no final.
Troquei meus lençóis, passei pano no chão do quarto, separei umas roupas velhas pra doar, como é que pode alguém ter tantos sapatos e tão poucos pés?

Eu quero criar memórias.
Quero que a gente saia de casa em um dia chuvoso, vou usar minhas botas pra pisar no chão enlameado, pular poças, quero voltar com meias molhadas, tirar sua camiseta e secar meus cabelos na sua toalha.

Eu quero usar meus sapatos de namorada, minha saia secreta, meu vestido de moça comportada nas suas festas de família.

Tô guardando um sapato pra conhecer a tua irmã, as tuas amigas. E tênis pra gente ir ao cinema naqueles dias em que eu sairia até de pijamas.
Um mundão de chinelos pra ficar em casa.
Sapatilhas pra quando você me obrigar a ir ao cinema. Pra quando eu te obrigar a ir ao cinema.

Andei meio, como é que se diz?, a palavra me fugiu agora, mas é uma palavra engraçada que a Lígia usou uma vez, meio assim tristonha, macambúzia, melancólica, sorumbática (eis a palavra!) porque a vida simplesmente não acontece como eu gostaria, porque não posso simplesmente obedecer a todos os meus impulsos, porque eu tenho essa capacidade terrível de compreender quando uma decisão não é a mais acertada e posso afirmar que não sentirei falta de maio.

Não sei se posso dizer isso, mas preciso de você agora.

Por que agora?
Bom, porque sim. Eu quero você agora.
Tenho me comportado maravilhosamente bem, lavei minhas roupas, penteei meus cabelos outro dia. Eu quero você agora, justamente porque não preciso de você.
Porque minha vida tá se ajustando devagarinho, do meu jeito perdido e preguiçoso, sem pressa de você. Porque eu quero sua companhia, porque tá faltando uma coisa muito específica, tem uma necessidade que ninguém tá conseguindo preencher, ninguém mesmo, algo a ver com gosto de cheesecake de frutas vermelhas e a textura da sua boca.
Algo a ver com a Borns, provavelmente.

Mas sabe, temos um impasse,
gigantesco
homérico:
eu não sei quem você é.

Um cara me perguntou se eu estava apaixonada.
Eu tô, mas por algo abstrato, eu estou apaixonada por uma sensação constante de estar apaixonada. É como se eu estivesse com você na ponta da minha língua, tô com uma sensação permanente de ter esquecido algo, apertando meu lembrol quase que desesperadamente, tentando me lembrar
mas não consigo.

Procuro você nos rostos de todos os homens que conheço,
tô esperando ouvir aquela coisa que você vai dizer,
aquela coisa que vai me lembrar,
aquele beijo,
aquela sensação
mas ela não está em lugar algum.

Revirei meu quarto, meus diários, parte da cidade
e você não tá em lugar algum.

Sim, eu perguntei a elas sobre você, elas me responderam algo de que, por incrível que pareça, eu não me lembro.
Isso é bizarro, mas eu juro que não me lembro, só sei que tinha algo sobre a gente ser feliz, o que é legal (MUITO LEGAL), mas não ajuda muito.

Compro sorvete e fritas, faço yoga, eu danço e abandono o álcool aos poucos.
Tô tentando não te esperar porque seria estranho e incômodo, talvez doloroso, então eu leio, eu saio, eu limpo minhas botas. Mas a sensação não passa e eu às vezes sinto medo de acabar mesmo por me esquecer de você.

Quero lutar por você, quero guerra, quero fazer juras de amor e provar que estamos destinados um ao outro, você e eu.
Digo isso à Mãe, e ela ri, mas eu não sei o que isso quer dizer, se estou sendo tola, ou se ela ri porque já sabe tudo sobre nosso futuro tragicômico.
Pergunto a ela, de novo, e ela me tranquiliza, só diz "Não se preocupe, criança, vocês serão felizes".

E isso me tranquiliza, é o bastante.

Eu não sei onde você está,
eu não sei quem você é,
mas vai dar certo, ok?
Eu quero você agora, agora mesmo,
mas é como dizem

o que tiver que ser,
será.

(venha logo)

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