Imagem: TingTing Huang
(Bom, esse texto é baseado em um conto de Donaldson "The Killing Stroke". Confuso. Mas eu partilho da mesma sensação dos três prisioneiros. Às vezes, é como se eu estivesse constantemente perdendo a batalha, perdendo a memória, presa, sem entender o porquê ou quem me prendeu. Eu só queria vencer. Eu só queria vencer pra não ter mais que voltar)
Acordei desorientada, no quarto sem janelas, iluminado por luzes vindas de lugar nenhum: magia.
Sentados a um canto, um homem e uma mulher me observavam, em silêncio.
- Quem...- comecei.
- Não sabemos - respondeu a mulher - não sabemos. Eu sou Isla. Esse é Asper.
Abro a boca pra perguntar onde estamos, mas ela já parece saber tudo o que vou dizer. Todas as respostas são vagas, me conta coisas que mal compreendo, enquanto ouço, em silêncio.
A dor no meu corpo, meus ferimentos, foram provocados na batalha diária que tenho travado fora do quarto com um oponente misterioso, ela me diz. Ao final da batalha, quando eu perco, retorno a essa prisão, onde nos encontramos, ela supõe.
- Você precisa matá-lo. Precisa do golpe fatal, the killing stroke.
- Isso não existe, digo.
- Já discutimos isso antes, ela diz, impaciente. Tem que existir. Tem que ser a razão pra que você tenha sido escolhida pra lutar. É a única coisa que desconhecemos. Você é especial, você tem que ser especial.
- Não existe.
Meu nariz sangra e tento estancar com a mão. Ela me bate, impaciente.
- Você vai se curar logo, não se preocupe. Por fora, pelo menos.
À noite, durmo no chão e sonho com um homem sem rosto que me surra sem parar, enquanto imploro pela minha vida. Com a voz de Isla, ele me diz que sou especial e me soca o rosto com força.
Acordo tremendo, balbuciando, e meu olhar encontra o de Asper, que continua vigilante, silencioso.
Ele se levanta e senta perto de mim. Sinto uma coisa boa, como se fôssemos velhos amigos, embora não me lembre dele.
- Você precisa matá-lo. Se você não fizer isso, vamos ficar presos aqui. Vamos ficar aqui pra sempre.
- Eu não posso. Não existe tal coisa, não existe um "killing stroke", Asper.
Ele fecha os olhos e fica em silêncio, tão imóvel, que parece dormir.
Eu me deito de novo no chão, com medo de fechar os olhos, e com medo de admitir que estou com medo.
- Não existe, Asper, eu sinto muito.
Ele abre os olhos e me encara por um longo período de tempo.
- Espero que alguém tenha dito isso a ele.
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