Imagem: TingTing Huang
Arrepio na pele, dor de meses, anos, séculos nas costas.
Dói.
Mas por que é que nem sempre dói,
Quem eu tô?
Quem me embranqueceu?
A cor da minha pele é quem eu sou ou quem eu vou ser?
Daí meu cabelo cresce em molinhas curtas e pretas.
Pretas.
Molas pretas.
Que eu tento conter porque tentam me conter.
Há meses, anos, séculos.
Mas ele cresce e eu cresço, ouço vozes nos meus ouvidos, meu sangue, meus pés
e sussurro de volta, no meio da noite, com medo de admitir as raízes, as palavras ferinas dos homens e o sangue dos filhos das mulheres que não sou.
Mas eu sou.
Quem eu sou?
E os cabelos continuam crescendo, me chamando de preta, preta, pretinha,
eu tô com medo da dor do mundo, da verdade, dos cabelos e do sangue que corre nas minhas veias e no chão das terras em que piso.
Chamam-me bonita, exótica, moreninha.
Sou PRETA, vó.
Sou preta, retinta, Não tá na pele, na boca, tá aqui dentro de mim, no que faço e no que vou fazer da vida.
"Mas esse sangue não é teu, essa luta não é tua, alisa o cabelo, embranquece e segue a vida"
Eu penso, e sento, enrolando nos dedos as minhas molinhas, meus amores.
Não tem volta, mãe, vó:
Eu sou.
Esse sangue não é meu, não tem que ser meu.
Mas entendam: esse sangue não tem que ser de ninguém e eu não vou dormir, não vou descansar e nem comer direito
até que ele deixe de existir.
Eu sou, vó.
Eu sou.
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