36x14 Bird Song

Imagem: TingTing Huang

Pássaro descontrolado, pia sem parar, bate as asas, revolta-se, enlouquece.
Eu peço calma, o mundo é tão grande.
Olho pela janela e vejo o mundo inteiro quieto, ágil.

Meu coração quer sair do peito, explodir as costelas, despedaçar-se, manchar o chão com sangue escuro.

Calma.

Respiro fundo, fundo, minha expiração parece movimentar as árvores lá fora.
Mas meu coração não se acalma, bate mais rápido e as veias parecem doer quando o sangue chega até elas.
"B, você precisa de terapia"

Como é que eu posso explicar isso pra alguém?

Todos os dias, todos os dias, mesmo depois que cheguei, eu preciso, em algum momento do dia, sentar no sofá e respirar fundo, respirar fundo.
Porque meu coração quer sair do peito.
Explodir costelas.
Despedaçar-se.
Manchar o chão com sangue escuro.

Quando meu telefone toca
quando alguém me chama pra sair
quando penso em voltar
quando tô feliz
quando tô triste
antes de dormir
e depois de acordar
quando leio meu caderno
e quando leio um livro

Como é que eu posso explicar isso pra alguém?
Como é que eu conto essa história?
Como é que eu explico essa sensação de estar permanentemente sufocando?
Como é que eu começo a falar nisso, se toda a vez em que penso no assunto, toda a vez que escrevo um texto, que pego uma caneta pra escrever, que digito algo que escrevi há séculos (é o que parece, às vezes), eu ainda tenho que parar na metade pra respirar fundo?

Tô oficialmente fodida, é.
Quebrada.

Parafraseando Byron (ou não):
Vida que segue.

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