Imagem: TingTing Huang
Eu preciso de ar.
Tento respirar, mas essas paredes me apertam, você aperta.
Então eu saio, descalça, na chuva e respiro. Meu Deus, eu respiro.
Milhares de pessoas dentro de mim colocam as cabeças pra foda d'água e respiram, levantam e saem da água.
Uma sereia tenta desembaraçar o meu cabelo duro e sujo de glitter,eu ouço ruídos de trovão, mas é só o barulho do colchão quando me movimento durante a noite.
Chuck rosna pras tuas mãos e pras mãos dela e eu sinto que vou vomitar, então uma garota asiática segura meu rosto no escuro, beija meus dedos,
mas Alex me diz que não tem nada a oferecer.
Dimitri me olha nos olhos, toca a minha pele, alguém me abraça e eu sinto uma vontade incontrolável de cantar, mas eu não consigo respirar, eu não consigo respirar porque os cabelos de Sofia estão presos em um coque, porque ela está sentada e eu não estou.
Eu preciso de ar, e tremo de frio, e quero morrer de frio, no meio da calçada suja, com os pés sujos, então Annabelle me dá um abraço gelado, e me toca como se me amasse, como se eu fosse especial, ela me diz coisas, me dá as costas e um menino chamado Vincent não beija a minha boca, por que ele não beija a minha boca?, eu preciso de ar, mas você não sopra, você não sopra
Um dos irmãos Edson chora na minha frente e
Por que?
Pippa me segura forte pra que eu não caia de joelhos no meio da rua, eu não consigo entender porque é que ele chora, então ela tapa meus ouvidos
mas eu posso ouvir, Pippa
eu posso ouvir, e meus ouvidos sangram mesmo que eu não entenda o que Augustus está dizendo para Annaliese. Ele a beija, e ela muda de cor e forma, é Annaliese, Henrietta, Helen, Maurício, Maria, Otto.
É mágica.
Sinto vontade de vomitar e procuro uma lixeira, meu telefone toca e eu percebo que não o trouxe.
Não é pra mim,
Marcella atende e
Ulrika fala comigo, ela fala comigo, ela fala comigo sem mover os lábios
Mas eu só quero beijá-la, eu só quero beijá-la.
Ela abre a boca e sopra fumaça no meu rosto, tanta fumaça que ela precisa de coragem,
e eu me lembro que tô sozinha no frio, na chuva, que tô enlouquecendo, de novo.
Então, misericordiosa, L. arranca meu coração todo fodido, sangue coagulado aos montes, e eu vomito, sem saber onde estou.
Eu preciso de ar, e o trem do metrô traz uma lufada de vento, e eu quero, eu quero ir com ele, eu preciso de ar, seguro a tua blusa, sem saber quem você é, e puxo, e peço
sopre ar em mim, sopre ar em mim.
Mas você se desvencilha, dizendo que só quem sopra vida é Deus,
e Deus não existe.
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