Imagem: TingTing Huang
Algemada, fita na boca, venda nos olhos, mãos, pés e cabelos presos.
Eu quero ser livre.
Tô presa pelas regras da minha mãe, pelas palavras de pessoas que não me conhecem, que não me reconhecem, nem me olham nos olhos ou me beijam os lábios.
Presa às convicções antigas e terrores infantis, deito na minha própria urina. Estou presa há séculos, desde antes de nascer, a coisas ditas e feitas por gente que não conheci, amores que não passam de apego doentio, dinheiro, cor, gênero, poder, família, sociedade, medo, mídia, literatura, política, eu, você, Deus (o meu e os deles).
Choro, berrando alto, pro escuro do meu peito e, primeiro, ninguém me ouve, ninguém vem.
Dias e dias, eles chegam, abrindo cadeados, soltando correntes, prendendo correntes, afrouxando nós, diminuindo o espaço pra andar. E, mesmo assim, sobrevivo.
Vou lutando, solto um braço, me soltam uma perna, depois me tiram a venda, a mordaça.
Daí chega o dia, afinal, e eu fico livre.
Pra pensar, sentir, opinar, amar, beijar, não comer, fugir pra bem longe, pra ficar, pra tentar, fracassar ou conseguir.
Deixo pra trás meus grilhões e, no escuro, tateio em busca da porta, trêmula, cansada, ansiosa.
Oh, céus, estou livre!
Eu poderia morrer, se quisesse. Um milhão de possibilidades, poderia fazer qualquer coisa, qualquer uma, qualquer uma,
mas qual?
Devo largar a faculdade, preciso mesmo de amor? Morrer, viver, acreditar em quê? Em quem? Lutar pelo quê?
Encontro a maçaneta e, óbvio, lógico,
eu a abro?
Ou não?
Nenhum dos dois, tudo é válido enquanto estou de pé, livre e não livre, presa em mim e na dúvida do que acontece atrás da porta, ou sem dúvida, porque nada me prende, mas será que isso quer dizer que qualquer coisa serve?
Considero sim, como você bem sabe, voltar e me prender toda, amordaçar e vendar.
Considero, considero, considero.
Não espero, considero.
Estou viva, estou livre,
estou considerando.
36x06 Break Loose
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