Imagem: TingTing Huang
Estava olhando essa fotografia tirada outro dia:
estou magra.
A câmera não mente, osso puro, pequena e frágil feito um pássaro, uma leoa faminta.
As pessoas me dizem que estou magra, as roupas nãos ervem mais, meu corpo murcha sob meus olhos.
Não como.
E experimento um certo prazer advindo disso.
Não me acho gorda, não é nenhum transtorno, olho no espelho e me vejo como sempre fui.
As fotos e os shorts é que me contam outra história.
Estou magra demais, braços e dedos ossudos, nem sei quanto devo pesar agora.
Eu não quero comer.
Fico tonta, respiro fundo, faço exercícios leves ao acordar.
E me sinto bem, zonza, num limbo hipoglicêmico.
Aí penso que vou desaparecer.
Vou sumir, minha carne vai desaparecer, meus ossos, quem eu sou.
E, caralho,
eu não tô mais doente
eu não quero isso,
não mais.
Nunca mais.
Enfio 2 pedaços de pão na boca, uma bala de menta, 1 copo de guaraná.
Mastigo uma cenoura, sem vontade nenhuma,
e bebo água.
Tô aqui por mais um dia,
torcendo pra não acabar desnutrida,
pra não estar desnutrida,
pra acabar com esse péssimo hábito de sentir que fico melhor e mais feliz quando não como.
Eu não quero comer,
mas não quero desaparecer.
Eu quero viver, entende?
Eu quero viver.
Eu quero viver.
Ainda assim, eu me deito na cama, sentindo o peso dos membros, a tontura e esse sono todo,
e me sinto bem.
Mas eu não quero desaparecer,
então enfio mais pedaços de pão na boca, sinto ânsia de vomitar,
mas engulo.
E tô aqui.
Onde devo estar.
Onde pretendo ficar,
não se preocupe.
35x20 Desaparecer (season finale)
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