Imagem: TingTing Huang
Maio.
Eu gosto de você?
- Não.
Mas e essa necessidade de ajudar, de fazer parte? E essa raiva, esses tremores de raiva durante as discussões?
- Então sim.
Mas
Eu não sei se me importo.
- Eu não sei.
David, bom e velho amigo, sacode minha cabeça,
bagunça meus armários, acha meus corações de papel, me joga na cara toda a dor que
A dor que nos causamos.
Autodestrutivos.
Explosivos.
Não era pra ser.
Estamos deitados, falando baixinho, e ele me pergunta se
- Você voltaria a ficar com ele?
(Coração de papel de número 13: "Elspeth me perguntou se existe alguma chance de voltarmos. Por favor, não me queira de volta")
E eu sei que ele sabe a resposta.
E eu sei a resposta.
Mas isso quer dizer que ela é verdade?
Se eu não gosto mesmo de você, como penso,
o que há com a visão de carros como o seu, que faz meu coração descompassar por um segundo?
E do que é que estou correndo, quando respondo aos convites com "Não posso, tenho mesmo que estudar", e fico em casa ouvindo músicas e assistindo seriados?
Por que é que me agonia tanto acordar com alguém do lado? Por que é que sempre arrumo um compromisso logo cedo, e tenho que sair correndo feito louca, prometendo próximos encontros, e desapareço como se nunca houvesse existido?
Por que é que fiz com que o único cara de quem eu poderia gostar me achasse uma vagabunda que não se importa com nada nem ninguém?
E por que eu tenho que arquivar as conversas que tenho com você?
Por que tomo tanto cuidado pra não ficar próxima, por que me assusta tanto ter uma recaída, por que me sobressalto com as músicas, deixo de ir a eventos?
Ulrika diria, se falasse comigo,
- Você está se sabotando.
Ulrika teria as respostas
mas eu não as tenho.
Eu não gosto de você.
Eu acho. Eu sei.
Eu não gosto deles.
E eu sei disso. Não é real.
Ele manda áudios,
tarde da noite,
e me pergunta mil coisas, me analisa, vira pelo avesso,
quer saber como me sinto sobre você.
Só que eu não sei.
- Você tem que ser honesta. E eu sei que você não está sendo. Eu quero saber quem fez as escolhas, e eu quero saber porque aconteceu. E não, eu não quero a resposta mais curta, não quero a mais palatável, não quero a resposta que corta a conversa. Eu quero a história toda, eu quero 500 dias com ela, quero saber exatamente o porquê disso ter acontecido. Eu sei que você não quer pensar nisso, não pensou nisso, não contou pra ninguém. E pode nunca contar, mas nunca vai passar. Ou você pode parar de fugir. E me ligar de volta.
Não digo nada, ele escreve:
- Você já se perguntou se ele gosta de você?
- Ele não gosta.
- Não foi isso o que eu perguntei.
Eu vou pensar sobre isso.
Mas não hoje.
Não essa semana.
Não esse mês, maio.
Eu vou responder.
Vou refletir.
Mas não hoje.
Deixe os pontos de interrogação pairarem no ar, deixe que os carros me sobressaltem.
De qualquer forma,
já me habituei.
E, talvez,
eu prefira não saber.
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