31x08 The leaves of possibilities

Imagem: TingTing Huang

Éramos três em um carro, noite escura, luz artificial piscando na estrada, eu enjoada de suco de uva (de novo), Elspeth e Adam.

Eles me dizem que você superou, seguiu em frente.
E eu não tô surpresa, não tô sem ar.
Eu tô assustada, um pouco incerta.
Eu tô com medo do futuro.
Tô com medo de sentir dor, e espero que ela venha, intensa, rasgando meus braços e arrancando meus cabelos.

Mas bate só aquela saudade, aquela incerteza.
Aquela saudade, aquele ciúme, aqueles pensamentos obsessivos de gente que terminou namoro, nada de anormal. Adquiro essa mania de pegar uma lembrança aleatória e me perguntar se você vai fazer a mesma coisa, de novo e de novo.
E me respondo: Sim e não.
Eu fiz certas coisas, as mesmas. Mas também deixei de fazer coisas, eram nossas. E eu gosto que seja assim. De criar coisas novas, com pessoas novas.

Saio do carro, te encontro na estrada, te deixo pra trás. Aliás, você me deixa. Você vive me deixando pra trás, e isso já nem dói. Ou dói e eu já me habituei.

Sinto saudade de Otto.
Sento no chão, abro meus diários. E eu sei. Fecho os olhos e espero que ele esteja bem. Quentinho, chocolate pra comer, uma garota qualquer pra fazer cafuné.
Amor que eu não consegui dar, que eu não tive coragem pra dar.
Sinto saudade da cor da pele dele, dos dedos,
sentados na escada da festa de alguém, ele de moletom preto, eu de jeans e camisa xadrez, nós dos dedos frios, geladíssimos, e eu quis tanto. E eu o quis tanto.

Prendo os cabelos, saio dirigindo por aí,
e percebo que sempre acaba em Holden.
Tem sempre um empecilho, tem sempre eu, tem sempre a busca incessante de alguém pra gostar, tem sempre um sinal confuso, e a gente sentado, no fim do dia, você tem aquele cheiro de gente e nada, de outro muito.
E eu poderia gostar de você, eu poderia amar você, eu poderia ter devaneios insanos nos quais você simplesmente não consegue mais viver sem mim, e a gente se beija e aí -- e aí nada, porque a história acaba aí, a gente não tem futuro, eu podia sair correndo e bater na sua porta, te roubar um beijo, te deixar confuso, te fazer me empurrar, me rejeitar ou me amar. Mas a gente não tem futuro, a gente nunca teve. Ainda bem, porque eu amo você. E não estragaria isso só pra descobrir se a gente poderia dar certo.

Você me manda mensagem, Dragon Maker, senhor dos dragões, e eu sinto falta da sua pele. E eu me deixaria dormir no seu ombro, eu ficaria até o amanhecer, coisa que eu não faria com mais ninguém, no momento. Gosto do seu cheiro, da sua cor, da sua mão.
Mas eu não gosto de nós dois, eu não gosto desse apego, não gosto da insegurança. Eu não gosto.

Cara novo, manda mensagem, e antes de pensar já digitei minha desculpa da vez.
Eu não quero mais, simples assim.

King. Bom rapaz, beija bem. Dou de ombros. Deixa vir. Se for, então vai ser.

E tem ele. Sem nome, só um cara com quem nunca terei nada, bom de olhar, bom de abraçar, bom de ver abrir aquele sorrisão quando me vê, um desses caras criados pra paixões unilaterais. Bom pra te fazer levantar da cama e pentear o cabelo.

E tem você. Quem quer que você seja, um desses ou alguém completamente diferente, inédito. Sentado em algum bar, bebendo em uma festa, estudando pra alguma prova, enquanto eu te espero, sem te esperar. Tomo decisões, as mais estranhas, e fico me perguntando se são elas que vão me levar até onde você vai estar.

Desço do carro. Olho pra rua, pra lua, o vento frio acariciando o rosto de leve.
Possibilidades.
Tantas, tantas.
E eu escolhi ficar sozinha.
Eu escolhi me conhecer melhor, me entender. É, saber se ainda gosto dele (Aquele-que-não-foi-propriamente-nomeado), saber se gosto desse cara novo que me faz querer usar cremes cheirosos no cabelo pro caso de ele me abraçar (:, se quero sair com o King, dormir com o Dragon Maker, se vou viver de migalhas de Holden. Eu decido.
Eu decido que não preciso de ninguém agora, nesse exato momento.
Que eu gosto, de verdade, desse hiato.
Das surpresas, de quem quer que você seja.

Eu não sei quem você é, ou quando vai chegar.
Mas não se apresse.
Eu quero que você me encontre na minha melhor forma.
Eu quero te amar também.

Olho pro céu lindo da cidade mais linda, e sussurro baixinho, só pros seus ouvidos, onde quer que você esteja, quem quer que você seja
- Boa noite (:
Até logo.

E subo as escadas sem medo,
vai ficar tudo bem.

É só Maio, eu chegarei ilesa ao final -
De novo.

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