Imagem: TingTing Huang
Não dá.
Eu tento, levanto da cama, escolho uma roupa. Não dá, não dá.
Eu não quero ver ninguém.
Quero ficar sozinha no apartamento vazio, quero todo esse ar só pra mim e, ainda assim, não é o bastante. Nunca tem ar suficiente.
Eu grito pras pessoas se afastarem, chegarem pra trás, mas elas não chegam e o ar não é suficiente.
Alguém me pede algo, e eu dou. E de novo, e de novo. Mas eu não tenho mais nada pra oferecer.
Eu não tenho nada pra oferecer. Digo isso, repetindo as exatas palavras que você me disse em janeiro, e sinto nojo de mim mesma. Não por tua causa, mas porque eu me deixei adoecer. Eu, logo eu, a mulher mais forte de todo o universo. Todos os socos na cara que você me deu, as suturas que eu mesma fiz sentada no chão do banheiro de madrugada, quando ninguém podia ver e, mesmo assim
você levou a melhor.
Porque eu não tenho nada pra oferecer.
Mas eles não acreditam em mim, ninguém me escuta, presta atenção, prestem atenção
Eles não me escutam.
Elas não me escutam.
Eu não posso, hoje não.
Mas ele precisa de uma amiga, ela precisa de alguém responsável, alguém precisa de mãe, de tempo, de um documento, roupa limpa, espaço, consolo, companhia, conselhos, amor.
Não, não.
Não pode ser outra pessoa?
Tanta gente no mundo com tanto pra oferecer e você bate à minha porta no meio da noite
mas eu não tenho nada pra oferecer.
E eu tento, eu juro que tento.
Eu pego a sua mão, eu digo o que você quer ouvir, eu digo o que você quer saber, eu cumpro o meu papel, eu abro a porta, eu lavo a louça, tomo um banho, eu finjo que tá tudo bem, eu sigo o protocolo dos últimos 15 anos, mas você quer mais.
Você quer mais.
E eu não tenho mais.
Você quer o meu bem, me quer saudável, limpa, sóbria, quer beijar a minha boca, dormir de conchinha, quer que eu ouça, quer que eu seja alguém, quer que eu tenha tempo, quer que eu tenha amor pra dar e eu não
eu não posso.
Eu não posso.
Então eu ajo impulsivamente, te chamo pra sair e
me falta o ar
dou pra trás
invento desculpas
e eu sei que tô te afastando, que tô te magoando de novo
Mas eu não tenho nada pra oferecer
Presta atenção
Me escuta
Eu não tenho nada pra oferecer
Seguro a sua cabeça entre as minhas mãos e tento gritar
Mas não consigo respirar
E eu sei que você entenderia se eu te explicasse
Eu sei que você daria o seu melhor
e tentaria me curar
e tentaria cuidar de mim
Mas eu não quero melhorar,
eu não quero a tua ajuda
eu quero espaço
eu quero ar
quero quebrar minhas costelas e deixar que meus pulmões se expandam até que eles explodam
Isso é tudo o que eu quero.
Eu tento te explicar, eu tento te contar
mas você não me escuta
ninguém me escuta,
eles continuam esperando, me tocando, me chamando,
me ligando
Você não entende,
ninguém entende.
Então eu me sento, abraço meus joelhos e tento respirar.
Mas não consigo.
Não com todos vocês em volta.
E eu sei que preciso fazer alguma coisa.
Mas eu
eu não tenho nada a oferecer.
nem mesmo pra mim
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