38x04 Sucedâneo de Paixão Violenta

Imagem: TingTing Huang

(Peço desculpas por qualquer perturbação que possa causar, querido leitor. Mas não meço palavras. Hoje não. Eu sofro, e não vou sentir muito, por sentir tanto)

Sonho com baratas.
Você me sufoca, durante um sonho.
Eu, Selvagem,
estive tentando te dar amor
mas você não foi feito pra ser amado, foi?

Ah, não, você não foi feito pra isso, sentimentos desse tipo, pra pessoas desse tipo. Você quer limpeza, quer fordeza, quer gramas de soma e Golfe-Obstáculo, sentir beijos que não lhe foram dados, você quer essa sensação passageira, esse interesse breve, seu amor possui interruptor.

Desembaraço meus cabelos com força,
mas sem me machucar
e percebo que te odeio, que todas as gramas de Soma não são suficientes pra me fazer esquecer disso.
Oh, meu Ford,
eu te odeio e não se deve odiar ninguém.
É proibido, não é?

Enfio as unhas nas palmas das mãos
e eu te odeio, eu me deixo te odiar.

Um rapaz me pergunta, educadamente, se amo alguém, baixinho, como se fosse um pecado
e eu digo
não.
Mas eu odeio, e ódio e amor são a mesma coisa, em dias como esses.

Eu odeio você,
e tenho ignorado isso por tempo demais,
por medo das consequências que odiar alguém podem trazer.
Mas
será que podem ser diferentes disso?
Te odiar vai me partir em mais pedaços?

4 comprimidos de meia grama pra mim,
4 para Henry,
e derretemos no chão de madeira,
acalentados pela voz de vestido fúcsia, eu tô tão cansada,
eu tô tão cansada
que confundo tudo, mas não quero mais confundir,
estendo meus dedos na direção dele,
mas ele também sente dor, e não pode me ajudar.

Então, eu me levanto e dirijo pra casa,
ébria,
falsamente feliz,
a cabeça trabalhando numa fórmula pra te apagar do universo.

Cheguei em casa e ela me disse,
essa mulher minúscula, mínima
que eu tô aqui porque eu sou forte,
ela me disse coisas,
ela encheu meus bolsos de soma
e me sussurrou no ouvido
pra não tomá-lo,
ela me disse pra ficar sóbria
pra esperar,
pra entender

e eu esperei,
esperei até o efeito passar pra poder perceber o que tô percebendo aqui, agora, na frente do espelho
eu te odeio

Eu quero fazer coisas horríveis com você,
estamos ligados por esse sentimento horrível e escuro que tô carregando
essa coisa que me torna amaldiçoada e incapaz de me sentir plena, feliz, satisfeita
essa nuvem negra em cima da minha cabeça.

Alguém me oferece mais uma grama, outra grama, outra
e eu tô tomando
até a euforia bater, a vontade de acordar do lado,
de ouvir músicas bonitas à tarde toda,
eu tô tomando,
eu tô tomando, uma grama, outra grama, outra
e fingindo que tá tudo bem

Porque, quando eu parar de tomar,
quando eu parar de fingir
vou acabar com você,
vou arrancar cada grama de soma do teu corpo
e te ver sentir dor e adoecer,
como você fez comigo.
Eu vou despejar o ácido das minhas feridas na tua goela
e te ver queimar por dentro,
vou ter a coragem que você não tem e nunca vai ter,
eu vou te fazer sangrar no mesmo chão em que você me deixou pra morrer,
vou arrancar a sua língua pra que você nunca mais possa me machucar,
vou arrancar seus olhos,
furar seus ouvidos,
eu vou arrancar tua pele toda e queimar,
vou urinar no seu rosto, e vou sentir o prazer físico de me aliviar,
eu vou arrancar o seu coração e não, eu não vou comer,
eu não quero pegar essa sua doença.

Eu vou pisar nele.
Eu vou pisar nele.
Tantas vezes, tantas vezes, que me dá água na boca imaginar a carne se desfazendo sob os meus pés, se transformando em uma massa de sangue e carne, disforme.

Eu preciso te machucar, entende?
Porque você me machucou.
Porque não tem outra cura, porque eu finalmente te odeio, como você queria que fosse,
como deveria ter sido desde o começo.

2 gramas no total, eu tomo e me deito na cama
fecho meus olhos
e espero que passe
mas não quero que passe,

não mais.

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