Imagem: TingTing Huang
- Eu te amo.
O som não sai. Eu sei que tô dizendo isso, mas não sai. Não sai.
Eu tô aqui sentada, no escuro, e a sensação da sua mão na minha queima, queima.
Prendo meus cabelos no topo da cabeça com uma fita, escrevo.
Melanie Martinez diz, em "Sippy Cup", que nem toda a maquiagem do mundo me faria sentir menos insegura.
Isso é verdade.
Quanto mais insegura eu fico, melhor tento parecer. Mas não vai embora.
"Um dia de cada vez", eu digo. Um dia é bom, e eu sou linda, não importa o quê, não importa quem. Mas o outro é terrível. Um poço escuro e frio onde eu me escondo. E tudo bem também.
Eu gosto de ler. Na ordem. E me surpreendo. Vivo me surpreendendo com livros aleatórios, com a riqueza deles, com as sensações boas que me trazem. Distração. Alívio.
Eu nunca o odiaria.
O professor falou, na frente da turma que, pra saber quão ruim é um ataque de pânico, só passando por um.
É. Ele tem razão.
Nos disseram pra não pedir que o paciente ficasse calmo, não dizer aquelas coisas clichês.
Mas você disse.
E você me trouxe de volta.
Fez com que eu me sentisse segura.
E isso é tão raro, tão raro, que você nem pode imaginar.
Eu sou triste. Eu não estou, eu não vou melhorar disso. Eu sou triste.
O problema é quando isso traz sofrimento, dizem os livros.
Eu sou triste.
Eu nasci triste, sisuda.
E morrerei assim.
Eu sou capaz de ser feliz. Mas sem deixar de ser triste.
E quando eu tento deixar de ser triste, me sinto horrível. Insegura, zangada. Porque não é quem eu sou.
Eu sou triste.
Eu posso te fazer sorrir.
Mas eu sou triste. E não há nada de errado com isso, no momento.
Eu sinto medo.
De que as coisas não dêem certo.
Eu tenho medo de falhar.
Isso não sou eu.
Eu tenho.
E posso não ter. Espero não ter, em algum momento.
Mas não vai acontecer quando você quiser.
Não vai acontecer porque você disse que é bobo.
Vai acontecer quando eu me tratar, quando eu começar a entender, a me desafiar.
Mas não vai acontecer porque você quer.
E sim, vai nos afetar. Vai afetar tudo o que eu faço.
Eu me sinto incapaz de amar.
Acredito, de maneira doentia, que qualquer sentimento semelhante ao amor, é só uma dependência patológica de olhar alguém com lente de aumento. De me procurar em outras pessoas. De procurar respostas.
Meu médico me disse que isso é porque tenho medo de falhar.
Então não acredito ser capaz de amar porque tenho medo de entrar num relacionamento e destruí-lo.
Usei a gente como exemplo, e disse que não sei em que acreditar.
Empatamos.
Dor e sangue.
São as provas de que estamos vivos.
Eu estava com um soro no braço, gosto horrível na boca, de vômito, de sono, a cabeça explodindo.
E eu me lembro de sentir uma angústia enorme, uma incerteza gigantesca. Eu não sabia se estava viva.
Aí ele entrou na sala, mais perdido do que eu.
- Eu tô viva? - perguntei.
E ele olhou nos meus olhos, com tanta pena, tão confuso, tão frustrado, tão perdido.
- Tá.
- Prove.
(Ele não foi capaz. Desde então, eu sempre estive na dúvida. )
Eu gosto de você. Muito.
Mas não me peça pra ser como todo mundo.
Eu não vou ficar.
Eu não vou levar a vida menos a sério.
Eu não vou deixar de ser triste.
Eu não vou ficar mais segura porque você me fez um discurso motivacional.
Mas não deixe de fazê-lo.
Eu não vou comer isso porque você disse que é bom.
Mas não deixe de dizer.
Eu não vou ser como você acha que é o certo.
Ninguém vai.
Eu não vou ser o melhor que eu puder ser porque você sabe que posso ser.
Eu posso ser qualquer coisa.
Mas a minha cabeça me limita e ela é muito mais complexa do que você sequer poderia imaginar.
Assim como a sua é.
Eu não vou me transformar pela força do amor verdadeiro.
Você não pode curar quem eu sou.
Cuidado.
Eu gosto de quem eu sou. E você pode me mostrar quem eu posso ser.
Mas eu preciso saber quem eu quero ser.
Eu vou escolher, mesmo que não goste.
As pessoas mudam. Eu mudei.
Muito, muito rápido.
É bizarro,
tão bizarro que chego a me perguntar se ainda sou a mesma.
Eu mudei em tantos sentidos.
E, mesmo assim, sou a mesma.
Mas quero mudar mais ainda, muito mais.
Eu quero ser mil pessoas, eu quero ser quem eu sou.
Eu não quero não ser triste.
Eu quero aprender a conviver coma tristeza. Eu quero usá-la do jeito certo.
Eu quero nãos sentir mais tanto medo.
Mas não vai acontecer porque eu quero. Ou porque você quer.
Vai acontecer quando acontecer.
Enquanto isso, eu sigo.
Um dia de cada vez.
De vez em quando, paro na frente do espelho e arrisco
- Eu te amo.
Mas não sai, a voz não sai.
E tudo bem.
Mais dia, menos dia,
eu fico pronta,
digo alto demais, rápido demais, pra pessoa errada, do jeito errado:
do meu jeito.
(Fuckin' perfect :))
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