31x15 Açúcar ou adoçante? (season finale)


Imagens: TingTing Huang

(Duas imagens finais no álbum. De certa forma, andei me planejando pra usar uma dessas imagens no season finale. Mas eu só percebi agora que são imagens pra finais completamente distintos. Pensei no final de hoje e fui procurar a melhor imagem. Daí percebi que as duas eram sobre esse episódio. Nem uma, nem outra: as duas)

Acordei cedo, me sentindo vazia: normal. Cansada.
Lavei o rosto, e meu coração já acelerava: tinha sonhado com ele. E foi um sonho tão bonito. E tão triste.
Peguei o celular, me fingindo de descrente, pra não me decepcionar se ele não tivesse mandado mensagem. Ele tinha.
E eu quis tanto responder, e recomeçar o diálogo, um diálogo infinito como os que costumávamos ter, sem assunto fixo, que durasse dias e dias, mil e uma noites, e que me impedisse de cortar sua cabeça, que me impedisse de tomar qualquer decisão, de seguir em frente, que me mantivesse aqui. 
Mas eu não quero ficar aqui. 
Eu não quero ficar assim. 

Ontem, eu estava bêbada, mais bêbada do que podia entender, mas mais sóbria do que quando bêbada, e percebi, de novo, que não tá legal assim. 
Não dá mais.

Quarto escuro, cheirando a sono, umidade e qualquer coisa que eu não sei definir. 
Todas trabalham, incessantemente, tecendo destinos, desfazendo amores, criando caos, dando sentido. 
Sentada no chão, eu observo, por um tempão, enquanto as vidas tomam forma. Tomam a forma de um beijo, uma dança, uma declaração de amor, dois amigos que se encontram e têm uma conexão imediata, cabelos crescidos, amores que acabam, fios dourados, fios pretos, tristeza enorme que as pessoas escondem bem, gente que fica amiga pra sempre, gente que não quer sair de casa, pessoas que são perfeitas umas pras outras, mesmo que não saibam disso ainda, e o momento em que elas descobrem, gente que não tá sempre feliz, gente que pode ficar feliz, gente que volta a ficar junta, gente que se gosta de verdade desde sempre, bebês, e aquele reflexo prateado de quem tem toda uma vida pela frente. 
É lindo. 
É o trabalho mais lindo que já vi. 
Arte pura, crua, 
e eu choro, choro, por poder ver isso.
Eu estou viva. Esse vazio é só um vazio. É a oportunidade de colocar tudo isso pra dentro. 

De costas pra mim, a Mãe diz
- Você vê, agora?
E eu não consigo falar, soluço sem parar, sem conseguir respirar direito, encolhida no canto. 
- Eu sei o que você veio fazer aqui. Eu sei o que você quer saber. E eu vou te dizer o que você quer saber. Você está esperando. Pela grande mudança de Maio. 

A donzela, cabelos ruivos longuíssimos e brilhantes, senta-se de frente pra mim, olha pra mim sem olhar pra mim, me aponta os buracos vazios nas órbitas: 
- Ele está assustado, desesperado, sente-se abandonado, preso a esse passado que insiste em voltar. E você, eu consigo sentir o gosto da desilusão, das tentativas fracassadas em preencher esse espaço. 
Ela passa a mão esquerda sobre as órbitas vazias e um olho surge, brilhante, enorme, assustador.
- Eu posso ver afeto, amizade, lealdade. Eu posso ver esperança. Vai ficar tudo bem. 

E a voz infantil me chega aos ouvidos
- Mas isso não quer dizer que vocês vão ficar juntos. 

Olho de volta para a donzela, mas ela já não vê nada, as órbitas escuras feito a noite. 

- Você é inflexível demais, sussurra Morta, no meu ouvido. Precisa usar seu desinteresse, sua dissimulação. Eu vejo verdades dolorosas, dualidade. Eu vou te dizer, a mudança é a resposta. Rápida, inevitável. Você precisa mudar. E nós duas sabemos, você não vai. Então, vou te dar um conselho: ouse. Seja feliz, expresse seus sentimentos. 

E a Mãe, com sua voz poderosa, me manda levantar do chão
- Não. Eu vou te dizer exatamente o que você vai fazer se quiser sair disso. Eu vou te dizer que você não precisa mais disso. Acabou. Você é impaciente, vive se reprimindo, se descontrolando. Mas não entende que os obstáculos te farão forte, que não pensar tanto te fará seguir adiante. Você tem o poder de mudar qualquer situação. Só precisa ficar parada. Você é perfeita. Eu vi quando cada pensamento seu nasceu, eu vi seus sentimentos tomarem forma, eu teci cada uma das suas lágrimas. E eu posso dizer, muitas passaram e muitas mais virão. Você vai chorar e sorrir, e chorar de novo. Espere sempre o melhor, essa esperança que você teima em negar: mantenha-a segura. 

E a donzela, como quem lê minha mente:
- Não, você não pode ter as duas coisas. Não pode mudar sem mudar. Isso é Maio. Escolhas das quais não se pode fugir. Da mesma maneira que você resolveu que queria tentar, da mesma maneira que resolveu que não queria mais magoá-lo, vai ter que escolher de novo. E não, não me venha com esperas, com não saber como ele se sente, porque essa é sua escolha. Até a maneira como você vai decidir, os elementos norteadores da decisão, já é uma escolha. Você veio até aqui pra testemunhar a grande mudança de Maio. 
Ela segura minha mão e eu sinto algo, um pedaço de papel, uma lembrança.
- Não existe grande mudança, B. Nunca existiu. Maio traz grandes escolhas. Até hoje, foi você quem escolheu mudar. O que acontece, a partir de agora, é decisão sua. Sem sinais, sem cartas marcadas, as músicas não te darão a resposta certa, nem nós, seus amigos ou as estrelas. Não escolher nada também é escolher. 
Você precisa ir, agora. Seguir seu próprio caminho. Escolher seu próprio caminho.

E viver com as consequências dele.

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